quarta-feira, julho 14, 2010

O Desafio Brasileiro - Gustavo Franco

A aceleração do processo de globalização acirrou os fluxos financeiros internacionais durante os anos noventa, e isso provocou mudanças estruturais nas condições macroeconômicas dos países emergentes, e o Brasil não foi exceção. Mas qual foi o principal efeito da abertura financeira, que acompanhou os movimentos da abertura econômica e comercial, sobre as condições de definição de política macroeconômica no Brasil?

Segundo Gustavo Franco, o resultado esperado é a tendência à chamada “lei do preço único” na economia, isto é, a arbitragem realizada pelos agentes econômicos acabaria por levar à convergência dos preços dos ativos financeiros domésticos em todas as economias abertas, e os diferenciais internacionais de juros (a remuneração dos ativos financeiros) tenderiam a se tornar proporcionais apenas aos diferenciais de inflação esperada para cada economia e aos riscos associados ao investimento em ativos de cada país.

Esse fator – a convergência internacional das taxas de juros – afeta a capacidade dos governos nacionais em realizar políticas econômicas ativas e independentes. Dessa maneira, as economias abertas colocam-se em um trilema de políticas macroeconômicas, o que significa que as autoridades nacionais só podem controlar duas das seguintes possibilidades de políticas:
- garantir a livre mobilidade de capitais;
- controlar a taxa de câmbio;
- exercer política monetária ativa.

Ou seja, os governos dos países emergentes, como o Brasil, passaram a ter a partir da década de noventa muito menos espaço para realizar políticas expansionistas e irresponsáveis (o “velho keynesianismo”, nas palavras do autor) do que, por exemplo, na década de de oitenta. Por isso, Franco exalta a necessidade de que países emergentes implantem medidas institucionais para garantir a responsabilidade macroeconômica, de modo a evitar a fragilização econômica e possíveis ataques especulativos contra suas reservas em moeda estrangeira.

A questão do trilema de políticas de macroeconômicas esteve presente nas duas fases do plano Real, no Brasil. Durante o primeiro governo FHC, o Brasil optou, dentro do trilema, pela livre mobilidade de capitais e o controle cambial pelo sistema de bandas. A política monetária havia se tornado subordinada à política cambial. Já no segundo governo FHC, após o ataque especulativo contra o Real em 1999 e com Armínio Fraga à presidência do Banco Central, a política econômica foi alterada, com a preservação da livre mobilidade de capitais e a conquista de se exercer uma política monetária ativa pelo sistema de metas de inflação. Por outro lado, deixou-se a taxa de câmbio flutuar a partir desse período.

sexta-feira, julho 09, 2010

A Distribuição de Renda No Brasil segundo a PNAD 2007 (1)

A partir desse post, vou publicar alguns gráficos que montei a partir de dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) referente ao ano de 2007 para ilustrar alguns aspectos da distribuição de renda no Brasil.

Em primeiro lugar, meus gráficos são montados pela distribuição de indicadores sócio-econômicos por decis de nível de renda per capita domiciliar. Os decis são montados de uma maneira muito simples: eu listei todos os indivíduos do banco de dados com base na renda mensal per capita de seu domicílio (variável construída já presente no banco de dados original), do mais pobre ao mais rico, e dividi a população assim listada em dez grupos com um mesmo número de pessoas, isto é, em quantis. Esses grupos são os decis populacionais, e são organizados da seguinte maneira: o primeiro decil engloba os 10% mais pobres da população, o segundo engloba dos 11% aos 20% mais pobres, e essa logica segue até o décimo decil, que integra os 10% mais ricos.

Após a construção dos decis populacionais, pode-se comparar as características sociais, econômicas e demográficas das diferentes faixas de renda. Assim, importantes perguntas podem ser respondidas a respeito da distribuição de renda no Brasil.

Em primeiro lugar, a distribuição da renda de acordo com duas medidas, a renda domiciliar per capita (variável utilizada para construir os decis), e a renda individual do trabalho. O resultado é o seguinte:


Pelo gráfico, é possível visualizar o "desfile de anões" na sociedade brasileira. Esse conceito foi cunhado por um autor importante da Economia do Bem-Estar Social em um paper que li no mestrado (acho que era o Angus Deaton). Em resumo, o autor imaginou uma população cuja altura das pessoas fosse proporcional a sua renda, em comparação com a média da sociedade. Além disso, esse país imaginário possui um desfile de carnaval anual em que todas as pessoas desfilam, e os blocos são organizados por ordem de altura das pessoas (primeiro os baixinhos, depois os gigantes). Segundo o autor, se a distribuição de renda desse país fosse semelhante aos dos países reais, tal carnaval seria um verdadeiro desfile de anões, em que a grande maioria da população seria de altura bastante inferior à média, ao passo que os últimos indivíduos a desfilar seriam titãs colossais de vários quilômetros de altura.

Isso é exatamente o que vemos no gráfico. A distribuição de renda é praticamente linear até o oitavo decil, a partir do qual cresce exponencialmente. Além disso, a renda domiciliar per capita do décimo decil é quase o dobro em relação a do nono.

Também é possível ver que a renda domiciliar per capita e a renda individual do trabalho são coincidentes até o oitavo decil, o que demonstra que o fator trabalho é praticamente a única fonte de renda para cerca de 80% da população brasileira. Não sei se a base de dados inclui o recebimento dos programas públicos de transferências de renda, como o Bolsa Família. Se incluir, está indicando que esses programas ainda são muito tímidos para elevar o bem-estar das famílias mais pobres.

Por fim, o gráfico permite ver qual é o perfil de renda da classe alta brasileira, isto é o décimo decil. A renda desse grupo é de cerca de 1500 reais per capita. Imaginando-se uma família de quatro pessoas, dois adultos e duas crianças, isso equivale a uma renda familiar total de 6000 reais por mês. Ou seja, a "elite" brasileira é predominantemente composta por famílias em que o pai ganha R$ 3500 por mês, e a mãe, R$ 2500, e sustentam dois filhos. Isso é muito diferente das "elites" descritas pelos discursos dos políticos do governo federal, ou do que o senso comum pensa. Não são mega-empresários, não são juízes do Supremo Tribunal Federal, não são políticos do alto escalão do governo, não são os chefes do tráfico do Rio de Janeiro e não são os coronéis nordestinos de chapéu branco, representados das novelas da Globo.

Chuck Berry - Carol

quinta-feira, julho 08, 2010

Professor da UnB critica a formação de doutores no Brasil

Muito importante essa entrevista (clique no link para acessar o texto completo). Em termos gerais, o professor corrobora o trade-off que existe entre quantidade e qualidade, em qualquer nível de educação. A escolha pela quantidade em detrimento da qualidade, por parte das políticas adotadas, iniciou-se no Ensino Fundamental, chegou ao Médio, contaminou o Superior, e agora está atingindo a pós-graduação. Meus highlights são:

Para Marcelo Hermes, do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília, daqui a quinze anos o país não terá capacidade de fazer ciência de ponta "porque toda a geração se aposentou e os atuais não foram formados adequadamente".

"É curioso que hoje já entendemos que nem todo mundo deve fazer graduação. O candidato à presidência José Serra, por exemplo, está fazendo campanha pelo ensino técnico. A ideia é: o que adianta sair com um diploma de administração se você não vai administrar uma empresa? O problema é o mesmo no doutorado. Sendo muito otimista, acredito que metade desses milhares de alunos de doutorado é composta pelos que eu chamo de "doutores mobral", o doutor analfabeto, que mal sabe ler um artigo científico, quanto mais escrever. O Brasil quer formar doutores, então vamos formar de verdade."

"A cada ano aumenta o número de alunos formados doutores e a cada ano aumenta o número de trabalhos publicados. A própria Capes usa isso como propaganda para mostrar como é positivo esse aumento do doutorado no Brasil. Fazem questão de divulgar que o Brasil, a cada ano, eleva sua posição no ranking de países que produzem ciência, ocupando o 14º lugar. Mas isso é criminoso: você forma o doutor para produzir a média de dois artigos. E é isso o que ele vai fazer. Veja o custo do país para formar uma pessoa cujo objetivo é fazer dois artigos. E, muitas vezes, quem vai escrever é o orientador, pois ele não tem condição de fazer isso."

"O que está acontecendo no Brasil é uma farsa e uma fraude com dinheiro público. Se fosse algo que pudesse ser resolvido mudando a política, mas não é. Será um "dano irreparável". Eu diria hoje, sem problemas, que temos de 30 a 40 mil doutores "Mobral" no Brasil, disputando empregos. Qual o problema para o Brasil? Imaginamos o país daqui a quinze anos sem capacidade de fazer ciência de ponta porque toda a geração se aposentou e os atuais não foram formados adequadamente."

quinta-feira, julho 01, 2010

The 24 Kinds of Libertarians

Eis um cartoon que recebi por e-mail ótimo para sacanear nossos amigos economistas austríacos. Na blogosfera brasileira, os "Atlas" predominam.

CLique para ampliar.