quarta-feira, dezembro 27, 2006

Os 500 Milhões da Begum - Júlio Verne

Esse é o último livro do Júlio Verne que eu tinha para ler, depois de ter comprado vários na feira do livro de Porto Alegre por míseros R$2,50 cada!

Júlio Verne em sua melhor fase! Nesse livro o autor consegue, enfim, reunir o romance de aventura fantástica, com complexa fundamentação científica e mistéiros que envolvem o autor. Agora, o autor não se prende por demasiado nem nas explicações físicas e químicas dos acontecimentos (como no Rumo à Lua), e nem nas questões históricas e geográficas (como no Arquipélago em Chamas). Aqui, o que realmente importa é a AÇÃO, isto é, aquilo que os personagens fazem e constroem.

O enredo, resumidamente, inicia-se com a história de uma nobre milionária indiana (Begum) que morre e deixa 500 milhões (acho que de libras esterlinas ou de francos) para seus dois únicos herdeiros: o professor Sarracin, francês, e o professor Schultze, austro-alemão. Depois de cada um sacar suas fortunas, ambos resolvem aplicar o dinheiro em empreendimentos científicos, construindo cidades-estado na costa oeste dos Estados Unidos. Sarracin constrói a "Cidade da Frnaça", com planejamento urbanístico e sanitário que visa maximizar a qualidade de vida (e, em conseqüência, a produtividade do trabalho) de seus habitantes. Schultze, por sua vez, constrói a "Cidade do Aço", marcada pelo culto à obediência, na disciplina e na hierarquia, investindo pesadamente na indústria aramamentícia e exercendo controle totalitário sobre seus domínios. Naturalmente, as cidades vizinhas tornam-se logo rivais, e assim o livro conta a história de Marcelo Bruckmann, um jovem alsasciano (leste da França), que é mandado para trabalhar na Cidade do Aço servindo como espião da Cidade de França. Cabia a Marcelo se infiltrar nas organizações burocráticas dessa cidade para descobrir as armas secretas que o maligno Dr. Schultze estava desenvolvendo para destruir a cidade da França.

Mas lendo o livro com mais cuidado, o enredo descreve, em suma, o choque de modelos de desenvolvimento: o humanismo latino contra o militarismo germânico. Verne, infelizmente adotando estereótipos étnicos para fundamentar suas teorias políticas e institucionais (mesmo que isso fosse recorrente entre os autores do século XIX), discorre sobre as diferenças entre as formas de organização das duas cidades, com uma posição declarada pró-Cidade da França, apresentada como a "heroína", contra a "vilã" Cidade do Aço. Na verdade, Verne parece estar fazendo uma analogia à conjuntura política internacional de sua época. No final do século XIX, os dois principais impérios da Europa (a Alemanha do Segundo Reich e o Império Austro-Húngaro) se aliaram, junto com outros países, em um bloco chamado de Tríplice Aliança, e passaram a hostilizar os países vizinhos mais liberais (França e Inglaterra, que se aliaram à Rússia). Esse período, chamado de "Paz armada", em que os países se preparavam para uma guerra iminente, tendo como objetivo o controle político e militar da Europa, e, conseqüentemente de todas as colônias ná África e Ásia, mesmo faltando um estopim para o conflito, é a mesma situação em que as duas cidades-estado descritas no livro estavam envolvidas.

Para a sorte de Júlio Verne, e da humanidade como um todo, após duas Guerras Mundiais, ficou claro que o humanismo "latino" era superior social e institucionalmente ao militarismo "germânico". Contudo, após as guerras, os países germânicos absorveram muito melhor o modelo humanista-planejado de desenvolvimento, que se traduziram nas suas instituições sociais, políticas e econômicas de social-democracia, obtendo desse modo elevados padrões de qualidade de vida e IDH. Os países latinos, por sua vez, continuaram dominados por regimes autoritários (menos a França, a Costa Rica e outros poucos) até quase o último quarto do século XX.

Por último, é interessante ressaltar a importância que Júlio Verne dá à capacidade criativa individual de seus personagens como motor de todas as suas histórias. Ao contrário dos autores real-naturalistas, seus contemporâneos, que preferiam descrever seus personagens baseados nas suas relações com o meio social em que viviam (o "determinismo pelo meio" de Eça de Queirós e Aluísio de Azevedo), Verne descreve seus personagens principais como entes autônomos e totalmente dotados de livre-iniciativa. Assim, a toda a história do presente livro decorre dos investimentos pessoais de dois professores universitários europeus que subitamente descoriram-se milionários. Do mesmo modo, por exemplo, no livro "20.000 Léguas Submarinas", toda a história deve-se à ação de um milionário francês que, entediado de sua sociedade, resolve enclausurar-se em um submarino e navegar pelo mundo. Ou então o jovem oficial francês, que arrisca a sua vida para ajudar os gregos em sua guerra de independência contra os turcos, no livro "Arquipélago em Chamas". Certamente, a visão de homem de Júlio Verne, e sua diferença dos demais autores de sua época, é um tema muito interessante para estudos.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Inter Campeão do Mundo

Relendo meu post de retrospectiva 2006, me dei conte de que o fato de que ele estava estranhamente positivo de mais se deve proque eu escrevi ele logo depois do Inter ter ganhado em Tóquio! Por isso, vou dedicar um post inteiro em homenagem ao glorioso colorado!

Há não mais do que três ou quatro anos, a situação do Internacional, basicamente, era de cumprir as metas anuais de 1) Chegar à final do Gauchão; e 2) Terminar o Brasileirão fora da zona de rebaixamento. Mesmo nesses, anos, o Inter sagrou-se campeão estadual seguidas vezes, enfrentando seus rivais XV de Campo Bom e Ulbra (nessa época, o Grêmio estava tão ruim ou pior do que o Colorado). Depois, em dois anos, o Inter emplacou dois vice-campeonatos brasileiros (sendo que um desses campeonatos foi marcado por arbitragens corruptas, mas não vem ao caso agora), uma Libertadores da América e um Campeonato Mundial da Fifa.

A pergunta que todos fazem é: mas como ocorreu essa evolução, em tão pouco tempo???

Para responder a pergunta, basta lembrar a situação administrativa colorada no passado recente. Com pouquíssimos jogadores próprios, o Inter formava uma equipe de jogadores emprestados às vésperas de cada competição que participaria. Era, portanto, um paraíso de empresários inescrupulosos que empurravam seus jogadores para a direção colorada, a qual muitas vezes nunca tinha sequer visto tais jogadores atuarem em campo. Além disso, o clube tinha que pagar uma dívida pesada contraída durante a desastrosa gestão Armoretty (em que o Inter contratou jogadores do porte de Dunga, Gonçalves e Elivélton, mesmo sem ter condições financeiras para tanto), que investiu muito dinheiro nas contratações, mas que foi pobre de títulos.

A situação começou a mudar com a chegada de Fernando Miranda e Fernando Carvalho à presidência do Inter. A partir daí, mesmo que no início a época de vacas magras de títulos tenha persistido, o Inter, ao invés de montar equipes baseadas em empréstimos de jogadores ligados a empresários, passou a procurar jovens revelações em todos os campos do país. Assim, foi montado um time B, que acumulava os jovens recém-contratados para mostrar seu futebol e para testá-los em suas habilidades, antes de promovê-los ao time principal, com as maiores estrelas do grupo. Também, passou a ser marcante a maior preocupação da direção do clube com a disciplina e o preparo físico de seu grupo de jogadores.

E o resultado que temos hoje está aí para quem quiser ver. Além de títulos, temos safras cada vez melhores de jovens craques revelados pelo Colorado: começando por Lúcio, passando por Diogo Rincón, Daniel Carvalho, Diego, Nilmar, Rafael Sóbis, Bolívar, e agora, Alexandre Pato, Índio e Luis Adriano. E os olheiros continuam fazendo seu trabalho e trazendo novos craques juvenis para brilhar no futuro. Mesmo que eles acabem indo embora do clube (e do país) após estourarem, é preciso ter paciência, e a consciência de que isso aconteceria em qualquer time brasileiro.

Portanto, em relação aos recentes títulos colorados (Libertadores e Mundial), em primeiro lugar quero agradecer ao presidente Fernando Carvalho e a toda direção do Internacional pela visão DE LONGO PRAZO, de construir uma equipe, ao invés de improvisar, que deram ao planejamento do futebol do clube. Visão essa que tanta falta é sentida em quase todas as áreas estratégicas da política e da economia brasileira.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Outra Frase Célebre

"Éramos problemas sociais. Agora, voltamos a ser o futuro do Brasil."

By Thiago, meu amigo recém aprovado no ingresso do mestrado em Ciência Política. O negócio é continuar estudando...

domingo, dezembro 17, 2006

Aniversário de 1 Ano do Blog!!!

Esse blog iniciou-se exatamente no dia 14/12/2005, mas como o meu computador só voltou ontem de noite do conserto, e só foi reinstalado hoje de manhã, vou comemorar o seu aniversário de um ano atrasado.

Pois é, um ano se passou desde que eu me animei a iniciar esse blog. Minha proposta inicial era falar basicamente dos livros e discos que eu estava curtindo em cada momento, com pitadas de política e de economia. Mas o mais importante, eu realmente não queria envolver assuntos de minha vida pessoal aqui. Infelizmente (ou felizmente, sei lá quem se interessa por isso) acabei não resistindo, e usando esse espaço para alguns desabafos individuais.

2006 foi um ano muito significante para mim, o que mais marcou mudanças no meu cotidiano desde 2002, quando eu entrei na faculdade.

Esse foi o ano em que elaborei minha monografia-monstro (124 páginas) "Federalismo Fiscal e Desenvolvimento Regional no Brasil: Uma Abordagem a partir da Constituição de 1824", que me rendeu nota 10 da banca (Maria Aparecida, Sérgio Monteiro, Ário Zimermann) e conceito A nessa cadeira.

Meu trabalho, em resumo, consistiu em uma abordagem neoinstitucionalista da teoria do federalismo fiscal (distribuição intergovernamental de competências fiscais e tributárias), com uma abordagem em cima de seu desenvolvimento na história recente do Brasil, comparando com as políticas específicas de desenvolvimento regional executadas no país da década de 60 até a atualidade, identificando pontos positivos e negativos nessas políticas. O objetivo central do trabalho era verificar se havia alguma correlação entre os estágios de centralização/descentralização das atividades governamentais (pacto federativo) com a centralização/descentralização do crescimento e do desenvolvimento econômico entra os estados brasileiros nesse mesmo período. O resultado, infelizmente, foi negativo: o desenvolvimento regional no Brasil parece depender apenas das políticas específicas adotadas para esse fim, e não do pacto federativo vigente. Segundo o professor Sérgio Monteiro, isso decorre do fato de que as instituições brasileiras não tem credibilidade suficiente para por si só garantirem um modelo de desenvolvimento de longo prazo para o país, exigindo assim a presença do Estado com políticas ativas.

A banca gostou muito do trabalho, e isso foi o mais importante. Eu também gostei muito de fazer. Realmente, parece que fazer pesquisa é o meu forte. Ao invés da maioria dos estudantes de economia, prefiro muito mais trabalhar intelectualmente, com aulas e pesquisas, do que ficar em caixa de banco encarando gente mal educada. Gostei muito do meu serviço de dois anos e meio como bolsista BIC da UFRGS.


Esse ano também tive que dar aulas de Economia Brasileira Contemporânea I, substituindo minha chefe orientadora. Mais uma vez, basicamente corrigindo listas de exercícios e resumindo textos para a turma. Eu gostei de dar aulas, e espero que a turma também tenha gostado (principalmente porque eu nunca cobrei chamada...).

A partir de julho, começou o stress com a prova da ANPEC (outubro), que foi um verdadeiro teste de resistência para mim, do ponto de vista físico e emocional... nessa hora eu vi alguns traços importantes de personalidade acadêmica. Eu vi que eu gostava muito mais de estudar micro e macro, com ênfase na aplicação prática dos modelos estudados (na conjuntura econômica e na história) do que a formalização desses modelos em si. No mestrado, será assim: seja economia internacional, seja economia da educação, quero estudar os modelos para explicar a realidade, fazer previsões e compreender problemas econômicos atuais. Deixa a parte mais formal para o pessoal da FGV...

O cursinho da ANPEC durou de maio ao final de setembro, e ocupou todos os meus sábados de manhã e de noite. Mas até que acabei curtindo, principalmente micro e macro. No final, rolou um churrasco com alunos e professores, com direito a uma cervejada histórica por parte de algumas pessoas (sim, eu inclusive...).

No final a prova da ANPEC foi muito mais difícil do que eu imaginei, principalmente matemática, em que eu só consegui resolver 4 das 15 questões e ainda errei uma de ponto cheio. Mas, difícil para mim, difícil para todo mundo, então acabei até bem qualificado #152 no geral, e passei na UFMG-CEDEPLAR, UFRJ, UFRGS e PUCRS. Optei pela primeira por causa das bolsas mesmo, além do conceito 6 da CAPES.

Visitei o Rio de Janeiro no final de novembro, em viagem paga pela UFRJ para uma palestra oferecida por lá aos candidatos aceitos às vagas no mestrado. Fomos todos muito bem recebidos pelo professor David Kupfer, mas os programas de pesquisa, a disponibilidade de bolsas e o custo de vida na cidade me inclinaram para Belo Horizonte, onde já tenho inclusive amigos via Orkut.

Fora a ANPEC, nesses últimos meses também apresentei uma palestra no ERECO (Encontro Regional dos Estudantes de Economia), na UFRGS, substituindo o professor André Cunha quase em cima da hora. Fui engravatado, seguindo a sugestão de quem me disse para parecer o menos "gurizão" possível. Mas o pessoal gostou, e isso foi o mais importante. Cheguei a receber até mesmo alguns elogios individuais, e conheci gente muito interessante de outros estados.

Do ponto de vista social, esse foi um dos anos mais agitados para mim... Eu, que durante algum tempo me considerei um anti-social crônico cheguei a sair 2 vezes por semana durante certos períodos de tempo! Principalmente, saí com pessoas que eu me identificam muito, e que eu curto de coração. Do DAECA, Risco, Juliana, Chico, Isabel, Carol, Éverton, Márcio, Martin, Carolina. OBS. Registro imoprtante para a noite, no Pinguim da Lima e Silva, em que o Risco e a Juliana começaram a namorar. Do NAPE, Diego Gordinho, Marcelo (onde anda?), Diego, Tarso, Thomas, Negão, Priscila, Gisele, PH, Gustavo e muitos outros. Do meu semestre, não ando vendo mais muita gente, mas ainda tenho falado com o Delí. Teve reencontro de amigos do Anchieta e do Universitário (Thiago, Carlos Augusto, Bianca, Carvalho, Léo, Manga, Eduardo). E, agora no final, deu uns reencontros da turma do Anchieta, motivados infelizmente pelo falecimento de nosso colega Gabriel Pillar.

Em termos fúnebres, infelizmente esse foi o ano do falecimento dos meus amigos Luciano Bauermann Cezar e Gabriel Pillar. Descansem em paz.

Intelectualmente, esse ano li muito, e muita coisa boa. Não vou selecionar nenhum melhor livro, e tampouco uma lista dos melhores. Minhas impressões pessoais sobre tudo o que li esse ano (de fora dos textos da faculdade) estão todas descritas aqui. Em relação a discos, minhas aquisições estão abaixo da média (em 2000 e 2001, gastava quase todo o meu dinheiro com CDs), o que vem acontecendo nos últimos anos, graças à internet banda larga e o gravador de CDs. As melhores aquisições fonográficas do ano foram os discos mais antigos do Nightwish, banda finlandesa de metal gótico: "Wishmaster" e "Oceanborn". Aliás, Nightwish é uma das poucas bandas contemporâneas cujo som provoca prazer aos meus ouvidos... ando muito reacionário, do ponto de vista musical (apenas!!!), ultimamente. Não me lembro da última vez que ouvi rádio ou assisti Disk MTV, e não estou nem aí.

Melhores lugares noturnos do ano, vamos ver: Tudo pelo Social (óbvio), Pingüim, Só Comes, Moinho (Campo Bom), Festas no DAECA (para mim, foram bastante positivas!), o lugar que foi na formatura e não sei o nome, Shamrock (pub irlandês). Gosto mesmo de sair para beber, ouvir bandas ao vivo, conversar e dar risada (e degustar charutos, de vez em quando). Não sou de dançar, e muito menos de rave.

Melhor cerveja do ano, não sei. Sinto falta da Carlsberg... Melhor charuto, fica entre o José Piedra (cubano que eu fumei com o Chico e a Isabel na formatura) e o Le Cigar (baiano, degustado no Pinguim da Lima e Silva junto com cerveja Serramalte).

E o Inter, foi simplesmente matador! Campeão da América e do Mundo! Os melhores jogadores foram o Fernandão, o Rafael Sóbis e o Bolívar, sendo que esses últimos foram muito bem substituídos pelo Iarley e pelo Índio. Mas o mérito é do presidente Fernando Carvalho, pela estratégia de planejamento de longo prazo, isto é, formar craques, ao invés de fazer do Beira Rio um paraíso de empresários picaretas, como era no passado. A safra atual de craques colorados é boa, e a próxima será ainda melhor!

Fico por aqui... o post ficou bastante positivo, e isso me agradou bastante (uma combinação de aprovação da ANPEC com reencontro de velhos amigos e Inter campeão mundial), espero que o próximo ano tudo seja ainda melhor!

quarta-feira, dezembro 13, 2006

O Arquipélago em Chamas - Júlio Verne

Isto sim é Júlio Verne!

O romance "O Arquipélago em Chamas", de Júlio Verne, descreve uma história ambientada na guerra de independência da Grécia contra o Império Otomano, na década de 1820. O enredo em si é bastante simples, e meio clichesado: uma donzela romantisada herdeira de uma fortuna de seu pai banqueiro se apaixona por um oficial francês empenhado na guerra, mas foi prometida por seu pai a um temido pirata, a quem seu pai devia dinheiro. Então, o oficial francês, bonzinho, e o pirata, malvado, se juram de morte até o último capítulo, em que lutam até a morte com um final previsível. Mas, apesar disso, a leitura dessa obra é recomendável pela verdadeira aula de história e geografia que fornece ao leitor.

Em primeiro lugar, quem tiver um mapa detalhado das ilhas gragas e do sudeste europeu, é bom que tenha presente em mãos enquanto lê o livro. Várias passagens da obra, e quase capítulos inteiros, se tratam exclusivamente da descrição detalhada das pequenas regiões do arquipélago grego, em termos não apenas físicos e paisagísticos, mas também históricos, mitológicos e culturais. Muitos leitores, como eu, podem se sentir literalmente perdidos diante de tantas descrições de lugares remotos, mas é verdade que essas passagens alimentam a vontade de conhecer os lugares descritos.

Em termos históricos, como já referido, a obra conta a história da formação do Estado Nacional grego, formado a partir de uma violenta guerra contra o Império Turco Otomano. Nessa guerra, que apesar de ser vitoriosa politicamente para a Grécia, teve custos humanos incalculáveis, o que de fato pesou para a vitória dos rebeldes gregos contra o Império foi a adesão em massa dos países da Santa Aliança (incluindo principalmente a Inglaterra, França e Rússia) em favor da causa grega, incluindo ajuda técnica, operacional e militar. Tais fatos dão um bom insight sobre o que estava acontecendo no que diz respeito às relações internacionais da época (década de 1820).

Após a queda de Napoleão (1815), as principais potências européias, em processo de industrialização (umas mais avançadas, como a Inglaterra, do que outras, como a Rússia), e com Estados Nacionais consolidados, ou em via de consolidação (como Itália e Alemanha), decidem se unir em um congresso, decidindo abandonar as intermináveis guerras que vinham travando desde o início de suas histórias, para formar um corpo político de ajuda e cooperação mútua (a Santa Aliança), deixando seus membros mais livres para fomentar o progresso de seus sistemas econômicos e a expansão política e militar para cima de territórios da África e da Ásia, inclusive se unindo contra forças imperiais regionais que ameaçassem sua supremacia.

Assim, o contexto histórico do livro mostra o choque de sistemas político-econômicos que aconteceu nesse período. De um lado, temos o Império Otomano ainda preso às tradições coloniais-mercantilistas dos séculos XVI e XVII, com economia baseada na escravidão e na colônia de exploração, sendo a riqueza concentrada em uma região chamada Ásia Menor (atual oeste da Turquia), em que as cidades de Istanbul e Ezmirna serviam como as grandes metrópoles comerciais. Do outro lado, e em oposição, temos a Santa Aliança, formada pelos países mais ricos e poderosos do mundo naquela época. Seus membros, em grande parte (isto é, fora a Rússia), já haviam superado a forma comercial-mercantilista do capitalismo, e já entravam na II Revolução Industrial. Neles, as relações assalariadas de trabalho já haviam superado as de servidão, e a indústria, e não o comércio, se tornava o carro-chefe de suas economias. Seu objetivo principal, em termos de política externa, era de buscar expandir o comércio internacional e sua influência política sobre o mundo não-industrial, sendo necessário, para isso, enfraquecer, ou mesmo destruir, antigos impérios locais de organização institucional e econômica mais arcaica, como o Império Otomano, a Pérsia, a Índia e a China. E entre essas duas massas políticas e militares, o autor coloca a Grécia como um personagem que busca sua liberdade de maneira valente e combativa, aceitando a ajuda da Santa Aliança, mas que em seu interior ainda conserva elementos considerados antiquados, como o barbarismo de algumas regiões, a anarquia em termos de nação, as rivalidades regionais, e a pirataria generalizada em quase todas as suas ilhas, elementos os quais estavam sendo derrotados pelas forças aliadas na guerra, e desaparecendo do memso modo do que o domínio turco.

Obviamente, essa abordagem de Júlio Verne foi otimista demais em relação ao futuro da Grécia. Após a guerra de independência, várias ilhas gregas tornaram-se protetorado de França e Inglaterra, quebrando a unidade nacional, o país continuou envolvido em guerras contra os vizinhos e continuou sendo um dos mais pobres da Europa até meados do século XX.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Por Quem os Sinos Dobram?

Gabriel Gomes Pillar, meu colega de colégio Anchieta de 1994 a 1996 e 1998 a 2001. Estava se formando em jornalismo pela UFRGS e iria para o Canadá fazer mestrado. Sua vida foi ceifada por um acidente automobilístico domingo passado; seu carro partiu um poste de concreto na rua Mostardeiro, logo após a lomba antes do Parcão.

Descanse em paz.

Seu blog está nos links; o nome é Vertigo.

terça-feira, dezembro 05, 2006

I'm Going To Changes

15 de janeiro começa o meu mestrado na Cedeplar-UFMG, em Belo Horizonte. Durante os últimos dois anos, isso foi o meu maior sonho (ou então em Brasília ou São Paulo), me puxei horrores em cadeiras fáceis da faculdade para aprender e entender toda a matéria e estudei de maneira não-saudável para a prova da Anpec, em outubro passado. Mesmo indo muito abaixo do que eu esperava nas provas, foi bom que todo o mundo se ralou comigo (maquiavelismo explícito), pois baixou as médias e me jogou para cima na classificação geral (passei na UFMG, UFRJ, UFRGS e PUCRS; USP e UNB fora).

Mas agora, a pouco mais de um mês de me mudar para BH, vejo que as coisas estão sendo muito mais difíceis do que eu esperava. Estou indo sozinho para uma cidade que eu não conheço, as únicas pessoas que eu sei que moram lá, ou eu não vejo há muito tempo, ou eu só falo pela Internet. Vou passar algumas semanas em um hotel barato, até encontrar algum apartamento de 1 quarto para morar durante os próximos anos (já que as imobiliárias virtuais não andam disponibilizando fotos dos apartamentos disponíveis de lá). Além disso, vou ter que me preocupar com um monte de coisas que eu até hoje ignorava (lavanderia, refeições diárias, limpeza da casa), por morar 22 anos com minha família.

Deixo para trás minha vida passada, principalmente os amigos que fiz nesses últimos 3 ou 4 anos, que eu considero os maiores amigos que já conheci em toda a minha vida (do meu ex-lugar de trabalho NAPE e do meu ex-centro de lazer DAECA). Eu, que já me considerava um caso perdido de anti-socialidade desde que estava no colégio, nunca acreditaria que tivesse um grupo de amigos em que pudesse realmente confiar e curtir a vida! Eu sei que muitos dos que vão ficar por aqui eu nunca mais vou ver novamente, e isso é triste, mesmo que já tenha passado por isso algumas outras vezes. Deixo também minha família, que sempre esteve do meu lado desde que nasci.

O mestrado já começa em pleno janeiro com a cadeira de Estatística. Matemática I começa no início de fevereiro, e Econometria I logo antes do Carnaval. Vejo que terei um verão bastante agradável esse ano... Felizmente, as cadeiras realmente de economia começam em março (Micro e Macro), e nelas eu sei que vou me dar melhor.

Também preciso logo escolher minha área de pesquisa, para minha Dissertação no ano que vem. Economia da Educação é um tema que me agrada muito, e me soa bastante moderno, social e promissor. Mas Economia Internacional pode ser mais útil para conseguir emprego depois. A velha dicotomia entre "Fazer o que mais gosta" e "Fazer o que parece ser mais seguro financeiramente" continua me perseguindo...

Espero que tudo dê certo, mas estou confuso, ansioso e, de certo modo, cético quanto ao meu futuro. Tudo poderia ser bem mais confortável se eu ficasse em Porto Alegre, na UFRGS. Mas o professor Jorge Araújo me deu um incentivo poderoso: ele disse que, se eu preferisse ficar em casa do que ir para um centro econômico melhor, me encheria de porrada assim que me visse em Porto Alegre!