quinta-feira, janeiro 26, 2012

Sobre os Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil

Segundo os dados do balanço de pagamentos brasileiro, divulgado pelo Banco Central na terça-feira, em 2011 o país acumulou déficit em conta corrente (saldo das transações de bens, serviços, rendas e transferências unilaterais entre o Brasil e o resto do mundo) de US$ 52,6 bilhões, o maior da história. Por outro lado, esse déficit foi mais do que coberto pela maciça entrada de investimentos estrangeiros diretos no Brasil, que acumularam ingressos líquidos de US$ 66,7 bilhões no ano. O ingresso de IEDs no país se acelerou a partir de agosto de 2010, conforme pode ser visto nos gráficos abaixo, e seguem um fluxo jamais visto anteriormente, certamente influenciado pela crise nos países desenvolvidos, que exportam seus capitais para economias com retorno mais promissor.



A entrada de IEDs para financiar o déficit no saldo em conta corrente significa que o país está crescendo pela captação de poupança externa. Explicando melhor, imaginemos que na economia a produção (Y) é direcionada para o consumo das famílias (C), o investimento das empresas (I), os gastos do governo (G) e as exportações (X), descontadas das importações (IM), que é a produção estrangeira consumida no país. Por outro lado, as famílias, unidades básicas da economia, utilizam sua renda (Y, pois, no agregado, é igual à produção) para o consumo (Y), poupança (S) e pagamento de impostos (T). Ou seja, dadas as seguintes equações:

Y = C + I + G + (X - IM)
Y = C + S + T

Para se identificar as fontes de recursos para os investimentos, causas do crescimento econômico a médio prazo, basta igualar as duas equações e isolar o termo I. Portanto:

C + S + T = C + I + G + (X - IM)
I = S + (T - G) + (IM - X)

Ou seja, o investimento pode ser financiado pela poupança doméstica privada, poupança doméstica pública ou poupança externa. No Brasil, segundo os últimos dados de que disponho, a poupança privada é de 18,8% do PIB (lembro que na China, é de cerca de 50% do PIB) e o setor público opera com um déficit nominal de cercade 100 bilhões de reais ao ano, e se financia com poupança privada pela venda de títulos públicos. Portanto, para o país conseguir crescer a taxas expressivas, acaba recorrendo à poupança externa, captada pelo déficit em conta-corrente (IM - X). Dentro das categorias de capitais externos, os investimentos diretos têm a vantagem de se tratarem de capitais de longo prazo, voltados diretamente ao investimento produtivo, ao contrário dos investimentos em carteira, por exemplo, que são voltados ao curto prazo, isto é, a investimentos no mercado financeiro.

Tenho lido algumas críticas pela internet a esse modelo de crescimento que o país vem adotando desde a recuperação após a crise de 2010. Investimentos estrangeiros, por se traduzirem em ingresso de capitais ao país, apreciariam o câmbio, o que prejudica a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, prejudicando as exportações. Além disso, poderiam piorar a situação da conta-corrente do país por causa das remessas de lucro aos países de origem, que deterioram o saldo da balança de renda.

Independentemente do mérito dessas críticas, questiono qual seria uma possível alternativa. A poupança privada depende, dentre outras coisas, das preferências de consumo das famílias brasileiras, em relação às quais a política econômica tem pouca influência. O déficit público, apesar de não ser grande o suficiente para provocar uma crise de insolvência do setor público brasileiro, é persistente mesmo com toda a elevação da carga tributária que se viu por aqui nos últimos anos, e isso reflete a dificuldade do processo político do governo federal. E simplesmente interromper o processo de crescimento com geração de renda e empregos no país teria um custo de oportunidade em termos de bem-estar social politicamente insustentável.

terça-feira, janeiro 24, 2012

Salário dos Professores - Comentário

O Thomas Kang publicou em seu blog uma crítica ao economista Gustavo Ioschpe (aquele da VEJA) sobre o papel dos salários dos professores sobre a qualidade do ensino do Brasil. Ioschpe afirmou que "o salário do professor não é uma variável estatisticamente significativa ou relevante na determinação do aprendizado dos alunos". Por isso, investimentos na qualidade da educação básica não deveriam ser direcionados na valorização da remuneração dos docentes.

Neste ponto contribuo com uma observação: até que ponto a baixa significância da variável "salário do professor" sobre os indicadores de "aprendizado do aluno" reflete uma relação de (não) causalidade tão forte como o autor sugere? Acho mais provável que as escolas que melhor remuneram seus professores sejam exatamente aquelas com melhor infra-estrutura física, ou que se localizam nos melhores bairros das grandes cidades, onde moram as famílias de alta renda, provocando uma colinearidade no modelo econométrico que faz com que a elasticidade da variável de interesse seja capturada em parte pelas variáveis de controle. Uma outra hipótese é a de que a variabilidade dos salários dos professores nas escolas públicas é baixa demais para que seus efeitos sobre outras variáveis sejam estatisticamente observáveis.

Estudar microeconometria aplicada ajuda a abrir os olhos para as propriedades das amostras dos modelos, antes de achar que o resultado de um único estudo pode resolver os mistérios do mundo.

De minha parte, minha opinião de que os salários dos professores do ensino básico deveriam ser maiores (evidentemente seguindo critérios meritocráticos) reflete antes de mais nada uma observação pessoal minha. Já vi muitos casos de professoras da rede de ensino público básico abandonar a carreira docente para estudar para concursos públicos de nível técnico-administrativo, em que o trabalho é menos perigoso (já ouvi estórias assustadoras sobre o que acontece nas ecolas das periferias das grandes cidades) e melhor remunerado. Eu sinceramente gostaria de saber se em algum outro país do mundo a carreira de professor é inteiramente dominada pela carreira de burocrata.

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Filme do Tintim

Na sexta-feira passada foi feriado aqui no Rio, o dia de São Sebastião. Fui com minha namorada assisitir o filme do Tintim em 3D no cinema Unibanco Arteplex, na prai de Botafogo.

O filme é muito bem produzido. A computação gráfica conseguiu fielmente transformar atores reais nos personagens criados originalmente por Hergé, o criador da famosa série em quadrinhos. Os efeitos especiais são impressionantes, talvez os melhores que tenha visto recentemente.

Contudo, a velha máxima "o filme é sempre pior do que o livro" também valeu para esse filme. Sou fã dos livros do Tintim desde 1996, quando tinha 11 anos, e achei a história muito diferente do retratado nos quadrinhos. O filme resume três livros, "O Segredo do Licorne", "O Caranguejo das Tenazes de Ouro" e "O Tesouro de Rackham O Terrível", mas destaca muito (mais muito!) mais a ação do que o mistério, usando e abusando da destruição material. Tintim deixa de ser "o jovem Sherlock Holmes" e vira "o jovem Indiana Jones". Assim, o filme é divertido para os mais jovens, mais acaba ficando meio cansativo para mim e para a maior parte do público com mais de 20 e poucos anos.

Uma curiosidade é que o livro "O Segredo do Licorne" foi exatamente o primeiro da série que li, em 1996, quando o recebi de presente da minha madrinha. Já "O Tesouro de Rackham o Terrível", sua continuação, só o li aqui no Rio de Janeiro, quando o encontrei em um sebo no Catete em setembro do ano passado. Foram 15 anos de curiosidade reprimida sobre como acabava a história, e eu nunca procurei na internet nenhum spoiler, porque fazia questão de ver o mistério solucionado nas minhas mãos (ainda que o final fosse meio previsível, mas ok).

Momento clipping: o Victor Senna, economista cedeplariano e cartunista, fez uma resenha mais profissional do filme no seu blog.

Blog de Volta às Origens

Os gatos-pingados leitores do blog reclamaram, e decidi abandonar o estilo "clipping macroeconômico" que mantive nas últimas semanas. Mas foi bom ter demonstrado a todos uma pequena amostra do que venho fazendo aqui no BNDES desde julho de 2011. Quem desejar receber as relatórios de conjuntura por e-mail pode entrar em contato comigo.

Daqui para frente, meu blog voltará a ser de opiniões aleatórias e de fotos paisagísticas.

Me lembro que, em 2005, quando resolvi iniciar o blog, escolhi o nome "Essa Metamorfose Ambulante" porque estava ouvindo na hora a música honônima, e nada mais. Felizmente, agora posso usar esse nome para justificar as mudanças repentinas de rumo que o blog toma, ao invés de ficar apagando e criando outros blogs, como outras pessoas fazem.

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Clipping Internacional - 19/01/2012

* Nos Estados Unidos, o índice de preços ao produtor (IPP) registrou deflação de 0,1% em dezembro, puxado pelos ítens alimentos e energia (ambos -0,8%). No ano, o índice acumulou alta de 4,8%.

A inflação ao consumidor (IPC) ficou estável no mês, e fechou o ano com alta de 3,0%. Ao longo do ano, o índice foi bastante influenciado pelo preço da energia, que, embora tenha registrado queda nos três últimos meses, acumulou alta de 10,6% em 2011.

A produção industrial registrou alta de 0,4% em dezembro na comparação com novembro. Em relação a dezembro de 2010, o crescimento foi de 2,9%.

O setor imobiliário do país teve resultados negativos em dezembro. As permissões para novas construções tiveram queda de 0,1%, e o início de novas construções, de -4,1%. No ano, contudo, ambos indicadores tiveram variações positivas de, respectivamente, 7,8% e 24,9%.

* Na Zona do Euro, o saldo em conta corrente fechou em déficit de 1,8 bilhão de euros em novembro. O principal fator que contribuiu com esse resultado foi o déficit de 11,4 bilhões de euros das transferências correntes, apenas parcialmente coberto pelos superávits nas contas de bens, serviços e rendas.

Indústria Interrompe Queda, segundo CNI

De acordo com os Indicadores Industriais da CNI, a indústria brasileira interrompeu em novembro a trajetória de queda verificada nos meses anteriores. Destaque para as altas, no acumulado do ano, tanto do faturamento real (5,2%) como da massa salarial real (5,1%), acima do crescimento do emprego no setor. Certamente, sinais de mudanças tecnológicas e do aperto no mercado de trabalho especializado no setor.

2a Prévia IGP-M Registra Variação de 0,22%

A segunda prévia do IGP-M (a "inflação do aluguel") em janeiro registrou alta de 0,22%. No mês anterior, a segunda prévia do índice fora de -0,07%. O principal determinante da aceleração do índice foi a queda da deflação do índice de preços ao produtor (-0,04% ante -0,38%), provocado, por sua vez pela queda da deflação das matérias-primas brutas (-0,45% ante -1,81%).

Para o consumidor, o índice de preços registrou variação de 0,81%, ante 0,59% registrados no mesmo período do mês anterior. A maior aceleração veio do grupo Educação, Leitura e Recreação (0,38% para 1,88%). Comportamento semelhante foi registrado pelo índice IPC-FIPE para a inflação de São Paulo.

Continuo de olho na variação de preços das matérias-primas brutas e em sua relação com a balança comercial brasileira.

Copom Reduz a taxa Selic para 10,50% ao Ano

Ontem, o Banco Central baixou a taxa Selic para 10,50% ao ano. Essa é a taxa mais baixa desde julho de 2010. A explicação divulgada pelo banco foi a mesma das decisões anteriores: o ambiente mundial recessivo e a desaceleração da inflação doméstica nos últimos 12 meses são compatíveis com uma taxa básica de juros menor no Brasil. O banco fala em uma convergência para a meta de inflação (4,5%) ainda nesse ano.


Contudo, não parece ser o que vai realmente acontecer. O último boletim Focus divulgado pelo próprio banco já aponta expectativas de inflação acima da meta tanto em 2012 como em 2013. Nesse ano, o mercado espera um IPCA de 5,3%. No ano que vem, a inflação esperada é de 5,0%. Como as expectativas dos agentes interferem nos contratos, e os contratos interferem na inflação, essas profecias do mercado podem se tornar auto-realizáveis. E as expectativas dos agentes tendem a ser menos otimistas quanto menos credibilidade tiver a autoridade monetária, o que, por sua vez, depende de seus erros passados. Portanto, o Banco Central deveria ter mais cuidado em manifestar sua previsão de convergência inflacionária para este ano, se optar por continuar reduzindo os juros.

quarta-feira, janeiro 18, 2012

Clipping Internacional - 18/01/2012

* A taxa de de desemprego do Reino Unido subiu para 8,4% da população economicamente ativa no trimestre encerrado em novembro. Essa é a maior taxa desde 1995. O número total de desempregados - 2,68 milhões - é o maior desde 1994.

* O Escritório Nacional de Estatísticas da China divulgou uma série de dados na madrugada de ontem. Os números são, como não poderiam deixar de ser, impressionantes. O crescimento anual dos investimentos em ativos fixos foi de 23,8%. A produção industrial fechou dezembro com crescimento anual de 12,8%. O crescimento do PIB fechou o ano em 8,9%, mesmo com a desaceleração.

Amanhã devo postar alguns gráficos ou tabelas sobre a economia chinesa.

Tentando prever se o crescimento chinês é sustentável a longo prazo, uma das informações contidas no relatório divulgado me pareceu fundamental. Em 2011, cerca de 15 milhões de chineses trocaram o campo pela cidade. A população rural total é de 656,56 milhões, e a urbana, de 690,79 milhões (pela primeira vez na história do país a população das cidades superou a do campo). Considerando que o combustível do crescimento chinês é a oferta de mão-de-obra barata para a indústria, até o país atingir uma população rural de 20% da população mantendo o ritmo atual da migração, teremos pelo menos mais 25 anos de crescimento. Ou seja, mesmo com a desaceleração prevista pelo próprio governo, o país continuará liderando o crescimento mundial nos próximos anos.

terça-feira, janeiro 17, 2012

Clipping Internacional - 17/01/2012

Esses são os eventos macroeconômicos mais importantes do dia:

* Na Zona do Euro, a inflação ao consumidor (IPC) fechou o ano em 2,7%. Em relação ao mês anterior, a alta dos preços foi de 0,3%. A inflação foi mais elevada nos países periféricos do que nas economias centrais da região.

* No Reino Unido, o IPC fechou o ano em 4,2%. Em relação ao mês anterior, verificou-se desaceleração (a inflação anual registrada em novembro foi de 4,8%), graças a queda dos preços dos combustíveis, que eram os principais fatores que provocaram a alta do índice ao longo do ano.



No ano, ambos os índices mantiveram tendências paralelas, e influenciados pelo mesmo grupo de bens - os combustíveis. Desde setembro verificou-se tendência de queda da inflação acumulada no ano; todavia, em ambas regiões o IPC fechou o ano acima da meta de 2,0% estabelecida pelos seus bancos centrais.

* No Japão, o índice de confiança do consumidor subiu para 38,9 em dezembro.

* A encomenda de máquinas à indústria teve alta de 14,7% em novembro na comparação com outubro. Contudo, antes de se fazer qualquer previsão sobre a recuperação da economia japonesa, é importante esperar o resultado da produção industrial. A encomenda de máquinas no país tem se mostrado muito volátil ao longo do ano.

História da Divisão Territorial Brasileira

Para quem (como eu) gosta de ver mapas antigos, o IBGE divulgou nessa semana um estudo sobre a história da divisão territorial brasileira (estados e municípios) de 1872 a 2010. Os mapas estão divididos por década.

Apenas um comentário para quem abrir os mapas: a explosão municipalista do país nas décadas de 80 e 90, que criou muitos municípios sem capacidade de geração própria de renda para se manter, ficando dependentes dos repasses da União, não parece uma rubéola tomando conta do país?

IGP-10 Varia 0,08% em Janeiro

O IGP-10, mensurado pela FGV, registrou uma pequena desaceleração em janeiro. Variou 0,08%, em comparação com a taxa de 0,19% verificada em dezembro. A desaceleração foi provocada pela deflação do IPA (preços ao produtor) de -0,27%, sobretudo do ítem matérias-primas brutas (-1,23%). Do lado do IPC (preços ao consumidor), verificou-se alta de 0,92%, puxada pelo grupo Educação, tal como já verificado nos índices semanais anteriores.

É bom tomar cuidado que, dentro do índice de matérias-primas brutas, a variação de preço do minério de ferro caiu de -4,62% em dezembro para -6,04% em janeiro. Se esse bem continuar depreciando, poderemos ter um efeito inesperado na balança comercial do Brasil nos próximos meses. Lembro que a variação da quantidade exportada pelo país foi muito pequena em 2011; o saldo comercial positivo foi provocado exatamente pela alta do preço das commodities nos mercados mundiais.

segunda-feira, janeiro 16, 2012

IPC-S Acelera na Segunda Semana de Janeiro

O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), de FGV, registrou alta de 0,97% na segunda semana de janeiro. Essa é a maior taxa desde maio de 2011. Contudo, por estar influenciada pela alta de ítens cujos preços são fixos por contratos reajustados neste mês, como Educação (1,38% para 2,37%) e Transportes (0,61% para 0,72%), não se pode dizer se é uma evidência de aceleração da inflação brasileira para o ano que começa.

sexta-feira, janeiro 13, 2012

Clipping Internacional - 13/01/2012

Os principais eventos macroeconômicos do dia foram:

* Nos Estados Unidos, a balança comercial de bens registrou aumento do déficit para US$ 63,2 bilhões em novembro, 4,6 bilhões a mais do que em outubro. Incluindo bens e serviços, o déficit ficou em US$ 47,8 bilhões, acima dos 43,3 bilhões de outubro. O país registrou redução da exportação de bens, sobretudo de materiais para a indústria.

* Na Zona do Euro, a balança comercial registrou superávit de 6,9 bilhões de euros em novembro. Esse foi o terceiro resultado mensal positivo consecutivo no ano. Em relação a novembro de 2010, as exportações cresceram 10,0%, e as importações, 4,0%. No entanto, esse resultado foi regionalmente concentrado, já que apenas a Alemanha a França e a Irlanda registraram, individualmente, superávits comerciais acima de 2 bilhões de euros.

* No Reino Unido, a inflação ao produtor caiu 0,2% em dezembro em comparação com novembro. O acumulado do ano é de alta de 4,8%.

* O superávit comercial da China ficou em 155 bilhões de dólares em 2011. Esse valor é 14,5% inferior ao registrado em 2010. No ano, as importações chinesas aumentaram 24,9%, enquanto que as exportações aumentaram 20,3%. Esses números refletem a iniciativa do governo do país de procurar um modelo de crescimento menos dependente dos mercados internacionais, isto é, mais centrado no consumo e investimento doméstico do que nas exportações.

Emprego Industrial Recua 0,1% em Novembro

Segundo a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (PIMES) do IBGE referente ao mês de novembro, o emprego na indústria teve a queda de 0,1% em comparação com o mês anterior, a terceira taxa negativa consecutiva.


Os indicadores acumulados, no ano e em 12 meses, continuam positivos, ainda refletindo o aquecimento da economia brasileira após o ano eleitoral, sobretudo em termos de folha de pagamento real.

A série histórica do emprego industrial em números índices com ajuste sazonal mostra que o indicador encontra-se praticamente estagnado desde meados de 2010, em um patamar inferior ao da crise de 2008-2009.

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Clipping Internacional - 12/01/2012

Estou sem tempo para fazer maiores comentários. Vou publicar diretamente o link dos principais assuntos macroeconômicos do dia.

* Nos Estados Unidos, o comércio varejista cresceu 0,1% em dezembro em comparação com outubro, e 6,5% na comparação com novembro de 2010. Esse resultado indica desaceleração em comparação com os últimos meses, e está abaixo das expectativas do mercado.

* Na Zona do Euro, a produção industrial caiu 0,1% em novembro na comparação com outubro e 0,3% em comparação com novembro de 2010. É a terceira queda mensal consecutiva do indicador.

* A taxa básica de juros na região foi mantida em 1,0% ao ano, de acordo com decisão do Banco Central Europeu.

* Na Alemanha, a inflação ao consumidor ficou em 0,7% em dezembro. O valor é maior do que a média dos últimos meses devido a efeitos sazonais (Natal e Ano Novo). O acumulado de 12 meses registra alta de 2,1% no mês, a terceira desaceleração consecutiva. O destaque é o preço da energia, com alta anual de 8,0%.

* Na Inglaterra, a produção industrial caiu 0,6% em novembro em comparação com outubro, e 3,1% em comparação com novembro de 2010. Desde março do ano passado o indicador vem apresentando taxas anuais negativas.

* O Banco da Inglaterra manteve a política monetária atual, com taxa básica de juros de 0,5% ao ano.

* Na China, a inflação mostra tendência de desaceleração. O índice de preços ao produtor (IPP) apresentou deflação de 0,3% em dezembro em relação a novembro. No ano, o indicador acumulou alta de 1,7%. Para efeitos de comparação, em julho, o IPP acumulava alta de 7,5%. A inflação ao consumidor apresentou alta mensal de 0,3%, e acumula alta de 4,1% no ano, com destaque para a alta de 9,1% no preço da alimentação.

Comércio Varejista Cresce 1,3% em Novembro

De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), publicada pelo IBGE, o comércio varejista brasileiro continua crescendo, a despeito da desaceleração econômica. Em relação ao mês anterior, a alta foi de 1,3% do comércio varejista e de 1,5% do comércio varejista ampliado (que inclui veículos e materiais de construção).


Dentre os setores, os que apresentam maior crescimento no ano são o de equipamentos de informática (+28,8%), móveis e eletrodomésticos (+12,3%) e artigos de saúde (+8,6%), de acordo com a tabela acima. Esse comportamento muito acima da média dos três grupos reflete não apenas as condições de renda, emprego e crédito da economia brasileira, mas também de mudanças dos próprios hábitos de consumo da população brasileira.

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Déficit Comercial do Reino Unido Sobe para 8,6 Bilhões de Libras

A balança comercial do Reino Unido fechou em déficit de 8,6 bilhões de libras em novembro, segundo relatório divulgado pelo Departamento Nacional de Estatísticas do país. No mês passado, o déficit tinha sido de 7,9 bilhões. Em novembro, as exportações somaram 25,7 bilhões de libras (+10,1% ante novembro de 2010), e as importações, 34,3 bilhões de libras (+6,9% na mesma base de comparação).

PIB Alemão Cresce 3,0% em 2011

De acordo com dados divulgados hoje pela agência Destatis, o PIB da Alemanha cresceu 3,0% em 2011. Dentre os seus componentes pelo lado da demanda, o destaque foram os gastos com formação bruta de capital fixo (+8,3%) e em construção (+5,4%).


O crescimento dos indicadores de investimento em capital fixo sugerem uma expansão do PIB potencial do país para os próximos períodos. Contudo, os últimos dados trimestrais mostram uma tendência de desaceleração do PIB alemão desde o primeiro trimestre de 2011. A produção industrial também está se desacelerando desde julho, e as encomendas da indústria têm apresentado taxas negativas nos últimos meses. Os indicadores mais favoráveis do país em 2011 se concentraram nos primeiros meses do ano. Tudo isso são fortes sinais de que a crise econômica que começou nos países da periferia da Zona do Euro, aos poucos, vão contagiando a sua maior economia.

Inflação do Aluguel Desacelera

O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), também conhecido como "inflação do aluguel" por servir como indexador para contratos, desacelerou na primeira prévia de janeiro na comparação com o mês anterior. Ficou em -0,01%, ante 0,04% no mesmo período do mês anterior. Pesou a deflação do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que ficou em -0,23%.

Em São Paulo, o Índice de Preços ao Consumidor medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) ficou em 0,75% na primeira semana de janeiro, puxado pela alta de 0,92% no ítem Educação.

Novos Rumos para o Blog

Como os leitores do blog já sabem (ou não, já que tenho escrito cada vez menos sobre minha vida pessoal por aqui), deixei de vez a vida acadêmica. Troquei a vida de profesor universitário em Brasília para assumir uma vaga no BNDES, no Rio de Janeiro, em junho do ano passado. No momento, estou alocado no Departamento de Assessoria Econômica, e sou responsável pelas cartas de conjuntura macroeconômica internas ao banco e pela construção e manutenção dos bancos de dados macroeconômicos do departamento.

Por isso, o blog terá uma virada radical a partir de hoje. Vou falar (ainda) menos sobre pesquisas acadêmicas, e mais sobre informações sobre conjuntura macroeconômica. Optarei por textos simplificados, diretos ao assunto, com links para as fontes oficiais dos dados. De vez em quando vou publicar alguns gráficos e tabelas feitos por mim para ilustração.

Espero que assim eu consiga voltar a ter uma rotina de publicação nesse blog, que andou muito cíclico desde que terminei o mestrado, em 2009.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

Mapa da Pobreza em Porto Alegre - Oficial

Segundo o blog Porto Imagem, o IBGE divulgou um mapa identificando as regiões censitárias consideradas favelas em Porto Alegre. O mapa não é muito diferente do que eu tinha divulgado aqui no blog em 2008.



O mapa oficial, por ser baseado em um critério diferente do meu (tinha considerado as regiões com ruas não pavimentadas e casas pequenas sem telhado), mostrou as favelas na zona norte maiores do que realmente são e ignorou as pequenas vilas espalhadas pela cidade.

Veraneio Gaúcho (por Paulo Wainberg)

Um texto que lamento que não tenha sido escrito por mim. Recebi por e-mail.

Está chegando o verão e com ele o veraneio, como chamamos aqui no Sul.
Não sei se vocês, de outros Estados, sabem, mas temos o mais fantástico litoral do País: de Torres ao Chuí, uma linha reta, sem enseadas, baias, morros, reentrâncias ou recortes. Nada! Apenas uma linha reta, areia de um lado, o mar do outro.
Torres, aliás, é um equívoco geográfico, contrário às nossas raízes farroupilhas e devia estar em Santa Catarina. Característica nossa, não gostamos de intermediários.

Nosso veraneio consiste em pisar na areia, entrar no mar, sair do mar e pisar na areia. Nada de vistas deslumbrantes, vegetações verdejantes, montanhas e falésias, prainhas paradisíacas e outras frescuras cultivadas aí para cima.
O mar gaúcho não é verde, não é azul, não é turquesa.

É marrom!

Cor de barro iodado é excelente para a saúde e para a pele! E nossas ondas são constantes, nem pequenas nem gigantes, não servem para pegar jacaré ou furar onda. O solo do nosso mar é escorregadio, irregular, rico em buracos. Quem entra nele tem que se garantir.

Não vou falar em inconvenientes como as estradas engarrafadas, balneários hiper-lotados, supermercados abarrotados, falta de produtos, buzinaços de manhã de tarde e de noite, areia fervendo, crianças berrando, ruas esburacadas, tempestades e pele ardendo, porque protetor solar é coisa de fresco e em praia de gaúcho não tem sombra. Nem nos dias de chuva, quase sempre nos fins-de-semana, provocando o alegre, intermitente, reincidente e recorrente coaxar dos sapos e assustadoras revoadas de mariposas.

Dois ventos predominam, em nosso veraneio: o nordeste – também chamado de nordestão – e o sul, cuja origem é a Antártida.

O nordestão é vento com grife e estilo... estilo vendaval. Chega levantando areia fina que bate em nosso corpo como milhões de mosquitos a nos pinicar. Quem entra no mar, ao sair rapidamente se transforma no – como chamamos com bom-humor – veranista à milanesa. A propósito, provoca um fenômeno único no universo, fazendo com que o oceano se coloque em posição diagonal à areia: você entra na água bem aqui e quando sai, está a quase um quilômetro para sul. Essa distância é variável, relativa ao tempo que você permanecer dentro da água. Outra coisa: nosso mar é pra macho! Água gelada vai congelando seus pés e termina nos cabelos. Se você prefere sofrer tudo de uma vez, mergulhe e erga-se, sabendo que nos próximos quinze minutos sua respiração voltará ao normal: é o tempo que leva para recuperar-se do choque térmico.

Noventa por cento do nosso veraneio é agraciado pelo nordestão que, entre outras coisas, promove uma atividade esportiva praiana, inusitada e exclusiva do Sul: Caça ao guarda-sol. Guarda-sol, você sabe, é o antigo guarda-sol, espécie de guarda-chuva de lona, colorida de amarelo, verde, vermelho, cores de verão, enfim, cujo cabo tem uma ponta que você enterra na areia e depois senta embaixo, em pequenas cadeiras de alumínio que não aguentam seu peso e se enterram na areia.

Chega o nordestão e... lá se vai o guarda-sol, voando alegremente pela orla e você correndo atrás. Ganha quem consegue pegá-lo antes de ele se cravar na perna de alguém ou desmanchar o castelo de areia que, há três horas, você está construindo com seu filho de cinco anos.

O vento sul, por sua vez, é menos espalhafatoso. Se você for para a praia de sobretudo, cachecol e meias de lã, mal perceberá que ele está soprando. É o vento ideal para se comprar milho verde e deixar a água fervente escorrer em suas mãos, para aquecê-las.

Raramente, mas acontece, somos brindados com o vento leste, aquele que vem diretamente do mar para a terra. Aqui no Sul, chamamos o vento leste de ‘vento cultural’, porque quando ele sopra, apreendemos cientificamente como se sentem os camarões cozinhados ao bafo.

E, em todos os veraneios, acontece aquele dia perfeito: nenhum vento, mar tranquilo e transparente, o comentário geral é: “foi um dia de Santa Catarina, de Maceió, de Salvador” e outras bichices. Esse dia perfeito quase sempre acontece no meio da semana, quando quase ninguém está lá para aproveitar. Mas fala-se dele pelo resto do veraneio, pelo resto do ano, até o próximo verão.

Morram de inveja, esta é outra das coisas de gaúcho!

Atenta a essas questões, nossa indústria da construção civil, conhecida mundialmente por suas soluções criativas e inéditas, inventou um sistema maravilhoso que nos permite veranear no litoral a uma distância não inferior a um quilômetro da areia e, na maioria dos casos, jamais ver o mar: os famosos condomínios fechados. A coisa funciona assim: a construtora adquire uma imensa área de terra (areia), em geral a preço barato porque fica longe do mar, cerca tudo com um muro e, mal começa a primavera, gasta milhares de reais em anúncios na mídia, comunicando que, finalmente agora você tem ao seu dispor o melhor estilo de veranear na praia: longe dela. Oferece terrenos de ponta a ponta, quanto mais longe da praia, mais caro é o terreno. Você vai lá e compra um.

Enquanto isso a construtora urbaniza o lugar: faz ruas, obras de saneamento, hidráulica, elétrica, salão de festas comunitário, piscina comunitária com águas térmicas, jardins e até lagos e lagoas artificiais onde coloca peixes para você pescar. Sem falar no ginásio de esportes, quadras de tênis, futebol, futebol-sete, se o lago for grande, uma lancha e um professor para você esquiar na água e todos os demais confortos de um condomínio fechado de Porto Alegre, além de um sistema de segurança quase, repito, quase invulnerável.

Feliz proprietário de um terreno, você agora tem que construir sua casa, obedecendo é claro ao plano-diretor do condomínio que abrange desde a altura do imóvel até o seu estilo.

O que fazemos nós, gaúchos, diante dessa fabulosa novidade? Aderimos, é claro. Construímos as nossas casas que, de modo algum, podem ser inferiores as dos vizinhos, colocamos piscinas térmicas nos nossos terrenos para não precisar usar a comunitária, mobiliamos e equipamos a casa com o que tem de melhor, sobretudo na questão da tecnologia: internet, TV à cabo, plasma ou LSD, linhas telefônicas, enfim, veraneamos no litoral como se não tivéssemos saído da nossa casa na cidade.
Nossos veraneios costumam começar aí pela metade de janeiro e terminar aí pela metade de fevereiro, depende de quando cai o Carnaval. Somos um povo trabalhador, não costumamos ficar parados nas nossas praias. Vamos para lá nas sextas-feiras de tarde e voltamos de lá nos domingos à noite. Quase todos na mesma hora, ida e volta.
É assim que, na sexta-feira, pelas quatro ou cinco da tarde, entramos no engarrafamento. Chegamos ao nosso condomínio lá pelas nove ou dez da noite. Usufruímos nosso novo estilo de veranear no sábado – manhã, tarde e noite – e no domingo, quando fechamos a casa.

Adoramos o trabalhão que dá para abrir, arrumar e prover a casa na sexta de noite, e o mesmo trabalhão que dá no domingo de noite. E nem vou contar quando, ao chegarmos, a geladeira estragou, o sistema elétrico pifou ou a empregada contratada para o fim-de-semana não veio.

Temos, aqui no Sul, uma expressão regional que vou revelar ao resto do mundo: Graças a Deus que terminou esta bosta de veraneio!