Fui na manifestação hoje no Rio. Minhas impressões gerais:
- O público era predominantemente feminino, de 16 a 22 anos.
- Estudantes de colégios particulares e de universidades. Moradores da Zona Sul.
- Um considerável número de pessoas de cabelos grisalhos, quase todos com cartazes contra a homofobia e contra o Marcos Feliciano.
- Também um grande número de turistas, principalmente de São Paulo.
- Traje típico: camiseta da Seleção, verde a amarelo pintado no rosto, bandeira do Brasil nas costas.
- Pouca representação partidária. Mas não vi nenhuma hostilização a quem estivesse com bandeira do MST ou camiseta do PSOL.
- O ambiente era meio festivo: os camelôs da rua Uruguaiana estavam vendendo apitos, bandeiras do Brasil e camisetas com frases de protesto.
- Não faltaram ambulantes com caixa de isopor vendendo cerveja, refrigerantes e água.
- O alvo político número 1 do público era o governador Cabral. Segundo lugar, o Marcos Feliciano. Terceiro lugar, o prefeito Eduardo Paes. Esporadicamente, a Dilma.
- Cartazes com palavras de ordem pela saúde pública, pela educação, contra a corrupção, contra a PEC 37 e contra a homofobia (incluindo críticas ao Marcos Feliciano).
- Cartaz mais engraçado: "Não preciso de cura, preciso de uma bolsa Louis Vitton", com um manifestante gay.
- Manifestação mais legal: um cavalo de tróia de grande tamanho e rodas nos pés todo de madeira, um "presente" para o prefeito.
- Próximo à estação de Metrô Cidade Nova, caiu uma bomba de gás lacrimogêneo bem do meu lado. Veio do céu, certamente algum policial jogou das proximidades da prefeitura, um pouco a frente. Procurei manter a calma e caminhar para longe, sem pisar ou ser pisado pela multidão. O gás demora um pouco para fazer efeito.
- O efeito, quando surge, é parecido com o do tempero wasabi em grande quantidade. Faz lacrimejar e deixa a garganta ardendo durante uns 5 minutos. Após isso, tudo passa, mas a respiração continua mais pesada por algumas horas, o que dá uma sensação de cansaço.
- Depois disso, caminhei de volta para a Central do Brasil junto com muitas outras pessoas. No caminho, me deparei com grupos radicais caminhando furiosamente para o front. Em geral, esses eram homens, de 25 anos ou mais, de considerável porte físico, mascarados, e aparentemente de nível de renda mais baixo do que a média da manifestação.
De um modo geral, me intriga a ausência total de líderes em todas essas manifestações. Achei que, pelo menos aqui no RJ, os políticos do PSOL fossem sair da toca. Ou que os petistas fossem tomar parte para si. Ou, sei lá, que o Aécio Neves aproveitaria para se lançar como líder da oposição "a tudo isso que esta aí". Pelo menos um discursinho da Dilma em rede nacional... nada.
Mais bizarro é abrir o meu facebook e ver que meus amigos liberais e PSOListas estão comemorando a "primavera brasileira contra a elite política", enquanto que os conservadores e os petistas se aliaram pela "defesa das instituições". Alguns estão com o discurso "as manifestações de antigamente eram melhores", semelhante ao que eu uso para defender as bandas de rock de minha preferência. Para outros, é tudo uma conspiração da grande mídia contra os avanços sociais dos últimos 10 anos. E não faltaram aqueles que acham que é um plano da Dilma de decretar estado de exceção e instaurar uma ditadura chavista no Brasil. Mas eu tenho certeza que, no fundo, no fundo, as autoridades não tem idéia do que está acontecendo...
Meu palpite: amanhã rolarão as cabeças do Ministro da Justiça e do Ministro das Relações Institucionais.
KENNETH ARROW’S LAST THEOREM by Paul Milgrom
Há 3 horas