sexta-feira, setembro 21, 2007

O Brasil e a Intelectualidade: Presente e Futuro

Lendo o livro do Renato Tapajós, na semana passada, dei-me conta de como que é difícil encontrar trabalhos de intelectuais brasileiros sobre a sociedade nacional em sua atualidade. Como eu relatei no post sobre o livro, vejo que a grande parte dos intelectuais, não só escritores, mas também jornalistas, sociólogos, historiadores, etc, parecem prender-se em suas memórias de sua juventude e ignorar tudo aquilo que aconteceu no país e no mundo nas últimas duas décadas.

Tendo contato com grande parte da produção intelectual de autores brasileiros sobre questões sociais e políticas do país, o que vemos, geralmente, são relatos carregados de saudosismo sobre as virtudes das atitudes dos jovens rebeldes dos anos sessenta e setenta, particularmente a luta contra o autoritarismo militar e a luta por um projeto de desenvolvimento autônomo, nacionalista e distribuidor de renda. Sobre os anos oitenta e o período democrático após 1988, tudo o que lemos são definições baseadas em conceitos controversos como "década perdida", "juventude alienada", "crise da utopia", ou então radicalismos explícitos como "fim da história" ou "morte do desenvolvimento nacional". Contudo, esses estudos, como dito, são carregados de relatos saudosistas, e não estudos analíticos, sobre a trajetória recente da organização sócio-econômica recente do Brasil.

Como motivos para esse posicionamento dos intelectuais nacionais, de fato, cito o sentimento de salvacionismo e de mergulho utópico que caracterizam o pensamento vanguardista dos anos sessenta e setenta. Naquele período, do final da Segunda Guerra Mundial até o segundo choque do petróleo (1979(, o Brasil e o mundo encontravam-se em um período de prosperidade econômica sem precedentes (os "Anos Dourados"), caracterizado pela constituição econômica do "capitalismo regulado", isto é, economia de mercado com intervenção estatal anti-cíclica e estrutural, e um arranjo de cooperação econômica internacional entre os países capitalistas, que inclusive incentivava mecanismos de investimentos produtivos dos países ricos para os subdesenvolvidos (o Acordo de Bretton-Woods). Todo esse clima de prosperidade abriu caminho para uma geração de pensadores voltados para a compreensão dos fenômenos do desenvolvimento social e econômico, e as problemáticas sociais, como a desigualdade e a persistência da pobreza e da miséria. Tais pensadores se preocuparam em formular ousados projetos de desenvolvimento (tanto em nível econômico como em nível social e político) para o país, em que os trabalhadores tomariam as instituições políticas, a economia seria independente das flutuações externas, a renda seria distribuída na sociedade, e a pobreza se extinguiria, pela constituição de um mercado interno no Brasil que poderia perpetuar o crescimento à la Adam Smith. Além disso, a presença de um regime autoritário no Brasil e de restrições à liberdade de expressão tornavam esses debates ainda mais desfiadores para os intelectuais. Na época, todos os vanguardistas (sejam eles desde os comunistas pró-soviéticos até os liberais-democratas) eram contra o regime, e a opressão intelectual servia apenas para alimentar o sentimento de oposição.

Contudo, os acontecimentos dos anos oitenta abalaram profundamente esse quadro. A crise de endividamento do setor público no início da década acabou com o último ciclo de crescimento da economia brasileira, e desde então, o Brasil praticamente estancou o seu crescimento per-capita. Os intelectuais viram que o crescimento econômico, tal como se dava nas décadas anteriores, não era um fenômeno permantente e inevitável. Muitos economistas abandonaram seus projetos de desenvolvimento nacional para se focar em problemas mais técnicos, como o controle da crise externa e o combate à inflação. A crise do comunismo, visível ao longo dessa década, provocou uma queda da utopia sócio-política em nível mundial. Por fim, a redemocratização construída de "cima para baixo", isto é, costurada pelos próprios políticos aliados do regime militar, retirou o caráter sebastianista que caracterizava os pensamentos intelectuais dos períodos anteriores. Agora, com a liberdade de expressão, qualquer um pode expor seus projetos e idéias sem medo de retaliação oficial, os debates tornam-se cada vez mais comuns e repetitivos. As idéias de desenvolvimento parecem que "perdem a graça", pelas repetições contínuas das mesmas idéias das décadas anteriores.

A partir dos anos noventa, o Brasil passa por grandes transformações nas esferas política, econômica e social. Na política, a redemocratização tem levado partidos políticos cada vez mais à esquerda ao controle do governo federal. Contudo, suas ações são cada vez mais semelhantes, como acontece em todo o mundo democrático, e isso, junto com os comportamentos eticamente inaceitáveis de homens públicos de altos postos hierárquicos, tem suscitado uma apatia política da sociedade brasileira crescente. No plano econômico, o endividamento externo elevado e o desenvolvimento tecnológico dos mercados financeiros internacionais praticamente inibiram a possibilidade de o Estado administrar a economia (via políticas fiscais, cambiais, monetárias e intervenção direta) como fazia nas décadas anteriores. Igualmente, tornou-se consenso que o excesso de proteção à indústria nacional havia criado um déficit tecnológico muito sério para as empresas brasileiras. Portanto, os governos sucessivamente têm optado por políticas de abertura econômica, privatizações e controles fiscais e monetários cada vez mais rígidos, acompanhando as tendências da economia mundial. Contudo, as políticas sociais de resdistribuição de renda vêm se tornando cada vez mais abrangentes, fazendo com que a distribuição de renda e a pobreza na realidade brasileira venham melhorando lentamente. Ou seja, no plano social, o Brasil, mesmo que não piorando mais desde o controle da inflação, ainda tem muitos desafios a cumprir. Ao contrário da miséria rural que caracterizava o país nas décadas anteriores, a bomba da vez está na periferia das grandes cidades, cada vez mais caóticas, violentas, sem instituições definidas, sem condições higiênicas de comportar o volume populacional que comportam, e carregadas por massas humanas sem perspectivas de futuro.

Dado esse panorama, é mesmo muito triste que a intelectualidade brasileria ainda se prenda ao passado, à luta contra o autoritarismo, aos devaneios comunistas e ultra-nacionalistas e ao asco à realidade atual mundial. Tal comportamento vem abrindo caminho para as críticas anti-intelectuais (praticamente neo-positivistas) que vemos nos dias atuais, de que o intelectual seria um ente mentalmente inferior ao do técnico (com pérolas do tipo "quem sabe faz, quem não sabe pensa, escreve e ensina"). Isso está errado, pois ainda há muito sobre o que se pensar nesse país. Técnicos e intelectuais podem e devem coabitar a mesma realidade, e resolver os mesmos problemas de modo complementar.

No plano econômico, o processo de abertura externa e a limitação crescente dos instrumentos de política econômica são inevitáveis, mas o fim dos projetos e das idéias de desenvolvimento sócio-econômico de longo prazo não são. A grande questão atual é o crescimento de longo prazo, isto é, a possibilidade de o Brasil recuperar uma trajetória de crescimento compatível com a dos outros países em desenvolvimento no mundo. Para isso, o papel do Estado será fundamental, mas agora fundamentado nos níveis institucional e regulatório, já que os recursos fiscais e tributários disponíveis são cada vez menores. O desafio presente é pensar qual o modelo de desenvolvimento queremos para o Brasil, pensando sobretudo no longo prazo e em uma economia cada vez mais integrada com a comunidade internacional. Fatores e alternativas são abundantes (educação?, integração regional?, reformas institucionais?, quais?, como?).

No plano político, o desafio é recuperar a credibilidade da democracia brasileira frente aos choques institucionais. A apatia política, mesmo presente em todas as democracias consolidadas, não deve se refletir em convivência e aceitação de comportamentos anti-sociais de políticos, de todos os partidos e ideologias. O risco de um novo governo autoritário aparecer e ser apoiado popularmente para "dar ordem na casa" é remoto, mas não é impossível.

No plano social, o foco é a compreensão da estrutura nacional como um país urbano, em que as desigualdades convivem cada vez mais próximas. Ou seja, desaparece o pensamento tradicional cepalino de dualidade entre o centro industrial rico e a periferia agrária pobre. O Brasil de hoje apresenta riqueza e pobreza habitando conjuntamente os mesmos lugares, centro e periferia, campo e cidade. Por fim, a grande mobilidade social que o país vem apresentando nas últimas décadas, possibilitada sobretudo pelo crescimento do setor de serviços na estrutura econômica nacional, faz com que o modo de pensar e de agir dos grupos sociais urbanos nacionais percam boa parte de seu comportamento econômico (isto é, de ricos e pobres, classes sociais), para comportamentos mais individuais, decorrentes de fatores psicológicos ou mesmo de preferências (isto é, o surgimento e a expansão de tribos urbanas).

O livro de Tapajós é um início promissor de toda uma gama de fatores que compreendem a atual realidade brasileira, e são miseravelmente ignoradas pela maioria dos autores.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Conquista Importante!

Fiquei com A na cadeira de Macroeconomia I, do semestre passado! A nota saiu hoje, e ainda não cheguei a ver a minha última prova, mas foi uma excelente surpresa.

quinta-feira, setembro 13, 2007

A Infância Acabou - Renato Tapajós

Achei esse livro num lixo daqui do Cedeplar, e, pela fome literária que eu tinha acumulada nestes últimos seis meses sem acabar um romance (acho que o último foi um do Sherlock Holmes em fevereiro), eu matei ele de uma vez só.

O livro é infanto-juvenil, da editora Ática, desses que a gente lê na sexta série, no colégio. São 150 páginas, letras grandes, pouca descrição e muitos diálogos e ação. Bom para recomeçar a vida cultural, após quase dois semestres só lendo artigos técnicos...

A história se passa em São Paulo, no final dos anos noventa. Um rapaz de quinze anos vê sua condição financeira se deteriorar muito rapidamente, quando seu pai é demitido do emprego e se separa de sua mãe. Para conseguir pagar o colégio, o personagem tem que se virar, assumir responsabilidades e conquistar independência (como o título do livro já diz, a infância acabou). Consegue emprego de baterista profissional e tenta montar uma revista de bandas independentes com os amigos. Nesse choque de mudança de hábitos de vida, o rapaz entra em contato com as questões do mundo adulto, o pânico da pobreza, a violência urbana, as drogas, o sexo casual, a busca do sucesso. O enredo em si, não tem nada de mais, é bem focado para o público adolescente, nenhum conflito psicológico muito forte, e o personagem principal, idealizado como um verdadeiro herói romântico, supera facilmente todos os seus problemas demonstrando pouca ou nenhuma insegurança. Isso obviamente não é um comportamento nem um pouco verossímil, mesmo para um adulto, mas é de se notar que trata-se do ideal de comportamento visto entre o público-alvo do livro - o jovem que não demonstra fragilidades, vistas como meras infantilidades, e isso pode ser um truque do autor para cativar seus leitores.

Outro ponto de destaque no livro é de que suas seqüências de ações são muito curtas e rápidas, mesmo para um livro de apenas 150 páginas. O enredo central do livro parece ser não uma ação específica, mas o somatório geral delas, isto é, todas as experiências que transformam o personagem principal, supostamente, de criança em adulto. Dentre essas pequenas ações, destacam-se aquelas relacionadas com o posicionamento do personagem com situações sociais características do Brasil atual, como, principalmente, o abismo social. O rapaz pertence à classe média, mesmo que decadente, e, como todos os seus amigos, é músico, fã de trash metal, toca bateria, e briga nas ruas contra gangues de skinheads. Mas, ao longo da história, ele entra em contato com os extremos da sociedade brasileira, isto é, como uma colega sua que faz o gênero típico da patricinha-fútil-interesseira, e uma comunidade de rappers que ele entrevista para sua revista. A impressão que o personagem tem de cada mundo, sob um aspecto emocional e crítico, é muito bem explorada pelo autor.

É claro que o livro tem exageros romântico e estereotipados. Há, por exemplo, um personagem que é um velho hippie que se torna um verdadeiro "irmão mais velho" de todos os jovens, e dá conselhos de todos os tipos para os outro personagens, agindo de maneira mais altruísta do que o razoável para um ser humano. Provavelmente, esse personagem é um alter-ego do escritor, dando sua opinião sobre a sociedade contemporânea. Além disso, trash metal é um gênero musical bem menos popular do que o autor aponta no livro, pelo menos em Porto Alegre, onde eu vivi. Lá, a classe média tenta emular os hábitos de consumo da classe alta em todos os sentidos, e, no plano musical, isso se traduz em um grande gosto pelo pop-standard da Jovem Pan, e por danças de ritmos brasileiros ultra-sensual-vulgarizados. Heavy metal, trash metal e outros sons alternativos são compartilhados pelos indivíduos que não se integram com os grupos majoritários por motivos não-econômicos, como questões intelectuais, psicológicas, sociológicas, ou mesmo por moral pessoal.

Contudo, o grande mérito do autor é tentar pintar a situação cotidiana presente das grandes cidades brasileiras, focando nos indivíduos jovens ("esses monstros", de acordo com o livro do Maffesoli). Numa época em que os tradicionais autores da literatura brasileira parecem simplesmente ignorar a atualidade, prendendo-se no mundo de sua juventude sessentista e setentista, Renato Tapajós faz um grande trabalho ao apresentar alguns fatores da sociedade atual sob um olhar muitas vezes analítico, mas sem o criticismo boçal que caracteriza muitos outros autores brasileiros.

terça-feira, setembro 11, 2007

Citando Einstein

Nesses dias, visitei o Museu de Tecnologia da Oi, o que eu considero até agora como o principal ponto turístico cultural de Belo Horizonte (perde para a lagoa da Pampulha e a Praça do Papa). Nesse museu, que conta a história das telecomunicações, a exposição mais interessante é de uma máquina na qual se seleciona um determinado pensador, cientista ou poeta do passado, e a imagem 3D de um ator imitando esse pensador aparece em uma tela para falar, com interpretação teatral, as suas citações mais famosas. Eu cheguei a ver o Nostradamus, o Buda (falando de metodologia científica!) e o Einstein, e foi deste último que eu mais gostei.

Por isso, dedico esse post para incluir algumas citações inteligentes do Einstein que eu caçei pela Internet!

"A mais bela experiência que podemos ter é a do mistério. É a emoção fundamental existente na origem da verdadeira arte e ciência. Aquele que não a conhece e não pode se maravilhar com ela está praticamente morto e seus olhos estão ofuscados".

"A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original".

"A palavra 'progresso' não terá qualquer sentido enquanto houver crianças infelizes".

"A tradição é a personalidade dos imbecis".

"Época triste a nossa em que é mais difícil quebrar um preconceito do que um átomo".

"Grandes espíritos sempre encontraram oposições violentas de mentes medíocres".

"Jamais esqueças que tua própria decisão de alcançar o sucesso é mais importante do que qualquer outra coisa".

"Lá longe existe um mundo vastíssimo, independentemente de nós, seres humanos, e que se apresenta para nós como um grande, eterno enigma, pelo menos parcialmente acessível à nossa inspeção e pensamento. A contemplação deste mundo acena para uma libertação".

"Nem tudo o que se enfrenta pode ser modificado. Mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado".

"No meio de qualquer dificuldade encontra-se a oportunidade".

"O irracional respeito à autoridade é o maior inimigo da verdade".

"Para me punir por meu desprezo pela autoridade, o destino fez de mim mesmo uma autoridade".

"O nacionalismo é uma doença infantil: é o sarampo da humanidade".

"O que é mais incompreensível é que o universo seja compreensível".

"Quando se tenta conquistar uma garota, uma hora parece um minuto. Quando se está com o traseiro sobre um braseiro, um minuto parece uma hora. Isto é relatividade".

"Se as pessoas são boas somente por causa do seu medo de punição e sua esperança por recompensa, então nós somos, de fato, uma desculpa".

"Se um dia tiver que escolher entre o mundo e o amor lembre-se: Se escolher o mundo, ficará sem o amor, mas se escolher o amor, com ele conquistará o mundo".

"Todo mundo age não apenas movido por sua compulsão externa, mas também por necessidade íntima".

"Uma pessoa que nunca cometeu erros nunca fará nada de interessante".

"Jamais considere seus estudos como uma obrigação, mas como uma oportunidade invejável (...) para aprender a conhecer a influência libertadora da beleza do reino do espírito, para seu próprio prazer pessoal e para proveito da comunidade à qual seu futuro trabalho pertencer".

"O único lugar onde sucesso vem antes do trabalho é no dicionário".