sexta-feira, novembro 27, 2009

Endereço Fixo em Brasília

Na semana passada, me mudei para um apartamento alugado na quadra 703 Norte. Vou dividir essa nova república com um ex-colega de mestrado que hoje é técnico de pesquisa no IPEA.

Esse é o meu quinto endereço nesses últimos três anos, e certamente o mais novo e limpo deles. E também é o mais caro, mas não fica muito distante do kitnet que dividíamos.

Ficamos durante ums duas ou três semanas procurando apartamentos em Brasília. Encontramos vários muito bons, e de preços similares, ainda que elevados. Contudo, as enormes confusões e burocracias exigidas pelas imobiliárias, principalmente no que diz respeito á exigência de dois fiadores residentes no DF, nos motivaram a fechar contrato diretamente com um proprietário. Ao contrário dos gerentes de imobiliárias, os proprietários não tratam seus inquilinos potenciais como se fossem caloteiros confessos.

quarta-feira, novembro 25, 2009

Mapa da Pobreza Mundial

Uma contribuição, do Alan, meu colega de mestrado no Cedeplar-UFMG. Clique no mapa para ampliar.



Mais informações sobre o mapa, contruído por ninguém menos que o Acemoglu, podem ser encontradas aqui.

segunda-feira, novembro 23, 2009

Filosofia: Novas Respostas para Antigas Questões - Nicholas Fearn

Já faz algum tempo que eu tenho curiosidade em saber como os filósofos da atualidade explicam as questões fundamentais do seu ramo do conhecimento. Quem somos nós? Para onde vamos? O que sabemos? Eu gostaria muito de sabar se os filósofos atuais tinham idéias novas e pouco conhecidas pelo público que não é da área, se eles ainda estão muito ligados aos mestres do passado, ou se eles estavam imersos na pós-modernidade de negação da identidade objetiva e da verdade. Nesse sentido, esse pequeno livro do Nicholas Fearn respondeu muitas das minhas dúvidas: sim, existem muitos filósofos contemporâneos com novas respostas para as antigas questões.

O livro é dividido em 13 capítulos, agrupados em 3 sessões, “Quem Sou?”, que aborda a questaão da identidade pessoal, “Que Sei”, que aborda questões epistemológicas, e que “Que Devo Fazer?”, que aborda questões éticas, morais e sobre a vida após a morte. O autor utilizou, como método de pesquisa, entrevistas com os maiores filósofos vivos, a maioria norte-americanos, sobre o ponto de vista deles sobre os problemas filosóficos fundamentais. Esses filósofos seguem, em geral, a linha da filosofia analítica, predominante no mundo anglo-saxônico e escandinavo, segundo a qual a filosofia é vista como um ramo de conhecimento complementar à ciência. Isto é, o conhecimento científico é tido como válido e verdadeiro, e cabe à filosofia especular sobre as implicações ainda não demonstráveis e testáveis do que a ciência já provou. Por isso, muitas das “novas idéias” estão intrínsecamente ligadas à mecânica quântica, para explicações metafísicas, e à biologia evolucionista darwiniana, para explicar aspectos da natureza humana. Posso listar um breve resumo das idéias presentes no livro.

- A noção de que os indivíduos humanos têm uma identidade singular é decorrente do pensamento religioso ocidental. Não há nenhuma evidência de que isso ocorra. Pelo contrário, a existência de uma doença como o mal de Alzeihmer, em que as pessoas perdem suas faculdades mentais e sua racionalidade antes de perder sua vida é um forte argumento contra a existência de uma alma imortal no interior de cada ser humano. Por isso, a identidade individual é melhor explicada como um mero somatório de processos biológicos dinâmicos.

- Os seres humanos tomam decisões restritas por uma série de circunstâncias. O autor obviamente não fala na “restrição orçamentária”, já que o livro não é de economia, mas sim em restrições políticas, sociais, legais, cognitivas e biológicas. Por isso, a questão do livre-arbítrio é relativa: as pessoas são livres para agir dadas essas circustâncias, que acabam determinando as decisões das mesmas. Todavia, não há nenhuma forma de controle total exógeno sobre a racionalidade humana.

- Existe a verdade. Ela está na natureza das coisas. Contudo, não é certo se os seres humanos são capazes de alcançá-la, já que nossas capacidades cognitivas são limitadas e determinadas pela seleção natural darwiniana. Isto é, as habilidades dos nossos cinco sentidos decorrem de um processo evolucionário de adaptação ao ambiente em que vivemos, e não necessariamente são capazes de capturar toda a verdade universal, já que isso seria um desperdício de energia. Por outro lado, nada impede que seres de uma civilização extraterrestre sejam capazes de se comunicar com os mortos, por exemplo, se isso fosse necessário para que eles se adaptassem melhor ao seu ambiente.

- O conhecimento de cada indivíduo decorre de suas crenças, já que a verdade muitas vezes é inalcançável. Porém, essas crenças são criadas pelas ações e observações de cada um em relação ao mundo objetivo, e não de processos intrínsecos de revelações. A existência das linguagens é uma forte evidência a favor da objetividade das crenças.

- A necessidade humana de conhecimento filosófico pode ser explicado pela biologia evolucionária. Para uma melhora adaptação psicológica ao nosso meio, necessitamos de conhecimento que transceda aquilo que conseguimos observar, e que explique nosso papel no mundo.

- A filosofia pós-moderna da Europa Continental é falha por considerar os conceitos de verdade e de razão como conseqüência de intenções políticas, e não o contrário. Assim, como as intenções políticas são tidas como exógenas, não explicadas racionalmente, abre-se espaço para teorias totalitárias, místicas e românticas sobre a realidade. Por outro lado, o desapego à verdade e à razão tende a transformar os textos pós-modernos em coletivos de prolixidade vazia. Eu, pessoalmente, já suspeitava dessa idéia desde a disciplina de Introdução às Ciências Sociais, no primeiro semestre da graduação.

- Não há nenhuma evidência de que exista algo como uma ética universal à humanidade. Cada sociedade tem o seu código de conduta moral, que pode ou não ser expresso formalmente, em termos totais ou parciais, em leis. Nossas ações podem seguir ou se desviar do que achamos ético de acordo com as circunstâncias, isto é, do que ganhamos em transgredir a moral e da possibilidade de sermos descobertos e punidos. A moral religiosa, de que há um Deus que tudo vê e que determina o que é certo e errado, é fundamentalmente autoritária e coercitiva. Atualmente, há um processo social de abandono ao compromisso com a moral, laica e religiosa, isto é, as pessoas cada vez mais se preocupam apenas em seguir as regras formais de conduta.

- Também não há nenhuma evidência de que exista vida após a morte. A necessidade dela para explicar a finalidade da nossa vida terrena não é um argumento válido, pois então teríamos que descobrir qual seria a finalidade da vida após a morte. Na verdade, a possibilidade de entendermos a finalidade do “tudo” é limitada por não conseguimos delimitar o que é esse “tudo”. Ao contrário, o conhecimento humano progride mais na medida em que a realidade pode ser dividida em partes cada vez menores. Por outro lado, a crença na vida após a morte decorre do medo humano da não-existência, o que é conseqüência de uma estratégia racional evolutiva de auto-preservação.

Eu sei que tudo é muito polêmico, e os filósofos da tradição da Europa Continental, como a grande parte dos pensadores sociais brasileiros, têm seus argumentos de defesa e de contra-ataque. Além disso, afirmar que determinados fatores metafísicos não existem simplesmente porque não há evidências da ciência empírica ao seu favor parece refletir uma visão muito estreita de mundo. E ainda, a tentativa de fundamentar todos os aspectos da natureza humana de acordo com o evolucionismo darwiniano também tende a ficar demasiadamente ad-hoc, já que essa teoria foi construída para explicar a dinâmica das espécies em prazos muito longos, e não fenômenos sociais com poucos séculos ou mesmo décadas de existência. Mas o livro é leitura recomendada pelo seu papel desalienador, de fazer pensar.

domingo, novembro 15, 2009

Passeios Cívicos em Brasília

Já faz três semanas desde que me mudei para Brasília. Nesse período, além de trabalhar, já tive a oportunidade de conhecer razoavelmente a capital federal. Meu local de trabalho, o IPC-UNDP, se localiza no Bloco O da Esplanada dos Ministérios, no prédio do Ministério da Defesa. Por isso, todo dia vejo os principais pavilhões do poder federal, como o Congresso, o Palácio do Planalto, O Itamaraty e o Ministério da Justiça.

Nos finais de semana, principalmente quando está fazendo sol, quando não estou procurando apartamentos para alugar, tenho feito alguns "passeios cívicos", visitando os principais pontos turísticos da cidade. O primeiro lugar que visitei foi o Congresso Nacional, com direito a sentar nas poltronas nas quais os deputados formulam e aprovam leis em nome de nosso bem estar. Confesso que o palácio é mais bonito por fora do que por dentro, apesar de contar com um museu bem didático sobre a história da política no Brasil. Além disso, o plenário da Câmara é muito menor visto pessoalmente do que na televisão, e, segundo o guia turístico, isso é uma ilusão de ótica provocada pelo fato de o plenário ser filmado sempre de cima.


Posteriormente, no meu segundo fim-de-semana em Brasília, caminhei pelo Eixo Monumental da Torre de TV até o Supremo Tribunal Federal. A Torre de TV tem um mirante que proporciona uma visão bastante completa da cidade. É um lugar ótimo para tirar fotos. Além disso, no seu segundo andar, tem um museu de mineralogia bastante semelhante ao de Belo Horizonte, na Praça da Liberdade, isto é, é bem organizado, mas é de interesse apenas para alunos do segundo grau. No pé da torre, há uma feirinha em que se compra e vende de quase tudo, desde camisetas do Bob Marley vendidas por ripongas rastafáris, até guarda-roupas e estantes de madeira. Quando tiver meu apartamento, sei que essa feira me será útil.


Mais adiante no Eixo Monumental está o Museu Nacional. O prédio é praticamente um ovo fincado no meio do concreto, uma grande esquisitisse do Niemeyer. Por dentro, haviam poucas exposições, mas uma, de fotos surrealistas tiradas por um artista francês, me chamou a atenção e me divertiu por mais de uma hora.


Após isso, caminhei até o Palácio do Itamaraty. Esse palácio é o prédio público mais bonito que visitei até agora na capital federal, sobretudo pelas obras de arte, incluindo esculturas, pinturas históricas e tapeçaria persa. Claro, para aqueles que, como eu, são leigos em matéria de arte clássica, a presença de uma guia contando a história de cada obra foi fundamental para a apreciação.

Por fim, atrás do Congresso Nacional está uma praça, toda em concreto. Nela, está no centro um enorme mastro com uma bandeira nacional, à direita está o Supremo Tribunal de Justiça, e à esquerda está o Palácio do Planalto, este em reformas. Essa praça é um exclente point para se tirar fotos. Na parte norte dessa praça está um pequeno prédio de design muito peculiar, que me despertou a curiosidade. Porém, quando cheguei perto, notei que parecia vazio e fechado, e não me atrevi a entrar. No outro dia, meus colegas de trabalho me avisaram que aquilo é, na verdade, um "pombal" federal, e quem se mete a entrar corre o sério risco de tomar um "banho". Dei sorte...


Ao procurar e visitar apartamentos para alugar, pude conhecer muito melhor as asas do Plano Piloto. Ao contrário da minh primeira impressão sobre a cidade, os prédios mais antigos (e feios) se concentram nas quadras mais próximas ao Eixo Monumental. Ao longo das asas, mais distantes, estão blocos de edifícios (que funcionam como condomínios) muito agradáveis, que conseguem aliar a funcionalidade residencial com um contato com a natureza, pela abundância de praças e de parques. E, sobretudo, destaco a ausência de grades ao redor dos prédios, o que dá uma impressão de liberdade ao se caminhar pelas quadras. Os apartamentos para alugar são muito caros, em comparação com Belo Horizonte, por exemplo. Dificilmente a soma de aluguel, IPTU e condomínio dê muito menos de 2 mil reais para apartamentos de dois quartos. Por outro lado, a qualidade dos imóveis para alugar é muito boa, não vi nenhum apartamento até agora que me causasse repulsa (como os que tem na área próxima à Praça da Estação em BH). Além disso, todos estão dotados de bons armários e banheiros limpos.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Geografia, Cultura, Instituições e o Desenvolvimento Econômico dos Estados Brasileiros

Uma questão da minha prova de Macroeconomia II no Cedeplar/UFMG.

III – Geografia, cultura e instituições têm sido listados como importantes determinantes do nível de longo prazo da renda. Você acha a hipótese pertinente para explicar o nível relativo de renda entre os estados brasileiros? Desenvolva.

Instituições e cultura, segundo Acemoglu (2008), são mecanismos que afetam os incentivos econômicos predominantes no ambiente nos quais os agentes estão submetidos. Em síntese, consistem em um conjunto de regras, regulações, leis e políticas que influenciam o comportamento das pessoas. Esses conjuntos de regras são importantes para o crescimento econômico, já que afetam as decisões dos indivíduos de investir em tecnologia, de poupar e de acumular capital físico e humano.

Todavia, os conceitos de instituições e de cultura ainda que semelhantes no que diz respeito ao seu papel de regular os incentivos às decisões individuais nas sociedades, são distintos. Segundo Acemoglu, as instituições dependem de escolhas sociais, isto é, estão sobre o controle dos membros da sociedade, podendo ser reformadas se estes assim decidirem, de acordo com suas preferências sociais. A cultura, por outro lado, é tida como exógena aos agentes individuais, já que depende de fatores de cunho histórico inflexíveis no curto prazo.

Particularmente às regiões do mundo que passaram por processo de colonização européia a partir do século XV, a análise institucional procura respostas para seus os diferenciais de desenvolvimento após suas independências. É considerado um fato estilizado pela literatura que as exportações geraram grande riqueza no período inicial da colonização, mas criando paralelamente desigualdades políticas e econômicas que não permitiram a criação de instituições capazes de estimular o crescimento econômico. Nesse caso, Acemoglu destaca a importância da população inicial das colônias e de sua mortalidade. As colônias pouco povoadas e pouco sucetíveis à epidemias, como a costa leste dos Estados Unidos, tenderam a favorecer a colonização de povoamento, com instituições favoráveis à igualdade de direitos e o incentivo à livre-iniciativa. Os lugares muito povoados, como o México, os Andes e a Índia, ou com altas taxas de mortalidade devido à epidemias, como a África, tenderam a dificultar o povoamento e favorecer o extrativismo e a organização institucional pela criação e manutenção de privilégios às elites locais.

Em relação aos diferenciais de renda entre os estados brasileiros, uma análise histórica referente ao papel da qualidade de suas instituições nesse processo foi elaborada por Menezes-Filho et al. (2006). Os autores procuraram analisar o impacto de fatores como a proporção de escravos em 1819 e 1872, a proporção de analfabetos em 1872, o eleitorado em 1910 e a proporção de estrangeiros em 1920 sobre a atual qualidade das instituições em cada estado brasileiro, usando como proxy para essa última o vigor das políticas trabalhistas em cada unidade da federação.

Os autores chegaram ao resultado de que a escravidão não determina as instituições contemporâneas, já que esse regime de trabalho estava amplamente disseminado por todas as regiões do país. Todavia, o analfabetismo, o eleitorado e a atração de migrantes estrangeiros são importantes, e com impactos maiores nos estados localizados no sul do Brasil. A variável que mais se destacou sobre a qualidade atual das instituições dos estados foi a imigração, o que está de acordo com a hipótese de Acemoglu sobre as condições favoráveis ao povoamento.

Arraes et al. (2001) elaboraram um estudo sobre a importância do capital social e político como determinantes da qualidade das instituições dos estados brasileiros. O autor conceitua capital social como um conjunto de relações de confiança entre os agentes econômicos de acordo com as quais os agentes formam arranjos sociais capazes de promover o crescimento. Como proxy para essa variável, os autores escolheram a proporção de participação em cada unidade da federação nas eleições estaduais. Os autores chegaram à conlcusão que o papel do capital social e político sobre o desenvolvimento é endógeno, isto é, há uma relação simultânea entre o crescimento econômico e a qualidade das insituições nos estados brasileiros.

Em relação ao papel da geografia, um teste econométrico para os diferenciais de crescimento dos estados brasileiros de 1960 a 2000 foi elaborado por Resende & Figueiredo (2005). Os autores testaram cerca de 30 variáveis relacionadas ao crescimento de cada estado, sendo que algumas delas se referiam especificamente a questões geográficas.

Dessas variáveis, três foram significantes. Em primeiro lugar, a taxa de urbanização da população estadual. De acordo com a Nova Geografia Econômica, isso reflete o fato de que regiões em que há aglomeração populacional tendem a apresentar maior taxa de crescimento econômico, uma vez que os custos de transportes são menores.

Em segundo lugar, o índice pluviométrico, no sentido de que os estado com capitais com maior volume de chuvas têm menor crescimento econômico. Mesmo não havendo na literatura um modelo econômico que relacione especificamente essas duas variáveis, existem diversos estudos empíricos que condicionam a produtividade da agricultura de cada região a determinantes climáticos. Por outro lado, esse resultado pode estar refletindo o desempenho econômico recente dos estado do Centro-Oeste, cujas capitais apresentam clima mais seco do que as demais.

Em terceiro lugar, por fim, a taxa líquida de migração, no sentido de que os estados que atraem migrantes internos tendem a crescer mais. Isso corrobora a hipótese levantada pela Nova Geografia Econômica, segundo a qual a migração expande o mercado consumidor e pressiona o mercado de trabalho das regiões, o que atria firmas e reduz custos, favorecendo dessa forma o crescimento econômico.

quinta-feira, novembro 05, 2009

Eu, Associate Researcher do IPC-IG-UNDP

Recebi hoje de manhã o e-mail que eu tanto esperava. Fui contratado pelo International Policy Centre for Inclusive Growth, um órgão de pesquisa em economia aplicada do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), aqui em Brasília.

Nas duas últimas semanas, cursei alguns tutoriais de Stata aplicados à microeconometria e à análise de impacto de políticas públicas, já me preparando para pôr a mão na massa. Espero que essa nova fase da minha vida contribua muito para apesquisa em Economia do Bem-Estar Social e para meu aprendizado pessoal (além do meu currículo Lattes).

quarta-feira, novembro 04, 2009

Pérola da Blogosfera Brasileira

Ontem descobri um dos blogs mais engraçados e inteligentes da blogosfera brasileira. O Classe Média Way of Life ironiza os hábitos pós-modernos dos brasileiros das grandes metrópoles.

Apesar de sua crítica ser voltada à classe média, que hoje em dia já representa a maior parte da população urbana brasileira em termos de consumo, acho que vale para a população como um todo. Os mais pobres, se tivessem mais dinheiro, e os ricos, se tivessem menos, se comportariam da mesma maneira.

terça-feira, novembro 03, 2009

Novo Golpe pela Internet

Leiam só o post que eu recebi hoje na minha conta do Panoramio:

Norbert Manjarrez, 1 hour ago, said:

So beautiful shot...it captures a feeling of adventure and mistery. I see that you are a perfect photographer. I need your advice. I put the self-extracting archive of pics of my young beautiful wife on my homepage. Please see these photos. Decently I will put these pics on this site?

Greetings from U.S.A.

O "Please See This Photos" abriria um link para um programa executável. Só por isso já permite desconfiar de vírus. Além disso, ele fala da "beautiful wife" dele em um site voltado a fotos paisagísticas e turísticas. Mas o que resolveu a questão foi a foto da minha conta em que ele comentou:



Alguém pode ver algum clima de mistério e de aventura no Instituto de Economia da Unicamp? Ou será que esse cara é um economista ortodoxo ironizando?

domingo, novembro 01, 2009

Primeiras Impressões sobre Brasília

Já faz mais de uma semana desde que me mudei para Brasília, e minhas primeiras impressões sobre a cidade são bastante distintas das que tive quando me mudei para Belo Horizonte, em 2007. Em primeiro lugar, ao contrário da capital mineira, particularmente de sua região central, que é uma metrópole de prédios altos, cinzentos e colados uns aos outros de modo que a vista do céu é prejudicada, Brasília é muito mais espaçosa, e de prédios baixos, a não ser os de órgãos do governo.

No Plano Piloto (Asas Sul e Norte), reside a classe média brasiliense (os mais abastados moram em condomínios e mansões atrás dos lagos e junto às embaixadas). Existem cerca de 16 quadras de extensão por 7 de largura em cada asa, e cada quadra é classificada de acordo com sua funcionalidade, tal como "Comércio Local", "Setor Residencial", "Setor Hospitalar", "Setor Hoteleiro", etc. Os endereços são dados pelo número da quadra que se localiza o imóvel, junto com o "bloco" que indica a posição do imóvel na quadra. No início, é estranho ler esses endereços, mas depois de se aprender a sua lógica, torna-se fácil de se orientar pela cidade. O quitinete que estou dividindo (Morato II) fica na quadra 502, que é um setor comercial.

As quadras, em geral, são muito grandes, com muito espaço entre os prédios (os "blocos"), de modo que existem calçadas entre eles para a circulação de pedestres. A circulação de carros é mais complexa: cada quadra tem um acesso próprio, com um estacionamento de rua (poucos prédios têm garagem subterrânea) em cada uma. Os prédios são bastante curiosos: originalmente eram todos bastante semelhantes, mas depois de tantas reformas ao longo dos 50 anos da capital federal, eles adquiriram design próprio, cada um. As reformas dos prédios funcionais, adaptando-os às demandas tecnológicas e arquitetônicas ao longo das décadas, seguem um processo peculiar: alguma construtora compra um prédio antigo, quebra-o quase por inteiro, deixando apenas seu "esqueleto", e constrói todo o resto de novo, deixando como se fosse um prédio novo. Na quadra atrás do quitinete, quase todos os prédios estão passando por esse tipo de reforma. Além disso, mesmo com toda a área verde presente na cidade, e que eu sentia tanta falta quando morava em BH, confesso que não acho os prédios de Brasília bonitos, a não ser os mais recentes, ou os melhor reformados. Ainda não me acostumei com a estética dos prédios funcionais originais, todos iguais e com aspecto de pequenos colégios. Mesmo os prédios públicos mais antigos (à excessão do Banco Central e do Banco do Brasil) parecem gigantescas caixas de fósforos empilhadas.

Por outro lado, a gastronomia da cidade, assim como sua vida cultural, é muito rica e agradável. O custo da alimentação em Brasília, ao contrário do que me falaram, não é absurdamente cara: um pouco mais que em Belo Horizonte, mas muito menos que em São Paulo, por exemplo, os preços estão mais ou menos no nível de Porto Alegre. Existem muitos restaurantes caros, mas também existem restaurantes funcionais nos ministérios que são subsidiados (10 reais o quilo, no almoço), além de restaurantes com pratos executivos de cerca de 10 reais, e botecos mais simples que servem pratos enormes de arroz, feijão, bife e salada por 7 reais. Ao contrário de BH, pastelarias, confeitarias e lanchonetes especializadas em salgados e pão-de-queijo são raras em Brasília, e estão concentradas na rodoviária. O lanche típico da população são redes de fast-food como Giraffa's, Subway, Bob's e McDonald's, que abundam pelas quadras comerciais. Isso, sim, pode elevar os gastos pessoais com alimentação. A vida cultural conta com muitas exposições de artes plásticas e teatros junto às sedes dos bancos, além de casas de cinema alternativo, tudo a preços acessíveis (ou de graça).

O sistema de ônibus da cidade me pareceu eficiente, com muitas linhas e freqüência satisfatória. Além disso, há uma discriminação de preços nas tarifas: os ônibus que circulam no plano piloto cobram 2 reais, e os que vão até as cidades satélites cobram 3 reais a passagem. A discriminação certamente reflete os custos com combustível, mas é pior para a população mais pobre, que costuma morar mais longe dos seus postos de trabalho. O que me impressionou foi a má qualidade dos ônibus da cidade, muitos deles são tão antigos que parecem que vão estragar a cada vez que o motorista pára em uma parada. Isso é surpreendente para uma cidade da renda per capita de Brasília...

Estou trabalhando em um órgão de pesquisa em economia aplicada na Secretaria de Assuntos Estratégicos ligado à ONU (IPC-UNDP), que fica na Esplanada dos Ministérios. Nos finais de semana, quando não estou procurando apartemento com meu colega de mestrado (e de quitinete), tenho visitado os pontos turísticos da capital federal: visitei o Congresso, que é muito interessante (apesar de que o plenário da Câmara é muito menor pessoalmente do que parece na televisão) e com muito conteúdo didático sobre a história e as instituições políticas brasileiras, as sedes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, e a região dos lagos. Ainda há muito o que conhecer por aqui!