segunda-feira, agosto 30, 2010

Coisas Estranhas de Brasília 3

Hoje, quando íamos almoçar na Vila Planalto, vi pela primeira vez diante de mim uma queimada. Uma nuvem de fumaça branca cobria parte de um campo aberto à margem da Via N Dois Leste, com alguns focos de incêndio isolados, e muitas cinzas no chão. Alguns bombeiros tentavam conter as chamas usando mangueiras.

Perguntei para o chefe do meu grupo de trabalho se aquilo seria perigoso para os prédios da cidade e para a população. Despreocupadamente, ele me contou que não, e que desde o mês passado, ele vê pelo menos duas queimadas no caminho de casa.

terça-feira, agosto 24, 2010

Primeira Publicação a Caminho

O site da Revista Análise Econômica (UFRGS) anunciou os artigos que serão publicados na edição de setembro de 2010. A minha estimação da lei de Thirlwall com dados em painel para América Latina e Caribe está confirmada.

Nessa edição, haverá mais dois trabalhos sobre o mesmo tema, ainda que com abordagens distintas. Um deles é de autoria da Veridiana, orientanda do Gilberto Tadeu Lima na USP, que tive a oportunidade de conhecer no primeiro encontro da AKB, em 2008.

Além desses trabalhos, a revista também contará com a presença dos professores da UFRGS Fernando Ferrari Filho, analisando os impactos macroeconômicos do regime de metas de inflação, e Maria Heloisa Lenz, com um estudo sobre a história econômica da argentina.

O Duilio, colega blogueiro, vem com um trabalho sobre economia política aplicado à situação fiscal do Rio Grande do Sul contemporâneo. Esse é um tema que me interessa muito, e estou ansioso para ter a oportunidade de ler o paper.

E o pessoal do Cedeplar-UFMG dá as caras em dois artigos. A Ana Tereza e o Marco Crocco publicam um estudo na área de moeda e território. O Pedro, atualmente cursando doutorado em Cambridge (UK), junto com os professores Mauro e Flávia Chein, publica um trabalho aplicado sobre métodos de análise regional.

terça-feira, agosto 17, 2010

Avenida Paulista

A Avenida Paulista é o coração financeiro do Brasil, mas para encontrar uma agência do Banco do Brasil por lá é preciso bater perna.

III Encontro da AKB em São Paulo

Na semana passad, estive em São Paulo, onde participei do III encontro da Associação Keynesiana Brasileira. O congresso foi realizado na EESP/FGV, próximo à avenida Paulista, o coração financeiro do Brasil.

A faculdade de economia da FGV tem uma infra-estrutura que eu nunca tinha visto em uma universidade brasileira, tem a aparência de uma grande empresa. As salas são impecavelmente limpas, com cadeiras estofadas, mesas individuais para os alunos, projetor de Power Point e ar condicionado funcionando. Muito diferente de qualquer outra faculdade de economia que eu já tenha visto no Brasil (quem chega mais perto é a PUC-RS, em que fiz o exame da Anpec em 2006, e a UFMG). E o mais surpreendente é que cada sala de aula lá é patrocinada por alguma empresa de grande porte. Tipo assim: "Sala 2003 - Banco Itaú", e nessa sala teria uma pintura que faz propaganda para o Itaú cobrindo duas paredes inteiras. Isso pode parecer desconfortável para quem estudou a vida toda em universidade pública, mas para as instituições privadas, é uma maneira criativa de arrecadar fundos.

No primeiro dia do encontro, houve um mini-curso sobre os ciclos financeiros minskyanos, ministrado pelos norte-americanos Steven Fazzari e Thomas Palley, que, por sinal, eram os únicos estrangeiros do encontro, fora os latino-americanos.

Nos demais dias, ocorreram as apresentações dos trabalhos. Aproveitei para ver as seções em que tinham trabalhos sobre a Lei de Thirlwall (apenas um paper sobre isso, para meu espanto) e sobre a macroeconomia do bem-estar social, tema da minha dissertação de mestrado.

Sobre a lei de Thirlwall, a Daniela Carbinato (UFRJ) apresentou uma estimação da relação entre a estrutura da pauta de exportações e a restrição externa ao crescimento econômico brasileiro para o período 1962-2006. Para isso, ela desagregou em 10 grupos a proporção e a quantidade de ítens exportados e importados pelo país. O trabalho ainda está em processo de elaboração, mas me chamou a atenção de que o II PND elevou a taxa de crescimento potencial do produto brasileiro para cerca de 8,5% anuais em plena década de 80. Questionei esse cálculo, e me avisaram de que o modelo da autora não incluía o papel dos fluxos financeiros para a restrição ao crescimento.

Na minha seção, em que apresentei a parte teórica da minha dissertação de mestrado, a Roberta Guimarães (UFRJ) fez um estudo empírico que também procurou cruzar micro-dados com dados de desemprego e de desocupação para analisar o comportamento de problemas sociais. Ela empilhou PNADs de 1992 a 2005, com dados agregados por regiões metropolitanas, para procurar os determinantes da taxa de homicídos por 100.000 habitantes para os homens jovens brasileiros. Usando técnicas econométricas para painel, ela verificou que as variáveis mais significativas são exatamente a proporção de desempregados e de ociosos em cada metrópole ao longo do tempo. O papel do mercado de trabalho foi superior inclusive ao da renda (já que a violência cresceu junto com o PIB brasileiro no período), ao da desigualdade e da favelização. Acho que, com algumas correções e observações, esse artigo dará uma boa publicação.

De resto, fui acompanhar os trabalhos dos meus amigos do Cedeplar/UFMG, como o Luís, o Fabrício, o Marco Flávio, o Raimundo, a Vanessa e a Ana Tereza. Também conheci um leitor do blog, que faz mestrado na Unicamp e estuda economia industrial.

De um modo geral, vi que os trabalhos estavam bastante diversificados (ao contrário do primeiro encontro, em 2008), a preocupação com a fundamentação teórica e empírica era evidente na maior parte dos artigos, isto é, se aproximavam de programas de pesquisa no sentido lakatosiano do termo. Noto que, um ano afastado da Universidade, já não tenho muito ânimo para acompanhar papers que buscam destrinchar algum determinado conceito da Teoria Geral e suas interpretações e desinterpretações pelos macroeconomistas posteriores. Além disso, argumentos de que a baixar a taxa de juros e desvalorizar o câmbio são políticas para o crescimento de longo prazo sem riscos inflacionários não me convencem. Continuo acreditando que o Brasil tem problemas estruturais - sociais e econômicos - mais importantes do que esses. Por outro lado, vi que muitos dos presentes no encontro, incluindo o Nakano e o Bresser-Pereira nas sessões especiais, defendem a reforma fiscal que substitua gastos correntes por investimentos pelo setor público brasileiro, e a adoção de mecanismos de controles de capitais para evitar contágios de bolhas financeiras externas na economia doméstica. Nesses casos, concordo com os argumentos, mas ainda quero saber como fazer isso com eficácia. Por fim, vi que muitos dos participantes apontam o déficit público como a causa das altas taxas de juros praticadas pelo Banco Central. Até mesmo o professor Nakano defendeu o congelamento dos gastos correntes do governo federal para que a taxa Selic possa ser reduzida sem pressão sobre os preços. Ou seja, felizmente o argumento da "vontade política para conduzir a política monetária" parece ter perdido espaço na heterodoxia brasileira.

Em resumo, a AKB reuniu, em geral, jovens pesquisadores (ao contrário da SEP) dispostos a defender suas teses utilizando métodos lógicos e empíricos para isso, deixando a retórica da boa vontade de lado, e, principalmente, capazes de aceitar críticas e sugestões aos seus trabalhos. Posso não concordar com muitas das hipóteses levantadas nos trabalhos que assisti, mas sei que renderão bons frutos aos seus pesquisadores.

terça-feira, agosto 10, 2010

Off Até Segunda-Feira

Esta semana estarei fora. Viajo para São Paulo hoje à noite para apresentar o artigo teórico da minha dissertação no encontro da AKB. Na sexta a tarde, embarco para Belo Horizonte aproveitar o fim-de-semana bem acompanhado.

Uma Imagem sobre a Propensão ao RIsco

Em caso de enchente, procure um lugar seguro.


Clique para ampliar.

terça-feira, agosto 03, 2010

Vídeo do IPC-IG/UNDP

O pessoal do departamento de comunicação fez um vídeo muito legal sobre a instituição em que trabalhamos:



Pago um cafezinho para quem me encontrar nesse vídeo. Dica: estou 5 anos mais velho e 10 quilos mais gordo do que a foto na coluna à direita no blog.

segunda-feira, agosto 02, 2010

A Distribuição de Renda No Brasil segundo a PNAD 2007 (2)

Nesse post, vou comentar sobre a distribuição dos decis de renda domiciliar per capita brasileiros de acordo com as regiões do país em que vivem. Os dados da PNAD 2007 revelam os seguintes gráfico e tabela:



A tabela mostra a proporção da população de cada região que se encontra em cada um dos decis de renda, calculados tal como no post passado, de modo que as colunas somam 100%. Eu preferi calcular esse indicador por esse critério ao invés de fazer a conta inversa - qual porcentagem de cada decil brasileiro reside em cada região - como modo de controlar o efeito do tamanho populacional das regiões nordeste e sudeste em relação às demais. Além disso, resolvi separar o Distrito Federal do resto da região Centro-Oeste, pela diversidade da estrutura econômica (funcionalismo público versus agronegócio).

O gráfico revela quatro distintos padrões na distribuição regional de renda no Brasil. Primeiro, as regiões mais pobres - Nordeste e Norte - apresentam a maior parte das suas populações no primeiro e segundo decis, e linearmente cada vez menos a partir do terceiro. A desiguladade é explicitamente maior no Nordeste, que tem uma distribuição quase que hiperbólica, do que no Norte. Segundo, a região Centro-Oeste (sem o Distrito Federal) apresenta a distribuição populacional mais homogênea entre os decis no país. Esse resultado não deixa de ser surpreendente, já que há um discurso quase que universal de que o setor agrícola, particularmente referente ao agronegócio, seria a principal causa da concentração de renda no Brasil, pela concentração da propriedade fundiária. Terceiro, as regiões Sul e Sudeste apresentam distribuição de renda semelhante, com a maior parte da população entre o sexto e o nono decis, ainda que a região Sul tenha menos pobres. Quarto, por fim, chama a atenção a distribuição de renda do Distrito Federal: nada menos do que 27,5% de sua população está entre os 10% mais ricos do país.

Agora temos uma boa idéia do que gera concentração de renda no Brasil.

De Volta à Ativa

Admito que blog esteve abandonado nas últimas semanas. Na semana do dia 19, estive de férias com minha família em Porto Alegre (chuva, chuva, chuva). Na semana passada, de volta à Brasília, estive trabalhando full-time para concluir os cálculos dos indicadores sociais da Bolívia, que será o segundo country report da nossa pesquisa.

O relatório da Guatemala, após mais de seis meses de luta, já está concluído (com quase 250 páginas!) e foi entregue para os revisores.

Agora, estou de volta a ativa no blog. Pretendo continuar apresentando os dados da PNAD 2007 sobre os decis de distribuição de renda no país, e uma crônica sobre o que mudou em Porto Alegre desde que saí da casa dos meus pais, em 2007.