segunda-feira, outubro 30, 2006

Caninos Brancos - Jack London

Essa é a ressurreição de um pseudo-crítico literário!

"Caninos Brancos" é o segundo romance de Jack London que eu tive a oportunidade de ler (o outro foi "O Chamado da Floresta"), e o método narrativo, assim como as descrições psicológicas dos personagens, é muito semelhante nas duas obras. O autor descreve a história da vida de animais como se eles fossem seres humanos, isto é, abordando não apenas seu desenvolvimento físico, mas também (e com muita ênfase) sua evolução psicológica e suas emoções e sentimentos. Igualmente, o autor discorre sobre as relações entre os personagens, o meio em que vivem e suas relações com os outros indivíduos (de sua espécie ou não) para tentar explicar os seus comportamentos.

Enquanto em "O Chamado da Floresta" a narrativa descreve a história de um cão doméstico que é roubado e enviado para o Alasca, passando por um incrível processo de adaptação ao meio selvagem e natural, "Caninos Brancos" mostra exatamente o oposto. Agora, a história é sobre um lobo selvagem do norte do Canadá que é domesticado por índios, depois vendido a um dono de rinhas e por fim vendido a um advogado de San Francisco. A ênfase da história é o processo de adaptação, psicológica e emocional, pelo qual o lobo Caninos Brancos passa ao longo de cada fase de sua vida, sendo que esse processo é descrito de forma idêntica ao desenvolvimento de um ser humano.

Assim, vivendo em seu meio natural (o Wild), Caninos Brancos aprende o seu instinto, e as leis da natureza (basicamente, "Comer ou ser comido"). Vivendo com os índios, aprende o senso de Obediência (de um modo como que religioso) com os humanos (descritos como deuses todo-poderosos para os cães) e a Solidão, pela rejeição que sofreu perante os cães domésticos da tribo, por ser um lobo selvagem. Vivendo como lutador com o dono de rinhas, Caninos Brancos aprende o Ódio, e se torna um assassino nato. Por fim, com o último dono, o lobo conhece o Amor, e torna-se perfeitamente adaptado à vida doméstica e entre os sere humanos.

Mas o mais interessante da narrativa de Jack London é a sua maneira de enxergar o desenvolvimento dos indivíduos - animais ou homens. Muitas vezes ao longo do enredo, o autor descreve as potencialidades (principalmente durante a infância, mas presente ao longo de toda a vida) de cada indivíduo como "barro", o qual é moldado pelo meio em que esse mesmo indivíduo vive e pelas relações sociais que pratica, tendo como resultado final as características pessoais e a personalidade de cada um. Tal visão de indivíduo e sociedade remete ao Naturalismo (corrente literária predominante na segunda metade do século XIX), a qual defendia o determinismo do indivíduo pelo seu meio. Mas ao contrário dos autores naturalistas, que viam o determinismo como algo estritamente negativo, que anularia a criatividade e a virtude de cada indivíduo em vantagem dos vícios (ou as "doenças") da sociedade, Jack London tem uma visão mais otimista, destacando a possibilidade de um "determinismo positivo", no caso de um indivíduo, mesmo se for selvagem, se for suficientemente amado e reconhecido pelo seu meio, poder tornar-se virtuoso. No livro, temos o caso de um lobo que era um animal hostil até encontrar o significado do amor e do respeito com seu último dono e sua família.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Comentário Sobre a Cláusula de Barreira

É consenso entre os analistas políticos que o excesso de partidos políticos atuando no Congresso Nacional representa um entrave à governabilidade, a discussão sobre propostas de lei e emendas e um estímulo à corrupção, pois aumenta a necessidade de se haver cargos no governo para ser distribuídos entre a chamada "base aliada", isto é, entre os partidos que apóiam algum determinado governo, em nível federal, estadual ou municipal.

Dentre as alternativas mais conhecidas internacionalmente para se reduzir o número de partidos políticos com real força política em nível nacional, existem o chamado Voto Distrital (comum nos países parlamentaristas e nos EUA), em que o voto para cargos legislativos é regionalizado, e o Voto por Lista Fechada (adotado pela maioria dos países presidencialistas), em que o eleitor vota em um partido político para as eleições legislativas, e cada partido escolhe seus políticos eleitos com base na proporção de seus votos em relação aos dos demais partidos.

No Brasil, nessa presente eleição, foi executada uma proposta alternativa com o mesmo objetivo de reduzir os partidos políticos com representação no Congresso Nacional. Foi instituída a clásula de barreira, em que os partidos que não obtivessem pelo menos 5% dos votos para o Congresso Nacional tivessem seu tempo de espaço na televisão cortado e suas verbas federais para campanha reduzidas. Tal política teria o efeito positivo de além de reduzir o número de partidos políticos no Congresso Nacional, de economizar recursos públicos que financiariam campanhas políticas condenadas ao fracasso e de preservar a paciência do cidadão com propagandas compulsoriamente televisionadas de candidatos e partidos com ideologia bizarra, sem identificação alguma com o eleitorado.

Com a regra em vigor, seria esperado que os partidos políticos no Brasil começassem a se fundir entre aqueles com maior afinidade ideológica, fortalecendo não apenas os partidos resultantes, mas também a ideologia e o sistema político brasileiro como um todo. Assim, por exemplo, poderia-se esperar o surgimento de uma grande frente de direita incluindo PP e PFL, assim como o fortalecimento da social-democracia com a fusão de PSDB e PPS, ou a incorporação do PDT pelo PSB, ou a união de todas as forças evangélicas em um novo Partido Democrata Cristão, ou mesmo a união de todos os partidos de extrema-esquerda, fortalecendo a representação de sua ideologia.

Contudo, o que estamos vendo até agora (e sem perspectiva de mudança, para o futuro), foi uma espécie de "comilança" dos partidos médios sobre os pequenos. Ou seja, os partidos médios, que ficaram com votação em torno da cláusula de barreira buscaram engolir partidos menores sem proximidade ideológica nenhuma, apenas para fortalecer sua votação e assegurar seus acessos à propaganda televisiva e aos recursos públicos de campanha. Assim, vimos, até agora, o PTB (partido sem ideologia alguma) absorver o PAN (partido dos aposentados, sem futuro político algum) e o PL (partido centrista, de orientação religiosa) se unir com o Prona (partido nacionalista neo-fascista, de extrema-direita) e o PT do B (partido de esquerda trabalhista) para fundar o Partido Republicano. Hoje mesmo o PPS se uniu com o PHS (que prega a pitoresca utopia do "Solidarismo" para ocupar o lugar do Capitalismo) e o PMN (igualmente pitoresco, defende a ideologia da Inconfidência Mineira) para fundar o Partido Democrata. Mais bizarro ainda é a proposta fusão do Partido Verde com o PSC, de orientação evangélica e subordinado nacionalmente ao casal Garotinho.

Ou seja, a cláusula de barreira está conseguindo eliminar os pequenos partidos do cenário nacional. Contudo, não são eles os responsáveis pela ingovernabilidade e pelo leilão de cargos políticos a líderes partidários, favorecendo assim a corrupção. Isso é culpa dos partidos fisiólógicos (PMDB, PL, PTB e PP de São Paulo pra cima), sem ideologia nenhuma, e cuja única finalidade de existência é dar espaço para caciques regionais (ou religiosos, ou corruptos notórios como Roberto Jefferson) abocanharem influência e repasses de verbas junto aos governos executivos em nível federal, estadual e municipal. Partidos pequenos, de ideologia muitas vezes controversa, mesmo que insignificantes, são importantes no jogo democrático, e é necessário que sobrevivam e tenham pleno acesso às eleições, mesmo que não vençam. Eles existem em qualquer democracia, e representam a ideologia das minorias.

sábado, outubro 21, 2006

ANPEC Gera Traumas

Algumas coisas que aconteceram comigo desde a metade de julho, quando eu começei a estudar direto pra prova da ANPEC, que aconteceu nessa semana, na quarta e quinta feira:

- Esse blog foi jogado às moscas, pela qualidade dos posts anteriores;

- Engordei um monte, e tudo parece que se acumulou na barriga;

- Dormia não mais que seis horas diárias na maioria das vezes, e não só por estudar a noite toda, mas também por causa de insônia movida pela ansiedade;

- De tanto tomar café preto pra não dormir em cima dos livros e dos cadernos, desenvolvi uma azia crônica;

- Passei os dois dias de prova com aceleração cardíaca e dor no peito, o que também não me deixou dormir direito nesse período;

- Passei dias sem sair de casa, pegar sol e me comunicar com outros seres humanos;

- Minha vida social, com exceção da formatura, do Ereco e de um reencontro com amigos dos tempos de Colégio Anchieta, se resumiu a ir às aulas e jantar com os meus pais;

- Estou com uma cicatriz na testa, por ter apoiado a cabeça na ponta da lapiseira enquanto estudava;

- Fiquei com olheiras maiores do que as do Frankenstein e os olhos mais vermelhos do que os do Marcelo D2 (e isso que eu nunca fumei maconha);

- Qualquer senso de humor foi para o espaço;

- Me sinto um velho rabugento, desses que pensam nas coisas boas que já fez na vida como partes de um passado remoto;

- Depois da prova, precisei de muita cerveja e de um copo inteiro de whisky Jack Daniels pra me acalmar um pouco;

- Hoje me deu cãibra no tornozelo, mas não sei se tem relação com a ANPEC. Deve ter.

E ainda:

- Me ralei na prova de matemática: quase tudo que estudei nesses três meses não caiu na prova;

- A prova objetiva de Economia Brasileira estava absurdamente detalhista;

- Tenho que agüentar chatos perguntando o tempo todo: "E aí, como foi na prova? Acha que dá pra passar na USP ou na UNB?"

Pelo menos:

- A formatura tava afuzel, consegui reunir todos os parceiros de Xis-Lombo e Cerveja Polar da Lima e Silva para a minha recepção;

- Participei do Ereco (Encontro dos Estudantes de Economia da Região Sul) como palestrante (de terno, gravata e tudo), e conheci muita gente legal, principalmente a Denise, da UFPR;

Pra finalizar:

Pessoal que quer ser cineasta, tenho uma idéia: já que aquele cara norte-americano filmou a sua vida durante um mês em que só comeu no Mc Donalds (Super Size Me, eu acho), por que não fazer um filme contando o que acontece na vida e na saúde de um estudante para a ANPEC? Ou seria violento demais?

terça-feira, outubro 10, 2006

Outra Música

Metallica - Turn The Page

On a long and lonesome highway east of Omaha
You can listen to the engines moaning out as one long song
You think about the woman or the girl you knew the night before

But your thoughts will soon be wandering the way they always do
When you're riding sixteen hours and there's nothing much to do
And you don't feel much like riding, you just wish the trip was through

Here I am,
On the road again
There I am,
Up on the stage
Here I go
Playing star again
There I Go
Turn The Page

domingo, outubro 08, 2006

Realidade Non-Sense

Ontem à noite, fumei cachimbo com Karl Marx, e ele me disse que o maior problema do mundo é a atual incapacidade de comunicação entre as pessoas.

Por isso, ele quer ser cineasta.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Manifesto de Repúdio

Taí um intelectual brasileiro que ainda consegue publicar um artigo com conteúdo inteligente:

http://pensamentosdomal.blogspot.com/2006/09/manifesto-de-repdio_30.html

quarta-feira, outubro 04, 2006

Ortodoxos vs. Heterodoxos II

O embate entre diferentes pontos de vista dentro de uma mesma matéria transcede a Ciência Econômica, e está presente nas mais diversas áreas do conhecimento humano.

Li uma reportagem sobre um debate bastante acirrado dentro da biologia, mais especificamente, na área de genética. Segundo o artigo, os biólogos ditos "ortodoxos" defendem o determinismo do indivíduo (humano ou não) pelo seu código genético, em relação a praticamente todas as suas ações e potencialidades. Segundo esses pesquisadores, a função da vida de um indivíduo não é nada mais do que passar o seu DNA adiante. Por outro lado, os "heterodoxos" diferenciam o comportamento humano dos demais seres vivos. Segundo esses, os indivíduos da espécie humana são influenciados pelo seu meio social e pela sua cultura de modo tão intenso como a sua carga genética. Portanto, não haveria determinismo em relação ao comportamento humano.

Essa reportagem me fez pensar os limites mais genéricos dessa discussão presente dentro da Ciência, que divide os pontos de vista dos pesquisadores em dois blocos principais, geralmente rotulados de "ortodoxos" ou "heterodoxos":

-De um lado, existe a ciência "ortodoxa", determinística, fria e calculista. Todo indivíduo, toda partícula existente no universo tem um motivo para estar onde estiver e fazer o que estiver fazendo. A expressão lógica do funcionamento das forças naturais (incluindo o comportamento humano) é a linguagem matemática, isso é, a expressão da racionalidade lógica que governa o nosso Universo.

-De outro lado, temos a ciência "heterodoxa", que centra suas análises nos princípios de incerteza, do caos, da aleatoriedade. "Não existe uma verdade absoluta, e mesmo que existisse, estaria acima dos limites da inteligência humana" é o seu lema, inspirado na filosofia sofista. Dentro das ciências sociais (economia, sociologia, psicologia, etc.), o comportamento individual e coletivo deixa de ser fundamentado na racionalidade e na carga genética, e passa a ser explicado por fatores mais abstratos, tais como a emoção, a tradição cultural (Weber), as relações de dominação (Marx), os desejos contidos (Freud).

segunda-feira, outubro 02, 2006

Blitzkrieg - Faça Você Mesmo

Música (afuzel) de uma banda de punk rock da cena alternativa de Porto Alegre

Blitzkrieg - Faça Você Mesmo

Sabe aqueles dias em que você pensa em fazer nada
Sair pra dar uma volta sem destino ou motivo algum
A verdade é que você se sente preso
Na sua rotina

Se você já está cheio dessa vida,
Então é a hora de mudar
Não espere que os outros façam algo por você
Vá à luta e não desista

Faça você mesmo
Não espere que os outros façam algo por você
Vá à luta e não desista
Faça você mesmo

Não dê bola para o que os outros possam vir a falar de você
Há coisas mais importantes para darmos mais atenção
A real é que essas pessoas têm inveja
Da nossa coragem

Nunca é tarde pra lutar e fazer algo de bom acontecer
Em nossas vidas
Não espere que os outros façam algo por você
Vá à luta e não desista

Faça você mesmo
Não espere que os outros façam algo por você
Vá à luta e não desista
Faça você mesmo

Que saudade dos tempos dos shows no Garagem Hermética e no Teatro de Elis (e em outros lugares que não dão tanta saudade assim), do Paraíba's Rock Festival, dos Ramoníacos (Hey, Ho, Let's Go) e das rodas. Talvez um dia eu volte lá...

OBS: se alguém tem algum link ou notícia da banda Blitzkrieg, favor me informar, que há muito tempo não tenho informação nenhuma a seu respeito.