segunda-feira, agosto 28, 2006

Pinte o Cachorrinho por Último

Eu me lembro como se fosse ontem (clichezão) o dia em que fiz a minha primeira prova acadêmica. Não era bem uma prova como estou acostumado hoje, mas um "trabalhinho que a professora vai recolher e levar para o conselho de classe", um mero eufemismo para não assustar as inocentes crianças da primeira série do primeiro grau (hoje conhecido como "Ensino Fundamental").

A prova, ou o trabalhinho, consistia em uma série de animais desenhados em uma folha, em preto-e-branco, para a criançada colorir. O objetivo, eu imagino hoje, era avaliar aqueles que conseguiam pintar dentro das bordas do desenho, sem borrar (uma meta muito ousada para crianças de 6 ou 7 anos de idade). De todos os animais, o mais difícil de pintar era um cachorrinho, que era todo malhado, exigindo que as crianças usassem várias cores para pintar o desenho de seu pêlo. Imediatamente, diante da primeira adversidade de sua vida acadêmica, um dos meus colegas realizou a sua primeira estratégia de estudo de sua vida: Como é mais difícil, vamos pintar o cachorrinho por último! Brilhante, não?

Bom, pra mim 15 anos se passaram como vento desde então (1991), e encontrei pela minha vida a matemática, a física, de vez em quando a geografia, depois o Vestibular, mais depois ainda a faculdade, começando por Cálculo, continuando por álgebra e concluindo com a monografia, e agora estou suando a camisa em cima de concursos públicos e o exame ANPEC (para pós-graduação em economia). O moedor de carne humana representado pelo ensino fez muitas vítimas entre meus colgas de primeira série, e muitos deles eu nunca mais vi.

Mas eu ainda me lembro daquela maldita figura do cachorrinho. A primeira adversidade. A primeira gota do stress e da pressão que iria tomar conta do meu corpo nos 15 anos seguintes. A ponta do iceberg que iria afundar o Titanic chamado "tranqüilidade infantil".

Pensando bem, até que pintar aquele bicho não foi tão difícil. Se na prova da ANPEC desse ano ele aparecer para me amolar novamente, não terei medo, e o pintarei com segurança!

quinta-feira, agosto 24, 2006

Algumas Citações de Oscar Wilde

OBS: O estudo para a prova da ANPEC vem consumindo a minha criatividade ultimamente. Mas pretendo voltar a criar novos textos em breve.

"O homem perfeitamente bem informado, eis o ideal moderno. E o cérebro do homem perfeitamente bem informado é uma coisa horrorosa, uma espécie de bricabraque atulhado de monstrengos e de poeira, com tudo tabelado abaixo do verdadeiro valor."

"A finalidade da vida é para cada um de nós o aperfeiçoamento, a realização plena da nossa personalidade."

"A humanidade toma-se muito a sério (...) É o pecado original do mundo. Se o homem das cavernas soubesse rir, a história seria diferente."

"As mulheres representam o triunfo da matéria sobre o espírito; exatamente como os homens representam o triunfo do espírito sobre a moral." (obs. Oscar Wilde era bissexual)

sábado, agosto 12, 2006

A Natureza da Pobreza das Massas, de John Kenneth Galbraith

(Continuando o post anterior)

Segundo o autor, a pobreza de massas, característica dos meios rurais, decorre de uma situação de "equilíbrio de pobreza". Galbraith explica que em sociedades muito atrasadas economicamente (como a Índia da época em que ele era embaixador americano), as pessoas tendem a se acomodar em sua situação de pobreza, como conseqüência natural às tradições de seu modo de vida ancestral, assim como também uma reação à probabilidade de fracasso caso essas pessoas busquem romper com seu modo de vida. Em termos economiscistas (essa palavra existe?), nas regiões rurais dos países mais pobres, os agentes econômicos apresentam um comportamente de aversão ao risco praticamente inelástico em função a qualquer variável econômica, o que impede investimentos no setor produtivo, o progresso tecnológico e os ganhos de produtividade, característicos do processo de desenvolvimento. Tal comportamento de aversão ao risco decorre da elevada probabilidade de retorno negativo dos investimentos no setor produtivo em que os agentes lidam, aliado ao fato de que nesses países muito pobres, qualquer crise agrícola provoca escassez de alimentos, fome em massa e mortes, desincentivando assim a adoção de novidades no setor produtivo.

Assim, em um estado de equilíbrio de pobreza, as pessoas não se interessam em buscar ampliar seus padrões de vida (devido à aversão absoluta ao risco), e predomina a lei da população de David Ricardo e Thomas Malthus, isto é, de que ganhos e perdas de renda monetária se refletem, no longo prazo, em movimentos no tamanho total da população, sendo que o padrão de vida tende a permanecer estável, no nível mínimo de subsistência socialmente aceito.

Por isso, o autor defende que qualquer política pública que venha a ser adotada pelos países subdesenvolvidos com o objetivo de atacar a pobreza, necessariamente terá que quebrar essa situação de equilíbrio de pobreza em que os agentes econômicos se encontram. Para isso, o autor traz duas sugestões básicas: uma delas é o incentivo à industrialização (argumento fraco) para os países mais pobres, já que o choque da mudança econômica tenderia a quebrar os laços de equilíbrio de pobreza instituídos pelas antigas tradições sociais. A segunda é o incentivo à alfabetização e à educação em massa do povo rural (argumento forte) desses países, de modo a tornar os agentes econômicos críticos e inconformados com seu estado de penúria, e aptos a tomar atitudes a mudar isso.

Contudo, Galbraith acaba por pecar em suas generalizações, de observar empiricamente o que aconteceu em um lugar e uma época específica (a Índia rural de meados de 1940-50) e estabelecer um modelo teórico para toda a economia mundial. Um estado de equilíbrio de pobreza garantido e perpetuado por antigas tradições sociais e instituições pode fazer sentido em uma sociedade de castas como a da Índia arcaica. Mas eu não vejo, por exemplo, no Brasil atual, semelhante fenômeno.

Por outro lado, destaco a virtude da obra de Galbraith em destacar o papel da educação para o bem-estar de uma população e para o progresso social. Ao contrário da maioria dos economistas, que apontam a educação de massas como importante para elevar a produtividade do trabalho e favorecer à acumulação de capital, Galbraith pensa no bem-estar individual que a educação oferece às pessoas, de torná-las críticas de suas condições e aptas a superar seus problemas.