quarta-feira, junho 25, 2008

Mapa da Pobreza em Porto Alegre - 13 (Quilombo da Família Silva)

Tenho aproveitado minhas férias para caminhar e tirar fotos de alguns bairros de Porto Alegre.

Ontem, quando estava caminhando entre as mansões e os condomínios de luxo no bairro Três Figueiras, notei que havia, dentro das quadras, algumas ruas sem saída. E, nesses becos, passavam carroceiros, e pessoas carregando sacos de lixo. Parecia um sinal de que havia um núcleo de pobreza dentro de um dos bairros mais ricos de Porto Alegre. Cheguei em casa, abri o Google Earth e visualizei alguns casebres dentro de um grande terreno baldio na região. Pelo Google, descobri que o nome do núcleo é Quilombo da Família Silva, povoado por descendentes de um reduto centenário de escravos fugidos, e ocupa, principalmente, o leito de uma parte da rua João Caetano (aquela na frente da Savarauto, próxima ao Mc Donalds da Nilo Peçanha).

O mapa do território da vila é o seguinte:


Mesmo consistindo apenas em uma "vilinha", como os pequenos núcleos de pobreza são chamados por aqui, não se comparando em tamanho às vilas Santa Rosa e Bom Jesus, por exemplo, o Quilombo da Família Silva faz um forte contraste da desigualdade social na região.

Li que a área já foi reconhecida como demarcação quilombola, e está protegida por lei federal. Só espero que o direitos de propriedade e de mobilidade de seus moradores seja garantido. Se o terreno se valorizar muito, como parece ser o caso, acho que é melhor que eles mesmos decidam (e não os órgãos públicos de Brasília) permanecer no local, ou vender seus terrenos e se mudar para uma região da cidade mais barata, na qual eles não vivam em tanta pobreza.

OBS: a foto do Google Earth é de 2005, pelo que eu sei. Atualmente, a construção civil está muito acelerada no bairro Três Figueiras. No terreno logo ao oeste do Mc Donalds, está sendo construído um prédio com shopping center. Nos terrenos logo ao norte e leste do quilombo, estão sendo construídos novos prédios e casas de condomínios.

sexta-feira, junho 20, 2008

Porto Alegre News

Voltei para minha cidade natal (Porto Alegre - RS) faz pouco mais de uma semana. A volta foi difícil, devido ao problema com a neblina no aeroporto Salgado Filho. Acabei indo de avião até Curitiba, e de lá pegar um ônibus-leito (fretado pela Webjet) até Porto Alegre. Acabei chegando "apenas" umas 14 horas atrasado em casa. Mas cheguei (e é isso o que importa), e fiz amigos nessa confusão.

O clima de Porto Alegre oscila entre chuvas e frio extremo (mínimas de quatro graus). Estou na minha terceira gripe nessas duas semanas, incluindo a que eu trouxe de BH.

Aproveitei o meu tempo livre (abundante) para re-conhecer turisticamente a cidade em que nasci. Percorri o Parcão, a Redenção, a Praça da Encol, a Praça da Matriz e a Praça da Alfândega, assim como os seus entornos. Também conheci o novíssimo museu Iberê Camargo. O museu é legal pelo se design arquitetônico e pela vista ao lago Rio Guaíba e ao Centro, já que considero as telas do Iberê tão divertidas como um enterro, e tão repetitivas como as piadas do Chaves... Mas vale a pena conhecer.

Porto Alegre continua a mesma. E me chama a atenção a sua higiene, pelo menos nos bairros residenciais mais tradicionais. Quase não existe lixo jogado nas ruas, e todas as calçadas são caminháveis. Bem diferente de outros lugares que andei conhecendo. Mas, por outro lado, as opções noturnas daqui são muito menores (sobretudo nos dias mais frios) do que em BH, por exemplo.

Outro ponto que me chamou a atenção é a aceleração do processo de verticalização dos bairros residenciais da cidade, sobretudo nos bairros Mont Serrat e Bela Vista (entre as avenidas Carlos Gomes, Anita Garibaldi, Lucas de Oliveira e Nilo Peçanha). As tradicionais casas e prédios de três andares estão dando espaço a prédios cada vez mais altos. Agora, a "bela vista" é priviliégio dos andares superiores dos edifícios mais altos. E nos andares mais de baixo (como o apartamento dos meus pais), nunca mais chegou a bater sol. Ou seja, acaba sendo mais frio dentro de casa do que na rua. Uma verdadeira "Gotham City", lembrando dos filmes do Batman.

sexta-feira, junho 13, 2008

Review - Permission to Land (The Darkness)

Um dos meus hábitos mais peculiares é o de periodicamente dar uma remexida nas estantes de promoção das lojas Multisom, de Porto Alegre, em busca de CDs baratos. Mesmo vivendo numa época em que cada vez menos lojas vendem discos novos, já que a divulgação de MP3 pela internet se tornou a regra geral, gosto de ter os discos originais das minhas bandas favoritas. Principalmente se forem baratos.

Na terça-feira passada, um dia depois de voltar de ônibus desde Curitiba até Porto Alegre (maldito caos no aeroporto Salgado Filho), consegui caçar por 14 reais um disco de uma das bandas contemporâneas que mais gosto, a britânica The Darkness.

O The Darkness busca resgatar traços musicais das bandas de hair rock, ou glam rock, do início dos anos 80, como Poison, Motley Crue, Kiss e Van Halen. Isso se aplica tanto nas músicas, na grande maioria das vezes rocks rápidos e enérgicos, como também no figurino de seus membros (sobretudo no vocalista Justin Hawkins, uma versão misturada de Freddie Mercury e André Mattos).

O Darkness é uma das bandas contemporâneas que eu mais gosto, principalmente por causa desse apelo retrô. Porém, reparo que está cada vez mais difícil caracterizar o que é uma "banda contemporânea". Atualmente, bandinhas de rock (não emo, ressalta-se)estouram sucessos na Internet, viram hits em vídeos no YouTube e em downloads no Emule e no SoulSeek, fazem meia dúzia de shows, lançam um disco, e somem tão misteriosamente como apareceram. Como não tenho paciência para acompanhar todos os apogeus e quedas dessas bandas novas, sinto que há muito tempo permaneço ouvindo as mesmas bandas antigas que me fizeram gostar de curtir rock and roll. Portanto, chamo o The Darkness de rock contemporâneo, mas acredito que hoje já não seja tão contemporâneo assim.

O "Permission to Land" é o primeiro CD da banda, e foi gravado em 2003. Tem dez faixas, sendo que a maioria consiste de rocks pesados, rápidos na bateria, e com riffs marcantes de guitarra, no melhor estilo Kiss ou AC/DC. Mas o melhor é que o clima das músicas é positivo, isto é, ao contrário de tantas outras contemporâneas, a banda não cai em devaneios melancólicos para tentar passar seriedade as suas composições. Isso vale também para as baladas contidas no disco, como "Love Is Only a Feeling", "Love on the Rocks with No Ice" e "Holding My Own", que mesmo sendo músicas lentas e melódicas, não relatam coisas como "dores de corno", ou "rebeldia sem-causa".

Mas, pessoalmente, prefiro as músicas mais rápidas, como "Black Shuck" e "Get Your Hands off My Woman", ou mesmo os rocks mais tradicionais, como o hit "I Believe in a Thing Called Love" e a acústica "Friday Night".

Mas o mais pitoresco da banda, sem sombra de dúvida, é o vocal. Justin Hawkins usa um falsete forçado, não tentando parecer um cantor lírico, como o André Mattos do Angra, mas sim de uma maneira quase que debochada, como no Massacration. Mas isso dá certo, diga-se de passagem, e ajuda a caracterizar a banda como algo novo, original, surpreendente, em outras palavras, e não como mais um puxa-saquismo retrô que reflete a grande falta de idéias do rock moderno, como a maioria das demais.

sábado, junho 07, 2008

Cena Inusitada

Felinos reconhecem as pessoas que gostam invariavelmente deles. Na quinta-feira, quando fui almoçar no restaurante da FAFICH-UFMG (Faculdade de Ciências Humanas e da Informação da UFMG), um gato vadio entrou no restaurante e sentou ao meu lado, olhando para mim com aquele olhar meigo, meio triste, que só os bichanos sabem fazer.
Como gosto de gatos, dei um pedacinho do meu bife de lombo de porco para ele, que comeu apressadamente.

Mas eis que, em seguida, uma quantidade incontável de gatos entrou no restaurante pelas portas e janelas, e todos me rodearam, com miados implorantes e olhares tristes, e brigando uns com os outros. Tive que comer rápido e ir embora do restaurante.

Gatos são tão racionais e maximizadores (by Deidre McCloskey).

Back Home

Amanhã, às 6 da tarde, volto para Porto Alegre. Resolvi adiantar um mês as férias de julho tanto por motivos familiares, como aproveitando as promoções nas passagens aéreas.

Levo comigo o meu projeto de dissertação, para terminar, o material de Microeconometria Aplicada, para estudar, e dois ensaios de Economia da Educação, para fazer.

Em julho, volto para Belo Horizonte elaborar meu artigo de Microeconometria Aplicada, e começar a dar um gás na dissertação.

terça-feira, junho 03, 2008

O Lado Irônico da Inflação de Alimentos

Praticamente todos os blogs e revistas de economia nas últimas semanas publicaram comentários e teses sobre a inflação mundial de alimentos recente. Eu, para não cair na redundância com outras publicações, me abstive. Contudo, vejo que o problema nessas discussões é que os economistas ainda não encontraram com unanimidade qual foi o principal fator causador desse problema. Crescimento do consumo pelos chineses e indianos? Aumento dos preços do petróleo? Mudanças de expectativas? Aquecimento global? Subsídios à produção de biocombustíveis?

Pessoalmente, acho que o melhor é investigar sob um ponto de vista mais empírico e técnico para se encontrar o fato causador. As previsões sobre o que vai acontecer daqui para frente depende dessa identificação. Se se tratar de choques NAS curvas de oferta e de demanda, espera-se que as forças de mercado ajustem os preços para o equilíbrio inicial. Mas se se tratar de choques exógenos DAS curvas de oferta e de demanda, significa que o mercado está se encaminhando para um novo equilíbrio, com preços estruturalmente mais altos.

Mas agora o fato irônico. Será que só eu notei que o preço do papel higiênico nos supermercados quase dobrou do início do ano para cá? E agora? Será que a inflação de alimentos está se espalhando para todas as fases do processo digestivo? Ou será que os chineses estão... er... "consumindo" mais, e fazendo força(ops!) de demanda sobre o produto? Ou então, os indianos estão começando a usar (eca!)?

Eu sei que essa discussão não é tão "nobre" como as referentes aos preços do petróleo e dos alimentos. Na verdade, existem certas coisas que as pessoas preferem não pensar...