sexta-feira, maio 22, 2009

Defesa Hoje

Defenderei minha dissertação "Ciclos Econômicos e a Composição da Pobreza no Brasil" hoje, daqui a 3 horas e meia. Meus pais vieram de POA para me assistir. Talvez alguns alunos meus também apareçam. Estou um pouco ansioso, mas só um pouco.

Enfim, o trabalho de mais de uma ano (desde o projeto até as considerações finais) chega ao fim. Espero que a banca não me obrigue a mudar muita coisa para a versão final.

Eu sei que deveria estar estudando agora.

quinta-feira, maio 21, 2009

Instituições e Crescimento Econômico

Essa foi minha última resenha para a disciplina de Macro II. Baseado no capítulo 4 do manual de Crescimento Econômico do Acemoglu, procurei verificar a correlação, e a relação de causalidade, entre as instituições sociais e o desempenho econômico de cada país.

De acordo com Acemoglu (2008), as instituições consistem no conjunto de regras, regulações, leis e políticas que afetam os incentivos econômicos aos quais os agentes estão submetidos, em uma sociedade, incuindo os incentivos ao investimento em tecnologia e em acumulação de capital físico e humano, fatores associados com o processo de crescimento econômico. As instituições dependem de escolhas sociais assumidas pela economia. Isto é, mesmo que as leis e as regulações não sejam decididas individualmente e tenham uma certa persistência ao longo da história, elas decorrem das escolhas dos membros das sociedades que as adotam. Por outro lado, reformas institucionais, isto é, alterações dessas regras aos quais os agentes estão submentidos, são passíveis de alterar o desempenho do desenvolvimento econômico de um país.

O autor explica a relação entre as instituições vigentes em uma economia e a cultura apresentada por uma sociedade. Segundo Acemoglu, ambos fatores afetam o comportamento individual e a determinação de incentivos em uma sociedade. Contudo, as instituições são mutáveis, isto é, estão sobre o controle dos membros da sociedade, seja pela maioria, seja por aqueles que detêm maiores parcelas de poder, os quais podem decidir alterações na estrutura vigente de regras, leis e distribuições. Por outro lado, a cultura é tida como exógena, isto é, fora do controle dos indivíduos e de qualquer política, e depende de fatores históricos associados a cada sociedade.

O conceito de instituições, de acordo com Acemoglu, envolve três elementos. Primeiro, as instituições são criadas, defendidas, mantidas e alteradas pela ação humana, isto é, elas são decorrentes das escolhas das próprias sociedades, e afetam o seu futuro. Segundo, as instituições impõem restrições ao comportamento humano individual, ou seja, elas criam sistemas de punições e recompensas para determinados padrões de comportamento. Terceiro, as restrições impostas pelas instituições afetam as interações econômicas, sociais e políticas entre indivíduos, famílias e empresas e os incentivos associados ao seu comportamento.

Nesse sentido, as instituições afetam a dinâmica do desenvolvimento econômico por influenciar a estrutura de incentivos ao comportamento dos agentes na sociedade. Assim, afetam a alocação de recursos ao seu uso mais eficiente na economia, assim como a distribuição de lucros econômicos e de direitos de controle. Por isso, se as instituições facilitarem e encorajarem a acumulação de fatores, a inovação, a alocação eficiente dos recursos e o comportamento individual de propensão a assumir riscos, poupar, educar, aprender, resolver problemas de escolha pública e prover bens públicos, de acordo com a teoria econômica, essa sociedade deverá propsperar mais em relação as demais.

Por fim, o autor questiona por que algumas sociedades assumem instituições que podem retardar o crescimento econômico. Segundo Acemoglu, isso pode acontecer devido a dois motivos.

Em primeiro lugar, podem haver problemas de coordenação de decisões por parte dos membros dessas sociedades. Esse fenômeno é mais comum em períodos breves de tempo.

Em segundo lugar, pode haver conflitos de interesse dentro das sociedades. Nesse caso, parte-se da hipótese de que nenhuma reforma institucional é Pareto-eficiente, isto é, não pode beneficiar a todos os indivíduos, sempre haverá ganhadores e perdedores entre eles. Por isso, os grupos sociais que poderiam ser prejudicados pelas mudanças podem utilizar meios, inclusive seu poder político, para impedi-las, defendendo as instituições vigentes.

Portanto, segundo Acemoglu, a questão das instituições é a mais importante causa do crescimento econômico nos países, e é capaz de explicar por que determinados países são ricos ou pobres hoje, assim como sua dinâmica ao longo da história. Também, as instituições explicam o comportamento do crescimento econômico mundial ocorrido nos últimos dois séculos, marcado pela grande aceleração do progresso tecnológico e dos investimentos em capital humano que se seguiram à Revolução Industrial.

A relação de causalidade entre as instituições e o desempenho macroeconômico dos países é confirmada por diferentes estudos e testes empíricos levantados pelo autor. Esses testes utilizaram procedimentos econométricos capazes de controlar possíveis problemas, como a simultaneidade, isto é, a confusão se a qualidade das instituições estimula o crescimento econômico, ou o crescimento econômico permite maiores investimentos nas instituições, e o viés de variáveis omitidas correlacionadas com os indicadores institucionais. Por exemplo, são utilizados métodos de variáveis instrumentais, experimentos naturais (no caso das Coréia após sua divisão entre o Norte comunista e o Sul capitalista) e a análise histórica, como no caso das colônias européias pelo mundo.

Como limites à análise institucional dos determinantes do crescimento econômico, o autor destaca a escassez de trabalhos para diferenciar o impacto de diferentes tipos de instituições sobre o crescimento econômico. Acemoglu diferencia apenas os direitos contratuais, que regulam as relações horizontais entre os agentes econômicos em uma sociedade, dos direitos de propriedade, que protejem os cidadãos dos poderes arbitrários das elites, dos políticos e dos grupos privilegiados de sua sociedade.

Além disso, essa abordagem não explica exatamente as diferenças entre o nível de produto e renda entre países e entre períodos no tempo em termos de diferenças institucionais. Segundo o autor, a solução para esse problema está na análise dos determinantes das escolhas coletivas nas sociedades, o que envolve o estudo da relação entre as instituições e o equilíbrio político dos países, o que, por sua vez, depende as implicações distributivas do processo de crescimento econômico. Em termos mais formais, isso significa a necessidade de uma maior interação entre a macroeconomia do crescimento e a economia política, isto é, de estudos específicos sobre como que conflitos de interesses entre diferentes indivíduos são agregados nas escolhas coletivas e como isso pode levar a instituições que desestimulam o crescimento econômico.

terça-feira, maio 12, 2009

A Globalização e a Nova Geografia Econômica

Semana passada, na disciplina de Macroeconomia II daqui do programa de pós-graduação em Economia do CEDEPLAR-UFMG, estudamos a Nova Geografia Econômica, área que rendeu o prêmio Nobel de Economia para o Paul Krugman no ano passado. Em resumo, a Nova Geografia Econômica utiliza modelos de equilíbrio geral para explicar o crescimento econômico em economias abertas, ressaltando a importância dos custos de transporte, os diferenciais salariais e do movimento de fatores de produção para explicar a dinâmica internacional do crescimento econômico. O principal artigo dessa área que li foi escrito pelo próprio Krugman, junto com o Anthony Venables, da Universidade de Oxford.

O artigo “Globalisation and the Inequality of Nations”, de Krugman & Venables (1995) tem o objetivo básico de compreender os efeitos da globalização sobre a renda real das economias nacionais. Os autores partem de um modelo de acordo com o qual, em um ponto de tempo inicial, não há diferenças entre os países, até que uma divisão internacional do trabalho apareça espontaneamente, beneficiando mais algumas economias do que outras. Assim, a economia mundial se divide em um arranjo de centro, englobando as economias de maior renda, e periferia, englobando as economias menos desenvolvidas. Em resumo, o trabalho de Krugman & Venables procura explicar, de acordo com um modelo teórico, como a globalização, entendida pela crescente integração entre os mercados internacionais, afeta a renda real dos países que compõem o centro e a periferia.

Os autores partem da hipótese de que a globalização é compreendida como um processo de redução progressiva do custo de transporte de mercadorias entre os países. Esse processo afeta a dinâmica da economia mundial em dois estágios. Primeiro, aumenta a desigualdade entre as nações, com ganhos de renda pelo centro em detrimento da periferia. Segundo, há uma convergência entre as economias, com o crescimento da renda da periferia e o estancamento do crescimento da renda do centro.

O modelo teórico parte de um mundo com duas regiões, Norte e Sul. Essas regiões apresentam estruturas econômicas homogêneas, isto é, não há vantagens comparativas inerentes a elas relacionadas a produção de alguma determinada mercadoria. Existem dois bens, produzidos respectivamente pelo setor agrícola, que opera sob retornos constantes de escala, e pelo setor manufatureiro, que opera sob retornos crescentes de escala e produz tanto bens finais de consumo, como insumos intermediários de produção. Em ambas as regiões, os agentes consumidores apresentam funções de utilidade refletindo preferências do tipo Cobb-Douglas (isto é, de amor pela variedade, ou preferências bem-comportadas) entre esses dois bens.

Supondo que inicialmente os custos de transporte de mercadorias entre o Norte e o Sul são muito elevados, não haverá comércio entre as regiões. Elas serão auto-suficientes no que diz respeito à produção tanto de bens agrícolas, como de manufaturas. Se os custos de transporte caírem, inicialmente aparecerá um comércio interregional de bens manufaturados diferenciados, mas sem tendência à especialização produtiva por qualquer região. Se esses custos caírem ainda mais, haverá um incentivo à especialização regional. Pois, a região com maior setor manufatureiro conseqüentemente tem um maior mercado para a produção de insumos intermediários, o que atrai empresas manufatureiras estrangeiras para a sua produção. Da mesma forma, a região com maior produção de bens intermediários pode produzir bens de consumo a menores custos, pela economia dos custos de transporte, o que também atrai empresas manufatureiras para a sua produção. Em suma, há uma aglomeração da atividade industrial na região em que ela era relativamente mais abundante, fazendo com que a economia mundial se divida entre um centro industrializado e uma periferia predominantemente agrícola. Assim, o padrão mundial de desenvolvimento econômico é desigual: enquanto que no centro os custos de transporte de bens de consumo industrializados é menor e a demanda por mão-de-obra é maior devido a atração de firmas, há uma tendência de progressiva elevação dos salários reais, na periferia a demanda por mão-de-obra é decrescente devido ao processo de desindustrialização, o que pressiona os salários reais para baixo.

Contudo, se os custos de transporte caírem ainda mais, as vantagens localizacionais das economias definidas como centro, isto é, de proximidade dos mercados consumidores e de insumos, podem se esgotar, e a periferia pode começar a atrair investimentos no setor industrial por causa dos baixos salários. Dessa maneira, cria-se um movimento internacional de convergência de renda e de saláios entre o centro e a periferia.

Os autores concluem o seu estudo procurando utilizar os fundamentos de seu modelo para prever o impacto de políticas comerciais protecionistas. Supondo que o Norte imponha uma tarifa protecionista sobre as importações, os seu impacto final sobre o bem-estar mundial, segundo Krugman & Venables, é sempre negativo, e, sob o ponto de vista regional, é sempre ambíguo. Por um lado, como prejudica o acesso do Sul ao seu mercado, acaba por incentivar a atração das empresas sulistas no seu território. Mas, por outro lado, as empresas do Norte acabam por ter que pagar mais pelos insumos importados do Sul, ou seja, sofrem com custos de transporte maiores.

sábado, maio 02, 2009

Resultado da Minha Prova

Corrigi minha prova de Macroeconomia para Administração ao longo da semana passada, uma questão por dia. Seguindo a sugestão do Enoch, tracei em uma folha de papel os requisitos necessários para atingir diferentes pontuações dentro de uma questão.

Por exemplo, na primeira questão, sobre a história da macroeconomia, perguntei os fundamentos da economia neoclássica pré-keynesiana, o contexto da revolução keynesiana e os fundamentos do pensamento de Keynes. Corrigi da seguinte forma: a questão inteira valia 2,5 pontos (1/4 da prova); quem identificou até 2 características da economia neoclássica antes de Keynes (por exemplo, equilíbrio geral e neutralidade da política econômica) ganhou 0,6, e quem ainda conseguiu relacionar e explicar essas características ganhou 0,8; quem identificou o contexto histórico da mudança de paradigma da macroeconomia com a crise de 1929 ganhou 0,8; e quem identificou duas características do pensamento de Keynes (por exemplo, incerteza e efeito multiplicador dos gastos autônomos) ganhou 0,6, e quem conseguiu explicar bem, ganhou 0,8. Somando as três partes da questão, dá 2,4. O 0,1 restante dei "de brinde" para quem não deixou a questão em branco.

Li várias pérolas na prova, como escrevi no post passado. A economia neoclássica foi interpretada como diretamente influenciada pela fisiocracia. Keynes foi confundido com Adam Smith e com Marx. Consumo é tudo o que se consome na economia. Tributo direto é todo aquele tributo que é difícil de escapar. Fora aqueles alunos que se lembraram das características da economia neoclássica de suas aulas de microeconomia, e para deduzir Keynes, apenas elevaram as hipóteses na menos um: se na economia neoclássica o agente é racional, em Keynes ele é irracional, ou pior, emotivo (!).

Todo caso, corrigi minhas provas com "muito carinho", nas palavras do Enoch, aproveitando a intenção do aluno em responder. Ignorei os erros aleatórios em uma questão, se o aluno respondeu tudo o que perguntei corretamente. Procurei pescar os termos corretos ao longo dos textos, ou parágrafos, ou mesmo frases. No final das contas, a média da turma ficou em 6,8, e, das 48 provas que corrigi, apenas 10 ficaram abaixo de 6. Por outro lado, apenas 5 alunos tiraram notas acima de 9, sendo que um ficou com 10. A média dos alunos que participam em sala de aula, isto é, que comparecem nas aulas e tiram dúvidas, ficou em 8.

Agora terei outra experiência tensa na minha estréia como professor universitário: devolver as provas. Tenho que avisar à turma que, quem quiser reclamar alguma nota, terá que fazer isso com base na bibliografia do curso, e não na nota de algum colega. Letras feias, idéias enroladas e fuga do tema, mesmo fazendo parte da matéria das aulas de português pré-vestibular, ainda são motivos para se perder pontos na prova de economia. Pelo menos, comigo.