quarta-feira, dezembro 26, 2007

Sobre a Queda Recente da Desigualdade no Brasil

Após todos os artigos que eu estudei na cadeira de Desigualdade e Pobreza, posso tirar conclusões sólidas sobre a evolução recente dos indicadores de desigualdade no Brasil. Como é amplamente divulgado sob o ponto de vista acadêmico e político, o Brasil tem um padrão de concentração de renda dentre os maiores do mundo. Mas essa situação, que foi estável da década de 70 até a década de 90, começou a melhorar lenta e significativamente a partir do ano 2000, e isso se dá por diversos fatores.

Em primeiro lugar, um fator puramente econômico e mercadológico. A partir do final da década de 90, houve uma integração do mercado de trabalho das grandes metrópolis brasileiras com as suas respectivas regiões metropolitanas, pelo maior volume de investimentos privados nelas como conseqüência dos seus menores custos imobiliários e de mão-de-obra (como a fábrica da GM construída em Gravataí, região metropolitana de Porto Alegre). Na última década, os diferenciais de salários nessas regiões têm diminuído bastante.

Em segundo lugar, um fator político. A expansão dos programas de transferência de renda, na segunda metade da década de 90, e a sua unificação sob o título de "Bolsa Família", na década de 2000, têm melhorado significativamente as dotações de renda das famílias brasileiras mais pobres. Tivemos notícias de vazamentos dos grupos beneficiados e de fraudes nesses programas, mas isso parece ser mais a exceção do que a regra.

Além disso, temos um fator que combina a dimensão econômica com a política. Esse fator é a universalização do ensino básico, promovida pela implantação do programa Bolsa Escola, na segunda metade da década de noventa. Nos últimos anos, as diferenças de rendimentos entre trabalhadores com ensino fundamental completo e incompleto têm se reduzido muito. Contudo, a sensibilidade do rendimento do trabalho em relação à educação do trabalhador continua extremamente elevada no país, sobretudo para os níveis superiores de escolaridade. Ou seja, houve uma convergência entre os salários dos trabalhadores de menor escolaridade, mas esses grupos continuam distantes dos mais instruídos.

Por fim, há um fator demográfico. Graças à contínua redução nos índices de natalidade no país, sobretudo nos grupos sociais de maior renda e maior educação, a razão de dependência (razão entre a população total e a população econômicamente ativa) no país tem reduzido significativamente, o que permite que um maior volume de poupança seja destinado ao investimento produtivo, e não ao sustento de inativos (crianças e idosos), o que estmula o crescimento econômico, por um lado (ver modelo de Sala-i-Martin, em um post futuro), e aumenta a renda per capita das famílias, por outro lado.

Como opções de políticas futuras para continuar esse progresso, os autores estudados recomendam o direcionamento das políticas fiscal e tributária do governo federal para a distribuição de renda para os mais carentes, a expansão do ensino médio, o investimento na qualidade do ensino básico e no ensino profissionalizante, e a reforma da estrutura previdenciária nacional, de forma a transferir recursos dos idosos para as crianças (da previdência para a educação), o que é possível apenas nas primeiras fases do processo de envelhecimento populacional. Contudo, a pressão política nesse último caso é muito forte contra esse tipo de medidas, uma vez que os políticos, e os eleitores em geral, tpreocupam-se mais com a própria aposentadoria do que com a educação dos mais pobres.

Esse é um tema muito interessante, e que eu gostei muito de ter estudado, enfim.

De Volta aos Pampas

Voltei para casa, em Porto Alegre, na quarta-feira passada. Na quarta, quinta e sexta, tive reencontros com muitos antigos amigos. No sábado, vim para a monótona praia de Torres para passar uma semana, incluindo o Natal com a família, e o ano novo. Volto pra POA no dia primeiro de janeiro. Aí eu escrevo um post de ano novo mais extenso e completo.

Acho que meus dois trabalhos de Dados em Painel, minha lista de exercícios de Avaliação de Políticas Sociais II e o resto do meu trabalho de Econometria I não vão sair tão cedo. Mas ainda tenho tempo.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Back Home

Quarta-feira, depois de amanhã, às 3 da tarde, pego meu vôo para passar três semanas em Porto Alegre. Espero reencontrar velhos amigos parentes.

Ainda tenho um artigo de Metodologia da Economia para matar antes de pensar em arrumar as malas. Mas já estou na metade.

Em POA, ainda terei artigos para fazer e coisas para ler. Essas férias serão longas, infelizmente.

Mas sinto saudades...

Encontro ANPEC em Recife (2) - Quinta Feira

Na quinta-feira, acompnhei meus colegas do Cedeplar na seção sobre Ciclos Eleitorais e Política Monetária no Brasil. Não é um tema ao qual estou habituado, e senti isso nas apresentações. Os modelos de economia política neoclássica eram totalmente novos para mim. Os resultados não me impressionaram: não há evidências de que a política monetária brasileira sofre efeitos eleitorais.

Depois, compareci à seção “Política Social e Desenvolvimento”, com os técnicos do IPEA, e não gostei muito. Achei tudo um tanto superficial, mas acho que tinha o viés da grande maioria dos trabalhos complexos que eu tinha assistido em todo o encontro.

À tarde, compareci na seção “Economia da Educação”, presidida pelo professor André Portela de Souza (FGV-SP). Os pesquisadores pareciam todos jovens alunos da pós-graduação. Os temas eram muito interessantes. Contudo, nessa seção, mais do que em todas as outras, senti o peso dos métodos econométricos dominando a preocupação dos pesquisadores, o que inclusive acabou tirando espaço da própria teoria econômica envolvida nos trabalhos. Me lembrou muito a palestra da McCloskey no dia anterior. O destaque da seção foi o emocionado Vladimir Ponczek (FGV-SP) explicando mecanismos de barganha intra-familiar para mostrar a importância da renda dos avôs (mas não tanto das avós) para a freqüência à escola por parte dos netos.

Por fim, assisti à seção “Desigualdade no Brasil”. Nessa seção, a Tatiane Menezes (Pimes-UFPE) apresentou um estudo empírico mostrando a desigualdade pessoal e regional de renda por meio dos gastos com consumo nas regiões metropolitanas brasileiras. Para isso, explorou o banco de micro-dados do POF. Depois, um pessoal da UFRJ falou sobre a importância das tarifas de energia como instrumento de política contra a desigualdade. Por fim, o Fábio Vaz, do IPEA, apresentou um modelo de escalas de equivalência para estimar indicadores de desigualdade no Brasil.

Confesso que muito do que eu assisti não consegui acompanhar e entender, sobretudo as questões mais técnicas. Mas o encontro foi muito produtivo academicamente a todos os participantes. Senti que aprendi bastante nesses três dias.

Encontro ANPEC em Recife (2) - Quarta Feira

Na quarta-feira, segundo dia de apresentações, acompanhei, pela manhã, a seção sobre metodologia da economia. Contudo, os trabalhos não me pareceram muito bons, ou eu que não consegui acompanhar o raciocínio dos autores muito bem. Minha impressão foi que sobraram ataques ao manistream e faltaram discussões mais técnicas. Mas o professor Gilberto Tadeu Lima (FEA-USP) fez um contraponto mais ortodoxo, e defendeu a formalização das teorias econômicas, como uma instrumento para organizar o pensamento e a análise.

Depois, tive nova palestra com a(o) Deirdre McCloskey, desta vez sobre uma (merecida) crítica ao uso e abuso que os pesquisadores em economia fazem dos métodos econométricos e testes de significância. Também, outra hora eu faço um comentário específico.

À tarde, acompanhei uma seção de Macroeconomia, chamada de “Política Monetária e Metas de Inflação”. Nessa seção, o Cleomar Gomes da Silva (FGV-SP) iniciou com um teste empírico sobre a possibilidade de existência de custos de menu provocando rigidez de preços na economia brasileira. Segundo o autor, não há indícios significantes sobre a presença de custos de menu, e o que mais provoca rigidez nominal no país são os preços administrados pelo governo. Uma conclusão bastante novo-clássica, é bom observar, e eu senti falta de um contra-ataque keynesiano (novo ou pós) logo em seguida, na discussão. Contudo, para variar, o debate envolveu apenas questões de métodos econométricos, do tipo “por que não rodar mais um teste?”. Depois, a Adriana da Cruz (UFF) modelou e testou o impacto da maior transparência do Banco Central ao adotar a política de metas divulgadas sobre a melhoria dos indicadores macroeconômicos do Brasil a partir de 1999. Trabalho muito bem construído, mas passível de discussões teóricas (não vi um controle sobre o ambiente econômico internacional antes e depois de 1999, o que me parece tão importante quanto as metas de inflação). Porém, novamente, as discussões se limitaram aos pontos mais técnicos. Por fim, o Gabriel Montes (UFF) apresentou um modelo novo-keynesiano de política monetária e equilíbrio de curto prazo, envolvendo curvas IS, LM e de Phillips com expectativas racionais, e política monetária com moeda endógena (o governo afeta a taxa de juros, e não a base monetária). É um tema que me interessa muito, e eu gostei da apresentação.

Em seguida, acompanhei a seção “Pobreza e Desigualdade de Renda”. Nessa seção, o Vítor França (FGV-SP) apresentou um modelo empírico sobre o impacto no emprego público sobre a desigualdade intra-municipal no Brasil. Para a estimação, o autor utilizou como variável instrumental para o emprego público se o município cumpriu ou não a Lei de Responsabilidade Fiscal ao longo do período de análise. A conclusão foi que os municípios mais gastadores, supostamente com mais funcionários públicos, tinham maior concentração de renda pessoal do que os demais. Contudo, foi muito criticada pela banca examinaora a possibilidade de endogeneidade desse instrumento. Depois, meu ex-colega da UFRGS Rafael Ribas (IPC/UNDP) apresentou um trabalho sobre a dinâmica da pobreza, isto é, sobre a entrada e saída de famílias abaixo da linha de pobreza. De acordo com o trabalho, quanto mais tempo uma família fica abaixo da linha de pobreza, maior e a possibilidade de permanecer nela, e isso tem suas causas na estrutura do mercado de trabalho. Por fim, o Marcelo Neri (EPGE-FGV) apresentou sua pesquisa sobre a decomposição dos elementos mensurados no mercado de trabalho brasileiro. Muito técnico e complexo. Mas foi bastante engraçado ver o constrangimento do jovem mestrando da FGV-SP ao ter que criticar o trabalho do tão famoso economista da FGV. Na verdade, vieram mais elogios do que críticas.

Encontro ANPEC em Recife (2) - Terça Feira

Eu estava a muito tempo devendo comentários mais acadêmicos sobre o encontro. Já tinha gente achando que eu fui para lá só para farrear e beber.

Depois de escrever sobre os detalhes mais turísticos sobre minha viagem para Recife, com a caravana do Cedeplar, escrevo agora sobre os assuntos mais acadêmicos.

O encontro da ANPEC em Recife, realizado no luxuoso Mar Hotel, contou com a apresentação de um grande número de trabalhos, organizados em diversas seções. Como muitas das seções aconteceram nos mesmos horários, tive que escolher para comparecer naquelas que estavam mais de acordo com o meu tema de pesquisa (Economia Social voltada para desigualdade, pobreza e educação), e, nas horas vagas, pude comparecer nas minhas áreas de interesse por hobby (macroeconomia, HPE, história econômica).

No primeiro horário de apresentações, compareci na seção “Programas de Transferência de Renda e a Pobreza no Brasil”. Nessa seção, vi trabalhos muito interessantes. A Célia Kerstenetzky (UFF), apresentou um indicador de desevolvimento humano baseado nas teorias de pobreza de Amartya Sen. Esse indicador continha diversas variáveis dummy derivadas de “conjuntos fuzzy”, isto é, não apresentam apenas valores binários, mas sim qualquer valor dentro do intervalo entre 0 e 1. Segundo a pesquisadora, essa técnica permite a mensuração da pobreza relativa, e não meramente a pobreza absoluta, tal como é quantificada pelo IDH tradicional. Depois, o Euclides Pedrozo (FGV-SP) avaliou o impacto do Bolsa Família sobre o trabalho infantil no Brasil. O autor estimou um salário de reserva para as famílias, que, comparando esse salário com o montante recebido de transferência pelo governo, escolheriam mandar seus filhos para o trabalho ou para a escola. Contudo, essa metodologia individualista, de que as famílias escolhem racionalmente se seus filhos vão trabalhar precocemente ou não, acabou provocando polêmica e breve discussão com o pessoal da UFF, que defendia uma visão mais social para essa problemática. Pegando o gancho no Bolsa Família, o carismático professor Carlos Azzoni (FEA-USP) apresentou um estudo empírico que mostrava que esse programa, se por um lado ajudava na diminuição dos índices de desigualdade pessoal no Brasil, por outro lado, os indicadores de desigualdade regional não eram afetados. Todos os trabalhos, enfim foram muito esclarecedores e interessantes.

Depois, participei da seção de HPE. Nessa seção, meu amigo e colega de Cedeplar Carlos Eduardo Supriniak apresentou seu projeto de tese, que resgata as obras originais de autores mercantilistas britânicos do século XVII. O Carlos pretende, com sua pesquisa, bater contra o preconceito que os economistas clássicos e contemporâneos têm com os mercantilistas, de que esses últimos ignoram os mecanismos econômicos reais e detêm-se apenas nos monetários. Na verdade, os autores preocupavam-se com a esfera da produção - mas não com o consumo, visto como “destruidor de riqueza”. Daí a preocupação com o comércio internacional: seria melhor para a economia nacional produzir para que os estrangeiros consumissem, ou destruíssem a riqueza real depois de terem pago por ela. Depois do Carlos, o professor Mauro Boianovsky (UnB) apresentou um excelente trabalho sobre as origens intelectuais de Celso Furtado e a sua relação com a economia do desenvolviento, em nível internacional. Por fim, Rogério Arthmar (UFES) apresentou a obra de Sismondi como uma contraposição, em seu contexto, à economia política clássica ricardiana. Devido ao meu fraco conheceimento de Sismondi, acabei não conseguindo acompanhar muito bem a essa apresentação.

No terceiro período, acompanhei a palestra da(o) economista da University of Illinois at Chicago Deirdre McCloskey, falando sobre ética, virtudes pessoais e a microeconomia neoclássica. Muito interessante, e mercece um post só para comentar isso (fica para outra hora).

À noite, ocorreu a aula magna com o prof. Marcelo de Paiva Abreu (PUC-Rio), sobre a história recente da economia brasileira, identificando os principais problemas que ainda afetam o país, e possíveis soluções. Muito legal.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

30 Dicas Para Escrever Bem

Recebido por e-mail.

1. Deve evitar ao máx. a utiliz. de abrev., etc.

2. É desnecessário fazer-se empregar de um estilo de escrita demasiadamente rebuscado. Tal prática advém de esmero excessivo que raia o exibicionismo
narcisístico.

3. Anule aliterações altamente abusivas.

4. não esqueça as maiúsculas no início das frases.

5. Evite lugares-comuns como o diabo foge da cruz.

6. O uso de parênteses (mesmo quando for relevante) é desnecessário.

7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.

8. Evite o emprego de gíria, mesmo que pareça nice, sacou??... então

9. Palavras de baixo calão, porra, podem transformar o seu texto numa merda.

10. Nunca generalize: generalizar é um erro em todas as situações.

11. Evite repetir a mesma palavra pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.

12. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu: "Quem cita os outros não tem idéias próprias".

13. Frases incompletas podem causar

14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez, ou por outras palavras, não repita a mesma idéia várias vezes.

15. Seja mais ou menos específico.

16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!

17. A voz passiva deve ser evitada.

18. Utilize a pontuação corretamente principalmente o ponto e a vírgula pois a frase poderá ficar sem sentido especialmente será que ninguém mais sabe utilizar o ponto de interrogação

19. Quem precisa de perguntas retóricas?

20. Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.

21. Exagerar é cem milhões de vezes pior do que a moderação.

22. Evite mesóclises. Repita comigo: "mesóclises: evitá-Ias-ei!"

23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.

24. Não abuse das exclamações! Nunca!!! O seu texto fica horrível!!!!!

25. Evite frases exageradamente longas pois estas dificultam a compreensão da idéia nelas contida e, por conterem mais que uma idéia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçam, desta forma, o pobre leitor a separá-la nos seus diversos componentes de forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.

26. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língúa portuguêza.

27. Seja incisivo e coerente, ou não.

28. Não fique escrevendo (nem falando) no gerúndio. Você vai estar deixando seu texto pobre e estar causando ambigüidade, com certeza você vai estar deixando o conteúdo esquisito, vai estar ficando com a sensação de que as coisas ainda estão acontecendo. E como você vai estar lendo este texto, tenho certeza que você vai estar prestando atenção e vai estar repassando aos seus amigos, que vão estar entendendo e vão estar pensando em não estar falando desta maneira irritante.

29. Outra barbaridade que tu deves evitar tchê, é usar muitas expressões que acabem por denunciar a região onde tu moras, carajo!... nada de mandar esse trem... vixi... entendeu bichinho?

30. Não permita que seu texto acabe por rimar, porque senão ninguém irá agüentar já que é insuportável o mesmo final escutar, o tempo todo sem parar.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Impressões sobre Recife

Recife, ao contrário do que muitas vezes ouvimos falar das grandes metrópolis do nordeste brasileiro, é uma cidade urbanisticamente muito bonita e organizada. Em toda a praia de Boa Viagem, principalmente na beira da praia, predominam prédios modernos do tipo arranha-céu, de mais de vinte andares cada, dotados de muito luxo. A arquitetura desses prédios é imponente, é prqticamente um espetáculo à parte da praia propriamente dita. E o imenso número de obras e construções ao longo de todo o bairro dá uma idéia de que a qualidade urbanística do lugar está em crescente expansão.

Além disso, pelo que eu percorri na cidade, nos trajetos aeroporto-Boa Viagem, Recife-Porto de Galinhas, Refice-Olinda e Boa-Viagem-periferia, pude observar que Recife é uma cidade de ruas largas e de poucas favelas. Mesmo contando com bairros humildes na parte da cidade mais próxima do mar, as únicas favelas propriamente ditas que pude ver na cidade estavam localizadas no caminho para Olinda, ao norte do centro, e eram favelas pequenas, tais como as “vilinhas” localizadas dentro de Porto Alegre, como aquelas na avenida Ipiranga e a vila Keddie na Nilo Peçanha. Grandes complexos de pobreza, como a Rocinha carioca, ouo Aglomerado da Serra belorizontino, não vi nenhum. Se existem, estão mais afastadas das praias e do centro da cidade.

O centro histórico de Recife, chamado de “Recife Antigo” é uma jóia histórica, composto por construções centenárias, e muitas delas em bom estado de conservação. Andando pelo bairro com meus amigos, tive a impressão de estar no passado, algo como no Brasil do século passado, ou mesmo em uma cidade de aquitetura lusitana no exterior, como na Índia ou em Angola. Além do antigo, havia uma sensação no lugar de deserto (já que a maioria das casas estava fechada, mesmo que fosse início de noite), com aparência algo que ameaçadora. Gostaria de ter passeado mais por ele, mas vai ficar para uma outra visita no futuro.

O maior problema da cidade, ao meu ver, é a falta de policiamento. Andar à noite pelas ruas, mesmo nos bairros mais finos, como a Boa Viagem, é uma aventura de risco, ainda que se ande em grandes grupos. Os assaltantes andam livremente pelas ruas, não se dão sequer o trabalho de se esconder nas vielas e becos mais escuros, tal como fazem em Porto Alegre, que é uma cidade que já não é famosa pela sua segurança. Além disso, a única viatura policial que eu vi em toda a minha estadia na cidade estava parada em uma avenida de Boa Viagem, rodeada de garotas de programa. Já me falaram que é comum que, nas cidades do Nordeste, os policiais façam ronda noturna à paisana. Porém, pela tranqüilidade dos assaltantes nas ruas em busca de presas, isso não parece ser verdade.

Encontro da ANPEC em Recife – PE (1)

De sábado retrasado (1/12) até o fim-de-semana passado (8/12) estive fora de BH, participando do encontro nacional dos cursos de pós-graduação em economia, acontecido em Recife, Pernambuco. O encontro propriamente dito durou não mais de três dias, mas o pacote completo de viagem, oferecido pelo Cedeplar-UFMG, proporcionou aos alunos uma semana inteira para aproveitar, tanto academicamente como turisticamente, o evento.

Chegamos em Recife no dia 1 de dezembro, às 6 horas da tarde. Era noite escura (no Nordeste, o pôr do sol é, em média, às 17:30). Após deixarmos as malas no hotel Onda Mar, um três estrelas muito limpo e agradável, fomos caminhar no calçadão da praia de Boa Viagem, a mais famosa da cidade, e próxima ao hotel. Jantamos comida típica numa feira popular próxima à praia. Eu comi duas tapiocas (um tipo de pastel feito com farinha de mandioca assada, de cor branca e sem gordura) de carne-de-sol com queijo coalho, a R$ 2,50 cada. Confesso que gostei bastante dessa iguaria, que se tornou uma das minhas principais fontes de alimentação em toda a viagem. Depois disso, fomos tomar cerveja em um bar em uma rua atrás do hotel, e ficamos até uma onze horas da noite.

No dia seguinte, acordamos cedo e alugamos uma van para nos levar ao Porto de Galinhas, uma praia turística paradisíaca localizada a uns 100 km ao sul de Recife. Ficamos em uma pousada-albergue muito boa e barata (30 reais a diária) lá, no domingo e na segunda-feira. No domingo, passamos o dia inteiro na praia. O mar, fechado e sem ondas, é de uma cor verde-transparente que eu só tinha visto em filmes. A temperatura da água é tal que dá uma sensação de frio quando se sai dela. Além disso, como ainda era época de baixa estação de turismo, pudemos desfrutar de maior limpeza e privacidade. No final da tarde, andamos de jangada e fizemos mergulho, observando os peixes (uma espécie só, pequena e zebrada) no fundo do mar. Só saímos da praia após o pôr do sol, às cinco e meia da tarde. Após isso, pagamos nossa extensa conta de bebidas e petiscos no quiosque local e fomos tomar banho na pousada para depois sair para jantar. Jantamos em um restaurante simples, de preço mais acessível. Após isso, caminhamos pela cidade do Porto de Galinhas em procura de alguma forma de diversão noturna. A cidade é tipicamente uma praia turística: consiste basicamente de lojinhas de artesanato local, bares, lancherias e restaurantes, alguns armazéns, e pouquíssimos indícios de habitações residenciais. Contudo, exatamente por ser um período de escassa população turista, não encontramos nenhum lugar de consenso para fazermos nossa noite. Por isso, acabamos por comprar bebidas em um armazém e passar a noite em um salão da pousada jogando conversa fora, madrugada adentro. Contudo, acordamos cedo no dia seguinte para aproveitar mais um dia de praia.

Na segunda-feira, saímos da pousada às oito da manhã e caminhamos cerca de uma hora e meia na areia, até chegar em outra praia próxima a Porto de Galinhas. Essa praia era afastada, com menor público, com uma faixa de mar aberto com ondas fortes, e uma piscina natural paralela ao mar, formando uma pequena baía. Novamente, habitamos um quiosque e passamos o dia inteiro lá. Mesmo sendo um ponto turístico, o custo de alimentação é muito baixo lá. Cada cerveja custava 3 reais a garrafa, um valor próximo dos botecos de BH, e muito abaixo dos bares da Lima e Silva, em Porto Alegre. O almoço custou uns 12 reais para cada um, e sua qualidade (peixe assado com arroz, farofa e aipim, macaxeira no dialeto local, frito) era excelente. Voltamos para Recife às 5 da tarde. Tomamos banho no hotel e saímos para jantar. Meus amigos sugeriram ir comer churrasco de bode, um prato típico do Nordeste. A carne não era ruim, um pouco mais amarga e macia que a carne bovina, mas confesso que os meus colegas apreciaram a iguaria mais do que eu. Não sei se foi por isso, ou pelos litros e mais litros de cerveja que eu tinha tomado nos quatro dias anteriores, mas naquela noite eu passei muito mal. Acabei não podendo sair com meus colegas na noite, e preferi dormir cedo para me garantir inteiro para o início das atividades acadêmicas no dia seguinte. Mas, pelo bar em que meus amigos foram, que eu conheci no dia posterior, não perdi muito. A partir desse dia, comecei a controlar bastante minha alimentação, e sobretudo, minhas ingestões líquidas.

Na terça-feira, acordei às sete da manhã e fui para o encontro da ANPEC, realizado em um hotel de luxo (Mar Hotel) a umas cinco quadras do hotel em que estávamos hospedados. Lá, participei das sessões voltadas a minha área de pesquisa – Economia Social com ênfase em desigualdade, pobreza e educação – alternando com minhas áreas de interesse por hobby (Macroeconomia, Metodologia e HPE). Encontrei antigos colegas, o André e a Daniela (EA-UFRGS), e professores (Marcelo Portugal, André Cunha e Octavio Conceição). À noite, a ANPEC realizou um coquetel com comída e shows de danças típicas. Após isso, fomos para o bar que minha turma tinha ido na noite anterior, o “Bar do Bode”, próximo ao Mar Hotel. Porém, graças ao calor local, superado apenas pelo calor da cerveja, não conseguimos ficar muito tempo lá.

Na quarta-feira, após as apresentações de trabalhos, fomos à noite para o centro histórico da cidade, o “Recife Antigo”, localizado em uma ilha na confluência dos principais rios que percorrem a cidade e o mar. O centro histórico é uma área de imenso valor histórico, com construções centenárias. Contudo, a quase inexistência de policiamento no local nos deu uma sensação de insegurança, e evitamos passeios demorados pelas ruas. Entramos em um shopping de luxo, localizado no local sem nenhum aviso publicitário, no qual nos encontramos com outros amigos, e fomos a um bar em um beco próximo. A óbvia escasssez de higiene do local assustou um pouco nossas amigas, e resolvemos ir a um outro lugar ali perto, um pub de inspiração britânica, tocando rock ao vivo, chamado “Downtown”. Esse lugar era um pouco mais caro que os demais pontos da cidade que eu conheci, mas essa foi a melhor noite que fizemos juntos em Recife. As bandas eram boas e agradaram a todos. Voltamos de madrugada para o hotel, e acordamos cedo no dia seguinte.

Na noite de quinta-feira, após as últimas apresentações, a ANPEC ofereceu uma festa de encerramento aos participantes, em um hotel ainda mais fino do que naquele onde o encontro foi realizado: foi no Hotel Atlântico, na beira da praia de Boa Viagem. A festa, certamente, foi bastante chique: garçons engravatados não pararam de distribuir bebidas e iguarias locais, e a organizção e decoração do lugar estavam impecáveis. Todavia, a partir da uma hora da manhã, a bebida acabou, o som desligou, e os garçons começaram a recolher os pratos e copos e limpar o chão. Um claro sinal de que a festa, prematuramente para todos, estava acabada. Fomos, quase todos, caminhando de volta para o nosso hotel. No dia seguinte, pudemos acordar mais tarde.

Na sexta-feira, acordei às oito e meia da manhã, tomei café no hotel, e em seguida, fui com um colega conhecer Olinda, uma cidade histórica localizada ao norte de Recife. Olinda tem uma arquitetura pitoresca, própria da colonização lusitana de séculos passados, com casas semelhantes e coloridas. Contratamos um guia turístico local para nos levar aos lugares mais visitados. Entramos em igrejas de quase quinhentos anos e tiramos muitas fotos. Devido à forte irradiação de calor provocada pela pavimentação das ruas (feita com pedras pretas chamadas de “cabeça de negro”), ficamos exaustos rapidamente, mesmo tomando várias doses de água de coco para hidratação. Voltamos para Recife no início da tarde. Sozinho, eu almocei no Habbibs ao lado do hotel, e dormi a tarde toda, para repor as energias. À noite, jantamos novamente (pela terceira ou quarta vez, eu acho) tapioca na feira popular, e fomos para uma tradicional casa de música regional, a “Sala de Reboco”, na periferia da cidade. O lugar é bastante rústico, porém bem organizado: ao lado da pista de dança, estão uma grande quantidade de mesas e cadeiras, para todos aqueles que, como eu, divertem-se mais com as atividades de beber e de conversar do que propriamente de dançar. Mas o calor do lugar era demais. Suei a ponto de perder peso. Mas, pelo menos, tinha cerveja Bohemia barata para me refrescar, o que elevou muito meu ânimo. Voltei para o hotel de taxi com meus colegas às 3 da manhã.

No sábado, pude acordar mais tarde (9 da manhã), tomei café no hotel e apenas caminhei na praia, tirando fotos com meus amigos. Fomos para o aeroporto às 11 da manhã e embarcamos no avião às 2 e meia da tarde. Cheguei na minha república, em BH, no início da noite, e só tive o tempo de desfazer as malas e jantar uns cachorros-quentes entes de desabar na cama e dormir tudo o que eu não pude em toda a semana anterior.

sábado, dezembro 01, 2007

Going to Recife (ANPEC)

Nesse momento, eu estou digitando esse post no computador de um colega do Cedeplar, em cuja república eu dormi na madrugada passada, após uma exaustiva noite social de despedida do atual prédio do Cedeplar.

Nós vamos de comboio para o aeroporto de Confins agora ao meio-dia, e itegraremos a "caravana Cedeplar" para o encontro da ANPEC (Associação Nacional de Pós-graduação em Economia), em Recife-PE.

Tenho muitas expectativas para essa viagem, e inclusive acadêmicas. Parece que o/a McCloskey, da Retórica, vai dar as caras por lá.