terça-feira, julho 28, 2009

Artigo Recusado

Não foi dessa vez que meu artigo sobre o Imre Lakatos foi aceito para publicação. Os revisores da Estudos Econômicos (USP) escreveram quase cinco páginas cada um de críticas e sugestões ao meu trabalho. Apontaram uma lista de problemas estruturais e pontuais ao artigo.

Todavia, considero isso um avanço. Em fevereiro, quando o mesmo artigo foi recusado na Economia e Sociedade (Unicamp), os revisores escreveram dois parágrafos cada, do tipo "o texto está legal, mas o assunto não é novidade".

Terei bastante trabalho pela frente. Me pediram para ler até textos recentes da Journal of Scandinavian Economics, que eu não faço idéia onde conseguir.

domingo, julho 19, 2009

Brás, Bexiga e Barra Funda (Antônio de Alcântara Machado)

Este livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram notícias.

Semana passada, quando estava em Belo Horizonte, assistindo a uma maratona da série São Paulo 9 Milímetros com meus colegas de república, começamos a conversar sobre os bairros de São Paulo (eu, que nunca estive na cidade, só ouvia). Nessa conversa, me deu muita vontade de reler o famoso livro de crônicas do Alcântara Machado, que eu já tinha estudado no segundo ano do Ensino Médio. Na segunda-feira passada, comprei o livro da edição "A Obra-Prima de Cada Autor" da Ed. Martin Claret no Beco dos Livros, aqui em Porto Alegre. Nessa edição, estão presente 24 contos, metade deles do livro Brás, Bexiga e Barra Funda, e a outra metade do livro Laranja da China, ambos do mesmo autor.

"Brás, Bexiga e Barra Funda" descreve, em 11 contos (mais um prefácio), o cotidiano dos imigrantes italianos na capital paulista durante a década de 1920. Nesses contos, de narrativa simples, mas subjetiva, o autor destaca os principais sentimentos dos imigrantes em seu processo de adaptação à vida no Brasil. Incluem-se, dentre esses sentimentos, os sonhos das crianças, as relações familiares, inclusive em contradição com as relações familiares praticadas pelos paulistanos nativos, a ambigüidade entre o nascer estrangeiro e o desenvolvimento do patriotismo na terra nova, os conflitos amorosos, podendo haver triângulos entre imigrantes e nativos, e o espírito empreendedor do povo que chega, pela implantação de seus negócios.

O principal conto desta obra, na minha visão, chama-se "A Sociedade". Essa história se refere exatamente ao desenvolvimento das relações sociais entre os imigrantes italianos e os nativos. Um italiano, vendedor de legumes, se apaixona por uma moça de família tradicional paulista, mas a mãe dela é contra o seu casamento, por puro preconceito xenófobo. Contudo, conforme a família do rapaz prospera no país, os seus pais resolvem formar uma "sociedade", investindo juntos em uma fábrica. Com a formação dessa sociedade, o amor entre o italiano e a brasileira torna-se aceito, e o rapaz, no final das contas, se lembra com risadas do tempo em que vendia legumes fiado (!) para sua atual sogra. Esse conto sintetiza exatamente a integração dos imigrantes europeus na sociedade brasileira: inicialmente eram estranhados pelos nativos, sofrendo até mesmo exclusão social direta. Todavia, com o seu sucesso econômico, pelo desenvolvimento de atividades comerciais e mesmo fabris (nesse caso, principalmente após os anos 1930), passaram a se misturar com as demais etnias tropicais, passando a ser reconhecidos pela agregação de capital humano como contribuição à cultura nacional.

"Laranja da China" inclui doze contos narrando breves fatos cotidianos de típicos cidadãos paulistanos estereotipados. Principalmente, destacam-se o funcionário público rebelde contra o governo e os costumes (O Revoltado Robespierre), o retirante interiorano que migra para a cidade grande sem ter nenhum recurso para se manter, ou mesmo algum destino para seguir (O Aventureiro Ulisses), e o incasável pai de família cuidando corujamente de sua prole na folia do carnaval (O Mártir Jesus). Em todos esses contos, o autor ironiza a cultura nacional de homenagear personalidades estrangeiras nos nomes dos filhos (como Robespierre, Washington, Cícero, Ulisses, etc.), e que permanece ainda hoje, quase um século depois, ainda que de maneira ainda mais grosseira.

O livro é escrito sobre influência do Modernismo, mais específicamente da Semana da Arte Moderna de 1922, da qual o autor não participou devido a sua precoce idade na época, mas que manteve forte contato pessoal com seus fundadores. A linguagem dos contos se aproxima muito da linguagem falada; cada conto tende a se referir a poucos fatos cotidianos, e como que os personagens reagem a esses fatos. Em alguns casos, como no conto "O Monstro sobre Rodas", o fato em si nem chega a ser relatado (mas implicitamente indica um atropelamento), toda a história circula em torno das reações das personagens à tragédia. Em alguns casos, principalmente nos contos de "Laranja da China" a própria compreensão da idéia central de cada história torna-se complexa. O autor também usa e abusa de metáforas, termos coloquiais e gírias da época, tornando a leitura um tanto cansativa, mas compreensiva (ao contrário de outras obras de seu tempo, como Macunaíma).

Por outro lado, pensando como cientista social, este livro pode ser pensado como um verdadeiro banco de dados sobre a vida privada dos paulistanos na década de 1920, tanto no que diz respeito ao seu comportamento individual e psicológico, como também as suas relações sociais e até mesmo seus hábitos de consumo. Isto é, é um chance para nós, habitantes do século XXI, podermos entneder como que viviam os habitantes urbanos do Brasil nos breves anos imediatamente anteriores à industrialização do país e ao processo de substituição de importações. Dessa população urbana, ainda incipiente, é que sairiam os grandes empresários, políticos, economistas e trabalhadores que guiariam o processo de desenvolvimento do Brasil nas décadas seguintes.

Por fim, a leitura desse livro me remete as minhas excelentes aulas de Economia Brasileira Contemporânea I, na graduação na UFRGS. Estudando a evolução da economia e da sociedade brasileira ao longo do século XX, não parece estranho que, apesar de São Paulo ter se tornado o motor da indústria nacional, e acumulado muito capital financeiro e produtivo desde a época da agro-exportação cafeicultura, a contribuição desse estado à cultura brasileira tenha sido muito pequena? Como exemplos de artistas paulistas podemos facilmente lembrar de Monteiro Lobato , Cândido Portinari e dos Modernistas de 22, mas, dentre eles pouquíssimos são de conteúdo acessível ao público leigo, como Alcântara Machado. Mais recentemente, São Paulo passou a ser representada pelas histórias em quadrinhos do Maurício de Souza (e, diga-se de passagem, uma São Paulo digna dos anos 1920, com crianças brincando livremente em ruas cobertas por grama e parquinhos abundantes), por bandas emo e, agora, pela série policial de TV. A tradicional festa de aniversário da cidade nem acho que mereça ser considerada como "cultura", já que o espetáculo das hordas humanas atacando e consumindo o qulométrico bolo consegue ser mais grotesco que uma corrida de touros na Espanha. Mas, fora isso, os principais expoentes da cultura brasileira parecem ser ligados ao Rio de Janeiro, ou ainda a pólos regionais como Minas Gerais e Bahia. Será que há alguma explicação sociológica ou política para isso?

Setembro Será Agitado

O mês de setembro será bem ativo para minha vida acadêmica. Emplaquei o artigo sobre o Imre Lakatos no Congresso da ABPHE, em Campinas, e o artigo de modelos hierárquicos no encontro da ENABER, em São Paulo. Um congresso é emendado no outro, na semana do feriado do dia 7.

Sinal de que Estou Ficando Velho

Hoje eu estava olhando CDs na livraria Cultura, no Bourbon Country, aqui em Porto Alegre. Não vi nenhum que me interessasse.

terça-feira, julho 14, 2009

O Que Aprendi como Professor Substituto?

Sexta-feira passada entreguei as notas finais dos meus alunos de Economia II (Macroeconomia para Administração) na UFMG. Dos meus 54 rebentos, 5 ficaram com conceito A, 9 com B, 11 com C, 19 com D, 6 foram reprovados por falta de pontos, e 4 foram reprovados por falta de freqüência. Nesses quatros meses de atividade docente, sinto que aprendi tanto, ou até mais, do que meus alunos. Sinto que estou entendendo melhor a psicologia, ou em economês, a estrutura de preferências, dos alunos de graduação.

- Em primeiro lugar, como muito bem me avisou minha orientadora de mestrado, nunca se deve subestimar os alunos. Meu programa de disciplina foi muito ousado em termos de carga de conteúdo, e minhas provas tiveram, em geral, nível superior em relação a grande parte das disciplinas de macroeconomia que fiz na graduação. Contudo, muitos alunos corresponderam ao exigido, e sei que eles aprenderam muito nesse semestre.

- A dica no Enoch de corrigir questões dissetativas por ficha de correção, atribuindo pontuações diferentes para cada tipo de resposta a uma mesma pergunta, ajudou muito a diferenciar os As dos Bs e dos demais. Quanto mais completas forem as respostas, maior é a nota do aluno; quem souber identificar os conceitos, mas sem muito raciocínio, pode ficar com C ou D.

- Questões de verdadeiro ou falso facilitam a correção e agilizam a prova. Contudo, elas tem o poder maléfico de derrubar os alunos que estudam muito, os quais tendem a ver ambiguidades em qualquer proposição, em benefício dos que estudam pouco. Para contornar esse problema, exigi que os alunos corrigissem as alternativas falsas, e só coloquei na prova os exercícios dados (e corrigidos) em sala de aula.

- A maior parte dos alunos só respeita aquilo que teme. O pessoal que matava aula descaradamente e tomou um laço no primeira prova, de repente se tornou bom aluno. Quem foi "ajudado" na primeira prova, ganhando arredondamento para não ficar abaixo de 6, passou a se dedicar ainda menos. Inclusive, 2 dos 6 alunos reprovados por falta de pontos, foram mal (e muito mal) apenas na terceira prova do semestre. Por isso, na próxima vez que eu der aula, pretendo ser muito mais "carrasco" na primeira avaliação do semestre, para o benefício dos próprios alunos. Também , no dia da prova de recuperação, achei divertido olhar a cara daquele aluno que me tratava do mesmo modo que um veterano da graduação trata um calouro. Sim, ele foi reprovado.

- Nesse semestre, não cobrei chamada. Os alunos podiam escolher se compareciam à aulas ou não. Fiz isso pensando no benefício do pessoal que trabalhava o dia inteiro, que era auto-didata, ou que simplesmente fazia bagunça na sala de aula. Contudo, algumas vezes a turma mal passava de 10 pessoas, e me aborrecia muito pelo trabalho de ter preparado cuidadosamente a aula durante uma tarde inteira. Por outro lado, nunca tive problemas com bagunça ou conversas entre os alunos. Por isso, ainda não estou decidido se a cobrança de presença é importante para o aprendizado

- Minha turma era dividida entre um grupo de alunos recém-saídos do colégio, e um pessoal mais maduro, acima de 23 anos, que já trabalhavam, já eram formados em outros cursos, ou já tinham passado por outros cursos de graduação. Minha relação com eles era excelente, eles se mostravam interessados no conteúdo da disciplina mais do que os mais novos, e controlavam o comportamento destes ("pssssit!" "silêncio!") melhor do que eu.

- Em relação aos casos de amizade entre professor e aluno, fiquei satisfeito que em pouquíssimos casos o aluno tentou tirar vantagem disso fazendo provas cada vez piores ao longo do semestre. E, mesmo nesses raros casos, notei que se tratavam de alunas. Coincidência?

- Desafios de lógica e exercícios em sala de aula parecem entreter os alunos. Também, ajuda o aprendizado.

- Esqueçam a crítica de Lucas sobre a modelagem das expectativas de Friedman. Ou a briga entre a Johan Robinson e o Robert Solow sobre a divisibilidade do capital. Ou a dicotomia entre Estado e Mercado em Keynes e Friedman. Esses devaneios intelectuais são maçantes, e até mesmo meio toscos, para os não-economistas. Minhas duas aulas de HPE ficaram muito prejudicadas por isso. Melhor é seguir uma linha de pensamento durante todo o semestre, e assumir como se fosse o pensamento geral da Ciência Econômica, ainda que passível de críticas. No meu caso, escolhi a escola novo-keynesiana do manual do Blanchard. Na próxima vez que der a disciplina, pretendo adotar um único texto de história, ao invés de fazer um apanhado geral das idéias.

- Passar volumes de livros e artigos originais dos autores em sala de aula não despertam muito a atenção dos alunos. Por outro lado, passar notícias de economia e outras novidades, como o balanço de pagamentos brasileiro calculado pelo Banco Central, parecem estimular o pessoal.

- Por fim, como já me comentaram professores mais experientes, corrigir homogeneamente as provas dos alunos não é a alternativa mais correta. No meu caso, corrigi de modo mais light os alunos mais velhos, acima dos 40 anos, e de um rapaz que tinha dislexia, isto é, dificuldade em escrever. No caso dessas pessoas, a reprovação não daria nenhuma lição pedagógica. Talvez eu devesse também corrigir mais bondosamente as provas dos alunos mais freqüentes às aulas.

segunda-feira, julho 06, 2009

Opinião dos Meus Alunos sobre o Impacto da Copa do Mundo na Economia Brasileira

Na minha última prova de Macroeconomia para Administração, curso de graduação que ministro aqui na UFMG, incluí uma questão extra, valendo um ponto para além dos dez pontos que a prova valia. Essa questão consistia em ler uma reportagem de uma página sobre o orçamento que o governo de Mato Grosso divulogou para as obras que serão realizadas em Cuiabá tendo em vista que a cidade foi escolhida para sediar a Copa do Mundo em 2014 (mais de um bilhão de reais), e comentar sobre o impacto disso para o crescimento da região.

Essa questão não tinha uma resposta exata definida, eu apenas queria ver a capacidade de análise, reflexão e de argumentação dos meus alunos utlizando as principais teorias macroeconômicas, conforme apresentado em sala de aula. Conforme o nível do texto, dei notas iguais a zero, 0.3, 0.5 e 1. Porém, eis que os textos que li foram bastante intrigantes.

Das 49 provas que corrigi, 9 alunos (18,37%) não responderam a questão, ou escreveram coisas sem nenhum conteúdo econômico, e ficaram com zero nesse ítem. Um aluno (2,04% da turma) criativamente afirmou que a Copa incentivaria a acumulação de capital humano pelos trabalhadores cuiabenses, para que melhor atendam aos consumidores turistas estrangeiros. Como seu texto foi muito bom, dei um ponto para o aluno. Dois alunos (4,08%) questionaram as obras, afirmando que seria melhor investir em projetos mais relacionados ao crescimento de longo prazo, como educação, saúde e pesquisas tecnológicas. 4 alunos (8,16%) se preocuparam com o risco de déficit público elevado, o que poderia, no médio prazo, elevar as taxas de juros no mercado financeiro, e restringir investimentos privados (pelo efeito crowding out, que eu expliquei para eles no início do mês de junho). 5 alunos (10,2%) viram na Copa do Mundo um risco para a aceleração inflacionária no país, conforme muito bem explicaram pelo modelo AS-AD de equilíbrio de médio prazo. 12 alunos (24,49%) afirmaram que o melhor da Copa vão ser os investimentos de infra-estrutura que o governo vai realizar nas cidades-sede, de modo que muitos gargalos devam ser eliminados.

Até aí tudo bem. Agora vem o grande choque: nada menos que 16 alunos, 32,65% do total da turma argumentaram que a Copa será favorável ao crescimento da economia brasileira porque incentivará os gastos dos governos no país, aquecendo a economia no curto prazo. Desses alunos, dei no máximo 0,3 para aqueles que, pelo menos explicaram a lógica IS-LM corretamente. E isso que todos eles tiveram contato com os modelos econômicos de médio prazo (AS-AD) e longo prazo (Solow, Capital Humano e Economia das Idéias). E, muitos desses 16 alunos responderam corretamente as questões da prova que tratavam especificamente desses temas.

Ou seja, o pensamento econômico estatista e míope continua predominando nas mentes brasileiras, inclusive em uma turma de uma das melhores universidades do país. Mesmo sabendo das limitações das políticas fiscal e monetária no médio prazo, e da capacidade dos trabalhadores e empresários de promover o crescimento, pelos investimentos em tecnologia e em capital humano, quase um terço da minha turma ainda vê o desenvolvimento apenas como uma questão de vontade política. Parece que muitas pessoas ainda estão vivendo o Regime Militar. É uma pena.

Novas Cores

Atendendo a inúmeros pedidos, resolvi mudar as cores do layout do blog.

Sai aquele preto "heavy metal", entra um verde e branco ecológico e pacifista.

Espero que todos gostem.

domingo, julho 05, 2009

Como Identificar Truques Retóricos em Textos?

Continuando o meu post "O Que Mudou com o Mestrado?", sobre como meus últimos dois anos e meio de jornada acadêmica melhoraram minha leitura de textos de economia, aproveito para citar dois posts relevantes. Ambos citam técnicas para identificar truques retóricos em posts de blogs, isto é, artifícios para "ganhar-debates-sem-necessariamente-estar-certo". Saber lidar com esse tipo de discurso ajuda muito a filtrar nosso conhecimento e nosso aprendizado, assim como a escolher melhor os autores que lemos (ou mesmo nossos companheiros de bar).

Segundo o Léo Monastério, em seu post sobre como identificar besteiras em textos de economia, é sembre bom ficar de olho nas seguintes características:

- Recomendações de política econômica abundam e há pouca evidência empírica; (principalmente baseadas em "evidências históricas" evidentemente manipuladas, e com pouca ou nenhuma aplicação à realidade atual).

- Muitas referêncais aos economistas mortos. Sua otoridade é central no argumento. Além disso, o autor e sua patota se mostram como quem finalmente entendou o Livro Sagrado; (isso é particularmente interessante. Alguém mais já reparou que todo pensador medíocre, economista ou não, adora se mascarar em uma determinada "escola de pensamento", na qual todos os seus membros são vistos como indivíduos iluminados, e toda a discussão intelectual se resume a uns deles bajulando outros, vivos ou não?)

- Poucas referências às evidências e teorias recentes que contradizem o autor. Estas, quando aparecem, são tratadas com desprezo ou sarcasmo. Em geral, quem discorda é burro ou mal intencionado; (isso se chama argumentação "ad hominem". É um dos artifícios retóricos mais básicos, e também mais baixos.)

- Linguagem colorida. As taxas "explodem" ou "despencam", as reservas são "corroídas", "derretem" e assim por diante. O tom é panfletário e catastrofista. O catastrofismo também é um truque retórico dos mais baixos; tenta fazer com que qualquer pessoa que discorde do texto se passe por um colaborador do apocalipse.

No blog O Indivíduo, de orientação ideológica liberal, foi postado um texto auto-crítico, mas que também pode ser estendido a artigos de qualquer panfletagem ideológica. Dentre os principais pontos apresentados pelo autor eu destaco os seguintes:

- Censura. Referir-se à ausência de reprensentatividade de certas idéias ou pessoas na imprensa como “uma forma de censura mais insidiosa, e por isso pior, do que aquela praticada na ditadura”. (os socialistas são barrados pela mídia "elitista"; os liberais são barrados pela mídia "que beija a mão do Estado"; os conservadores são barrados pela mídia "libertina", ou mesmo "comunista"; o que acontece é que, na maioria das vezes, as empresas da mídia só querem preservar seu mercado, não ofendendo seu público leitor e seus anunciantes; qualquer teoria da conspiração não faz sentido).

- Ditadura & opressão. Direita — e esquerda — tratam sua sensação subjetiva de marginalidade cultural como opressão de facto. Estar no Brasil de hoje e sonhar comparar-se aos perseguidos de URSS, Cuba, Camboja, Alemanha nazista etc. é um insulto a esses perseguidos. (gostei muito da última frase, parece que as discussões sobre economia, política e sociedade provocam a banalização dos genocídios).

- Insistência em culpar o Brasil por tudo. Isso serve como crítica a qualquer teoria social baseada em determinismo cultural. São débeis, baseadas em hipóteses completamente ad hoc e não falsificáveis, as tentativas de buscar explicar problemas dinâmicos (como o desenvolvimento sócio-econômico) com base apenas em parâmetros puramente estáticos, como a religião, os hábitos e costumes populares, etc.

- Pronunciamentos categóricos. Dos esquerdistas, eu já cansei de ler "a desigualdade social no Brasil atinge parâmetros moralmente inaceitáveis.". Dos liberais, já não agüento mais "não existe almoço grátis" em cada post.

- Fetichismo intelectual inviabilizador da vida. Quem não leu o autor X é um completo ignorante a respeito do tema em discussão. Se X é totalmente desconhecido, a culpa é do viés ideológico (qualquer um) das editoras, que censuram suas obras. É um artifício para tentar fazer com que o debatedor adversário passe por ignorante, principalmente se ele não for.

- Amor incondicional por determinados governos. Conservadores idolatram George W. Bush. Liberais idolatram Reagan e Thatcher. Esquerdistas preferem, em geral, opções latino-americanas, de diferentes níveis de radicalismo. Mas todos partem do princípio de que se alguma coisa de bom aconteceu no país (ou até mesmo no mundo) durante o governo idolatrado em questão, há uma relação confiável de causalidade entre a honestidade e a sagacidade do nobre líder e esses fatos.

Particularmente, eu considero que a análise desses recursos retóricos nos permite separar o joio do trigo em nossos estudos.

quarta-feira, julho 01, 2009

Sobre a Absolvição do Deputado do Castelo

O deputado federal Edmar Moreira, famoso (apenas) pelo seu castelo no interior de Minas, foi absolvido pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Até aí, nada de surpreendente, afinal, como já disse outro deputado, conterrâneo meu, eles estão se lixando para a opinião pública. Na verdade, eles nem precisam se lixar: o nosso poder Legislativo parece representar muito bem o seu eleitorado. A maior parte das pessoas no Brasil, se consultadas sobre sua opinião a respeito da corrupção na política, responderiam que "se estivessem em Brasília, estariam fazendo a mesma coisa". A maior sanção que um político corrupto no Brasil pode receber é estampar algumas reportagens de jornais e revistas, raramente chegando à matéria de capa. Talvez, alguns políticos vejam essa publicidade com um certo orgulho, a malandragem de se dar bem em negócios escusos e não ser punido.

A novidade nesse caso do "deputado do castelo" é que tive acesso à lista dos deputados que foram favoráveis a sua absolvição.

Hugo Leal (PSC-RJ)

Mauro Lopes (PMDB-MG)

Nelson Meurer (PP-PR)

Sérgio Moraes (PTB-RS)

Wladimir Costa (PMDB-PA)

Moreira Mendes (PPS-RO)

Urzeni Rocha (PSDB-RR)

Sérgio Brito (PDT-BA)

Lúcio do Vale (PR-PA)

Cicando no nome de cada um deles acima, é possível conhecer um pouco mais sobre suas trajetórias políticas. Algumas são surpreendentes.