segunda-feira, outubro 29, 2007

Uma Carona Inusitada

Neste último sábado pela manhã, tive uma boa experiência a respeito dos baixos índices de violência urbana em Belo Horizonte, e como isso condiciona o comportamento das pessoas.

Estava eu em uma parada de ônibus perto de casa, no bairro Cidade Nova, esperando o ônibus para ir ao Centro. Sem mais nem menos, de repente para um carro na parada, e um senhor aparentando ter mais de setenta anos de idade, que dirigia o carro, me diz que está perdido (não mora na cidade), e me pergunta se eu vou para o Centro. Eu respondo afirmamente, e ele me diz, de modo muito natural: "Então sobe no carro aí e me ensina como se chega lá!". Descrevi para o senho o exato trajeto do ônibus, e chegamos rápido ao Centro. No caminho, ele me contou alegremente toda a história de seus filhos e netos, e confesso que foi umacarona muito agradável.

Mas, para mim, um portoalegrense acostumado a desconfiar de assaltantes até dentro dos ônibus e lotações, achei muito estranho alguém oferecer carona a um estranho parado em um ponto de ônibus.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Enfrentar a Desigualdade ou a Pobreza? – Debate entre Feldstein, Milanovic e Sen

Martin Feldstein, da Universidade de Harvard, em seu artigo “Income Inequality and Poverty” (1998), argumenta que, ao contrário do que muitos economistas e intelectuais apresentam, a desigualdade não é um problema social, ao contrário da pobreza. Segundo o autor, o critério econômico para definir alterações de bem-estar social e o impacto social de políticas consiste no conceito de ótimo de Pareto, isto é, a situação de que, se uma mudança no equilíbrio social pode melhorar a situação de um indivíduo ou um grupo de indivíduos, sem piorar a situação dos demais, então essa mudança é benéfica. Assim, a desigualdade pode ser Pareto-eficiente, se a renda de um determinado grupo de indivíduos aumentar sem que a renda de outros indivíduos diminua. Por isso, o único motivo pelo qual as pessoas (economistas, intelectuais, e outras) podem se incomodar com a desigualdade na sociedade, é por que elas têm inveja do aumento de bem-estar alheio. E esse sentimento de inveja, para o autor, é moralmente condenável, principalmente porque nos últimos anos as grandes riquezas pessoais tenderam a aumentar por fatores mercadológicos, como o aumento de número de horas trabalhadas e aumento da produtividade do trabalho qualificado. Por isso, a inveja não pode ser um critério racional para a definição de políticas econômicas.

Sobre as causas da pobreza, vistas por Feldstein como o maior problema social, o autor apresenta uma visão estritamente conservadora. Para o autor, a pobreza pode ter três causas. Em primeiro lugar, o desemprego estrutural, que seria provocado por uma legislação social que desestimularia a procura de novos empregos pelos desempregados. Em segundo lugar, a falta de habilidades pessoais, provocada pela má escolaridade (causada por falta de competição entre as instituições públicas de ensino), falta de treinamento no emprego (causada pelos altos custos sociais de contratação, que desestimula as emprsas a oferecer programas de treinamento), ou simplesmente falta de aptidão individual ao trabalho, provocada por fatores congênitos ou decorrentes de determinados estilos de vida (como o uso de álcool e drogas). A última causa da pobreza, para o autor, decorre das escolhas individuais dos indivíduos, isto é, de consumir mais lazer do que o necessário para melhorar a sua condição, o que pode ser estimulado por políticas de transferência de renda.

Ou seja, na visão conservadora de economia e sociedade de Feldstein, a pobreza é um fenômeno totalmente exógeno ao sistema econômico. Existe pobreza devido aos incentivos provocados por políticas públicas e devido às preferências, características e escolhas de determinados indivíduos. E só. O autor adverte que a pobreza pode ter a conseqüência de criar pressões políticas para a adoção de políticas monetárias expansionistas, o que, por gerar inflação no longo prazo, em troca de um aumento temporário na demanda por mão-de-obra, pode prejudicar a eficiência da economia como um todo.

O teor conservador do artigo de Feldstein gerou muitas críticas. Uma delas, de Branko Milanovic (2003) “Why We All Do Care about Inequality but Are Loath to Admit It”, defende a redução da desigualdade por motivos de estabilidade social e política e de correção de falhas de mercado, ja que a concentração de renda poderia reduzir o número de potenciais investidores em uma economia.

Por outro lado, em resposta ao caráter moralista da crítica de Feldstein à “Economia da Inveja”, Milanovic argumenta que as questões éticas e morais não são fenômenos passíveis de serem estudados pela economia. O que interessa, para o autor, é estudar qual é a racionalidade dos agentes econômicos em serem invejosos. Para o autor, e explicado no artigo original com referências à Teoria dos Jogos, os agentes econômicos podem apresentar um comportamento visto como “invejoso” em situações em que há alguma distribuição de riqueza porque interpretam a riqueza recbida não apenas como um meio de troca, mas sim como o resultado da avaliação social ao seu comportamento. Por isso, quando um agente recebe muito menos do que os seus semelhantes, seu bem-estar dimunui porque ele se sente injustiçado, mesmo que sua renda não tenha diminuído em termos absolutos. Por isso, o que parece “inveja”, para algumas pessoas, é, na verdade, “justiça” para outras.

Sobre a preocupação social com a desigualdade, há uma convergência entre a visão de Milanovic e a de Sen, de que toda teoria, ou mesmo comportamento, normativa em relação à sociedade tem algum fundamento no princípio da igualdade. Mesmo entre pensadores de visão mais liberal-utilitarista, que rejeitam a igualdade econômica como um princípio a ser seguido politicamente, seguem uma crença numa igualdade de direitos entre os inivíduos. Para Sen, alguma forma de igualdade está sempre presente nos argumentos sociais pela simples questão da plausibilidade das concepções pessoais aos ouvidos de seus semelhantes, isto é, é como uma forma de se buscar mostrar a imparcialidade entre indivíduos. Para Milanovic, por outro lado, a preocupação com a igualdade é uma conseqüência direta do pensamento humanista Iluminista, que assume a igualdade de direitos entre os cidadãos. Por isso, toda e qualquer desigualdade na sociedade, mesmo a econômica, tende a ser racionalmente discutida e questionada entre os indivíduos, como uma forma de escape moral ao próprio enriquecimento pessoal.

PS. Li hoje que Martin Feldstein está muito bem cotado para substituir Ben Bernanke na presidência do FED, no ano que vem. Isso dá o que pensar...

domingo, outubro 21, 2007

Metodologia da Economia em John Stuart Mill

A obra "Da Definição de Economia Política e do Método de Investigação Próprio a Ela" (1836), do inglês John Stuart Mill é considerada o primeiro texto que busca explicar a natureza e o método da Economia como uma ciência separada, isto é, independente da então chamada filosofia moral (que incluía, além da Economia Política, o Direito e a Ciência Política). Nesse texto, um grande clássico da história do pensamento econômico, o autor busca definir a problemática fundamental da Economia Política sendo influenciado tanto pelo método histórico-indutivo de Adam Smith, como pelo método dedutivo de David Ricardo, isto é, Mill formula a sua própria hipótese para a metodologia da Economia utilizando elementos, aparentemente antagônicos, desses dois autores, mas sem pender para nenhum lado.

Em princípio, Mill procura definir o que é Economia Política. Para isso, o autor procura, antes de dar a sua definição, explicar o que não é Economia Política:

Em primeiro lugar, Economia Política não é o estudo de como que uma determinada nação fica rica. Essa associação representa uma confusão entre Ciência e Arte, presente em muitos pensamentos. Ciência é definida pelo autor como um conjunto de relações lógicas entre fenômenos observados e suas leis gerais, ao passo que Arte é definida pelo mesmo como um conjunto de regras formais para a conduta, cisando produzir algum fim. Por isso, o estudo sobre o enriquecimento das nações é uma arte política, de fato, derivada da Economia Política, mas que não a define por si só.

Em segundo lugar, Economia Política não é o estudo das leis que regulam a produção, distribuição e consumo da riqueza. Para o autor, apesar dessa idéia tratar verdadeiramente a Economia como Ciência, e não como Arte, o conceito de riqueza ali presente é muito vago. Mill, sob a ótica da Economia Política Clássica, conceitua a riqueza como um conjunto de bens úteis e agradáveis a humanidade que são produzidos, ou obtidos em geral, pelo trabalho, ou por algum outro meio de esforço. Por isso, um estudo completo sobre todas as forças que influenciam a produção de riqueza pela humanidade, devido à abrangência do próprio conceito de riqueza, incluiria todas as ciências físicas existentes. E, como para o autor uma ciência se caracteriza pela limitação de seu objeto de estudo, esse problema acabaria por anular a Economia como uma ciência independente das ciências físicas.

Para formular seu próprio conceito de Economia Política, Mill define o seu objeto de estudo como uma ciência moral, ou psicológica, e isso a afasta das ciências físicas. Isto é, a economia estuda o comportamento humano, as relações entre os fenômenos econômicos e as leis gerais da mente humana. Por isso, para um melhor estudo, deve-se considerar todas as leis físicas (chamadas pelo autor de "leis da matéria" que influenciam a produção como dadas. Além disso, o estudo da economia deve assumir a existência de um corpo social, isto é, de que o homem vive e age em união com homens semelhantes, em busca de objetivos comuns. Ou seja, a Economia Política é um ramo de um grande objeto de estudo que o autor define como "Economia Social", que procura estabelecer as leis das relações entre a conduta individual dirigida pela mente humana com as necessidades e as orientações do estado de sociedade ao qual o homem naturalmente se agrega. Mais especificamente, a Economia Política é, no sentido de pode ser delimitada como, o ramo da Economia Social (cujo conceito pode ser associado ao que hoje consideramos como Ciência Social) que estuda os fenômenos referentes à humanidade associados especificamente com a idéia de acumulação de riqueza.

Explicando melhor, Mill define como Economia Política o estudo das leis que governam o comportamento humano decorrente das hipóteses observadas de que o homem tem necessidades, e age de modo a procurar satisfazê-las, e que, para um dado nível de esforço, obter mais riqueza é sempre preferível a menos. Ou seja, nessa definição, é visível a influência ao mesmo tempo do indutivismo de Smith e do dedutivismo de Ricardo. Pois, a Economia Política estuda as leis que decorrem, isto é, são deduzidas, a partir de hipóteses dadas. Contudo, as hipóteses tomadas como verdadeiras para o autor não são abstrações filosóficas sobre o comportamento humano (tal como o conceito de racionalidade na posterior Economia Positiva Neoclássica), mas sim são verdades observadas, de que as pessoas têm necessidades e que gostam de riqueza como recompensa ao seu esforço, obtidas indutivamente.

Pela delimitação do objeto de estudo da Economia Política, Mill argumenta que as leis gerais obtidas pelo desenvolvimento dessa ciência se restringem a essa delimitação, isto é, dos fatos humanos relacionados à obtenção de riqueza, entendida como qualquer objeto que interessa ao homem e que é obtido em custa de algum esforço. Nas palvras do autor (1974, pg. 302), a Economia Política é "a ciência que traça as leis daqueles fenômenos da sociedade que se originam das operações combinadas da humanidade para a produção da riqueza, na medida em que aqueles fenômenos não sejam modificados pela procura de qualquer outro objeto".

O autor explica que certamente a procura pela riquezanão é o único fator que influencia o comportamento humano (e inclusive chama de "ridículos" os economistas que assim pensam). Para o autor, as ciências morais, dentro da qual existe a chamada Economia Social da qual a Economia Política é um ramo, têm a característica de suas leis agirem de forma combinada na realidade. Isto é, apesar de ser recomendável que cada ciência moral aborde uma possível base de influência no comportamento humano, é importante ter em mente que todas essas bases agem em conjunto, nos fenômenos reais. Tal efeito tem como conseqüência a impossibilidade de se realizar experimentos científicos para testar a validade das leis estudadas. Por isso, em qualquer conclusão tomada sob a ótica das ciências morais, sempre haverá um conceito de incerteza sobre as explicações e as previsões. Incerteza pelo fato de que o cientista nunca poderá estar certo de quais são todas as forças presentes no seu objeto de estudo, quais dessas forças são concorrentes ou agregativas, e quais são as predominantes para cada situação. Isso faz com que as causas particulares a cada situação estudada tenham papel fundamental como força de ação, e seu papel isolado pode inclusive neutralizar as causas gerais.

Por isso, para o autor, um cientista moral, tal como um economista político, nunca será algo como um profeta, pois nunca terá a informação plena de todas as causas particulares que complementam as cuasas gerais conhecidas em cada situação estudada, e qualquer previsão tomada sob essa ótica será sempre a observação de tendências, obtidas sob uma incerteza imensurável e natural ao conhecimento humano.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Fim da Seca

Ontem à noite, depois de quase 6 meses de seca, finalmente choveu em Belo Horizonte. Nos dois últimos dias, fez muito calor aqui, quase comparável ao que faz em Porto Alegre no verão. Felizmente, ontem tudo acabou numa boa tempestade, com direito a ventania, raios e relâmpagos.

Meus olhos, nariz e garganta agradecem.

quinta-feira, outubro 18, 2007

O Mapa - Mário Quintana

Momento de saudades, olhando o mapa de Porto Alegre no Google Maps.

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(É nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

segunda-feira, outubro 15, 2007

ANPEC - Um Ano Depois

AVISO: este post é nostálgico.

Hoje está fazendo praticamente um ano de quando eu realizei o exame Anpec, de qualificação nacional para pós-graduação em Economia. Ainda me lembro, como se fosse na semana passada, os fatos mais marcantes desses dois dias de provas que podem decidir uma vida inteira:

- As duas noites mal-dormidas, tremendo, suando frio e com o coração acelerado, pensando nas provas do dia seguinte e no resto da vida após as provas;

- Ir de carro até a Puc-RS, e encontrar os amigos no estacionamento, próximo ao prédio da Economia, dando a última revisada e decorando os últimos macetes.

- O próprio prédio da Economia e Administração da Puc-RS, uma verdadeira pérola de design e arquitetura. Até comentei com os colegas: "se não der certo nas provas, até que vai ser agradável estudar aqui".

- As duas salas lotadas de candidatos, sendo que muitos faltaram, e muitos outros eram totais desconhecidos, que marcavam todas as questões em cerca de meia hora de prova.

- A prova de macroeconomia estava bastante diferente das anteriores, e isso provocou pâncico em muita gente. E eu errei uma questão de ponto cheio por bobagem e marquei uma questão inteira errada na folha óptica. "Do Rio Grande do Sul, não saio mais" foi o que eu pensei quando saí da sala. O resto da turma estava muito confiante. "25% de cominho andado até o Rio de Janeiro" era o pensamento geral.

- A prova de estatística estava mais fácil do que no ano anterior. Meu conhecimento da matéria era relativamente baixo, mas as questões eram muito parecidas das provas anteriores.

- Almocei com o Éverton e o Risco em um restaurante que não me lembro onde fica, mas comi lombinho de porco com molho de abacaxi em calda (!).

- A prova de economia brasileira estava muito detalhista. Achei muito difícil, mesmo tendo trabalhado como pesquisador nessa área durante dois anos e meio. Pelo menos, na redação, me redimi, e escrevi quatro páginas mais uma linha sobre os planos de estabilização econômica da década de 80 e 90, com ênfase na visão de inflação inercial que se tinha na época e o "Efeito Tanzi às Avessas" do Fábio Giambiagi, que relacionava a indexação dos contratos co o déficit público, visto por esse autor como a verdadeira causa da inflação no país.

- Cheguei em casa exausto. Tomei um chazinho lendo a Zero Hora, fui pro banho e... estudei até as duas da madrugada.

- No dia seguinte, veio o maior choque. A prova de matemática mudou quase que completamente em relação aos anos anteriores, e fiquei desesperado. Nada de integrais ou limites simples, e pouquíssima álgebra linear. Achei que não passaria nem na Puc-RS.

- Fiz toda a prova de inglês (acho que a USP exigia). Fui rápido, para poder revisar micro no intervalo de almoço.

- Almocei sozinho em um restaurante a quilo perto do prédio do Direito. Encontrei alguns conhecidos do colégio pelo pátio do campus da Puc-RS. E como tinha mulher bonita naquele campus! É a única coisa que me dá saudade daqueles dois dias.

- Revisei microeconomia com o Thomas (USP), o Diego (PUC-RJ) e o Tarso (PUC-RJ). O nível deles estava bem acima do meu, mas não me desesperei. Naquele momento, o que eu mais queria era ficar na UFGRS, mesmo sem bolsa.

- Fiz a prova de microeconomia relativamente tranqüilo. A prova parecia fácil (mas tinha vários pega-ratões que tiraram nota de muita gente). Mas senti que tinha ido bem melhor do que nas outras.

- Saí da prova e acendi o "charuto da vitória" com o Augusto Polegar (Desenvolvimento-UFRGS), um Danemann. Enquanto os mais aplicados queriam revisar as provas, o que eu mais queria era encher a cara.

- Deixei o Éverton e o Risco em sua república, levei o carro para casa e fui para a Cidade Baixa afogar as mágoas. Primeiro, encontrei meus colegas anpecanos no bar do Antônio. Bebemos umas duas horas lá. Depois, fomos para o bar do Fabiano. Por fim, fomos comer X e continuar a cervejada no Pingüim. Conforme bebia, sentia a angústia cada vez mais forte, e os meus amigos perceberam isso. Cheguei em casa e tomei um copo bem cheio de Jack Daniel's para conseguir descansar. Meu pai só foi notar a mudança do nível da sua garrafa em julho desse ano, já que ele não bebe destilados.

- No dia seguinte, dormi bastante e fui para o IEPE me inscrever no programa de mestrado em Desenvolvimento Rural, bastante desiludido comigo mesmo. Para me redimir me dei um CD de presente, acho que do Chuck Berry, na Stoned Records (na Marechal Floriano). Na FCE, veio o Fabiano me contar do roubo do computador do DAECA, que virou um caso famoso por algum tempo.

- Tirei um mês de férias, procurando me recompor fisicamente e psicologicamente da Anpec, e me inscrevi em concursos públicos.

- No dia 18 de Novembro, veio a boa nova. Fui selecionado para a Puc-RS, para a UFRJ e para o Cedeplar-UFMG. Fui rindo sozinho cada vez mais alto a cada e-mail que lia desses centros. Fiquei um tanto histérico nessa hora, e mandei scraps de conteúdo bastante agressivo no Orkut de meus amigos (e inclusive para o professor Sabino, da faculdade). Todos me cumprimentaram. Depois, viajei para o Rio e confirmei o ingresso, com bolsa de estudos, no Cedeplar. Me mudei para Belo Horizonte no dia 13 de janeiro, tendo comigo nada mais do que uma mala de roupas, outra de livros, minha mochila, minha pasta do DAECA, e uma reserva num hotel barato no centro da cidade.

Em relação à prova da Anpec, em primeiro lugar acho muito positiva a organização em nível nacional dos centros de pós-graduação em economia de disponibilizar as vagas para ingresso por meio de uma prova unificada, fechando espaços para quaisquer possíveis favorecimentos aleatórios e panelinhas, como acontece em outras áreas acadêmicas. Se não fosse por essa prova, eu certamente não teria saído de Porto Alegre.

Contudo, acho que a Anpec é muito mais difícil do que deveria ser. As provas têm ao todo quinze questões cada, e raramente as médias superam dois pontos. Isso favorece os centros de maior disputa em nível nacional, como a PUC-RJ e a FGV-RJ, mas, para os demais, cria um grande bolo de candidatos praticamente empatados em suas pontuações, o que torna a seleção muito complicada e até mesmo aleatória, já que um ítem de uma questão acertado em uma prova pode decidir uma bolsa de estudos, ou mesmo uma vaga. Além disso, eu sinceramente acho (e isso vale também para o Vestibular) que avaliar toda a competência de um candidato em dois dias de provas é muito problemático. Mesmo que isso possa reduzir a uniformidade dos critérios de admissão, a análise do currículo dos candidatos é um fator importante, já que cobre fatores de toda a sua vida profissional e acadêmica e não pode ser resumida em questões de provas.

Por fim, não concordo com a presença de questões do tipo pega-ratão nesse tipo de prova. Como na Anpec, um ítem errado elimina os pontos de um ítem respondido erronemanente, questões que induzem o candidato ao erro acabam prejudicando quem estudou mais e quer fazer o maior número de pontos possível para passar nos centros mais difíceis. Por isso, erros de atenção viesam a dificuldade da prova para esses candidatos, enquanto aqueles que estudaram menos tendem a ser mais avessos ao risco e preferir concentrar-se apenas nas questões que realmente dominam.

Por fim, desejo boa sorte a todos o que estão passando esse ano pelo que eu passei no ano passado. E que o esforço de cada um seja devidamente recompensado!

quinta-feira, outubro 04, 2007

Novos Marcadores

Para fins de criatividade, decidi mudar o nome de alguns marcadores do blog, e criar alguns novos. Nessas mudanças, eu pretendo homenagear algumas músicas e bandas que eu gosto.

Aí vão as novidades:

Do You Remember Rock and Roll Radio? (música dos Ramones) = antigo marcador "Rock and Roll"

Fun Fun Fun (música dos Beach Boys) = antigo marcador "humor"

In My Life (música dos Beatles) = antigo marcador "minha vida"

Maluco Beleza (música do Raul Seixas) = antigo marcador "divagações"

Master of Reality (disco do Black Sabbath) = novo marcador, sobre o meu mestrado

The Memory Remains (música do Metallica) = novo marcador, seção nostalgia

Wherever I May Roam (música do Metallica) = antigo marcador "viagens"

Ainda pretendo fazer outras modificações.

Tipos Sociológicos entre Estudantes de Economia

Esse é um post de cunho humorístico/sarcástico, inspirado em um comentário do professor Jorge Araújo (UFRGS) sobre a heterogeneidade de interesses entre os estudantes de economia.

Tomando como amostra os alunos de uma turma de um semestre de qualquer curso de graduação em Economia no Brasil, encontramos os seguintes tipos de alunos:

QUASE-HISTORIADOR: aluno que gosta de história, ou de ciências humanas em geral, e escolheu fazer vestibular para economia porque essa seria a ciência social mais propícia ao sucesso profissional, ou o curso dessa área ideologicamente mais eclético. A maioria dos quase-historiadores tende a se interessar pela heterodoxia (ou pela nova economia institucional), e podem se tornar pesquisadores em história econômica, HPE, economia política, desenvolvimento sócio-econômico e economia brasileira. Sua tendência após concluir o curso é de procurar pós-graduação, e seguir vida acadêmica. Por parecerem intelectualódies, em média, os quase-historiadores podem ser considerados "chatos" por parte de seus colegas, particularmente pelos "jovens empreendedores".

POLÍTICO: aluno que tem interesse em seguir carreira nos meios políticos, e, na inexistência de cursos de graduação em ciência política ou administração pública na região onde vive, presta vestibular para economia. Suas áreas de interesse são economia do setor público, direito aplicado à economia e políticas macroeconômicas (a "macroeconomia hidráulica" segundo o Jorge Araújo, de causalidade qualitativa entre políticas, o nível de produto e o nível de preços de uma economia). Alguns políticos abandonam o curso para ingressar em algum "movimento". Após o término do curso, os políticos formados tentam, além de inserir-se em seu meio, realizar concursos públicos.

ORTODOXO ESTRITO: aluno que já tem alguma noção do conteúdo básico de um curso de economia, e espera obter uma boa base de conteúdo quantitativo (matemática, econometria) e teórico (micro e macroeconomia), de acordo com o currículo-padrão de cursos de economia em nível internacional. Contudo, como a grande maior parte dos cursos de graduação em ciências econômicas do Brasil segue uma linha eclética ou heterodoxa, o aluno ortodoxo estrito pode desenvolver o mal-hábito de ficar falando mal de seu curso durante toda a sua graduação, e derreter-se em arrependimentos por não ter escolhido um curso "mais sério" (de ciências exatas), como matemática ou engenharia. Alguns ortodoxos estritos são mais radicais, ignorando inclusive a importância das cadeiras de macroeconomia para seu conhecimento. Alguns ortodoxos estritos são "fraudes acadêmicas", isto é, falam aos seus colegas que são muito bons em matemática, que deveriam estar na FGV ou no IMPA, etc, mas seu desempenho nas provas não corresponde ao seu ego. Por outro lado, os ortodoxos estritos que são realmente bons conseguem obter excelentes resultados no exame Anpec, e cursar pós-graduação em centros mais de acordo com suas preferências.

"JOVEM EMPREENDEDOR": aluno que presta vestibular para economia pensando em seguir um curso prático, indutivo, que o prepare exclusivamente para o mercado profissional, ou como ele mesmo diz, "para ganhar dinheiro". Contudo, como os cursos de economia no Brasil (e, segundo alguns, isso vale em nível internacional) seguem uma linha predominantemente acadêmica e teórica, e pouco voltados para a área de economia empresarial e financeira, tal aluno sente-se decepcionado logo no primeiro semestre. Algumas versões mais caricaturais de sovens empreendedores chegam a afirmar que qualquer conteúdo teórico na economia é inútil: matemática é "abstrato", micro "não corresponde ao mundo real", macro é "política", história "já passou", economia do setor público "é só para funcionário público", cadeiras de pesquisa "são para acadêmicos", e por aí vai. Talvez seja por isso que boa parte dos alunos desse tipo abandonem o curso antes de terminar, mudando para administração ou ciências contábeis (que são, de fato, cursos mais práticos), ou mesmo para ingressar no mercado profissional mais cedo. Praticamente todos procuram estágios profissionais logo no início do curso, o que pode inclusive reforçar a sua decepção com a ciência econômica em sua aplicação ao mundo profissional real. Outros convertem-se em ortodoxos ou heterodoxos e procuram pós-graduação, podendo obter muito sucesso a partir daí. Outros ainda, por inércia, formam-se em economia sem, de fato, acreditar na importância do curso, apenas para ter algum diploma superior.

PERDIDO NA SELVA: aluno que presta vestibular para economia sem saber muito bem (ou absolutamente nada) do que quer de sua vida, tal como muitos vestibulandos de direito e de administração. Durante o curso, o aluno perdido na selva pode se "encontrar", e se converter em ortodoxo, heterodoxo, ou mesmo em "jovem empreendedor decepcionado", seguindo o rumo de seu novo tipo individual. Ou então, continua perdido em uma selva cada vez mais selvagem. Muitos desses alunos "somem" ao longo de sua graduação, desistindo de sua faculdade, ou migrando para ser trabalhador escravo em algum país desenvolvido. Alguns dos que "somem" "voltam" de forma tão misteriosa como aquela em que sumiram. Outros chegam a se formar, com a impressão de que não aprenderam nada com o seu curso.

PS. 1: todos esses tipos sociais entre cursos de economia são versões caricaturais, descritos em cunho humorístico, e não foram inspirados pessoalmente em ninguém que eu conheça. Os alunos reais tendem a ser combinações lineares de características de todos os grupos. Como nos filmes, "qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência". Se tu te identificares com algum tipo, é problema teu!

PS. 2: acho que faltam alguns tipos minoritários. Se alguém quiser contribuir com novas descrições, pode mandar que eu incluo no post.

PS. 3: pensando em mim mesmo, acho que, ao longo dos meus nove semestres na graduação em Ciências Econômicas na UFRGS fui 60% quase-historiador, 30% jovem empreendedor e 10% político.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Prêmio Nobel de Economia - Fotos

Meus colegas do Cedeplar me enviaram por e-mail um link com fotos de quase todos os vencedores do Prêmio Nobel de Economia.

ATENÇÃO: As imagens são fortes. Os caras são muito feios, e alguns têm sorrisos psicopáticos.

Minha missão agora é procurar colocar apelidos e procurar gêmeos desaparecidos para cada um desses economistas.

Começando:

Robert J. Aumann (2005) = Profeta, Noé, Osama bin Laden, Deus
Edward C. Prescott (2004) = Dedé Santana (careca)
Robert F. Engle III (2003) = Cid Moreira, Branca (professor do cursinho Universitário)
Vernon L. Smith (2002) = Babá (deputado do PSOL)
George A. Akerlof (2001) = Bill Gates
James J. Heckman (2000) = Bocão da Royal, Sílvio Santos
Myron S. Scholes (1997) = Valmor Marchetti
William Vickrey (1996) = Ulisses Guimarães, depois de afogado
John C. Harsanyi - John F. Nash Jr (1994) = Cérebro e Pinky (nessa ordem)
Robert W. Fogel (1993) = Seu Barriga, Gordo (do Gordo e o Magro), um ator de noveleas da Globo que eu não lembor o nome, mas é gordinho, usa os mesmos óculos e tem as mesmas sobrancelhas.
James M. Buchanan Jr (1986) = José Sarney
Kenneth J. Arrow (1972) = Mr. Bean (o mais igual!)