terça-feira, novembro 27, 2007

As Causas da Pobreza - Resenha de SHWARTZMAN (2004)

Simon Schwartzman, em seu artigo “As Causas da Pobreza” (2004) aponta que os problemas da pobreza e da desigualdade entre as pessoas são tão antigas quanto a própria humanidade, e tenderam a ser explicadas por teorias baseadas em sentimentos morais. Isto é, nos séculos mais remotos, devido ao grande número de indivíduos vivendo na pobreza e na indigência, em todas as sociedades, e ao limitado volume de recursos disponíveis, as discussões que se faziam eram baseadas em selecionar quais pessoas tinham o merecimento moral de receber ajuda e caridade das instituições políticas e sociais e dos indivíduos mais abastadas.

A discussão sobre as verdadeiras causas da pobreza, e como de fato combatê-las datam do final do século XVIII e do início do século XIX em que, com a Revolução Industrial já se consolidando nos países mais avançados da Europa, a produção econômica já parecia provocar mudanças positivas no padrão de vida de muitas pessoas. Nesse período, o debate acontecia entre duas visões predominantes sobre o assunto.

Uma delas, entendida como visão malthusiana, apontava que a pobreza tinha uma origem individualista, pelo fato de que as pessoas tinham o costume de se reproduzir em uma taxa superior ao do crescimento da oferta de alimentos, o que provocava a sua crescente escassez. Segundo esse paradigma, a assistência social, ao aumentar artificialmente a renda da população mais pobre, poderia reduzir momentaneamente os índices de mortalidade da população, o que, no longo prazo, aumentaria o seu número, mas não o seu padrão de vida. Assim, os únicos fatores que poderiam controlar estruturalmente a pobreza na sociedade seriam a educação, o controle reprodutivo e a própria natureza, que determinaria o tamanho de equilíbrio natural da população.

A visão alternativa a esse paradigma é freqüentemente definida como socialista, tendo origem fundamentada na moral cristã católica. Segundo essa visão, a pobreza é um fenômeno social, causada por defeitos morais dos indivíduos mais ricos, que teriam seu comportamento guiado pelo egoísmo e pela ganância, e não pelo altruísmo e por um senso de cooperação e ajuda ao próximo. Assim, os conflitos entre as pessoas pobres e ricas em cada sociedade, entendidas como lutas de classes sociais, determinariam a própria dinâmica social, em nível global.

Na Europa do século XX, o autor aponta que ambos paradigmas se fundiram em um conceito de ordem social, política e econômica definida como “social-democracia”, ou “welfare state”. Essa ordem social buscou equilibrar os conflitos entre capital e trabalho, ao propiciar uma melhor distribuição de riqueza entre capitalistas e trabalhadores, levou a uma redução da pobreza em praticamente todos os países, e acabou influenciando outras regiões do mundo, tais como a América Latina, e, particularmente, o Brasil.

Em relação ao Brasil, Schwartzman destaca que até o final do século XIX não havia no país uma preocupação social, nem em termos políticos, tampouco em termos intelectuais, com a questão da pobreza. Isso aconteceu devido a dois fatores. Em primeiro lugar, pela existência da escravidão como componente central da sociedade e da economia, o que excluía da visão social nacional, as questões referentes à população livre pobre. Em segundo lugar, pela estabilidade populacional que o Brasil apresentou nessa época, caracterizada pela inexistência de deslocamentos populacionais em massa tais como o que os países industrializados passavam. Tal fator contribuiu para a não-expropriação da população pobre livre de seus meios de produção (principalmente as pequenas propriedades rurais), que levou a uma criação incompleta de mão-de-obra assalariada anterior à chegada de imigrantes europeus.

A preocupação nacional com a pobreza e a miséria iniciou-se com a proclamação da República, no final do século XIX, baseada na consolidação do positivismo como paradigma dominante nas ciências sociais em nível nacional. Tal paradigma baseava-se, basicamente, na defesa de um governo forte, centralizado, capaz de planejar a sociedade e a economia e de educar o povo, utilizando para isso, o desenvolvimento do conhecimento científico disponível. Como alternativa ao positivismo, existia na época a visão eugenística da sociedade, segundo a qual a pobreza e a desigualdade eram originárias das características raciais e culturais da população brasileira, que eram contrárias aos bons valores da higiene e do trabalho. As soluções para os problemas sociais nacionais passavam, nesse sentido, em um esforço pelo “branqueamento” da sociedade e no ajuste institucional e cultural do país, o que poderia colocar o Brasil em uma rota de desevolvimento social progressivo.

Na década de trinta, a sociedade brasileira passou a ser explicada por uma idéia de corporativismo social, inspirada pela ideologia da Igreja Católica da época e pelos modelos autoritários da Itália e da Alemanha. Segundo essa abordagem, a sociedade não deve ser entendida como um somatório de indivíduos livres, mas sim como um organismo no qual cada parte desempenha um papel previsto e determinado. Para isso, seria necessária a existência da supervisão de um mecanismo de poder centralizado e protetor. Ou seja, mediante a atuação de um Estado elitista e autoritário, modernizado pelos insturmentos proporcionados pela ciência e pela educação, a sociedade brasileira poderia ser ordenada de modo a tornar o país uma potência mundial. No que diz respeito à assistência social, acreditava-se no papel hierárquico e paternalista do Estado, de ser o “pai dos pobres”, como em Getúlio Vargas, capaz de cuidar da população carente da mesma forma que as famílias cuidam dos seus filhos mais novos. Contudo, isso teve a conseqüência de incentivar a submissão e a subservência da população pobre brasileira.

Como visão social alternativa ao corporativismo, e à qual o autor confessa ter feito parte durante à juventude, Schwartzman cita o estruturalismo. Segundo essa visão, de conteúdo predominantemente socialista, a pobreza tem causas estruturais na sociadade, principalmente a exploração do capital pelo trabalho e o poder político das elites, utilizado em nome da exploração dos trabalhadores e do parasitismo sobre os recursos públicos, assim como a alienação da população, que serve como um bloqueio à consciência de classe capaz de contribuir para uma mudança social, política e econômica no país.

Por fim, o autor aponta algumas conseqüências políticas e ideológicas desses movimentos intelectuais que influenciaram de modo decisivo as políticas sociais adotadas no Brasil em toda a sua história republicana. Principalmente, o autor destaca a visão, predominante na sociedade, de que os direitos sociais são devidos independentemente da existência ou não de recursos e condições econômicas para satisfazê-los, de modo que os únicos limites para os gastos públicos levados em cosideração são a corrupção e a captura do Estado por grupos de interesse privados. Contudo, pela conjuntura atual, de restrição orçamentária a gastos públicos e de permanência de elevados níveis de desigualdade de renda e de distribuição de benefícios sociais no país, a questão refernte ao papel e às características dos programas sociais consistirá em breve em um problema iminente no Brasil atual.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Auto-Presentes de Aniversário

Segunda-feira, dia 19 de novembro, completei 23 anos. Fui bastante cumprimentado pelos meus amigos do orkut, minha família (por telefone) e pelos meus colegas de pós-graduação.

Como não ia ganhar nenhum presente mesmo, torrei parte da minha bolsa nos sebos da Galeria do Maletta, do centro daqui de BH (que digamos, equivale à rua Riachuelo de Porto Alegre sem o cheiro de lixo e de urina). Minhas três aquisições foram:

1- Caderno H (Mário Quintana), para matar uma parte da saudade de casa;
2- Economia, Paz e Humor (John Kenneh Galbraith), para ler textos mais suaves de economia, e aproveitar um poco do conhecimento prático e empírico do autor;
3- Matemática para Economia e Administração (Weber), procurei em Porto Alegre antes da Anpec, mas não encontrei. Achei bem barato aqui em BH, e comprei só a base do "pode ser que sirva para alguma coisa". A parte de equações diferenciais dele é tida como bastate completa e didática.

Daqui a um ano, fari 23 anos de novo.

terça-feira, novembro 20, 2007

Harry Potter e As Relíquias da Morte - J. K. Rowling

Enfim, a saga "Harry Potter" chega ao seu fim, no seu sétimo livro. Como ávido leitor, e fã assumido, não resisti uma promoção de lançamento nas Lojas Americanas e matei esse livro em não mais do que cinco dias, com uma breve interrupção para concluir o trabalho de Modelos Hierárquicos.

Já falei que sou fã assumido da saga de Harry Potter. As histórias são consistentes, os enredos mantém mistérios que cativam a leitura, as histórias sabem alternar fantasias mágicas e realidades da vida inanto-juvenil, desperta a imaginação e a nostalgia e, acima de tudo, incentiva milhões de crianças em todo o mundo a ler. É verdade que muitos dos personagens são descritos de maneira extremamente estereotipada e caricatural, e a maturidade apresentada pelos personagens principais em suas aventuras não corresponde nem de longe àquela presente mesmo em pessoas adultas, no mundo real, nas situações críticas como as descritas nos livros. Porém, a grande maioria das críticas feitas à autora têm conteúdo muito mais invejoso do que propriamente técnico e construtivo.

Todavia, confesso que o desfecho da saga do menino-prodígio-bruxo me deixou bastante decepcionado. O último livro não acompanha, nem de longe, a qualidade das obras anteriores, seja na temática da história em si, seja pelo desenrolar do enredo.

A história baseia-se, basicamente, na luta entre os amigos de Harry Potter (incluindo os antigos personagens membros da "Ordem da Fênix" e da "Armada de Dumbledore"), isto é, o "bem", contra os suportadores do Lorde das Trevas Voldemort (os "Comensais da Morte"), isto é, o "mal". Na história, só há um personagem aparentemente ambíguo, cujo comportamento pende hora para um lado, hora para outro, que é Severo Snape, o professor que Harry Potter tanto odeia. Concluir uma saga com uma grande luta do bem cotra o mal não é nem um pouco criativo, mas, conforme a narração pelo autor, sempre tem boas possibilidades de prender o leitor. Porém, os pontos fracos do livro passam longe daí.

Segundo a narrativa do livro, os suportadores de Harry Potter se preparam para um confronto físico (quer dizer, mágico) diretamente contra os Comensais da Morte, Harry e os seus melhores amigos (Rony e Hermione) se separam do grupo principal, abandonam a escola Hogwarts e partem por uma jornada sem rumo pelo mundo, com o objetivo de destruir os sete objetos que contêm fragmentos da alma de Voldemort (Horcruxes). E essa jornada é totalmente vaga, a narração foca muito mais problemas irrelevantes de relacionamento entre os personagens do que a aventura propriamente dita. Além disso, a autora dá pouquíssimas informações sobre o que acontece na luta formal da Ordem da Fênix contra os Comensais da Morte, o que desperta uma curiosidade insasciável, e uma sensação de incompletude do enredo. Por fim, alguns dos personagens mais clássicos da série são mutilados e mortos nas batalhas tais como baratas, isto é, sem o componente humanístico presente nos livros anteriores quando tais situaçÕes ocorreram. E ainda, no final do livro (sem spoiler), as próprias horcruxes, em sua maioria, estavam localizadas em lugares óbvios e de fácil acesso para os personagens obterem.

Ou seja, o livro dá a impressão de que foi escrito no improviso, isto é, o final da saga não estava planejado pela autora logo no seu início. É um tanto frustrante para os leitores mais "chatos", como eu, mas quem acompanhou toda a série, é improvável que não vá ler o último livro apenas por causa das críticas.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Resultados da Proxy para o Trabalho Infantil

Demonstrando o que eu escrevi no post sobre o comportamento da proxy "trabalha" para o trabalho infantil, mensurada pelo recebimento ou não de rendimentos do fator trabalho para as crianças da amostra, com base nos microdados do POF.


Como pode-se ver, há uma correlação de mais de 25% entre a idade das crianças e essa variável, o que mostra que são as crianças mais velhas que procuram trabalho remunerado, e bate com a intuição.


Na tabela de resultados do modelo hierárquico comleto com interceptos aleatórios (outra hora eu explico o que é), o fato da criança trabalhar ou não tem uma significância negativa de mais de 7 pontos na tabela da distribuição Normal, o que dá uma tremenda significância do efeito dessa variável sobre o abandono à escola.

Sobre a Dificuldade de se Mensurar o Trabalho Infantil

Em pesquisas de Economia Social, principalmente aquelas que utiliam microdados para análises empíricas, incluir o efeito do trabalho infantil, assim como suas correlações com as características das famílias em que isso ocorre é de importância fundamental, e permite que se obtenha conclusões muito sólidas, sobre qualquer variável socio-econômica que se esteja estudando. Contudo, mensurar o trabalho infantil não é fácil, e o uso de variáveis proxies, em estudos empíricos, é necessário.

Em primeiro lugar, o próprio conceito de trabalho infantil é incerto. Considerar como "trabalho" qualquer atividade produtiva exercidas pelos filhos de qualquer família, com idade inferior a dezesseis anos, pode trazer estimativas viesadas de seus efeitos e correlações. Por exemplo, uma família pode responder, em pesquisas de campo, que sua filha trabalha com prestação de serviços se ela diariamente lava as louças da família após o jantar. Em outro exemplo ainda mais traiçoeiro, Simon Schwartzman (2004) alerta para o efeito nulo do trabalho infantil sobre a freqúência à escola de crianças residentes nas áreas rurais da região Sul brasileira. Segundo o autor, nesses lugares as crianças costumam estudar em um turno do dia, e ajudar seus pais no trabalho agropecuário e doméstico, de forma informal não-remunerada, no outro turno. Segundo o autor, esse efeito também acaba distorcendo o efeito do trabalho infantil sobre a escolaridade das crianças.

Uma boa proxy para controlar as características intra-familiares do trabalho infantil é considerar apenas aquelas crianças que exercem trabalho remunerado. Intuitivamente, essa consideração captaria apenas aquelas crianças que procuram vender a sua força de trabalho no mercado, como forma de aumentar a renda familiar (apontando assim uma correlação negativa entre a incidência do trabalho infantil e a renda da família). Em bancos de dados, como a pesquisa de Orçamento Familiar (POF) existe variáveis como "unidade de orçamento familiar", que mensura quanto que cada indivíduo recebe po rendimento de seu fator trabalho. Cruzando essa variável com as informações dos filhos mais jovens (como abaixo de catorze ou quinze anos), pode-se criar ume dummy para as crianças que recebem rendimento por seu trabalho (isto é, que exercem trabalho infantil) e as que não recebem.

PS. No meu trabalho de modelos hierárquicos, que estima determinantes familiares, individuais e estaduais para a freqüência à escola, essa dummy funcionou muio bem, e foi o principal fator negativo para o abandono à escola por parte de adolescentes a partir dos treze anos. Ou seja, foi um resultado muito intuitivo.

domingo, novembro 18, 2007

Evolução Recente dos Indicadores de Pobreza e Desigualdade no Brasil

Embora a dimensão do problema da pobreza, e sobretudo da desigualdade no Brasil seja amplamente divulgado em estudos de diferentes áreas das ciências sociais, os mecanismos da dinâmica dessas variáveis, e o seu comportamento presente e esperado para o futuro, ainda é incerto, e tema de incansáveis e interessantes discussões. Indicadores estatísticos mostram que tanto a desigualdade como a pobreza no Brasil tiveram uma trajetória temporal estável da década de setenta até meados da década de noventa. A partir da estabilização macroeconômica, em 1994, a pobreza começou a ceder, e, a partir do ano 2000, os indiciadores de desigualdade começaram a diminuir, aparentemente de forma estrutural, isto é, não parece ser um simples choque de curto prazo nas séries.

Paes de Barros, Henriques e Mendonça, em seu artigo “A Estabilidade Inaceitável: Desigualdade e Pobreza no Brasil” (2001) buscam estudar o comportameno estável, porém crítico, dos indicadores de desigualdade e pobreza no país, da década de setenta até a década de noventa. Os autores mostram a evolução temporal da indigência e da pobreza no Brasil de 1977 a 1999, destacando que, enquanto que na década de 70 o percentual de indigentes e de pobres no Brasil era de, respectivamente, 20% e 40%, no final dos anos 90 ambos percentuais cairam para 15% e 33%. O estudo mostra a correlação entre a pobreza e o descontrole inflacionário no país: os anos em que ambos indicadores apresentaram quedas mais significativas foram 1986, após o plano Cruzado, e 1995, após o plano Real. Os autores argumentam que, apesar da queda em ambos indicadores ao longo dos vinte anos analisados, o atual patamar de pobres e indigentes no Brasil ainda é muito elevado.

Sobre a natureza da pobreza no Brasil, os autores apontam que o Brasil, apesar de não ser um país pobre, é um país que tem muitos pobres. Isto é, o problema da pobreza no Brasil não provém da escassez de recursos, mas sim da má distribuição de recursos existentes. Segundo os autores, a renda per capita do Brasil enquadra o país no terço dos países mais ricos do mundo, e equivale a quase quatro vezes a linha de pobreza estabelecida pelos autores para o país. Contudo, a porcentagem de pobres é muito maior do Brasil do que nos demais países de renda per capita semelhante (como a Malásia e a Tailândia), e os níveis de concentração de renda, seja o coeficiente de Gini, seja a razão de renda entre os estratos sociais mais ricos e mais pobres da sociedade, coloca o Brasil como o país mais desigual do mundo, acompanhado pela África do Sul e outros países africanos e centro-americanos. Além disso, os autores destacam a estabilidade do patamar de desigualdade de 1977 a 1999 (que eles chamam de “a estabilidade inaceitável”), culpando esse fato à inexistência de políticas específicas no Brasil para o combate à desigualdade a para a redistribuição de renda. Segundo os autores, o crescimento econômico é um fator importante, porém lento e incompleto para reduzir a pobreza: combater a desigualdade é necessário para que o crescimento tenha efeito mais duraouro em reduzir o atual patamar de porcntagem de pobres no país.

Porém, a desigualdade começou a ceder a partir de meados do ano 2000, isto é, um ano após o limite da série estudada pelo artigo comentado anteriormente. Os determinantes dessa queda foram estudados e analisados por um livro do IPEA, “Desiguadade de Renda no Brasil, uma Análise da Queda Recente”. Em primeiro lugar, os autores do IPEA destacam que a queda dos indicadores de desigualdade são de origem sócio-econômica, e não correspondem a mudanças na metodologia de mensuração.

Os autores concluem que a recente queda na desigualdade de renda no Brasil não é um choque de curto prazo, mas sim uma quebra estrutural, ligada a fatores políticos, econômicos e demográficos. Dentre os fatores listados pelos autores, destaca-se demograficamente o envelhecimento da população, que eleva o número de adultos trabalhadores em detrimento das crianças, o que eleva a renda per capita em nível familiar. O fator político apontado é a expansão dos programas de transferência de renda por parte do governo, principalmente o Bolsa-Família, os quais tendem a ser universalizados para toda a população pobre do país. Por outro lado, os fatores mais mercadológicos apontados pelos autores para a redução da desigualdade são a diminuição, no mercado de trabalho, dos diferenciais de rendimento por níveis educacionais mais baixos (como entre trabalhadores com ensino fundamental incompleto e completo) e dos diferenciais espaciais de salários, entre a população das capitais e dos municípios do interior, pela maior integração econômica dentro dos estados.

Por fim, os autores apontam alternativas para políticas de redistribuição de renda, com o objetivo de acelerar o processo de redução da desigualdade no país. Os autores recomendam, sobretudo, a universalização da educação, como forma de se equalizar as oportunidades futuras de emprego, e a reforma fiscal, com o objetivo de tornar a arrecadação tributária e o gasto público o mais eficientes e progressivos possíveis. Além disso, os autores apontam que, para que o mercado de trabalho possa absorver trabalhadores de qualificação mais equalizada, é necessário que se incentive a criação de postos de trabalho de maior qualidade, o que pode ser feito, por exemplo, pelo melhor acesso ao progresso tecnológico por parte das pequenas empresas brasileiras.

sábado, novembro 10, 2007

Sobre a Dificuldade de se Mensurar a Pobreza

Um dos principais desafios ao estudo dos aspectos econômicos da pobreza é a sua mensuração. É muito difícil de se encontrar uma definição segura e absoluta para a definição de pobreza. Angus Deaton (2003) cita uma pesquia empírica em que os estudiosos buscaram uma resposta mais segura para esse problema perguntando diretamente para moradores de comunidades dos Estados Unidos (exemplo de nação rica) e da Índia (exemplo de nação pobre). Enquanto que na Índia a pobreza é mais popularmente relacionada com a falta de condições para o trabalho (como, por exemplo, os doentes, os aleijados e as viúvas), no Estados Unidos os pesquisados apontaram que a pobreza está relacionada a um padrão mínimo de renda socialmente tolerável de se viver em sua comunidade. Assim, é possível pensar em mensurar a pobreza pensando em uma “linha de pobreza”, acima da qual o padrão de vida das pessoas é aceitável sob o ponto de vista político e social. Mas ainda permanece a questão de como definir o que envolve a definição desse tipo de linha.

Muitos autores relacionam a linha de pobreza como um padrão mínimo para a subsistência do indivíduo. Por isso, essa linha poderia ser mensurada como um piso para os gastos individuais (ou familiares) com a alimentação – a variável chave para a subsistência. Essa hipótese é microeconomicamente fundamentada pela lei de Engel, segundo a qual os indivíduos mais pobres de uma sociedade gastam toda a sua renda com alimentação, e, conforme melhoram suas condições de vida, o percentual de sua renda gasta com a alimentação é decrescente. Sob essa ótica, pesquisadores da metade do século XX consideraram que o consumo de 2000 calorias por dia equivale à alimentação mínima de subsistência de um indivíduo, e a linha econômica da pobreza seria calculada de acordo com o valor mínimo de uma cesta de consumo que contesse essa dotação de calorias. Contudo, Deaton (2003) explica que há uma séria inconsistência microeconômica nessa hipótese: os indivíduos consomem alimentos não pensando apenas no seu valor calórico, mas sim nas suas preferências pessoais com a variedade, a qualidade e o sabor daquilo que comem. Sônia Rocha (2000) complementa explicando as possíveis heterogeneidades do consumo mínimo de subsistência de calorias em uma mesma população. Para a autora, esse indicador tem um sério viés regional, em que aos habitantes rurais tendem a consumir mais calorias do que os urbanos, como também de ocupação, já que os trabalhadores braçais teriam que consumir mais calorias do que os intelectuais.

Além disso, trabalhar com a linha de pobreza definida apenas em termos de renda não é politicamente conveniente para Deaton (2003). Tal interpretação levaria à conclusão política de que distribuir renda para os indivíduos logo abaixo da linha, de modo a fazer com que eles a superem, é mais vantajoso do que ajudar os muito pobres. Ou seja,a pobreza, e a sua mensuração, não podem ser entendidas apenas sob o ponto de vista econômico, mas sim sob o ponto de vista político e social, incluindo observações, por exemplo, sob a variabilidade das condições de saúde e de educação entre os indivíduos de uma população.

Outro problema comum para a mensuração da pobreza é o seu caráter dinâmico. Segundo Deaton (2003) o crescimento econômico pode afetar a distribuição de renda em um país, e isso deve ser levado em conta na atualização dos índices sociais. Além disso, o autor destaca que, quando países pobres crescem vigorosamente durante um certo período de tempo (como a Índia e a China atuais), a mensuração do próprio crescimento econômico pode ser viesada pelo chamado “Efeito Al Capone”, em que o desenvolvimento econômico leva à formaliação, e à inclusão na contabilidade nacional, das atividades econômicas anteriormente tidas como informais. Assim, o autor conclui que dados agregados não são de todo úteis para se avaliar o desempenho da economia social. São precisos microdados sobre a qualidade de vida em nível individual, coletados diretamente em relação à população mais pobre.

Uma outra concepção de pobreza é definida por Amartya Sen. O autor associa a característica de privação, própria à carência, não apenas à disponibilidade de bens econômicos, mas também à capacitação dos indivíduos em desfrutar dos benefícios desses bens. Assim, aspectos como más condições de saúde ou exclusão política-social podem ter efeitos tão negativos sobre o bem-estar individual como a escassez de bens materiais para a subsistência. Sen também introduz o conceito de “pobreza relativa”, a qual é diretamente influenciada pelas instituições e os costumes de cada sociedade, e se diferencia da noção tradicional de linha de pobreza rígida e cientificamente construída para a análise. Deaton, por outro lado, aponta que o principal problema dos países subsesenvolvidos é com a “pobreza absoluta”, definida pelas condições básicas de nutrição e de saúde desejáveis para a população, enquanto que a pobreza relativa esta mais associada com as características sócio-econômicas dos países mais ricos.

Outro problema se dá na comparação internacional dos índices de pobreza. Os bens de subsistência, fundamentais para a análise da linha de subsistência para a pobreza absoluta, não podem ter seus dados quantitativos coletados em uma única medida monetária, e simplesmente converter seus preços em uma moeda-padrão internacional pela taxa de câmbio de mercado pode conter o viés de que o câmbio é determinado pela importação e exportação de bens, muito mais do que pela absorção doméstica de serviços básicos (mais relevantes para a população carente). E mesmo ponderações pela Paridade do Poder de Compra (PPP) podem não estar devidamente corretas, pela variedade de preços relativos intra-nacionais, e pela sua instabilidade ao longo do tempo.

Por isso, para a análise quantitativa dos indicadores sociais, devemos lançar mão de diversos índices, cada qual voltado para um problema específico, e incluindo suas vantagens e limitações específicas. Uma boa lista de indicadores de pobreza e desigualdade pode ser encontrada na obra de Hoffmann (renda por quantis da população, L de Theil, índice de Gini, indice de Wolfston, IDH de Sen e o índice de pobreza de Foster, Greer e Thornbecke). Já os fundamentos matemáticos para a construção de indicadores de desenvolvimento humano são muito bem descritos por Chakravarty (2003).

segunda-feira, novembro 05, 2007

Escândalo do Leite - Charges

Um momento de humor negro sobre a adição de soda cáustica no leite vendido nos supermercados de Minas Gerais. Felizmente, eu sempre compro o leite mais barato que tiver disponível, e nunca é o da Parmalat (que teve os maiores problemas).













sábado, novembro 03, 2007

Feriado em Belo Horizonte

Ontem, no feriado de 2 de Novembro (Finados), resolvi esquivar-me dos estudos (e também desenferrujar as pernas e o fôlego) e dar uma boa caminhada pela parte mais turística e histórica de Belo Horizonte. Peguei o ônibus na Cidade Nova, bairro onde moro, e desci na Praça da Liberdade, lugar de prédios históricos e clássicos da cidade e do governo estadual (uma versão de primeiro mundo da Praça da Matriz, de Porto Alegre, isto é, sem a sujeira e as pichações).

Desci caminhando pela avenida Cristóvão Colombo até a Savassi, um tradicional bairro comercial composto quase que exclusivamente por lojas, bares e edifícios de escritórios de todas as épocas (desdes os "caixotes" dos anos sessenta até os blocos de granito e vidro contemporâneos). À noite, a Savassi é o ponto principal da boemia belorizontina, com um trânsito bizarro, que só se vê em Porto Alegre na frente de colégios na hora da saída dos alunos. Mas, num dia de feriado, de manhã, estava um lugar bastante quieto e pacífico. Caminhei pela avenida Getúlio Vargas até a Afonso Pena, percorrendo todo o bairro dos Funcionários, um bairro residencial de classe alta.

Pela Avenida Afonso Pena, segui até o bairro das Mangabeiras e a Praça do Papa, onde eu já tinha caminhado no final do semestre passado. Porém, ontem, a paisagem estava muito diferente. Tanto a terra presente nos terrenos e nas calçadas, como as montanhas da Serra do Curral, o paradoxal final da civilização urbana, não estavam da cor vermelho-sangue, como em julho. A terra daqui estava mais marrom, mais parecida com a que eu conhecia em outros lugares. Provavelmente, isso deve-se ao fim da seca que assolou o centro do Brasil durante o inverno, e ressecou até o relevo local.

Do alto da Praça do Papa, pude enfim avistar o belo horizonte que denomina à cidade. O mirante oficial, ao lado do Palácio das Mangabeiras é muito ruim, tanto por causa das árvores que o circundam, e atrapalham a visão, como por causa da aglomeração de vendedores de água de coco (e seus insuportáveis radinhos tocando música brega). Mas, a visão da cidade pelo alto da Praça do Papa é praticamente uma obra de arte, uma pintura paisagística viva, um cartão postal em 3D.

Caminhando por trás da praça, no pé da Serra do Curral, em direção ao Parque das Mangabeiras, pude contemplar a realidade do bairro em que andava. As casas, seja pelo tamanho, seja pelo design, só seriam vistas em Porto Alegre dentro de condomínios fechados. Se não fosse pelas grades e pelas câmeras de segurança abundantes, poderia-se sentir em uma cidade do Hemisfério Norte, com ruas calmas, tranqüilas e arborizadas, crianças andando de bicicleta livremente, praticamente sem trânsito, a não ser por um ou outro carro de luxo.

Entrei no Parque das Mangabeiras e caminhei bastante pelas suas trilhas-estradas de pedra. O parque é bastante curioso, por dentro das trilhas que seguem por paisagens alternantes de floresta e de cerrado, existem inúmeros mirantes (para avistar a cidade ao longe) e quiosques desocupados que as famílias visitantes aproveitam para fazer piqueniques. Ao longo da trilha, vi algumas aves típicas, como, por exemplo, um galo preto, de rabo como de faisão (não sei o nome). Contudo, esperava encontrar os micos do Jardim Botânico, ou mesmo a solitária capivara que vi pastando ao lado da lagoa da Pampulha. Mas o contato com a natureza, por si só, já valeu a pena por toda a caminhada, e a saudade dos tempos de trekking já batia forte demais. Gosto das sobras das árvores, dos ruídos dos pássaros, da visão do ambiente natural e do cheiro de chá provocado pelo contato do Sol com as folhas caídas das árvores mais do que qualquer outra coisa.

Como eu não tinha levado nada para beber no caminho, a desidratação me pegou com força quando estava na metade da trilha, e tive que voltar. Antes de pegar o ônibus para o Centro, bebi meio litro de água de côco como se fosse um único gole.

Outro dia, venho mais preparado para dar conta de todo o trajeto do Parque das Mangabeiras.

quinta-feira, novembro 01, 2007

Antigo "About Me" do Orkut

Agora, com o blog, o meu antigo "abuot me" do Orkut já não faz mais sentido.

Então fica aqui, na memória:

-Mestrando em Economia na UFMG;
-Na graduação (UFRGS), fui bolsista e colaborador voluntário de movimento estudantil (DAECA);
-Eu gostei da minha graduação;
-Movido à cerveja Polar, pastel da República e xis-lombo no Cavanhas e no Pinguim (Lima e Silva);
-Odeio tudo o q toca na Radio Jovem-Pan e Eldorado;
-Não sou chegado a radicalismos políticos, para a direita ou para esquerda;
-Economistas favoritos: John Maynard Keynes, Amartya Sen, Jefrey Sachs, Paul Krugman, Celso Furtado.
-Filmes trash rulez!!!
-Curto literatura antiga, e ainda me meto a crítico (ver blog);
-Trabalhei no Núcleo de Análise e Pesquisa Econômica, um pequeno escritório na FCE onde mais de 20 bolsistas lutam por uma vaga na mesa ou em algum computador;
-Áreas de interesse: Economia Social, Economia da Educação, Economia e Meio Ambiente, Finanças Públicas, Sistemas Econômicos Comparados, Metodologia da Economia, Economia Brasileira, História do Pensamento Econômico;
-Guitarrista amador, muito amador;
-Durante muito tempo da minha vida, Metallica, Ramones e Green Day eram meus grandes vícios, mas hoje já escuto mais Black Sabbath, Angra e Kiss;
-Agora, meu negócio é Nightwish, Chuck Berry e Black Sabbath;
-Realmente, eu odeio boys e pattys, e não me faltam motivos para isso;
-Sou um tanto tímido com pessoas desconhecidas;
-Mas com meus amigos, gosto de fazer brincadeiras que nem sempre são humorísticamente reconhecidas;
-Meu herói de infância era o Diesel (Kevin Nash);
-O melhor disco de todos os tempos é o "Heaven and Hell", do Black Sabbath, mas o "No More Tears" do Ozzy não fica muito atrás;
-Já gostei de rum e de vodka, mas parei;
-Ainda em busca da melhor cerveja do mundo: prefiro cerveja Polar, Carlsberg (Dinamarca) e Miller (EUA).
-Nunca fumei maconha nem cigarro;
-Mas de charutos eu gosto, principalmente cubanos;
-Phillies Blunt folhado a chocolate ou mel já serve;
-Odeio fundamentalismo, seja religioso, político ou ideológico;
-E econômico, odeio muito mais;
-Fui monitor de Economia Brasileira Contemporânea, e já dei umas 10 aulas.
-God knows I've done my best.
-Não surfo, não faço musculação, não suporto música dance, não uso roupas de grife. E vivo muito bem.
-Não adianta ter doutorado em universidade famosa dos EUA: um professor tem q ter didática!
-Não torço para a Seleção Brasileira principal.

-SIM, SOU LOUCO, E DAÍ?????
-Mas acho q algum dia eu já fui um cara normal.
-E, se teve alguém que teve saco de ler essas bobagens até aqui, fico feliz de não estar sozinho nessa!

Outra hora eu comento um pouco as raízes históricas de cada frase.