quinta-feira, maio 31, 2007

Raul Seixas - Tente Outra Vez

"Mixagem" da letra da música com alguma frases e estrofes inéditas, da primeira versão dessa composição. Pessoalmente, eu acho essa a melhor letra do Raulzito.

TENTE OUTRA VEZ (RAUL SEIXAS)

Veja! Não diga que a canção esta perdida!
Tenha fé em Deus, Tenha fé em você, Tenha fé na vida
Tente outra vez.

Olhe, levante esta montanha de derrotas
Olhe embaixo e vê se você nota
Como tudo começou!

Ainda existe luz lá no horizonte
Ainda canta inda borbulha aquela fonte
Nada se acabou

Beba
Pois a água viva ainda está na fonte
Você tem dois pés para cruzar a ponte
Nada acabou.

Tente
Levante à sua mão sedenta e recomeçe a andar!
Não pense que a cabeça agüenta se você parar
Existem presságios de riso e de esperança
Há uma voz que canta, uma voz que dança, uma voz que gira
Bailando no ar

Queira
Basta ser sincero e desejar profundo
Você será capaz de sacudir o mundo, vai
Tente outra vez

Veja! E não diga que a vitória esta perdida!
Se é de batalhas que se vive a vida
Tente outra vez

quarta-feira, maio 23, 2007

Econometria, a Área mais Humana da Economia?

Estudando econometria desde o final de janeiro, e após passar por duas provas, muitos relatórios, e muitas horas debaixo de manuais, observo que o meu bloqueio para entender os conceitos básicos e a intuição dessa matéria vem caindo lentamente.

É bem curioso de se observar que, sendo a Econometria uma área originalmente dedicada à observação empírica quantitativa dos fatos econômicos, com o seu desenvolvimento contemporâneo, vem se preocupando cada vez mais em analisar os fenômenos econômicos sob uma ótica social, com a difusão do uso de variáveis instrumentais para estimar variáveis até então consideradas não-quantitativas, e, por isso, ignoradas dos modelos econômicos modernos. Mais do que isso, para se evitar problemas de viés nos modelos de estimação, provocados pela endogeneidade das variáveis explicativas (por simultaneidade com as variáveis explicadas, erros de medida ou correlação com variáveis não-observadas), os trabalhos em econometria se preocupam em descrever, de forma a contornar analiticamente, possibilidades de "viés social", ou "viés cultural" nas estimativas de dados de populações, as quais podem inclusive distorcer empiricamente as conclusões esperadas pela teoria econômica tradicional.

Estou preparando uma apresentação de um artigo (que vai me ajudar a recuperar nota na primeira prova...) que busca encontrar correlações entre as condições de saúde dos trabalhadores e os seus salários em países africanos. Nas estimativas, as condições de saúde foram medidas pelos dias de falta ao trabalho devido a doenças, e, para contornar os prováveis erros de medida desses dados (pois os trabalhadores autônomos podem adaptar seu trabalho a sua condição de saúde, e os assalariados podem evitar faltar ao emprego mesmo se estão doentes), assim como a correlação da saúde com o potencial biológico de cada indivíduo (não-observável), os autores incluíram variáveis instrumentais para a estimativa, tais como o preço dos alimentos nas regiões da África em que os indivíduos vivem, a infra-estrutura social de cada comunidade e os investimentos do país em saúde infantil. Além disso, o artigo aponta a possibilidade de haver um viés social para a estimativa de doenças, no sentido de que pessoas com mais renda e educação tendem a se preocupar mais com sua saúde e procurar médicos com mais freqüência, e viés cultural, já que o conceito de "boa saúde" varia de comunidade para comunidade.

É muito reconfortante poder ver que, em um contexto acadêmico na qual a Teoria Microeconômica foi engolida pela Análise Matemática, e a Teoria Macroeconômica pós-novo-clássica se resume a maximizar funções de utilidade de indivíduos representativos, cuja desutilidade pelo trabalho determina o nível de emprego e crescimento do produto, alguns economistas se preocupam com fatores sociais mais verossímeis, e demonstram interesse em utilizar conceitos teóricos de outras ciências sociais, de modo a abrir espaço para abordagens multidisciplinares dos problemas humanos.

quarta-feira, maio 16, 2007

Sobre a Necessidade de Conteúdo Factual na Economia

Estudando muito para a prova de econometria de sexta feira. Desejem-me sorte!

Todos aqueles que estudam, ou estudaram economia, seja o curso inteiro de graduação em Ciências Econômicas, seja pelo menos uma disciplina de Introdução à Economia voltada para outros cursos (como Administração, Direito, Jornalismo, etc.) leva um choque acadêmico logo nas primeiras semanas de aulas e estudos. Pelo menos umas 90% das pessoas que nunca haviam estudado economia antes imaginam que éssa é uma matéria de carátar essencialmente empírico (o que é certo, pelo menos formalmente), e de método de análise indutiva. Isto é, antes de começar a estudar, as pessoas imaginam que e Ciência Econômica é construída a partir de estudos de casos particulares (como um determinado país, ou uma determinada empresa, em exemplos macro e microeconômicos), por observação pura, de modo que as características particulares de cada caso estudado forneça um instrumental que pode ser levado ao estudo geral da economia. Ou seja, tal como acontece de fato na administração, imagina-se que, na economia, primeiro se observa os fatos reais, e só depois esses fatos induzem os pesquisadores a tirar teorias gerais.

Contudo, na verdade, e como é percebido logo na segunda semana de aula de Introdução à Economia para qualquer curso, a economia tem um método hipotético-dedutivo, tal como é o método da física e das ciências naturais em geral. Isto é, em uma teoria econômica, inicia-se o estudo levantando uma série de hipóteses sobre o comportamento de algum agente representativo (um consumidor, uma empresa, um governante), ou de alguma função econômica (como a demanda agregada macroeconômica), e a partir de todas as hipóteses levantadas, deduz-se logicamente as suas implicações, formando-se um modelo geral sobre as mudanças de comportamento dos agentes e das funções quando determinadas variáveis incluídas nas hipóteses levantadas mudam. Contudo, é importante destacar que, enquanto na física e nas ciências naturais as hipóteses levantadas nos seus modelos são as próprias "leis naturais" descobertas ao longo do desenvolvimento teórico dessas próprias ciências, na economia, devido ao natural comportamento estocástico do ser humano, as hipóteses não são exatas, mas são apontadas a partir de correlações entre variáveis, supostas ou observadas em estudos anteriores.

O uso do método hipotético-dedutivo é muito importante para a construção da ciência econômica por motivos tanto qualitativos, de forma que as hipóteses levantadas são explícitas nos modelos, e podem ser livremente alteradas por quem quer que discorde de alguma delas, de modo a se tomar novas conclusões lógico-dedutivas, como quantitativos, já que a construção de modelos a partir de hipóteses e formas funcionais levantadas permitem a estimação empírica não apenas de COMO as variáveis econômicas interagem, mas também de QUANTO essas variáveis mudam quando recebem alguma outra variável do modelo recebe um choque exógeno. Ou seja, mesmo de método teórico hipotético e dedutivo, a Ciência Econômica continua voltada para a explicação do mundo real, isto é, dos fatos econômicos.

Contudo, em muitos casos, e de um modo cada vez mais freqüente nos dias atuais, os economistas dão muito mais ênfase nos métodos lógicos do que na explicação dos fatos econômicos em si. Ou seja, quem estuda economia acaba se vendo forçado a ver modelos teóricos cada vez mais complexos, construídos sobre bases hiptéticas muito restritivas, que buscam explicar realidades que muitas vezes ainda não são conhecidas pelos alunos. Isso faz com que muitos desses estudiosos acabem assimilando que estudar economia se limita a decorar teoremas e modelos gerais de manuais, sem ter nenhuma preocupação sobre qual uso prático esses teoremas e modelos se aplicam, e como eles se adequam à realidade. Assim, o estudo deixa de ter um lado intuitivo e se torna uma grande "decoreba" de demonstrações matemáticas e de hipóteses para simplificar os cálculos. E, enquanto isso, os pesquisadores desenvolvem suas teorias mais preocupados em mostrar uns para os outros sua "inteligência abstrata" do que buscar explicar a realidade.

Assim, as disciplinas de economia aplicada dentro da CIência Econômica (Economia Industrial, Economia Agrícola, Economia Internacional, etc.), devem usar os métodos das teorias econômicas básicas para construir modelos capazes de dar conclusões empiricamente factíveis da realidade. Mas é muito importante que nessas abordagens, os estudos de fatos econômicos e de casos particulares façam parte da matéria a ser aprendida, de forma que os alunos dos cursos, e todos os estudiosos interessados, tenham uma noção real sobre o que se passa nesse mundo concreto que eles devem usar os instrumentais teóricos para explicar, assim como um conhecimento aprofundado sobre os problemas econômicos reais associados a essas áreas específicas de estudo, de forma que o economista tenha um racicínio, além de dedutivo, intuitivo e crítico a respeito da realidade.

Esse foi um texto escrito por um economista com saudade dos textos de economia brasileira e de economia aplicada em geral que lia nos seus anos de graduação.

terça-feira, maio 08, 2007

Homenagem aos Bons Amigos que se Foram

Conforme fiquei sabendo via Orkut, meu professor de literatura do terceiro ano do Anchieta, Sergio Fischer, faleceu na quinta-feira passada. Deixará saudades para todos os alunos, ex-alunos e amigos.

Em um curto espaço de tempo, perdi três amigos ainda jovens, com muitas expectativas e planos para o futuro que subitamente, e inexplicavelmente foram ceifados. Em setembro passado, meu colega da UFRGS Luciano Cezar, 33 anos, foi abatido pela pneumonia em Fortaleza (CE), onde estava concluindo seu mestrado em economia, e já estava se preparando para o doutorado. Em novembro, Gabriel Pillar, 22 anos, meu colega de colégio de 1994-96 e 1998-2001 sofreu um acidente de trânsito, que foi inclusive muito comentado pela mídia gaúcha, por ter destruído um poste telefônico com o choque. O Pillar estava se formando em jornalismo pela UFRGS, defenderia sua monografia dois dias depois do acidadente e rumaria para o Canadá para fazer mestrado. Agora, o Sergio Fischer, 42 anos, faleceu de câncer, conforme fiquei sabendo. Além de ser ótimo professor, muito querido pelos alunos, tinha filhos pequenos para criar.

Para aqueles que se vão, cito uma passagem de John Donne (1572-1631), que foi lembrada por Ernest Hemingway no seu clássico "Por Quem os Sinos Dobram":

"Nenhum homem é uma ilha, sozinha; todo homem faz parte do continente, parte de outra terra; se um pedaço for levado pelo mar, a Europa diminui, como se fosse um monte, ou a casa de um de teus amigos ou até mesmo a tua; a morte de qualquer homem me diminui, porque faço parte da humanidade; assim, nunca pergunte por quem os sinos dobram: eles dobram por ti."

Observação: em inglês, perguntar "por quem os sinos dobram?" (for whom the bell tolls) é uma forma formal de se perguntar "quem morreu".