Achei esse livro num lixo daqui do Cedeplar, e, pela fome literária que eu tinha acumulada nestes últimos seis meses sem acabar um romance (acho que o último foi um do Sherlock Holmes em fevereiro), eu matei ele de uma vez só.
O livro é infanto-juvenil, da editora Ática, desses que a gente lê na sexta série, no colégio. São 150 páginas, letras grandes, pouca descrição e muitos diálogos e ação. Bom para recomeçar a vida cultural, após quase dois semestres só lendo artigos técnicos...
A história se passa em São Paulo, no final dos anos noventa. Um rapaz de quinze anos vê sua condição financeira se deteriorar muito rapidamente, quando seu pai é demitido do emprego e se separa de sua mãe. Para conseguir pagar o colégio, o personagem tem que se virar, assumir responsabilidades e conquistar independência (como o título do livro já diz, a infância acabou). Consegue emprego de baterista profissional e tenta montar uma revista de bandas independentes com os amigos. Nesse choque de mudança de hábitos de vida, o rapaz entra em contato com as questões do mundo adulto, o pânico da pobreza, a violência urbana, as drogas, o sexo casual, a busca do sucesso. O enredo em si, não tem nada de mais, é bem focado para o público adolescente, nenhum conflito psicológico muito forte, e o personagem principal, idealizado como um verdadeiro herói romântico, supera facilmente todos os seus problemas demonstrando pouca ou nenhuma insegurança. Isso obviamente não é um comportamento nem um pouco verossímil, mesmo para um adulto, mas é de se notar que trata-se do ideal de comportamento visto entre o público-alvo do livro - o jovem que não demonstra fragilidades, vistas como meras infantilidades, e isso pode ser um truque do autor para cativar seus leitores.
Outro ponto de destaque no livro é de que suas seqüências de ações são muito curtas e rápidas, mesmo para um livro de apenas 150 páginas. O enredo central do livro parece ser não uma ação específica, mas o somatório geral delas, isto é, todas as experiências que transformam o personagem principal, supostamente, de criança em adulto. Dentre essas pequenas ações, destacam-se aquelas relacionadas com o posicionamento do personagem com situações sociais características do Brasil atual, como, principalmente, o abismo social. O rapaz pertence à classe média, mesmo que decadente, e, como todos os seus amigos, é músico, fã de trash metal, toca bateria, e briga nas ruas contra gangues de skinheads. Mas, ao longo da história, ele entra em contato com os extremos da sociedade brasileira, isto é, como uma colega sua que faz o gênero típico da patricinha-fútil-interesseira, e uma comunidade de rappers que ele entrevista para sua revista. A impressão que o personagem tem de cada mundo, sob um aspecto emocional e crítico, é muito bem explorada pelo autor.
É claro que o livro tem exageros romântico e estereotipados. Há, por exemplo, um personagem que é um velho hippie que se torna um verdadeiro "irmão mais velho" de todos os jovens, e dá conselhos de todos os tipos para os outro personagens, agindo de maneira mais altruísta do que o razoável para um ser humano. Provavelmente, esse personagem é um alter-ego do escritor, dando sua opinião sobre a sociedade contemporânea. Além disso, trash metal é um gênero musical bem menos popular do que o autor aponta no livro, pelo menos em Porto Alegre, onde eu vivi. Lá, a classe média tenta emular os hábitos de consumo da classe alta em todos os sentidos, e, no plano musical, isso se traduz em um grande gosto pelo pop-standard da Jovem Pan, e por danças de ritmos brasileiros ultra-sensual-vulgarizados. Heavy metal, trash metal e outros sons alternativos são compartilhados pelos indivíduos que não se integram com os grupos majoritários por motivos não-econômicos, como questões intelectuais, psicológicas, sociológicas, ou mesmo por moral pessoal.
Contudo, o grande mérito do autor é tentar pintar a situação cotidiana presente das grandes cidades brasileiras, focando nos indivíduos jovens ("esses monstros", de acordo com o livro do Maffesoli). Numa época em que os tradicionais autores da literatura brasileira parecem simplesmente ignorar a atualidade, prendendo-se no mundo de sua juventude sessentista e setentista, Renato Tapajós faz um grande trabalho ao apresentar alguns fatores da sociedade atual sob um olhar muitas vezes analítico, mas sem o criticismo boçal que caracteriza muitos outros autores brasileiros.
quinta-feira, setembro 13, 2007
A Infância Acabou - Renato Tapajós
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12 comentários:
Não conheço esse Renato Tapajós.
Eu, hein...
Eu também não. Mas, como eu encontrei o livro no lixo, mesmo, não me importei com o autor.
Cara, te recomendo "Até o Dia em que o Cão Morreu", de Daniel Galera. O livro virou filme: "Cão Sem Dono". Ambos são ótimos!
Se quiser saber mais, tenho uma postagem antiga sobre esse livro no meu blog chamada "Onde estará Marcela?".
Abraço.
eu já li esse livro!
;)
Ók, se eu encontrar por aí, eu leio esse livro!
este livro parece ser interessante.
Minha professora de português falo para o pessoal da sala pesquisar sobre ele...
vou ler ele amanha.
abraço !
recomendo pra todos!!!!!
Melhor que esse livro do Renato Tapajós só o "Carapintada!" do Renato Tapajós...
Tenta achar o assistir o filme "linha de montagem" dirigido por ele, cara. Descobri o cara em uma situação parecida com a sua..(:
abraço
Queria perguntar, como eu identifico no livro, que ele se passa nos anos 90?
Os adolescentes já aprendem tanta coisas antecipadamente então este livro deveria ter menos ensinamento sexual e mais ensinamento educacional e ainda é liberado pelo ministério da cultura.O NOSSO BRASIL ESTÁ EM DECADÊNCIA.
Os adolescentes já aprendem tanta coisas antecipadamente então este livro deveria ter menos ensinamento sexual e mais ensinamento educacional e ainda é liberado pelo ministério da cultura.O NOSSO BRASIL ESTÁ EM DECADÊNCIA.
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