Nas diversas disciplinas de Economia do Bem-Estar Social que venho cursando nesses últimos dois semestres, um dos temas mais interessantes é a relação entre o crescimento econômico e a melhoria das condições de vida de uma população.
Até meados da década de 70, toda a economia do desenvolvimento supunha que um crescimento econômico elevado e sustentado era condição necessária e suficiente para que a pobreza fosse irradicada das economias. Por isso, suas discussões teóricas e empíricas se concentravam nos determinantes qualitativos do crescimento (como a indistrialização, o progresso tecnológico e a eliminação de gargalos de infra-estrutura), acreditando que o progresso humano viria como sua conseqüência natural.
Contudo, em testes empíricos e econométricos, a relação entre pobreza e crescimento é muito mais complexa do que se imagina. Um famoso estudo é o de Freeman (2001) para a economia norte-americana, utilizando dados de 1969 a 1999. O autor verificou que cerca de 7% da população do país apresentam características demográficas ou econômicas (como famílias chefiadas por mães solteiras, imigrantes de baixa qualificação, etc.) que a mantém abaixo da linha de pobreza mesmo nos períodos de elevado crescimento. Por isso, o autor afirma que o crescimento só consegue reduzir a pobreza no país se conseguir gerar empregos e elevação de salários reais de modo a incluir esses 7% da população. Contudo, a relação entre crescimento e salários reais vem se enfraquecendo muito a partir da década de oitenta.
Uma outra interpretação para esses mesmos fatos foi realizada por Hines et al. (2001). Os autores defendem que a pobreza é contra-cíclica, isto é, é amenizada pelo crescimento. Mas a extrema-pobreza, por envolver indivíduos menos integrados ao mercado de trabalho, é mais imune ao crescimento.
Outros autores vêem a relação entre pobreza e crescimento como simultânea. Isto é, o crescimento econômico cria os recursos para os investimentos no capital humano, e, ao mesmo tempo, depende da qualidade desse capital humano. Essa visão parece explicar as décadas de baixo crescimento dos países latino-americanos, após passarem por um modelo de desenvolvimento baseado na acumulação de capital físico e negligenciação dos determinantes de desenvolvimento humano da ótica das políticas públicas.
Por fim, é cada vez mais freqüente nas discussões sobre Economia do Bem-Estar e nas próprias teorias do crescimento a questão da direção do crescimento econômico. Segundo essa perspectiva, o impacto do crescimento sobre os indicadores sociais depende da sua própria natureza, que determina a sua direção entre os grupos de agentes econômicos. Por exemplo, se o crescimento for viesado para setores intensivos em capital e mão-de-obra qualificada em uma economia subdesenvolvida com alta concentração de renda, acabará beneficiando apenas os mais ricos, e a pobreza poderá até aumentar. Para que a pobreza ceda, é necessário que o crescimento atinja proporcionalmente todos os agentes da economia, ou então os mais pobres, configurando-se o crescimento pró-pobre.