terça-feira, dezembro 30, 2008

Torres News

No momento, estou na praia de Torres, no litoral norte do Rio Grande do Sul, aproveitando duas semanas de férias com minha família. O tempo, agora, está nublado, com temperatura amena. O mar está de acordo com o esperado: marrom e gelado, um legítimo "chocolatão". Espero que até domingo, quando volto para Porto Alegre, seja possível dar um mergulho.

De resto, Torres continua igual ao ano passado, fora velhas casas demolidas e novos prédios construídos, tomada por argentinos e caxienses (já cansei de ver pessoas com a camiseta do Juventude pelas ruas). O comércio vinha decaíndo ano após ano, com a migração dos veranistas de alta renda para os condomínios fechados de Atlântida, mas esse ano, pareceu melhorar. Abriu uma livraria "moderna", ao estilo Cultura e Saraiva, no centro da cidade, a Nobel. Uma boa opção de lazer nesses dias encobertos. Além disso, o restaurante a quilo no qual costumamos almoçar, no centro da cidade, está mais limpo e com menos moscas. Que bom.

Estou rodando os gráficos da estatística descritiva da minha dissertação aqui na praia. Mas, como anteontem comprei GTA Vice City para computador, acho que meu trabalho vai demorar um pouco mais do que o planejado...

terça-feira, dezembro 23, 2008

Reencontro

Domingo passado, participei de um churrasco com meus antigos amigos do Núcleo de Análise da Política Econômica (NAPE), os bolsistas de iniciação científica do curso de graduação em Economia da UFRGS. Conseguimos reunir cerca de 20 pessoas em um sítio localizado na cidade de Conceição, próxima a São Sebastião do Caí, a cerca de uma hora de Porto Alegre.

Boa parte do pessoal cursa, ou está ingressando em cursos de Mestrado. Estão espalhados por instituições como a UFRGS, a USP, a FGV-SP, a PUC-RJ, a UNB, a Universidade de Barcelona (Espanha) e eu, representando o Cedeplar-UFMG. Como a maior parte dos nossos assuntos foram acadêmicos, já que isso é o que todos temos em comum, posso concluir que realizamos, no final das contas, um mini congresso da ANPEC.

Mas o clima das conversas não foi de inteira alegria. Dos meus ex-colegas, só contei dois que realmente se motivaram com a complexidade matemática da teoria econômica e da análise real, e se encaminham para doutorado no Exterior. Os demais, como eu, sentiram que o buraco é mais embaixo, tomaram um choque de realidade no primeiro ano do Mestrado e pretendem seguir linhas mais softs no futuro, como a economia empírica (meu caso), o mercado de trabalho, ou a mudança de área acadêmica para a economia heterodoxa e a história.

Uma coisa em que quase todos concordamos, e isso é raríssimo entre economistas, em relação aos nossos cursos de Mestrado, é que o hábito de agregar enormes quantidades de matéria em cadeiras de curta duração acaba prejudicando o estudo e o aprendizado. Ao invés de sabermos bem determinados pontos, podemos, após um ou dois anos depois de termos cursado as cadeiras de teoria econômica e de matemática, nos lembrar do nome e de alguma idéia geral dos teoremas que deivávamos. Mas não recordamos exatamente o que aquilo queria dizer. Senti exatamente isso no término do primeiro semestre do Cedeplar, e me senti um pouco mais tranqüilo que estudantes de outros cursos pelo Brasil tenham a mesma impressão. Por outro lado, iniciativas como a do professor Jorge, da UFRGS, de ministrar aulas extras de análise real mesmo após o término do semestre, só para aliviar a carga de matéria, são muito bem vindas para o aprendizado.

Fora essas discussões acadêmicas, foi uma tarde muito agradável e relaxante (e nutritiva, pela quantidade de carne consumida). Apesar das variações no animal spirit de cada um em relação as suas pretenções acadêmicas, foi bom ver que todos continuamos os mesmos estudantes de sempre.

domingo, dezembro 21, 2008

Bingo para Seminários


Um bom jogo para os seminários que nós, alunos de pós-graduação, temos que assistir:

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Sobre o Concurso do IPEA

Domingo passado, fiz o concurso para o IPEA. Minha área é "Macroeconomia e Desenvolvimento". A prova consistia em 50 questões gerais, 70 questões específicas e duas redações.

De um modo geral, achei a prova fácil, com exigência de nível graduação. Principalmente as questões específicas de áreas, foram cobradas pontos específicos de teorias macroeconômicas e de determinados autores, sem exigências em termos de formalização. Ao contrário do que eu li em muitos blogs pela Internet, criticando viéses ideológicos nas provas de Relações Internacionais e de Sustentabilidade Ambiental, na minha área não vi isso. Houve, sim, questões referentes ao pensamento macroeconômico pós-keynesiano, aos ciclos financeiros de Minsky (muito em moda com a atual crise, diga-se de passagem) e a determinados pontos em HPE e teorias do desenvolvimento latino-americano. Mas já estava previsto no programa da prova. Nada que uma revisada nos manuais do Stanley Brue e do Nali de Jesus, e num artigo do Cardim de Carvalho, não resolva. O demais, foi macroeconomia tradicional de graduação.

As duas questões dissertativas foram, primeiro, uma comparação entre a visão de ciclos e desemprego nas teorias novo-clássica, novo-keynesiana e pós-keynesiana, e segundo, a relação entre taxa de câmbio e taxa de inflação na política econômica brasileira contemporânea. Na primeira questão, consegui explicar a estrutura teórica das três correntes. Na segunda questão, expliquei o mecanismo do modelo IS-LM-BP, em que a taxa de câmbio é endógena à política econômica de curto prazo, e, alternativamente, a tese do Yoshiaki Nakano (FGV-SP), para quem a taxa de câmbio é o principal determinante das acelerações inflacionárias domésticas no Brasil, pelo seu impacto sobre os custos dos insumos importados para as empresas. Espero que esteja certo...

Como críticas à prova, destaco a parte de "lógica", semelhante aos exercícios das revistas Coquetel. Acho que questões de matemática, mesmo de cálculo e álgebra de nível graduação, seriam mais apropriadas para economistas. Além disso, a facilidade da prova específica de área pode se tornar um problema, já que tende a criar um embolamento de candidatos nas primeiras posições do concurso. Só porque o conteúdo da prova é de nível graduação, não é por isso que os alunos de pós-graduação não vão fazê-la. Além disso, isso incentiva comportamentos de propensão ao risco, em níveis acima do recomendado para provas em que respostas incorretas contam pontos negativos, como esta.

Espero que tenha dado tudo certo. A prova oral, para os melhores classificados será no final de fevereiro, em Brasília.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Back Home

Ontem, às 18:30, cheguei em Porto Alegre. Vou passar as férias com minha família até o dia 17 de janeiro (talvez atraze mais, com a formatura de amigos da Economia - UFRGS).

Hora de matar a saudade do tempo e do vento dos Pampas. E do barulho de obras da biblioteca da FCE-UFRGS, é claro. Fui estudar hoje lá para o concurso do IPEA (que ocorrerá domingo), e foi um caos.

terça-feira, dezembro 09, 2008

Relação entre Desenvolvimento Econômico e Altura da População no RIo Grande do Sul

Muito interessante o estudo elaborado pelo Leonardo Monastério (UFPel), junto com Mateus Signorini. Os autores utilizaram métodos econométricos para mensurar a altura média dos gaúchos no período de 1889 a 1920, encontrando relações com a dinâmica do desenvolvimento econômico.

Fiquei muito impressionado que a altura das pessoas, além de ter uma trajetória crescente no longo prazo (como eu já sabia), reage no curto prazo aos próprios ciclos econômicos. Além disso, os indivíduos mais pobres tendiam a ser menores que os mais ricos, em uma mesma época.

Deixo a apresentação de Power Point aqui:

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Educação para o Lazer

No meu aniversário de 23+1 anos de vida, ganhei do pessoal da minha república estudantil um livro chamado "A Economia do Ócio", de Domenico de Masi, incluindo textos de Paul Lafargue e Bertrand Russell. Bastante apropriado para meu monótono quarto semestre de Mestrado, aliás.

Já li cerca de metade do livro, e um capítulo me chamou muito a atenção. O título é "A Cultura do Ócio", escrito por Russell em 1932, e facilmente encontrado na Internet. Em resumo, o autor estabelece uma relação entre duas concepções para a importância do conhecimento (principalmente, da educação e do estudo) para as pessoas. De um lado, está o conhecimento utilitário, vigente desde meados do século XIX, com a segunda Revolução Industrial, baseado nas questões práticas e aplicadas, focando da qualificação profissional e técnica. De outro lado está o conhecimento como um fim em si mesmo, voltado unicamente para a satisfação da curiosidade humana e individual, predominante na Antiguidade Clássica e a partir do Renascimento.

Em relação ao conhecimento "utilitário", este é bastante conhecido entre a comunidade econômica. Relaciona-se diretamente ao que Gary Becker e Robert Lucas chamam de "capital humano", isto é, os investimentos que os indivíduos realizam na sua produtividade individual (ou familiar), ausentando-se do mercado de trabalho durante certo tempo para buscar qualificação. Assim, há uma redução de renda e bem-estar no curto prazo, em troca de maiores rendimentos no longo prazo. Explicitamente, esse modelo supõe que o ensino recebido é pró-trabalho, isto é, é qualificação profissional. Esse tipo de educação, de fato, melhora a qualidade da mão-de-obra, eleva a produtividade e permite que os indivíduos obtenham melhores salários. Por outro lado, uma população melhor qualificada está mais apta a trabalhar de acordo com inovações tecnológicas e organizações produtivas cientificamente modeladas, o que incentiva investimentos e acelera o crescimento econômico. Isso é empiricamente indubitável.

Por outro lado, como Russell expôs no seu livro, e como todos economistas já sabemos, o trabalho não é tudo na vida. A cultura do trabalho, para o autor, que vem crescendo sobre o mundo e as mentes das pessoas desde o Iluminismo (meados do século XVIII) não significa outra coisa além da submissão dos interesses, das ações e da própria felicidade dos indivíduos a objetivos coletivos. Em outras palavras, essa é uma cultura que impõe moralmente que a energia individual deve ser guiada para a contribuição econômica para a sociedade, e não para o bem-estar individual. Mas essa maneira de se ver o mundo é incompleta, e tende a criar massas de pessoas alienadas, neuróticas, rabugentas e, conclusivamente, infelizes. E isso que ele escreveu o livro em 1934, muito antes de inventarem o spam na caixa de e-mail, aulas ministradas por slides de Power Point e a lentidão da Internet.

Por isso, se os indivíduos têm curiosidade inata sobre o mundo e sobre si mesmos, não há porque criticar moralmente, ou mesmo impedir, que eles busquem educação para isso. Isso é o que Russell denominou de "educação para o lazer": a busca de conhecimento para a a formação de cultura, ou seja, para a felicidade imediata, incluindo assuntos como a linguística, as artes, a astronomia, a história, entre outras. Em termos econômicos, poderia se chamar de "bens humanos", em detrimento de "capital humano", ou mesmo de "capital do lazer". E além, de propiciar a busca da felicidade individual, a educação para o lazer tem virtudes coletivas, ou em termos econômicos, traz consigo externalidades positivas. Para Russell, pessoas instruídas aprendem a ter prazer na observação e admiração pelo mundo e pelas belas obras, e também na reflexão individual. Por outro lado, pessoas não-instruídas tendem a associar seu lazer a atividades auto-destrutivas e à violência em geral. Portanto, uma sociedade formada por indivíduos cultos tende a ser uma sociedade mais tolerante e menos violenta do que seria de outra forma. Citando o autor (RUSSELL, 1934):

"O mundo de hoje está cheio de grupos egocêntricos e radicais, incapazes de ver a vida humana como totalidade, e muito mais dispostos a destruir a civilização do que a ceder um milímetro em suas posições. Para esse tipo de estreiteza não há quantidade de instrução técnica que sirva de antídoto. Como se trata de uma questão de psicologia individual, o antídoto há de ser encontrado na história, na biologia, na astronomia e em todos os campos de estudo que, sem destruir o amor-próprio, permitem ao indivíduo ver a si mesmo numa perspectiva justa. O que se necessita não é de tal ou qual informação específica, mas do conhecimento que inspire uma concepção da finalidade da vida humana como um todo: arte e história, familiaridade com a vida das pessoas heróicas, além de um certo entendimento da posição estranhamente acidental e efêmera do homem no cosmos - tudo isso permeado do sentimento de orgulho daquilo que é distintivo do ser humano: o poder de ver e conhecer, de sentir com a magnanimidade e de pensar com entendimento. É da combinação do discernimento amplo com a emoção impessoal é que brota a sabedoria."


Enfim, o livro me deu uma coisa que há muito tempo vinha procurando. Há uma racionalidade econômica em estudar apenas pela curiosidade, como eu sempre fiz desde que iniciei minha vida acadêmica.