terça-feira, janeiro 27, 2009

Mapa da Pobreza em Porto Alegre - Notícia

Incêndio consome 70% da Vila Chocolatão, no Centro de Porto Alegre. Pois é, se a prefeitura não toma ações concretas para fornecer moradia e local de trabalho para a população que trabalha com reciclagem de lixo, a natureza utiliza seus métodos mais enérgicos para desapropriar construções de risco.

Pelo que eu li, ninguém morreu na tragédia. Só espero que a população desabrigada seja transferida, para que o ciclo de construções-tragégias-reconstruções não se perpetue nessa comunidade, tal como acontecia na antiga Vila dos Papeleiros antes de sua urbanização.

domingo, janeiro 25, 2009

Eu, Professor de Macroeconomia para Administração

Como já referi no post anterior, esse semestre serei professor substituto voluntário do departamento de economia da UFMG. Cuidarei da cadeira de Economia II para Administração, que envolve contabilidade social e vários tópicos de macroeconomia. Vi que deve ser uma grande quantidade de conteúdo para pouco período de tempo, o que vai exigir muito cuidado no planejamento das aulas.

Tenho que entregar o programa da disciplina até o dia 15 de fevereiro no departamento de economia da FACE-UFMG. Já esbocei um resumo do que eu quero passar para os alunos. Devido a grande variedade de tópicos, achei melhor dividir a matéria em três blocos:

BLOCO 1: Contabilidade Social. Ementa: Definição de macroeconomia. Visão geral da evolução da macroeconomia. Medidas da Atividade Econômica (produto, renda, consumo, poupança, investimento, gastos do governo, exportações e importações) e as relações básicas que definem a estrutura de contas nacionais. Sistema de Contas Nacionais, Produto Interno Bruto, Dívida Pública Interna e Externa. Balanço de Pagamentos e Indicadores da Economia Internacional.

BLOCO 2: Macroeconomia de Curto Prazo. Ementa: Modelo keynesiano simplificado de determinação da renda de equilíbrio. Curva de demanda agregada do modelo IS/LM. Curva de oferta agregada. Modelo IS/LM/BP. Aplicabilidade do modelo IS/LM/BP na interpretação das políticas econômicas.

BLOCO 3: Macroeconomia de Longo Prazo. Ementa: Principais evoluções e concepções a partir do modelo keynesiano. Ajuste nominal de médio prazo: curva de Phillips; expectativas adaptativas; expectativas racionais. Modelos de crescimento econômico: modelo de Solow; crescimento endógeno.

A bibliografia do primeiro bloco deve ser o manual de Contabilidade Social do Rossetti. Para os demais blocos, devo utilizar o manual de Macro do Blanchard, que é o mais intuitivo que conheço (e que já tenho vários resumos dos meus tempos de estudo para a prova da ANPEC). Algum dicionário de termos econômicos do Paulo Sandroni também sempre é bem vindo. Também quero pensar em alguns artigos para complementar a matéria, de preferência os originais dos autores. A avaliação deverá ser de três provas, uma para cada bloco, sem trabalhos extras, já que essa é uma cadeira estritamente teórica.

domingo, janeiro 18, 2009

Núcleo "Entrada da Cidade" de Porto Alegre - Atualização

Ontem, sábado, voltei de Porto Alegre para Belo Horizonte. Para minha sorte, o avião fez uma manobra dentro da cidade, de modo que pude tirar várias fotografias pela janela do avião (obviamente, escondido das aeromoças).

Duas das fotos que tirei foram dos bairros Humaitá e Farrapos, diretamente a oeste da pista do aeroporto. Com essas fotos, pude observar a evolução das vilas na região, relativo aos mapas disponíveis no Google Earth (de 2004 ou 2005, se não me engano). As fotos encontram-se abaixo:



No Humaitá, parece que nada mudou perceptivelmente. A vila Operária, maior da região, continua como estava antes, mesmo com os projetos de urbanização e extensão de ruas nas suas proximidades.



No bairro Farrapos, é possível ver mudanças. A vila Areia foi removida para um núcleo habitacional ao norte da foto (sul da vila Farrapos). Em seu antigo território, foi construído um cruzamento de ruas. Porém, o território vazio corre o risco de ser ocupado pela vila Tio Zeca, ao leste.

Por outro lado, nota-se a expansão da vila Leito da Voluntários (norte da vila Areia) para leste, ocupando todo o terreno vazio da quadra. E também está surgindo um novo núcleo irregular no lado oeste da Free-Way, próximo às margens do Guaíba.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Vídeo sobre a (Des)Educação no Brasil

Encontrei no YouTube uma reportagem bastante interessante (e assustadora) sobre a baixa qualidade da educação brasileira:



O fato de os alunos entrevistados não terem a menor noção de temas básicos de geografia (qual a capital do Brasil, e em que continente o Brasil se encontra) e de aritmética impressiona, mas não surpreende. O que realmente me surpreendeu no vídeo foi a atitude da própria mãe entrevistada, que prefere que o filho seja reprovado por faltas do que passe da quarta série sem saber ler.

Ou seja, até pais semi-analfabetos sabem que a atual política educacional de aprovação em blocos de séries é uma furada, que interessa apenas ao Ministério da Educação, que só quer dados estatísticos sobre o crescimento da cobertura educacional e a diminuição da taxa de reprovação na sua atual gestão. A qualidade do ensino, essa é deixada de lado, já que não rende gráficos bonitinhos para enfeitar a campanha publicitária do governo.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

As Guerras de Trolltooth - Steve Jackson

Uma das coisas que mais marcou o final da minha infância (ou início da adolescência) foi a popularidade dos livros-jogos individuais de RPG da série "Aventuras Fantásticas", publicados pelos autores britânicos Steve Jackson e Ian Livingstone. Durante os anos de 1994 e 1995, os livros viraram uma verdadeira febre entre os jovens, e seus cerca de 30 volumes tornaram-se ítens de coleção. O jogo, basicamente, consistia no uso de uma planilha de dados do jogador (o leitor), dois dados, e uma numeração dos parágrafos do livro. O leitor começa a ler no primeiro parágrafo, e de acordo com uma série de escolhas e decisões que tomava ao longo da leitura, era encaminhado para parágrafos seguintes, podendo fazer com que a história se desenrolasse de diversas maneiras distintas.

O livro "As Guerras de Trolltooth", de Steve Jackson, é um romance (nada de RPG), inspirado nas histórias apresentadas nos livros-jogos. Tudo se passa em um fantasioso mundo de Titan, mais especificamente, no continente de Allansia. O lugar é um ambiente medieval, habitado por uma infinidade de raças humanóides alinhadas com o bem (homens, anões, elfos) ou com o mal (orcs, goblins, trolls, ogros, mortos-vivos), que controlam cidades-estado isoladas, e em permanente estado de guerra entre elas. Nesse mundo, a magia está presente, e os maiores feiticeiros conquistam muito status e poder político. Em resumo, é uma cópia descarada da "Terra Média", o mundo da trilogia "O Senhor dos Anéis", inspirada nas lendas anglo-germânicas arcaicas.

A história que se passa no livro é simples. Uma disputa sobre a posse de ervas com propriedades mágicas (chamadas de Cunnelwort) opõe dois dos mais diabólicos feiticeiros de Allansia: Balthus Dire, senhor-da-guerra suserano de uma infinidade de tribos de humanóides e monstros "do mal", e Zharradan Marr, necromante com poderes sobre seres morto-vivos e criaturas espirituais. Preocupado com o desfecho da iminente guerra, o rei do reino "do bem" de Salamonis envia um guerreiro merceneário chamado Chadda Darkmane para garantir que os dois lados percam, de modo que não haja a possibilidade de surgir um império "do mal" nas proximidades do seu reino. Darkmane se torna o herói da história, e forma uma Sociedade do Anel, quer dizer, um grupo de aventureiros incluindo o elfo-anão Chervah, a feiticeira Lissamina e o mercenário Jamut Mantrapper, para assassinar os dois feiticeiros.

A narrativa ocorre por duas frentes. O autor alterna capítulos descrevendo as estratégias de guerra entre os dois exércitos, e o seu desenvolvimento e impacto sobre a vida dos humanos residentes na região de disputa, com capítulos em que Darkmane viaja por diversas regiões de Allansia para conseguir ajuda para traçar um plano eficiente de eliminar seus dois alvos. No entanto, achei tudo muito monótono, a não ser pelos três últimos capítulos, em que o plano de ação finalmente é executado. A descrição das guerras mágicas e monstruosas tem certa dose de criatividade (aborda as questões puramente estratégicas de maneira mais profunda do que no Senhor dos Anéis), mas exclui a possibilidade de qualquer leitor que não esteja familiarizado com as características das criaturas presentes, isto é, que não seja um jogador de RPG ou leitor do Senhor dos Anéis, entender o que se passa. Por outro lado, a jornada de Chadda Darkmane e seu grupo pelos feudos de Allansia me parece totalmente aleatória, a não ser pelos últimos capítulos do livro, quando se torna interessante. O autor pareceu mais interessado em descrever lugares e criaturas grotescas, presentes nos seus livros-jogos, do que com uma trama coerente. Por fim, existem demasiados personagens e enredos paralelos à guerra e à jornada de Darkmane, cujo desfecho não é claro ao longo do livro. Isso toma o espaço dos temas principais, o que atrapalha a compreensão da história, principalmente porque o livro de um formato de pocket book e tem menos de 300 páginas.

Em suma, sinto que já estou meio velho para esse tipo de leitura. Mas valeu a pena ter adquirido no Beco dos Livros, no Centro de Porto Alegre, só para matar as saudades da infância. E ler alguma coisa que fuja do ciclo economia-pobreza-educação-econometria-metodologia só me faz bem.

terça-feira, janeiro 06, 2009

Ressaca Pós-Reveillon

Minha família e eu fugimos de Torres no sábado de manhã, após quatro dias de muita chuva e vento, e a previsão de chegada de um ciclone extra-tropical nas imediações. As fotos seguintes, tiradas na sexta pela manhã, mostram bem a ressaca na praia:





O clima de ressaca estava acentuado pela quantidade de lixo e de cascos de cidra jogados na areia da praia, resultado da festa de reveillon ocorrida nos dias anteriores.

A Economia do Ócio - Domenico de Masi

Ganhei esse livro de presente de aniversário dos meus colegas de república, em Belo Horizonte. O título é bastante apropriado para minha vida de mestrando de quarto semestre de economia, vivendo em função da dissertação (ou não) em casa. Foi uma leitura agradável.

O livro "A Economia do Ócio", organizado por Domenico de Mesi, consiste em uma coletânea de duas obras: Elogio ao Ócio, de Bertrand Russell, e Direito ao Ócio, de Paul Lafargue. Ambas as obras são escritas por autores de viés esquerdista, apesar de Russell adotar um paradigma teórico baeado no utilitarismo britânico em seu texto, enquanto que Lafargue utiliza uma tradicional retórica marxista. Os autores criticam o "culto ao trabalho" instalado na cultura ocidental moderna, isto é, a visão do trabalho como uma virtude intrínseca, um bem, um fim em si mesmo. Para ambos os autores, tal perspectiva de pensamento é errônea, alienante, e historicamente muito recente, datada do desenvolvimento do capitalismo industrial (metade do século XVIII). O trabalho deve ser visto como um meio de se produzir os bens e serviços necessários para se obter um determinado patamar, equilibradamente distribuído na sociedade, de conforto material. Os verdadeiros fins da produção econômica são o consumo e o lazer, e não o trabalho e a produção.

Paul Lafargue utiliza a linguagem marxista mais emocional possível para defender que o culto ao trabalho fora instalado pela moral burguesa que dominou progressivamente as sociedades ocidentais com a expansão da industrialização, em detrimento da moral cristã tradicional. Segundo o autor, a moral do trabalho é um instrumento político de dominação e alienação dos trabalhadores, pressionados para se transformar em meros meios de produção ambulantes. Lafarge chega ao ponto de afirmar que a moral burguesa do trabalho é mais injusta do que a moral cristã feudal, ou mesmo que a moral clássica escravista, já que essas ao menos reconheciam algum tipo de virtude na vida intelectual, política e contemplativa. Todavia, a moral do trabalho estaria minada pela tendência de superprodução de bens pela economia (outro ponto crucial da teoria marxista), ito é, produção em nível acima do que a sociedade é capaz de produzir, o que leva a crises periódicas de recessão e de falência de empresas. Por essa linha de pensamento, achei o texto de Lafargue um tanto previsível e monótono.

Bertrand Russell me chamou muito mais a atenção. O autor, filósofo britânico, reconhece a individualidade dos processos sociais, isto é, a interação entre as ideologias e as culturas coletivas com o processo pessoal de tomada de escolhas e decisões. Para o autor, o culto ao trabalho não é uma imposição estrutural de luta de classes, mas um resíduo do passado, isto é, da preocupação do indivíduo com a sua subsistência. Mas, em uma sociedade industrial, em que o trabalho humano tem sua produtividade potencializada pelo progresso tecnológico, tal cultura se torna anacrônica, trazendo para as pessoas nada mais do que alienação, ansiedade e preocupações desnecessárias. A solução para esse problema está no desenvolvimento de métodos científicos para a administração pública e privada da alocação de recursos, o que inclui desde reformas educacionais (a educação para o lazer, que já referi em um post anterior), reformas arquitetônicas para minimizar o trabalho doméstico, estruturação dos sistemas financeiros nacionais de forma a reduzir o impacto e a incidência dos ciclos econômicos, e até mesmo a construção de um novo modelo político. Russell era um socialista, mas discordava dos seus contemporâneos marxistas por não acreditar que o motor da dinâmica social é a luta de classes. Para o autor, o desenvolvimento científico administrativo poderia criar um modo de produção planejado e centralizado mais eficiente do que o formado pela busca individual pelo lucro.

Em resumo, ambos os autores são muito polêmicos. No caso de Russell, a polêmica está combinada com uma dose de excentricidade. O livro é uma típica leitura de filosofia, muito interessante para expandir os horizontes de pensamento e de possibilidades de conhecimento, mas sem necessariamente concordar com os autores.