O IPEA divulgou hoje um estudo empírico sobre a percepção social da pobreza no Brasil. Eu fico cada vez mais entusiasmado com estudos da área de bem-estar social baseados em pesquisa de opinião popular. Nossa realidade política, que para o bem ou para o mal, influencia os rumos do país passa por aí, pela cabeça do eleitorado mediano. Comecei a me interessar por esses estudos quando li o livro "A Cabeça do Brasileiro" durante o mestrado.
(clique no gráfico para ampliar)
Segundo o estudo do IPEA, e ilustrado pelo Gráfico 1, o principal problema do Brasil, na cabeça dos brasileiros, é a violência. Desagregando por nível de renda, os mais pobres se preocupam mais com o desemprego; os mais ricos, com a corrupção. Poucos acreditam no fator que a ciência (pelo menos a ciência econômica) aponta como um significativo determinante de longo prazo desses problemas: a educação. Ou seja, as pessoas se importam mais com um fator que está se deteriorando há pouco tempo (segurança pública) do que com outro que há muito tempo vai mal (a qualidade da educação).
Em relação especificamente sobre as causas da pobreza, a maior parte dos brasileiros acreditam que são os fundamentos do mercado de trabalho, sobretudo o desemprego. A educação vem em segundo lugar. Aqui, a desagregação por nível de renda tem o resultado esperado: os mais pobres acreditam mais na redução do desemprego (isso explica o resultado das últimas eleições), enquanto que os mais ricos ligam mais para a educação. Além disso, brasileiros de todas as classes acreditam que as causas da pobreza são mais estruturais (falta de oportunidades) do que individuais (falta de esforço). Contudo, regionalmente, os sulistas tendem a ser mais individualistas do que os demais.
Por fim, em relação às ações que o governo poderia relizar para mitigar a pobreza, os brasileiros se dividiram entre os que defendem o aumento do salário mínimo e a promoção de cursos profissionalizantes. Novamente, os mais pobres ficam na primeira opção; os mais ricos, com a segunda e com investimentos em moradia. Nesse último ítem da pesquisa, o que mais me incomodou não é o fato da maioria dos brasileiros desejar que o governo adote políticas que podem ter conseqüências indesejadas de acordo com a teoria econômica, ou mesmo que beneficiem mais os aposentados e pensionistas do que os trabalhadores mais pobres, mas sim que a opção "investimentos na educação básica", que criria o background para que todas as demais ações tivessem maior efeito, sequer foi considerada pelos pesquisadores.
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