Hoje o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) divulgou a balança comercial brasileira referente ao mês de janeiro. Nesse mês, o saldo fechou em déficit de 1,3 bilhão, o primeiro resultado negativo em dois anos. As exportações tiveram queda de 27% em relação a dezembro, enquanto que as importações tiveram queda de 4,8% na mesma base de comparação. Os gráficos abaixo ilustram os resultados comerciais do país em dois horizontes de tempo diferentes:
O resultado negativo foi conseqüência da queda das exportações para a União Européia (-25,2%), consequëncia da crise econômica na região, da queda de 31,1% da exportação de minério de ferro (principal produto da pauta nacional), da elevação de 54,7% da importação de combustíveis e derivados de petróleo (sobretudo do Oriente Médio), além de um efeito sazonal específico para o mês de janeiro. Por outro lado, contrabalancearam esses fatores o bom desempenho das exportações de soja e de veículos, assim como das exportações para o mercado norte-americano.
Esse resultado pode estar confirmando uma hipótese que levantei a alguns posts passados, em um entre muitos clippings. A atual política econômica pode estar provocando efeitos adversos sobre as contas externas do país. Desde a metade de 2011, com a explosão da crise na Europa, a política monetária mudou de foco: ao invés de buscar atingir a inflação no centro da meta (4,5% ao ano), passou a buscar atingir o limite superior da meta (6,5%) e tentar mitigar possíveis transbordamentos da crise externa sobre a economia nacional. As autoridades monetárias esperavam que a própria crise fosse desacelerar a inflação, pelo seu efeito sobre os preços das commodities nos mercados mundiais. O resultado foi claro: apesar da desaceleração, sobretudo da produção industrial, a economia certamente fechou o ano em um ritmo superior ao que teria fechado se a taxa de juros não tivesse sido afetada, e o IPCA ficou exatamente em 6,5% no acumulado de 2011. A crise desaqueceu os mercados de commodities, e os efeitos sobre a inflação já estão sendo vistos pelos últimos resultados do IGP-M, de deflação de preços ao produtor.
Contudo, houve um efeito, que aparentemente foi inesperado, sobre as contas externas. Com a economia interna relativamente mais aquecida que a economia externa, é natural que se espere que as importações crescam em ritmo superior às exportações. Além disso, a queda dos preços das commodities certamente reduz o valor das exportações brasileiras, sobretudo pela importância do minério de ferro na pauta nacional. Seria esperado que a política monetária expansionista desvalorizasse o câmbio, pois os juros mais baixos desincentivariam investimentos em títulos brasileiros, provocando a saída de capitais. Contudo, provavelmente como outra conseqüência da crise externa, o país está recebendo poupança externa sob a forma de investimentos estrangeiros diretos (IEDs), mantendo positivo o resultado do balanço de pagamentos. Portanto, o resultado do somatório de todos esses fatores - economia interna mais aquecida do que a externa, preço das exportações em queda e câmbio estável - não poderia ser outro senão o déficit comercial.
Se o Brasil entrar estruturalmente em uma fase de déficits comerciais, isso seria perigoso para a vulnerabilidade do país em relação às crises externas. O déficit em conta corrente está elevado, e não vejo perspectivas de redução em um futuro próximo. Seu financiamento até agora está mais do que compensado pela entrada de IEDs, mas é impossível saber até quando isso vai durar.
Melhor esperar que o resultado da balança comercial de janeiro seja apenas uma sazonalidade. Ou então que a economia norte-americana se recupere mais rapidamente nos próximos meses.