Nessa semana, estourou a maior guerra na blogosfera brasileira dsde que eu a acompanho. Tudo começou quando o Reinaldo Azevedo, o mais polêmico colunista da VEJA, resolveu descer a lenha em uma pesquisa de um internacionalmente respeitado professor da PUC-RJ que procurava identificar efeitos do programa Bolsa-Família sobre a redução da criminalidade em São Paulo. Em resumo, o estudo conclui que o programa é responsável por 21% da redução dos índices de criminalidade da cidade. O jornalista, no entanto, não aceita que um estudo desse porte use como amostra apenas a cidade de São Paulo - já que no Nordeste está a maior parte dos beneficiados e lá a violência segue trajetória ascendente na última década - e que não tenha levado em consideração as políticas de segurança pública adotadas na capital paulista no período abordado.
Todavia, em sua crítica, Reinaldo Azevedo deixou claro que não leu o artigo científico em seu formato original, detendo-se nas conclusões apresentadas em uma reportagem de O Globo. Contudo, utilizou (ainda que implicitamente, é bom ressaltar) como estratégica de retórica a chamada "
falácia do espantalho", que consiste em distorcer os argumentos do adversário no debate de forma a torná-los muito piores do que realmente são. Assim, o professor João Manuel Pinho de Mello não apenas teria se equivocado na escolha da base de dados e do método estatístico, ou que teria tirado conclusões mais ambiciosas do que as evidências empíricas encontradas permitiam, mas também teria o objetivo de favorecer politicamente o PT nas próximas eleições municipais, dando crédito a uma importante questão política da cidade (a segurança pública) a um programa do governo federal, e não às medidas dos governos estadual e municipal. Além disso, o jornalista utilizou uma linguagem ácida, que se considerada divertida quando direcionada a políticos e militantes, é tida como desrespeitosa na comunidade acadêmica. Resumindo, o problema não era que a pesquisa era falha, mas sim que o pesquisador era mal-intencionado. Tudo isso foi agravado pelos comentários (anônimos na maioria) dos leitores do Reinaldo Azevedo: demonstrando total ignorância sobre pesquisas científicas, passaram a atacar como "braços da agenda petista de dominação nacional" não apenas o estudo em questão e o seu autor, mas também a PUC-RJ como instituição e a própria academia brasileira, sem ressalvas a questões de vertentes teóricas e métodos.
O resultado não podia ser outro: um levante geral na blogosfera econômica em apoio ao professor da PUC-RJ.
A única ressalva foi o "O Anônimo", do blog A Mão Visível, que se deteve em problemas técnicos da pesquisa em questão. O mais intereressante é que a maior parte dos "econoblogueiros" indignados com o comportamento do jornalista não são os petistas, mas sim os liberais e ortodoxos, que não gostaram de ver o seu instrumento de trabalho - a econometria - ser atacado publicamente por um leigo. Além disso, o professor João Manuel Pinho de Mello publicou uma carta de resposta ao jornalista em que esclarece os detalhes de sua pesquisa. No entanto, no início desse documento o autor destaca a sua carreira acadêmica - títulos, pesquisas anteriores, artigos publicados, etc. - como forma de demonstrar sua superioridade intelectual em relação ao oponente, além de provar que não faz proselitismo ideológico petista. Sabe-se que, dentro de um ambiente acadêmico, tudo isso é fonte de respeito e consideração. Contudo, mesmo ponderando-se que o professor escreveu o documento de cabeça quente, para o público em geral, isso pode demonstrar pedância. Ou seja, tentou-se usar pólvora para apagar a fogueira.
O Drunkeynesian - o melhor blog de economia em português na minha opinião - descreve o dia-a-dia das batalhas aqui.
Mais tarde pretendo voltar a essa discussão.
Um comentário:
obrigado, Ricadro. teu blog introduziu-me ao tema. vou seguir tua dica para saber mais.
DdAB
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