Ando lendo algumas obras de John Kenneth Galbraith. O cara tem idéias bastante interessantes sobre os temas mais controversos da economia.
As teorias mais populares sobre a pobreza, sob o olhar crítico de Galbraith:
- A pobreza é um fenômeno natural, e decorre das más condições de recursos naturais dos países mais afetados.
Segundo Galbraith, tal argumento não tem qualquer validade empírica. Países asiáticos, como o Japão, Taiwan e Coréia do Sul conseguem manter elevado padrão de desenvolvimento sócio-econômico sem que estejam providos de quantidades abundantes de recursos naturais.
- A pobreza decorre da natureza da estrutura política e econômica dos países.
Tal pensamento é compartilhado por autores tanto de direita como de esquerda. Segundo a direita, os países mais pobres assim são devido ao fato que não tomaram conhecimento da importância da iniciativa privada e da economia de mercado para criar riqueza, preferindo, alternativamente, manter-se submissos a governos burocratas, corruptos e interventures como guias do desenvolvimento econômico. A esquerda, por outro lado, tende a associar o subdesenvolvimento e a pobreza a relações de exploração entre grupos sociais, o que, além de ser desfavorável aos trabalhadores, tira o incentivo ao aumento de produtividade, já que todo o excedente iria parar nas mãos de um pequeno número de privilegiados.
Tal abordagem, segundo Galbraith, esbarra novamente na observação empírica. O capitalismo (incluindo as suas instituições características, como a propriedade privada e a economia de mercado) não tem uma correlação direta com a qualidade de vida da população, podendo trazer inegáveis avanços em alguns países (como os tigres asiáticos), ou grandes fracassos (como na maior parte da África).
- O subdesenvolvimento resume-se a um problema de escassez de capital.
Segundo essa teoria, um país subdesenvolvido apresenta baixa renda, o que significa em baixos volumes de poupança e de acumulãção de capital, o que tende a um círculo vicioso de pobreza. Mas, observando-se bem, a escassez de capital é CAUSA, ou CONSEQÜÊNCIA da pobreza, afinal?
- A pobreza decorre da falta de experiência técnica, educação e talento administrativo.
Novamente Galbraith aponta para uma confusão entre causa e efeito entre os fenômenos.
- A pobreza é resultado de um governo ineficiente e corrupto.
Segundo o autor, a ineficácia dos mecanismos de Estado é uma conseqüência da pobreza. Quanto mais pobre é uma sociedade, menos recursos tributários poderão ser repassados ao Estado, tornando-o ineficiente, e menor será a capacidade de escolha por parte dos cidadãos (mais preocupados com sua sobrevivência diária) de seus representantes políticos.
- A pobreza é determinada etnicamente.
Galbraith aponta essa teoria como a mais popular de todas. Contudo, por motivos morais, os pesquisadores não desenvolvem teorias veridicamente científicas sobre o tema, o que por si só já anula a sua credibilidade.
- A pobreza é determinada geograficamente.
Tal teoria é igualmente muito popular, tanto por leigos como por pesquisadores renomados no assunto. De acordo com essa tese, os países moderadamente mais frios condicionam os seus habitantes a manter um maior espírito de iniciativa, de inteligência e de valor ao trabalho, em comparação com os habitantes de países tropicais, habituados à sobrevivência mais fácil. Além disso, os países mais frios estariam menos sujeitos a doenças e epidemias do que os demais. Quando a temática do subdesenvolvimento foi repassada da geografia para a economia, tal hipótese ficou totalmente desacreditada.
- A pobreza é determinada historicamente, pelo legado do colonialismo.
O colonialismo foi um sistema econômico bastante prejudicial para a América Latina e para a África, como é universalmente conhecido. Contudo, quase 200 anos depois da independência, será que ainda existem heranças colonialistas que expliquem a pobreza na América Latina? Essa é uma questão amplamente discutível.
- Os países exportadores de bens primários sofrem deterioração de seus termos de intercâmbio em relação aos países exportadores de bens industriais, tornando-se fadados ao subdesenvolvimento.
Tal teoria, apresentada por Raul Prebish (Argentina), apresenta uma base formal e lógica bastante convincente: os exportadores de bens primários apresentam economia de concorrência quase perfeita, sem poder sobre o preço de seus produtos, ao passo que os países exportadores de bens industrializados apresentam uma economia oligopolizada, tanto em termos produtivos, como no mercado de trabalho, fazendo com que os preços de seus produtos mantenham-se sempre mais elevados que os dos demais países. Apesar de logicamente consistente, tal teoria esbarra na observação empírica: países como Austrália, Nova Zelândia, Canadá, e até mesmo o centro dos Estados Unidos, são basicamente produtores de bens primários, e nem por isso são países em processo de empobrecimento.
Agora, o negócio é terminar de ler o livro e ver como que o Galbraith explica, com suas palavras, o subdesenvolvimento. Aparentemente, o autor associa o termo a uma condição de equilíbrio econômico em um ponto sub-ótimo. Vamos ver.
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