Ganhei este livro de presente da minha ex-chefe-orientadora, em ocasião da minha formatura na UFRGS. Foi muito bom lê-lo para lembrar que existe economia (e por que não dizer VIDA) fora dos estudos para a ANPEC.
Belluzzo é economista da Unicamp, obviamente heterodoxo roxo, apresentando tanto as qualidades como os defeitos da sua corrente ideológica. Como qualidades, pode ser destacada a sua capacidade de relacionar a economia com as demais ciências sociais (história, direito, sociologia, ciência política), ao invés de se fechar em um mundo próprio, inclusive com um idioma próprio (o "economês"), como muitos economistas - de qualquer orientação - fazem. Com isso, o autor consegue quebrar muitos postulados teóricos que nós, economistas, tomamos como dados sem nenhum questionamento.
Por exemplo, Belluzzo faz uma crítica muito relevante à "naturalização" do capitalismo, tal como é feita pelo mainstream da intelectualidade internacional contemporânea. Tal visão teórica aponta que as instituições vigentes na nossa sociedade atual são decorrentes da "natural disposição do homem à troca", sendo, portanto, ahistóricas (de onde vem o que Francis Fukuyama chama de "Fim da História"), apolíticas e quase "associais", já que parte do princípio de que toda a ação humana, em qualquer dimensão, decorre da livre e espontânea vontade individual buscando, por parte de cada um, o seu máximo bem-estar, sem qualquer influência ou determinismo exógeno. Belluzzo acredita que o capitalismo e suas instituições são frutos de um processo histórico iniciado há pouco mais de trezentos anos, sendo que o estado natural do ser humano seria algo como o "bom selvagem" de Rousseau e o cooperativismo social de Marx. Portanto, as instituições capitalistas podem e devem ser moldadas politicamente. Tenho que observar que nesse ponto eu discordo do autor. Particularmente, tenho uma visão mais pessimista sobre a natureza humana, e considero e o "estado natural" do homem é muito mais o estado de barbárie e de guerra de todos contra todos de Thomas Hobbes do que o "bom selvagem" de Rousseau.
Contudo, ao fazer a crítica à política econômica de FHC e de Lula, Belluzzo cai no mesmo erro de tantos outros autores de sua corrente de pensamento. Ao invés de apontar a falta de planejamento econômico efetivo de longo prazo como o maior limitante ao desenvolvimento do país, o autor prefere o abraçar o saudosismo sebastianista dos "Anos Dourados" de JK, do nacional-desenvolvimentismo e da política econômica da época (convivência com a inflação, juros reais negativos e déficit público crônico), sem lembrar que foi graças a essa mesma política que permitiu o crescimento econômico do Brasil na época, que o país tem toda a atual dificuldade para crescer expressivamente.
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