"Toda moderna literatura americana procede de um livro de Mark Twain, Hucleberry Finn." Ernest Hemingway
"Aviso: se alguém tentar encontrar um tema nesta narrativa, será processado; se tentar encontrar uma moral, será banido; se tentar encontrar um enredo, será fuzilado." Mark Twain
Em primeiro lugar, Huckleberry "Huck" Finn é um clássico não apenas da moderna literatura americana, mas também da Semana da Criança do Cinema em Casa, pelo menos durante toda a minha infância (risos). Um filme de qualidade de produção bastante arcaica, em que um menino de cerca de oito ou nove anos, filho de um cowboy bandido que não o deixava ir a escola, foge de casa, matando um porco e espalhando o sangue por toda a cabana em que vive com o pai, para dar a impressão de ter sido assassinado. O pequeno Huck toma uma jangada e se lança, sem rumo algum, ao longo do rio Mississipi, com a companhia de um escravo fugido chamado Jim.
No livro, Huck já é um adolescente de 13 ou 14 anos, já maduro em termos emocionais, e foge com seu amigo Jim em busca "dos Estados Livres", isto é, os estados americanos em que a escravidão já havia sido abolida. No entanto, os dois personagens não tem a menor noção a respeito do caminho para esses estados, e rumam com sua jangada ao longo do rio Mississipi, sempre na direção sul. Ambos vivem uma vida nômade, de fuga pelo rio, sem outro rumo que não o sul, e sem qualquer perspectiva de vida futura; vivem apenas pensando no dia de hoje.
A obra, baseada nas lembranças da infância e juventude do autor Mark Twain, descreve de maneira fiel as características sócio-ambientais da região rural norte-americana, entre os montes Apalaches e o rio Mississipi, em meados da metade do século XIX. Dentre essas características, as mais marcantes ao longo do livro são o bucolismo, já que ao longo de centenas de quilômetros ao redor do Mississipi, o autor não faz nenhuma referência a qualquer grande cidade da região, ou mesmo à vida urbana, mas sim a um emaranhado de fazendas, pequenas vilas esparsas e muito terreno selvagem; a religiosidade do povo, sendo muitas vezes a religião cristã misturada com crendices populares e superstições de origem africana como forma de se buscar entender o mundo e atrair boa sorte; a hospitalidade das pessoas, especialmente com desconhecidos; a abundância de aventureiros, isto é, nômades, vagabundos ou vigaristas que vagam de povoado a povoado abusando da hospitalidade das pessoas como forma de não apenas sobreviver, mas também procurar furtuna pessoal. Por último, e em destaque, é notável a quase inexistência de autoridades legais na sociedade, salvo um ou outro xerife ou juiz de determinadas vilas. A lei é feita pelas próprias pessoas, a segurança é realizada pelos próprios fazendeiros e suas espingardas. A punição aos bandidos e escraos fugidos é decidida por esses fazendeiros no poder da voz, e na hora de o meliante ter sido acompanhado.
"As Aventuras de Huckleberry Finn" é uma continuação de "As Aventuras de Tom Sawyer", que eu já tinha lido a quase um ano. Porém, ao contrário deste último, em que o "enredo" da história é marcado pela leveza e pelo bom-humor, "Huckleberry Finn" tem um fator que faz a história ficar pesada, isso é, um fator que preocupa e instiga o leitor. Esse fator é a questão da escravidão, popular nos estados norte-americanos do sul, e presente em todos os ambientes descritos no livro, assim como a relação moral entre o jovem Huck e seu amigo negro fugido Jim. Durante quase toda a narrativa, Huck sente remorso por estar em companhia de um escravo fugido, isto é, de ter ajudado a roubar um negro, propriedade legítima de uma pobre velhinha que nunca fez nada de mal a ninguém. Por isso, muitas vezes sente-se um verdadeiro ladrão por não denunciar o negro, temendo inclusive ser condenado ao fogo do inferno por isso. E ainda por cima, Huck (como o narrador em primeira pessoa da história), tem idéias e frases sobre os negros (inclusive seu amigo) que hoje muito bem poderiam ser taxadas (e com razão) de racistas. Ao elogiar Jim, Huck comenta que "sabia que Jim era branco por dentro", ou então, "Jim é muito inteligente, para um negro". Ao discutir com Jim, comenta que "Jim é cabeça-dura, como todo negro". Ou, pior ainda, quando Jim lhe revela a intenção de, depois de se mudar para um Estado Livre, trabalhar duro e economizar dinheiro para comprar a liberdade de todos os seus parentes, Huck pensa sozinho que "não se pode dar um dedo a um negro, que eles vão querer a mão inteira".
Todavia, apesar de toda a confusão moral de Huck a respeito de ter ajudado um escravo a fugir, ele mantém-se fiel a seu companheiro em toda a narrativa, não só não o denunciando, como também o ajudando a fugir sempre que Jim é capturado por algum caçador de recompensas. Todavia, o sentimento que move Huck a fazer isso é a amizade que tem pessoalmente por Jim; jamais toca na moralidade ou não do regime de trabalho escravo ou na igualdade de direitos entre brancos e negros.
Em resumo, o livro é, indubitavelmente, um grande clássico da literatura americana e uma verdadeira lição de história e de antopologia. Mas, ao contrário da maioria das obras de Mark Twain, não se pode esperar bom-humor e o romantismo ficcional (como em "Tom Sawyer" e O "Príncipe e O Mendigo"). A questão racial e escravagista realmente sensibiliza os leitores.
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Há 39 minutos
7 comentários:
Como eu invejo pessoas que conseguem atualizar seus blogs com frequencia...
Experimenta ficar desmpregada por um tempo...
Pra um desempregado, tu tá deixando esse blog muito desatualizado!!!!!
Me chamo liza amei seu blog,estava pesquisando quando le seus trabalhos ,sou aluna do curso letras
Caro Ricardo
Parabéns pelo blog. Espero que consiga compatibilizar sua manutenção com um bom emprego...
Luiz Lobo
OLÁ TUDO BEM?
A POSTAGEM DO LIVRO AS AVENTURAS DE HUCKLYBERRY FINN, GOSTARIA DE SABER SE A HISTÓRIA TERMINA COMO NO FILME DE 1993, DA DISNEY , COM O ELIJAH WOOD, COMO HUCK FINN.
OBRIGADO!!!
Prezado aluno,
Infelizmente, não lembro mais como acaba o filme da Disney.
Att,
Ricardo
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