quarta-feira, maio 16, 2007

Sobre a Necessidade de Conteúdo Factual na Economia

Estudando muito para a prova de econometria de sexta feira. Desejem-me sorte!

Todos aqueles que estudam, ou estudaram economia, seja o curso inteiro de graduação em Ciências Econômicas, seja pelo menos uma disciplina de Introdução à Economia voltada para outros cursos (como Administração, Direito, Jornalismo, etc.) leva um choque acadêmico logo nas primeiras semanas de aulas e estudos. Pelo menos umas 90% das pessoas que nunca haviam estudado economia antes imaginam que éssa é uma matéria de carátar essencialmente empírico (o que é certo, pelo menos formalmente), e de método de análise indutiva. Isto é, antes de começar a estudar, as pessoas imaginam que e Ciência Econômica é construída a partir de estudos de casos particulares (como um determinado país, ou uma determinada empresa, em exemplos macro e microeconômicos), por observação pura, de modo que as características particulares de cada caso estudado forneça um instrumental que pode ser levado ao estudo geral da economia. Ou seja, tal como acontece de fato na administração, imagina-se que, na economia, primeiro se observa os fatos reais, e só depois esses fatos induzem os pesquisadores a tirar teorias gerais.

Contudo, na verdade, e como é percebido logo na segunda semana de aula de Introdução à Economia para qualquer curso, a economia tem um método hipotético-dedutivo, tal como é o método da física e das ciências naturais em geral. Isto é, em uma teoria econômica, inicia-se o estudo levantando uma série de hipóteses sobre o comportamento de algum agente representativo (um consumidor, uma empresa, um governante), ou de alguma função econômica (como a demanda agregada macroeconômica), e a partir de todas as hipóteses levantadas, deduz-se logicamente as suas implicações, formando-se um modelo geral sobre as mudanças de comportamento dos agentes e das funções quando determinadas variáveis incluídas nas hipóteses levantadas mudam. Contudo, é importante destacar que, enquanto na física e nas ciências naturais as hipóteses levantadas nos seus modelos são as próprias "leis naturais" descobertas ao longo do desenvolvimento teórico dessas próprias ciências, na economia, devido ao natural comportamento estocástico do ser humano, as hipóteses não são exatas, mas são apontadas a partir de correlações entre variáveis, supostas ou observadas em estudos anteriores.

O uso do método hipotético-dedutivo é muito importante para a construção da ciência econômica por motivos tanto qualitativos, de forma que as hipóteses levantadas são explícitas nos modelos, e podem ser livremente alteradas por quem quer que discorde de alguma delas, de modo a se tomar novas conclusões lógico-dedutivas, como quantitativos, já que a construção de modelos a partir de hipóteses e formas funcionais levantadas permitem a estimação empírica não apenas de COMO as variáveis econômicas interagem, mas também de QUANTO essas variáveis mudam quando recebem alguma outra variável do modelo recebe um choque exógeno. Ou seja, mesmo de método teórico hipotético e dedutivo, a Ciência Econômica continua voltada para a explicação do mundo real, isto é, dos fatos econômicos.

Contudo, em muitos casos, e de um modo cada vez mais freqüente nos dias atuais, os economistas dão muito mais ênfase nos métodos lógicos do que na explicação dos fatos econômicos em si. Ou seja, quem estuda economia acaba se vendo forçado a ver modelos teóricos cada vez mais complexos, construídos sobre bases hiptéticas muito restritivas, que buscam explicar realidades que muitas vezes ainda não são conhecidas pelos alunos. Isso faz com que muitos desses estudiosos acabem assimilando que estudar economia se limita a decorar teoremas e modelos gerais de manuais, sem ter nenhuma preocupação sobre qual uso prático esses teoremas e modelos se aplicam, e como eles se adequam à realidade. Assim, o estudo deixa de ter um lado intuitivo e se torna uma grande "decoreba" de demonstrações matemáticas e de hipóteses para simplificar os cálculos. E, enquanto isso, os pesquisadores desenvolvem suas teorias mais preocupados em mostrar uns para os outros sua "inteligência abstrata" do que buscar explicar a realidade.

Assim, as disciplinas de economia aplicada dentro da CIência Econômica (Economia Industrial, Economia Agrícola, Economia Internacional, etc.), devem usar os métodos das teorias econômicas básicas para construir modelos capazes de dar conclusões empiricamente factíveis da realidade. Mas é muito importante que nessas abordagens, os estudos de fatos econômicos e de casos particulares façam parte da matéria a ser aprendida, de forma que os alunos dos cursos, e todos os estudiosos interessados, tenham uma noção real sobre o que se passa nesse mundo concreto que eles devem usar os instrumentais teóricos para explicar, assim como um conhecimento aprofundado sobre os problemas econômicos reais associados a essas áreas específicas de estudo, de forma que o economista tenha um racicínio, além de dedutivo, intuitivo e crítico a respeito da realidade.

Esse foi um texto escrito por um economista com saudade dos textos de economia brasileira e de economia aplicada em geral que lia nos seus anos de graduação.

4 comentários:

Amy Mizuno disse...

hauhauhauahuahua
oh, saudade!!!!
Adorei o texto, concordo muito com a primeira parte. Nossa, odeio quando pessoas começam a argumentação com "Economia não é ciência, ficam observando uma sociedade e depois tiram conclusões sobre a sociedade observada".
aaaaaaaahhhhhhhh, um revólver!!!!
Pior do que isso, só os mais senso comum que pensam em falar sobre a bolsa de valores
hehehehe
A propósito, comprei hoje o livro do Gentil sobre metodologia da ciência econômica.
Em breve, post no meu blog...
putz, sintonia de assuntos
heheheheheheheheh

Thomas H. Kang disse...

O livro organizado pelo Gentil tem uns textos bons, hehe.

Quanto ao post, um austríaco discordaria veementemente de ti. Mas, como eu não sou austríaco, concordo contigo. Contudo, teu texto no inicio parece querer não apenas criticar os excessos do dedutivismo na economia, como também parece dizer que os estudos de caso são um bom método. Acho que estudos de caso ilustram, mas o dedutivismo tem as suas vantagens.

Na real, tem que ter os dois.

Abraço!

Ricardo Agostini Martini disse...

Eu estava querendo dizer que sem os estudos de caso para indicar quais são os problemas e fatos econômicos que nós estamos interessados em resolver e explicar, o dedutivismo puro parece não fazer sentido intuitivo, e o estudo vira decoreba.

Isso é um fato empírico que estou vivenciando no mestrado. Mas é óbvio que minha opinião tem um viés da minha situação psicológica presente.

E metodologia da economia tem me interessado bastante ultimamente! Nas férias, quero dar uma olhada nesse livro do Gentil.

Ricardo Agostini Martini disse...

E, convenhamos... a economia austríaca se resume a falar mal do Estado, e culpar tudo de ruim que acontece no mundo à intervenção do Estado. Eles não precisam de estudos de casos para observar fatos e problemas econômicos, porque eles julgam que já conhecem todos!