quinta-feira, setembro 13, 2007

A Infância Acabou - Renato Tapajós

Achei esse livro num lixo daqui do Cedeplar, e, pela fome literária que eu tinha acumulada nestes últimos seis meses sem acabar um romance (acho que o último foi um do Sherlock Holmes em fevereiro), eu matei ele de uma vez só.

O livro é infanto-juvenil, da editora Ática, desses que a gente lê na sexta série, no colégio. São 150 páginas, letras grandes, pouca descrição e muitos diálogos e ação. Bom para recomeçar a vida cultural, após quase dois semestres só lendo artigos técnicos...

A história se passa em São Paulo, no final dos anos noventa. Um rapaz de quinze anos vê sua condição financeira se deteriorar muito rapidamente, quando seu pai é demitido do emprego e se separa de sua mãe. Para conseguir pagar o colégio, o personagem tem que se virar, assumir responsabilidades e conquistar independência (como o título do livro já diz, a infância acabou). Consegue emprego de baterista profissional e tenta montar uma revista de bandas independentes com os amigos. Nesse choque de mudança de hábitos de vida, o rapaz entra em contato com as questões do mundo adulto, o pânico da pobreza, a violência urbana, as drogas, o sexo casual, a busca do sucesso. O enredo em si, não tem nada de mais, é bem focado para o público adolescente, nenhum conflito psicológico muito forte, e o personagem principal, idealizado como um verdadeiro herói romântico, supera facilmente todos os seus problemas demonstrando pouca ou nenhuma insegurança. Isso obviamente não é um comportamento nem um pouco verossímil, mesmo para um adulto, mas é de se notar que trata-se do ideal de comportamento visto entre o público-alvo do livro - o jovem que não demonstra fragilidades, vistas como meras infantilidades, e isso pode ser um truque do autor para cativar seus leitores.

Outro ponto de destaque no livro é de que suas seqüências de ações são muito curtas e rápidas, mesmo para um livro de apenas 150 páginas. O enredo central do livro parece ser não uma ação específica, mas o somatório geral delas, isto é, todas as experiências que transformam o personagem principal, supostamente, de criança em adulto. Dentre essas pequenas ações, destacam-se aquelas relacionadas com o posicionamento do personagem com situações sociais características do Brasil atual, como, principalmente, o abismo social. O rapaz pertence à classe média, mesmo que decadente, e, como todos os seus amigos, é músico, fã de trash metal, toca bateria, e briga nas ruas contra gangues de skinheads. Mas, ao longo da história, ele entra em contato com os extremos da sociedade brasileira, isto é, como uma colega sua que faz o gênero típico da patricinha-fútil-interesseira, e uma comunidade de rappers que ele entrevista para sua revista. A impressão que o personagem tem de cada mundo, sob um aspecto emocional e crítico, é muito bem explorada pelo autor.

É claro que o livro tem exageros romântico e estereotipados. Há, por exemplo, um personagem que é um velho hippie que se torna um verdadeiro "irmão mais velho" de todos os jovens, e dá conselhos de todos os tipos para os outro personagens, agindo de maneira mais altruísta do que o razoável para um ser humano. Provavelmente, esse personagem é um alter-ego do escritor, dando sua opinião sobre a sociedade contemporânea. Além disso, trash metal é um gênero musical bem menos popular do que o autor aponta no livro, pelo menos em Porto Alegre, onde eu vivi. Lá, a classe média tenta emular os hábitos de consumo da classe alta em todos os sentidos, e, no plano musical, isso se traduz em um grande gosto pelo pop-standard da Jovem Pan, e por danças de ritmos brasileiros ultra-sensual-vulgarizados. Heavy metal, trash metal e outros sons alternativos são compartilhados pelos indivíduos que não se integram com os grupos majoritários por motivos não-econômicos, como questões intelectuais, psicológicas, sociológicas, ou mesmo por moral pessoal.

Contudo, o grande mérito do autor é tentar pintar a situação cotidiana presente das grandes cidades brasileiras, focando nos indivíduos jovens ("esses monstros", de acordo com o livro do Maffesoli). Numa época em que os tradicionais autores da literatura brasileira parecem simplesmente ignorar a atualidade, prendendo-se no mundo de sua juventude sessentista e setentista, Renato Tapajós faz um grande trabalho ao apresentar alguns fatores da sociedade atual sob um olhar muitas vezes analítico, mas sem o criticismo boçal que caracteriza muitos outros autores brasileiros.

12 comentários:

Amy Mizuno disse...

Não conheço esse Renato Tapajós.
Eu, hein...

Ricardo Agostini Martini disse...

Eu também não. Mas, como eu encontrei o livro no lixo, mesmo, não me importei com o autor.

D disse...

Cara, te recomendo "Até o Dia em que o Cão Morreu", de Daniel Galera. O livro virou filme: "Cão Sem Dono". Ambos são ótimos!

Se quiser saber mais, tenho uma postagem antiga sobre esse livro no meu blog chamada "Onde estará Marcela?".

Abraço.

izabela disse...

eu já li esse livro!
;)

izabela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo Agostini Martini disse...

Ók, se eu encontrar por aí, eu leio esse livro!

Karine Batista Rigonatto disse...

este livro parece ser interessante.
Minha professora de português falo para o pessoal da sala pesquisar sobre ele...
vou ler ele amanha.
abraço !

Unknown disse...

recomendo pra todos!!!!!

luis disse...

Melhor que esse livro do Renato Tapajós só o "Carapintada!" do Renato Tapajós...

Tenta achar o assistir o filme "linha de montagem" dirigido por ele, cara. Descobri o cara em uma situação parecida com a sua..(:

abraço

Anônimo disse...

Queria perguntar, como eu identifico no livro, que ele se passa nos anos 90?

Kettly disse...

Os adolescentes já aprendem tanta coisas antecipadamente então este livro deveria ter menos ensinamento sexual e mais ensinamento educacional e ainda é liberado pelo ministério da cultura.O NOSSO BRASIL ESTÁ EM DECADÊNCIA.

Kettly disse...

Os adolescentes já aprendem tanta coisas antecipadamente então este livro deveria ter menos ensinamento sexual e mais ensinamento educacional e ainda é liberado pelo ministério da cultura.O NOSSO BRASIL ESTÁ EM DECADÊNCIA.