Dentre os textos que tenho lido para a cadeira de "Economia da Educação, Mercado de Trabalho e Bem-Estar", destaco os artigos elaborados por Eric Hanushek (Stanford University), que é um dos principais estudiosos da área em nível mundial. O autor defende, em princípio, que a educação não é apenas um sinalizador da produtividade de um indivíduo, mas sim um mecanismo que desenvolve as suas habilidades, isto é, causa a produtividade, e não só a revela. Por isso, além da quantidade, a qualidade da educação é determinante para a acumulação de capital e o crescimento econômico. Também é curioso o patriotismo americano que o autor sempre revela na interpretação dos seus resultados.De acordo com Hanushek, em "
The Economics of School Quality" (2005), há uma forte relação entre a qualidade da educação, cuja mensuração quantitativa está cada vez mais desenvolvida pela disponibilidade de bancos de dados e indicadores, e o desenvolvimento de habilidades cognitivas individuais. Esse processo tem importantes conseqüências em nível microeconômico, pela maior performance dos indivíduos melhor qualificados no mercado de trabalho, e em nível macroeconômico, com a possibilidade de maiores taxas de crescimento da nação. Especificamente, os mecanismos que associam a qualidade da educação com o crescimento econômico do país, segundo o autor, referem-se não apenas a maior produtividade do trabalho, como já é destacado pela literatura a respeito do capital humano, mas também pela maior possibilidade de ocorrerem inovações – entendidas como introduções de novas tecnologias produtivas – e uma melhor adaptação a essas inovações, caso a força de trabalho da nação esteja bem instruída e qualificada.
O autor refuta, baseado em observações empíricas, quatro hipóteses muito freqüentemente levantadas por autores céticos em relação ao papel da qualidade da educação sobre o crescimento econômico:
1) A educação, em si, não causa crescimento, mas está correlacionada com as verdadeiras causas do crescimento econômico. O autor refuta essa hipótese apresentando uma relação empírica forte entre a qualidade do ensino e o crescimento econômico, mesmo controlando para os países de maiores taxas de crescimento (principalmente, os países do leste asiático).
2) A qualidade da educação, na verdade, é uma proxy para a qualidadedas instituições de um país, sendo essa, sim a verdadeira fonte do crescimento. Hanushek refuta essa hipótese apontando que os imigrantes vivendo nos Estados Unidos tendem a receber salários inferiores aos dos nativos, e proporcionais a qualidade da educação do seu país de origem. Se a educação não importasse, esperaria-se que houvesse uma convergência entre seus salários.
3) Há uma causalidade inversa, ou, no mínimo, uma simultaneidade entre crescimento e educação, supondo-se que os países com maior renda possuem maior volume de recursos para investir na qualificação da sua força de trabalho. Contudo, o autor demonstra econometricamente que o volume de investimentos em educação não é significante para explicar sua qualidade.
4) A educação é importante, mas não é o único fator que determina o crescimento econômico. Nesse ponto, Hanushek concorda. Segundo o autor, também são importantes para o desenvolvimento a qualidade das instituições de cada país, e, pelo menos para o caso norte-americano, a flexibilidade dos mercados, tanto o de bens e de serviços, como o mercado de trabalho. Porém, no texto não há descrições mais aprofundadas sobre como as instituições econômicas norte-americanas agem para o melhor funcionamento de seus mercados.