(Continuando o post anterior)
Segundo o autor, a pobreza de massas, característica dos meios rurais, decorre de uma situação de "equilíbrio de pobreza". Galbraith explica que em sociedades muito atrasadas economicamente (como a Índia da época em que ele era embaixador americano), as pessoas tendem a se acomodar em sua situação de pobreza, como conseqüência natural às tradições de seu modo de vida ancestral, assim como também uma reação à probabilidade de fracasso caso essas pessoas busquem romper com seu modo de vida. Em termos economiscistas (essa palavra existe?), nas regiões rurais dos países mais pobres, os agentes econômicos apresentam um comportamente de aversão ao risco praticamente inelástico em função a qualquer variável econômica, o que impede investimentos no setor produtivo, o progresso tecnológico e os ganhos de produtividade, característicos do processo de desenvolvimento. Tal comportamento de aversão ao risco decorre da elevada probabilidade de retorno negativo dos investimentos no setor produtivo em que os agentes lidam, aliado ao fato de que nesses países muito pobres, qualquer crise agrícola provoca escassez de alimentos, fome em massa e mortes, desincentivando assim a adoção de novidades no setor produtivo.
Assim, em um estado de equilíbrio de pobreza, as pessoas não se interessam em buscar ampliar seus padrões de vida (devido à aversão absoluta ao risco), e predomina a lei da população de David Ricardo e Thomas Malthus, isto é, de que ganhos e perdas de renda monetária se refletem, no longo prazo, em movimentos no tamanho total da população, sendo que o padrão de vida tende a permanecer estável, no nível mínimo de subsistência socialmente aceito.
Por isso, o autor defende que qualquer política pública que venha a ser adotada pelos países subdesenvolvidos com o objetivo de atacar a pobreza, necessariamente terá que quebrar essa situação de equilíbrio de pobreza em que os agentes econômicos se encontram. Para isso, o autor traz duas sugestões básicas: uma delas é o incentivo à industrialização (argumento fraco) para os países mais pobres, já que o choque da mudança econômica tenderia a quebrar os laços de equilíbrio de pobreza instituídos pelas antigas tradições sociais. A segunda é o incentivo à alfabetização e à educação em massa do povo rural (argumento forte) desses países, de modo a tornar os agentes econômicos críticos e inconformados com seu estado de penúria, e aptos a tomar atitudes a mudar isso.
Contudo, Galbraith acaba por pecar em suas generalizações, de observar empiricamente o que aconteceu em um lugar e uma época específica (a Índia rural de meados de 1940-50) e estabelecer um modelo teórico para toda a economia mundial. Um estado de equilíbrio de pobreza garantido e perpetuado por antigas tradições sociais e instituições pode fazer sentido em uma sociedade de castas como a da Índia arcaica. Mas eu não vejo, por exemplo, no Brasil atual, semelhante fenômeno.
Por outro lado, destaco a virtude da obra de Galbraith em destacar o papel da educação para o bem-estar de uma população e para o progresso social. Ao contrário da maioria dos economistas, que apontam a educação de massas como importante para elevar a produtividade do trabalho e favorecer à acumulação de capital, Galbraith pensa no bem-estar individual que a educação oferece às pessoas, de torná-las críticas de suas condições e aptas a superar seus problemas.
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Há 2 horas
Um comentário:
Olá,
gostei da resenha, vou procurar comprar este livro. Mas tenho que discordar quanto a sua crítica a generalização feita por Galbraith. Antes, fiquei surpresa por ter encontrado um dos poucos intelectuais americanos que partiu de uma realidade vista e sentida (Galbraith certamente possuia uma "sensibilidade" acima da media)para construção teórica. Quanto a discordância: ele fala sobre uma realidade que é exatamente a mesma que observo, por exemplo, na zona rural da Bahia, ou até mesmo nas pequenas e médias cidades. Os jovens intelectuais brasileiros devem mirar-se no exemplo de Galbraith no que diz respeito a aproximar-se da realidade do país, muito diferente daquela que observamos em nossas capitais, livros e jornais. A frase "o que os olhos não veem, o coração não sente" deveria ser resgatada pelos nossos intelectuais, faria toda diferença.
Atc.
Maria Elisa
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