quarta-feira, maio 23, 2007

Econometria, a Área mais Humana da Economia?

Estudando econometria desde o final de janeiro, e após passar por duas provas, muitos relatórios, e muitas horas debaixo de manuais, observo que o meu bloqueio para entender os conceitos básicos e a intuição dessa matéria vem caindo lentamente.

É bem curioso de se observar que, sendo a Econometria uma área originalmente dedicada à observação empírica quantitativa dos fatos econômicos, com o seu desenvolvimento contemporâneo, vem se preocupando cada vez mais em analisar os fenômenos econômicos sob uma ótica social, com a difusão do uso de variáveis instrumentais para estimar variáveis até então consideradas não-quantitativas, e, por isso, ignoradas dos modelos econômicos modernos. Mais do que isso, para se evitar problemas de viés nos modelos de estimação, provocados pela endogeneidade das variáveis explicativas (por simultaneidade com as variáveis explicadas, erros de medida ou correlação com variáveis não-observadas), os trabalhos em econometria se preocupam em descrever, de forma a contornar analiticamente, possibilidades de "viés social", ou "viés cultural" nas estimativas de dados de populações, as quais podem inclusive distorcer empiricamente as conclusões esperadas pela teoria econômica tradicional.

Estou preparando uma apresentação de um artigo (que vai me ajudar a recuperar nota na primeira prova...) que busca encontrar correlações entre as condições de saúde dos trabalhadores e os seus salários em países africanos. Nas estimativas, as condições de saúde foram medidas pelos dias de falta ao trabalho devido a doenças, e, para contornar os prováveis erros de medida desses dados (pois os trabalhadores autônomos podem adaptar seu trabalho a sua condição de saúde, e os assalariados podem evitar faltar ao emprego mesmo se estão doentes), assim como a correlação da saúde com o potencial biológico de cada indivíduo (não-observável), os autores incluíram variáveis instrumentais para a estimativa, tais como o preço dos alimentos nas regiões da África em que os indivíduos vivem, a infra-estrutura social de cada comunidade e os investimentos do país em saúde infantil. Além disso, o artigo aponta a possibilidade de haver um viés social para a estimativa de doenças, no sentido de que pessoas com mais renda e educação tendem a se preocupar mais com sua saúde e procurar médicos com mais freqüência, e viés cultural, já que o conceito de "boa saúde" varia de comunidade para comunidade.

É muito reconfortante poder ver que, em um contexto acadêmico na qual a Teoria Microeconômica foi engolida pela Análise Matemática, e a Teoria Macroeconômica pós-novo-clássica se resume a maximizar funções de utilidade de indivíduos representativos, cuja desutilidade pelo trabalho determina o nível de emprego e crescimento do produto, alguns economistas se preocupam com fatores sociais mais verossímeis, e demonstram interesse em utilizar conceitos teóricos de outras ciências sociais, de modo a abrir espaço para abordagens multidisciplinares dos problemas humanos.

3 comentários:

Amy Mizuno disse...

É aí que entram os cálculos de pobreza
heheheheheheheh
a multidimensionalidade da pobreza...
investimento em capital humano, inclusive a frequência com que o trabalhador vai ao dentista é considerado uma dimensão.
Pois sim, o tema é, no mínimo, fascinante!!!!!!!!

Ricardo Agostini Martini disse...

Depois te mando o artigo e a apresntação, se tu quiser!

Amy Mizuno disse...

manda sim...
valeu