terça-feira, setembro 30, 2008

Porque Eu (ainda) Não Estou Preocupado com a Crise das Bolsas



E ainda, o Congresso americano recusou a colher de chá para os investidores falidos. Se por um lado, isso pode gerar uma crise de liquidez com impactos negativos de curto prazo sobre o crédito ao consumo e ao investimento produtivo, por outro lado, reduz o risco moral dos mercados financeiros americanos. Pois, a especulação de curto prazo no mercado financeiro é rentável exatamente porque é arriscada; se o governo assumir o risco dos agentes nas crises, espera-se que esses agentes realizem aplicações financeiras ainda mais arriscadas.

A bolha financeira estourou devido à valorização artificial das aplicações financeiras devido a pressões de demanda, pelos investidores. Porém, mesmo que a economia financeira internacional tenda a crescer mais do que a economia real devido ao aumento da velocidade de circulação da moeda, causado pelas inovações tecnológicas computacionais nesses mercados, ela não pode ficar eternamente descolada do seu equilíbrio, determinado pelos fundamentos reais da economia. Mais cedo ou mais tarde, era lógico que o mercado iria voltar para a sua trajetória.

Eu, que invisto em fundos de ações do Banco do Brasil, da Petróbrás e da Vale do Rio Doce, estou interessado no desempenho dessas empresas a um prazo de 10 ou 20 anos. Portanto, só me preocuparei com a crise financeira se ela afetar as decisões de investimento dessas empresas. Quem investe no curto prazo, esperando a valorização de ações em prazos de dias ou semanas, pode obter retornos maiores que os meus, se conhecer o comportamento do mercado. Mas deve assumir os riscos envolvidos nessas operações.

sexta-feira, setembro 26, 2008

Pobreza, Exclusão Social e Modernidade - Simon Schwartzman

No momento, estou pesquisando sobre o conceito econômico de pobreza, formas de sua mensuração e seu comportamento contemporâneo no Brasil. Para isso, além de uma pilha de artigos, comprei dois livros do Simon Schwartzman, sociólogo e cientista político da FGV-RJ. O autor é especializado nas áreas de pobreza e desenvolvimento social, e faz uma boa ponte entre a economia e as demais ciências sociais nesses temas. Já tinha lido textos dele nas cadeiras de Política e Planejamento Econômico, na UFGRS, e Desigualdade e Pobreza, no Cedeplar-UFMG.

No livro "Pobreza, Exclusão Social e Modernidade: Uma Introdução ao Mundo COntemporâneo", Schwartzman faz uma boa discussão teórica e aplicada sobre os principais temas contemporâneos que relacionamos ao desenvolvimento social e à modernidade. O autor descreve as principais correntes de pensamento sobre o tema da evolução das sociedades humanas, passando por Adam Smith, Marx, Polanyi, Weber, Durkheim, Castel, entre outros, apontando os pontos fortes e as limitações de cada ponto de vista. Diversas interpretações sobre a existência de sociedades subdesenvolvidas são abordadas (e criticadas), como a escravidão, a teoria da dependência e o papel da cultura sobre as civilizações. Além disso, o autor aborda questões relacionadas com a educação, a tecnologia e os direitos humanos, os quais, no mundo moderno, são diretamente associados ao desenvolvimento sócio-econômico.

O autor, mesmo sendo caracteristicamente liberal, faz um bom diálogo com as correntes de pensamento social mais de cunho marxista, predominantes na academia brasileira. São usados argumentos sólidos para criticar a aplicação direta da teoria marxista da linearidade da história em relação ao caso brasileiro. Para o autor, o Brasil, assim como a maior parte dos países fora da Europa Ocidental e da América do Norte, nunca teve uma estrutura social dividida uma classe capitalista e uma classe operária. O que havia era alguns grandes proprietários de terras, escravos (reduzindo de magnitude a partir de meados de 1850), pequenos empresários urbanos e alguns trabalhadores livres assalariados. Mas a maior parte da população, desde o final do século XIX consistia de excluídos (o lumperproletariat, de Marx), tais como ex-escravos, agricultores familiares e imigrantes pobres, os quais não tinham nenhum papel na produção econômica central nacional (isto é, fazendas de cana-de-açúcar e café), e tampouco tinham lugar na política e nas instituições nacionais.

Por outro lado, o autor não definiu objetivamente nenhum conceito de pobreza, de exclusão social ou de subdesenvolvimento em seu livro. Apenas apresentou as idéias de outros autores e comparou com as suas próprias. Além disso, mesmo tirando conclusões práticas similares ao comum no mainstream econômico, Schwartzman se mostra muito relativista em relação aos aspectos mais teóricos e conceituais, como é comum em trabalhos contemporâneos de Sociologia e Ciência Política. Por isso, dificilmente essa obra terá espaço na minha dissertação. Mas como um livro para trabalhos de graduação, ou mesmo para o lazer, é uma leitura muito agradável e interessante.

quinta-feira, setembro 18, 2008

Chuva de Granizo





Hoje, por volta das 3 e meia da tarde, caiu uma violenta chuva de granizo em Belo Horizonte. Pedras de gelo do tamanho de bolas de pingue-pongue caíram ininterruptamente do céu durante uns 15 minutos.

Para meu azar, estava na rua nesse momento, e fui metralhado até conseguir abrigo em uma loja.

E por ironia do destino, tinha saído de casa justamente para ir à farmácia comrpar Gelol.

terça-feira, setembro 16, 2008

Sobre "O Novo Plano de Defesa Nacional"

Novo Plano de Defesa Nacional Prevê Serviço Militar Obrigatório para Mulheres

Como amplamente divulgado na imprensa, o ministro Mangabeira Unger elaborou uma nova diretriz para a política de segurança nacional, que prevê o alistamento e o serviço militar de todos os cidadãos com idade apropriada, inspirado no modelo israelense de defesa militar. Segundo o ministro, o Exército deve ter um papel de "nivelar os brasileiros de diferentes classes sociais".

Contudo, ao meu ver, isso me parece mais uma proposta política dita "revolucionária", sem se preocupar com a gestão dos recursos públicos.

Em primeiro lugar, por que o modelo israelense deveria ser a inspiração da política militar brasileira, se o Brasil não tem inimigos no seu continente? Além disso, o único potencial adversário para um conflito armado envolvendo o Exército Nacional, as FARC colombianas, não tem tamanho e nem estrutura para enfrentar as forças militares brasileiras.

Em segundo lugar, o projeto político prevê que só serão aproveitados de fato no Exército os alistados que apresentam "boa forma física" e "bom conhecimento de asuntos militares", sendo o resto aproveitado para serviços mais rudimentares. Ora, veremos, portanto, mais um exemplo de regressividade do gasto público no Brasil, com o detalhe de que, nesse caso, os atingidos pela política serão compulsórios, isto é, não poderão nem mesmo ser considerados beneficiários.

Explico melhor, tomando o meu caso particular. Quando me alistei no Exército, no ano em que fiz 18 anos (2002), estava cursando o primeiro ano do curso de Economia na UFRGS. Sabia que eu não pretendia seguir carreira profissional no Exército, e, além disso, o serviço militar iria ocupar tempo necessário ao meu estudo, prejudicando minha atuação acadêmica. Então, pedi a dispensa, sendo, no momento da entrevista, sincero sobre meus motivos, e o oficial responsável foi naturalmente compreensivo. Assim, houve uma relação de duplo ganho entre o Exército e eu: o Exército não gasta seus recursos em quem não está interessado em seguir carreira, e eu não gasto tempo de estudo e trabalho em atividades nas quais não pretenderia progredir futuramente.

Por outro lado, para jovens pobres, muitas vezes desempregados (ou em empregos de baixa qualidade), de baixa instrução e poucas perspectivas na vida, o serviço militar é uma boa opção para o aprendizado de serviços técnicos (como mecânica, segurança, etc.), a certeza de uma boa experiência profissional, o recebimento de um soldo, e a esperança de seguir uma carreira. Por isso, o Exército tem mais vantagens em incorporar essas pessoas em seus quadros, e, para essas pessoas, o Exército serve como uma política social completa, que investe em seu capital humano e suas capacitações, além de proprocionar renda.

A proposta do ministro Mangabeira Unger significa, em resumo, na transferência de recursos públicos de pessoas pobres e interessadas para pessoas mais favorecidas economicamente e não-interessadas nos benefícios da política. Um retrocesso na gestão fiscal, em resumo.

É uma pena que a população brasileira, mesmo após vinte anos de regime democrático, continue refém de medidas arbitrárias e autoritárias de seus governantes.

quarta-feira, setembro 03, 2008

O Longo Amanhecer - Cinebiografia de Celso Furtado

O XIII Encontro de Economia Mineira, realizado na semana passada na cidade de Diamantina, se encerrou com a pré-estreia do filme "O Longo Amanhecer", uma cinebiografia de Celso Furtado. O documentário foi montado por trechos de vídeos históricos e pessoais da vida do célebre economista paraibano ao longo de toda sua trajetória, intercalados por depoimentos do próprio Furtado (no ano de seu falecimento, 2004) e de seus contemporâneos, como Maria da Conceição Tavares e Chico de Oliveira.

O documentário, mesmo elaborado antes do falecimento de Furtado, tem um tom muito melancólico. Os intelectuais entrevistados parecem estar o tempo todo se lamentando pelo fato de que seus ideais desenvolvimentistas dos anos 50 e 60 estão cada vez mais distantes dos projetos dos atuais governos brasileiros. O tom tristonho acompanha os depoimentos de Celso Furtado e de Chico de Oliveira em todo o filme, enquanto que a Conceição mantém seus tradicionais esbravejos raivosos. Seus alvos favoritos, culpados pela queda de seus ideais, não deixam de ser "as elites", "os interesses dos países centrais contra a periferia", "o sistema financeiro especulativo", etc.

Mas, pensando bem, será que o "nacional-desenvolvimentismo" deu tanto errado assim? Qual é o real motivo da aparente frustração desses pensadores? Ora, o regime de política econômica baseado no nacionalismo, na substituição de importações, no uso de políticas expansionistas, no apoio explícito à industrialização e na concentração espacial das atividades produtivas teve os resultados históricos que seriam esperados de acordo com a teoria econômica: estímulo aos investimentos, causando o crescimento econômico, mas com um grave custo social, em termos de desigualdade (pessoal e regional) e de pobreza acumulada na periferia das grandes cidades, provocadas pela emigração das regiões rurais estagnadas. A maior limitação desse modelo de política econômica de longo prazo, a meu ver, foi não ter dado a merecida atenção nas pessoas (assim como deu ao capital), em termos de capital humano, tal como investimentos em saúde, saneamento e, sobretudo, educação. Talvez dessa maneira os brasileiros poderiam desenvolver suas capacitações de modo a continuar o processo de desenvolvimento do país autonomamente, sem mais tanta necessidade do apoio governamental (tal como aconteceu nos Tigres Asiáticos) após a crise de seu endividamento.

No ano passado eu tinha escrito um post sobre a falta de novas idéias dos atuais pensadores brasileiros. Ao invés de procurar pensar o Brasil contemporâneo, urbano, prestador de serviços, globalizado e democrático, preferem remoer suas lembranças de sua juventude, e seus ideais sufocados pelo regime militar. E esse filme reforça ainda mais meu desapontamento. No caso de Furtado, Conceição e Chico de Oliveira, está tudo bem. Os "anos dourados" de sua atuação intelectual foram mesmo os anos do nacional-desenvolvimentismo. Mas em relação aos pensadores do Brasil atual, onde estão?