O XIII Encontro de Economia Mineira, realizado na semana passada na cidade de Diamantina, se encerrou com a pré-estreia do filme "O Longo Amanhecer", uma cinebiografia de Celso Furtado. O documentário foi montado por trechos de vídeos históricos e pessoais da vida do célebre economista paraibano ao longo de toda sua trajetória, intercalados por depoimentos do próprio Furtado (no ano de seu falecimento, 2004) e de seus contemporâneos, como Maria da Conceição Tavares e Chico de Oliveira.
O documentário, mesmo elaborado antes do falecimento de Furtado, tem um tom muito melancólico. Os intelectuais entrevistados parecem estar o tempo todo se lamentando pelo fato de que seus ideais desenvolvimentistas dos anos 50 e 60 estão cada vez mais distantes dos projetos dos atuais governos brasileiros. O tom tristonho acompanha os depoimentos de Celso Furtado e de Chico de Oliveira em todo o filme, enquanto que a Conceição mantém seus tradicionais esbravejos raivosos. Seus alvos favoritos, culpados pela queda de seus ideais, não deixam de ser "as elites", "os interesses dos países centrais contra a periferia", "o sistema financeiro especulativo", etc.
Mas, pensando bem, será que o "nacional-desenvolvimentismo" deu tanto errado assim? Qual é o real motivo da aparente frustração desses pensadores? Ora, o regime de política econômica baseado no nacionalismo, na substituição de importações, no uso de políticas expansionistas, no apoio explícito à industrialização e na concentração espacial das atividades produtivas teve os resultados históricos que seriam esperados de acordo com a teoria econômica: estímulo aos investimentos, causando o crescimento econômico, mas com um grave custo social, em termos de desigualdade (pessoal e regional) e de pobreza acumulada na periferia das grandes cidades, provocadas pela emigração das regiões rurais estagnadas. A maior limitação desse modelo de política econômica de longo prazo, a meu ver, foi não ter dado a merecida atenção nas pessoas (assim como deu ao capital), em termos de capital humano, tal como investimentos em saúde, saneamento e, sobretudo, educação. Talvez dessa maneira os brasileiros poderiam desenvolver suas capacitações de modo a continuar o processo de desenvolvimento do país autonomamente, sem mais tanta necessidade do apoio governamental (tal como aconteceu nos Tigres Asiáticos) após a crise de seu endividamento.
No ano passado eu tinha escrito um post sobre a falta de novas idéias dos atuais pensadores brasileiros. Ao invés de procurar pensar o Brasil contemporâneo, urbano, prestador de serviços, globalizado e democrático, preferem remoer suas lembranças de sua juventude, e seus ideais sufocados pelo regime militar. E esse filme reforça ainda mais meu desapontamento. No caso de Furtado, Conceição e Chico de Oliveira, está tudo bem. Os "anos dourados" de sua atuação intelectual foram mesmo os anos do nacional-desenvolvimentismo. Mas em relação aos pensadores do Brasil atual, onde estão?
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