No momento, estou pesquisando sobre o conceito econômico de pobreza, formas de sua mensuração e seu comportamento contemporâneo no Brasil. Para isso, além de uma pilha de artigos, comprei dois livros do Simon Schwartzman, sociólogo e cientista político da FGV-RJ. O autor é especializado nas áreas de pobreza e desenvolvimento social, e faz uma boa ponte entre a economia e as demais ciências sociais nesses temas. Já tinha lido textos dele nas cadeiras de Política e Planejamento Econômico, na UFGRS, e Desigualdade e Pobreza, no Cedeplar-UFMG.
No livro "Pobreza, Exclusão Social e Modernidade: Uma Introdução ao Mundo COntemporâneo", Schwartzman faz uma boa discussão teórica e aplicada sobre os principais temas contemporâneos que relacionamos ao desenvolvimento social e à modernidade. O autor descreve as principais correntes de pensamento sobre o tema da evolução das sociedades humanas, passando por Adam Smith, Marx, Polanyi, Weber, Durkheim, Castel, entre outros, apontando os pontos fortes e as limitações de cada ponto de vista. Diversas interpretações sobre a existência de sociedades subdesenvolvidas são abordadas (e criticadas), como a escravidão, a teoria da dependência e o papel da cultura sobre as civilizações. Além disso, o autor aborda questões relacionadas com a educação, a tecnologia e os direitos humanos, os quais, no mundo moderno, são diretamente associados ao desenvolvimento sócio-econômico.
O autor, mesmo sendo caracteristicamente liberal, faz um bom diálogo com as correntes de pensamento social mais de cunho marxista, predominantes na academia brasileira. São usados argumentos sólidos para criticar a aplicação direta da teoria marxista da linearidade da história em relação ao caso brasileiro. Para o autor, o Brasil, assim como a maior parte dos países fora da Europa Ocidental e da América do Norte, nunca teve uma estrutura social dividida uma classe capitalista e uma classe operária. O que havia era alguns grandes proprietários de terras, escravos (reduzindo de magnitude a partir de meados de 1850), pequenos empresários urbanos e alguns trabalhadores livres assalariados. Mas a maior parte da população, desde o final do século XIX consistia de excluídos (o lumperproletariat, de Marx), tais como ex-escravos, agricultores familiares e imigrantes pobres, os quais não tinham nenhum papel na produção econômica central nacional (isto é, fazendas de cana-de-açúcar e café), e tampouco tinham lugar na política e nas instituições nacionais.
Por outro lado, o autor não definiu objetivamente nenhum conceito de pobreza, de exclusão social ou de subdesenvolvimento em seu livro. Apenas apresentou as idéias de outros autores e comparou com as suas próprias. Além disso, mesmo tirando conclusões práticas similares ao comum no mainstream econômico, Schwartzman se mostra muito relativista em relação aos aspectos mais teóricos e conceituais, como é comum em trabalhos contemporâneos de Sociologia e Ciência Política. Por isso, dificilmente essa obra terá espaço na minha dissertação. Mas como um livro para trabalhos de graduação, ou mesmo para o lazer, é uma leitura muito agradável e interessante.
Os livros de 2024
Há 16 horas
2 comentários:
interessante. procurarei esse autor.
Tem o site dele na seção de "links econômicos e acadêmicos" do blog.
Lá dá para baixar uns textos.
Bjo
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