Um dos pontos mais interessantes no estudo da história econômica, ou mesmo na macroeconomia do crescimento de longo prazo, é a discussão sobre as causas da aceleração do crescimento econômico norte-americano a partir de meados do século XIX e sua supremacia na economia mundial no século seguinte. Muitas hipóteses clássicas podem ser encontradas da bibliografia: o papel da ética protestante para a cultura do trabalho e da poupança (Max Weber), a colonização de povoamento, a liberdade política e econômica, ou mesmo o protecionismo aduaneiro nos estágios iniciais de sua industrialização, o espírito empreendedor anti-aristocrático do seu povo, a abundância de recursos naturais, a atração de imigrantes europeus qualificados, entre outros. Contudo, Claudia Goldin, historiadora econômica de Harvard, apresenta uma hipótese nova, e que faz muito sentido. Para ela, em seu artigo The Human Capital Century and American Leadership, o progresso norte-americano foi conseqüência da qualidade de seu ensino, sobretudo ensino médio, tal como ocorreu em qualquer país que tenha crescido aceleradamente durante o século XX.
Goldin caracteriza o século XX como o “século do capital humano” devido à expansão do acesso a elevados níveis de educação por parte da maior parcela da população mundial. Segundo a autora, enquanto que no século XIX e início do XX a importância da educação era focada apenas no nível de alfabetização, e isso só nos países mais ricos, no final desse século quase todas os países do mundo preocupavam-se com a universalização do acesso ao ensino médio por parte de sua população. A expansão dos ensinos fundamental e médio nos países foi acompanhada por mudanças nas instituições de educação, pelo compromisso com o financiamento público da educação, tanto por parte dos governantes, como por parte dos contribuíntes, e por uma série de princípios igualitários-democráticos, que, sem os quais, o aumento do acesso à intrução pela população não teria os efeitos que apresentou sobre as sociedades. Como exemplos desses princípios, Goldin cita a flexibilidade curricular, a neutralidade de gênero no acesso às instituições de ensino, a separação da política educacional das instituições religiosas e a adoção de currículos de caráter acadêmico.
A explosão no acesso a educação ocorreu exatamente no século XX por questões tanto de oferta, como de demanda por ensino. Do lado da demanda, os avanços científicos verificados desde meados do século XIX, assim como o aumento da participação do setor público nas sociedades e nas economias, o desenvolvimento de sistemas de produção em larga escala e o estreitamento das relações entre a ciência e a indústria tiveram como conseqüência a elevação nos retornos à educação. Do lado da oferta, a expansão dos sistemas de ensino foi viabilizada pelo desenvolvimento de instituições cada vez mais hábeis para atender à demanda por educação, além da contribuição por parte do crescimento da renda per capita dos países, que elevou a base tributária necessária para o financiamento das políticas de educação, e pela coesão das sociedades em prol da expansão e universalização do ensino.
Os livros de 2024
Há 15 horas
2 comentários:
interessante. vou ler esse artigo aí...
bjs
Olá
Sou o Feio lá do orkut. Estava procurando um negócio sobre a UFRGS no google e acabei encontrando teu blog hehehe.
Acabei de ler o artigo que vc citou. Bem interessante.
Vou passar por aqui mais vezes.
Abraço
Marcelo
Postar um comentário