terça-feira, junho 23, 2009

Ainda sobre a Mobilidade Socio-Econômica

Uma abordagem mais metodológica a respeito da mobilidade é realizada por Gary Fields, em seu livro “Distribution and Development – A New Look at the Developing World”. Para o autor, a análise econômica da mobilidade envolve a sua quantificação pela distribuição de bem-estar entre os indivíduos ao longo do tempo, e a comparação entre a sua posição presente e a posição passada, assim como o estudo de experiências particulares de mobilidade e a sua influência por incentivos específicos. O autor aponta três aspectos metodológicos importantes nesse sentido. Em primeiro lugar, a importância dos dados em painel, como forma de se mensurar a mobilidade dos mesmos indivíduos ao longo do tempo. Em segundo lugar, deve-se utilizar diferentes unidades de observação (como indivíduos, domicílios e famílias) para abordar diferentes formas de mobilidade. Por fim, deve-se utilizar diferentes medidas de bem-estar, para se ter uma abordagem mais completa, como, por exemplo, o nível de renda per capita, o nível de consumo per capita, os salários e a taxa de emprego.

Fields cita cinco conceitos de mobilidade econômica. Primeiro, o conceito de dependência temporal, isto é, em que medida o bem-estar passado afeta o bem-estar presente, em nível tanto intergeracional, como também intrageracional. Segundo, o conceito de movimento posicional, que refere-se à variação na posição econômica dos indivíduos na distribuição, principalmente de renda, da população (como o posto, o decil, o quintil, etc.). Nesse caso, a mensuração de grupos agregados de indivíduos é mais simples. Terceiro, o movimento distribucional, que refere-se à variação na participação da renda dos indivíduos na renda total da sociedade. Quarto, o conceito de movimento simétrico de renda, segundo o qual o que vale para fins de estudo é a magnitude da variação da renda dos indivíduos, e não a sua direção. Essa técnica é muito aplicada para a decomposição da variação da renda individual entre um parcela causada pelo crescimento econômico e uma parcela causada pela mudança da posição dos indivíduos em uma estrutura social. Quinto, o conceito de movimento direcional de renda, segundo o qual a variação de renda positiva e negativa são tratadas separadamente. De acordo com esse conceito, uma situação de mobilidade é considerada melhor do que outra se a variação percentual de indivíduos que movem-se positivamente é maior do que a de indivíduo que movem-se negativamente, se a mobilidade positiva é maior na média, ou se a mobilidade negativa é menor na média.

Supondo que x é um vetor de rendas iniciais, e y é um vetor de rendas finais para um conjunto de n indivíduos, e que m(x, y) é uma função de mobilidade, o autor apresenta cinco medidas para a mobilidade observada:

a) O coeficiente de correlação entre x e y;
b) O coeficiente de correlação de posto, referente à matriz de índices de renda;
c) A razão de imobilidade quantílica, entendida como a proporção de indivíduos que permanecem no mesmo quantil da distribuição de renda;
d) O índice de rigidez de Shorrok para dois períodos, em que I(.) é um índice de desigualdade invariante por escala:

e) O índice de Fields & Ok:


Dadas essas cinco medidas, o autor faz uma série de observações. Primeiro, se houver uma equalização de renda na sociedade que não mude o posto dos indivíduos na distribuição populacional, o coeficiente de correlação de posto não captará essa mobilidade, já que é uma medida de movimento posicional. Em segundo lugar, se os indivíduos mudarem de posição em um mesmo quantil, isso não será captado pelo índice de imobilidade quantílica, o qual é uma medida de movimento posicional entre os grupos. Terceiro, se houver uma variação de renda proporcional para todos, a mobilidade só será captada pelo índice de Fields-Ok. Quarto, se houver uma mudança fixa de c dólares para todos os indivíduos, a mobilidade equivalente só será captada pelos índices de Fields-Ok e de Shorrok. Quinto, por último, se houver um ganho de renda para todos, a mobilidade resultante será plenamente captada pelo índice de Fields-Ok; será captada pelo coeficiente de correlação e pelo índice de Shorrok se o ganho de renda não for uniforme para todos os indivíduo; e será captada pelos indicadores de correlação de posto e de imobilidade quantílica se os indivíduos mudarem de posição ou de quantil.

segunda-feira, junho 22, 2009

Uma História Contada por Vários Ângulos

Como seria noticiada a história de Chapeuzinho Vermelho na imprensa?

JORNAL NACIONAL
(William Bonner): 'Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem..'.
(Fátima Bernardes): '... mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia'..

PROGRAMA DA HEBE
(Hebe Camargo): '... que gracinha gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?'

BRASIL URGENTE:
(Datena): '.... onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades? ! A menina ia para a casa da vovozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva.... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de
lobo, não.'

REVISTA ISTO É
Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.

REVISTA VEJA
Lula sabia das intenções do lobo.

REVISTA CLÁUDIA
Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.

REVISTA NOVA
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama.

O ESTADO DE S. PAULO
Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT.

O GLOBO
Petrobrás apóia ONG do lenhador ligado ao PT que matou um lobo para salvar menor de idade carente.

AGORA
Sangue e tragédia na casa da vovó

REVISTA CARAS
(Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte)
Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: 'Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa'

PLAYBOY
(Ensaio fotográfico no mês seguinte)
Veja o que só o lobo viu..

G MAGAZINE
(Ensaio fotográfico com lenhador)
Lenhador mostra o machado

SUPER INTERESSANTE
Lobo mau! mito ou verdade ?

DISCOVERY CHANNEL
Vamos determinar se é possível uma pessoa ser engolida viva e sobreviver

domingo, junho 21, 2009

Estudos sobre Mobilidade Sócio-Econômica

Um dos mais importantes trabalhos realizados no período presente sobre os problemas relacionados à mobilidade socioeconômica foi a coletânea de artigos organizada por Stephen Morgan, David Grusky e Gary Fields, chamada “Mobility and Inequality – Frontiers of Research ina Sociology and Economics” (2007). O objetivo desse trabalho, em síntese, é discutir os fundamentos intelectuais comuns sobre a mobilidade para as disciplinas de economia e sociologia, relacionar esses fundamentos com os estudos mais recentes sobre o tema, e apontar perspectivas de pesquisa futura na área, sobretudo sobre a relação entre mobilidade e desigualdade, nas ciências sociais.

Morgan (2007), no primeiro capítulo da coletânea, diferenciou a abordagem da mobilidade para a sociologia e para a economia. Na sociologia, a mobilidade é compreendida de acordo com duas abordagens. Em primeiro lugar, é tida como um movimento de indivíduos em relação a grupos agregados aos quais eles integram, como, principalmente, as classes sociais. Em segundo lugar, a mobilidade é vista como uma conseqüência do status socioeconômico de cada indivíduo ou grupo, de acordo com sua profissão e ocupação, seu nível de educação e sua dotação de renda e de riqueza. Nesse caso, a mensuração da mobilidade é realizada pela correlação intergeracional de status socioeconômico, cujas variáveis incluídas são decompostas em modelos de equações estruturais.

Na economia, por outro lado, tradicionalmente a questão da mobilidade vinha sendo trabalhada como uma análise da correlação intergeracional da renda dos agentes, isto é, estudos sobre as elasticidades de renda entre as gerações. Atualmente, no entanto, há uma crescente aproximação com a sociologia, de modo que a mobilidade é utilizada para explicat a estrutura da desigualdade na economia, como, por exemplo, pela distribuição da renda.

A atual tendência de aproximação entre a abordagem econômica e a abordagem sociológia a respeito da mobilidade se dá em duas frentes. Em primeiro lugar, há um consenso de que a questão da mobilidade inter e intrageracional deve ser modelada de acordo com um mesmo aparato conceitual e metodológico. Todavia, essa modelagem depende da estrutura da desigualdade na economia. Por exemplo, se o destino da mobilidade está associado a conceitos de classe social ou de decil de renda na distribuição populacional (isto é, trabalha-se com grupos agregados), tanto faz as origens individuais da mesma (tais como o status dos pais e as condições iniciais de renda, emprego e educação dos indivíduos). Em segundo lugar, os pesquisadores vêm utilizando cada vez mais métodos descritivos e análises empíricas sobre o tema, em detrimento de modelos teóricos acerca dos processos sociais da mobilidade.

O autor cita uma breve lista de tópicos relacionados com pesquisas recentes nessa área:
- A relação entre meritocracia e igualdade de oportunidades;
- A relação, dentro de modelos de capital humano, entre as escolhas e condições iniciais dos pais e as oportunidades recebidas pelos seus filhos no futuro;
- A questão da desigualdade entendida como um fenômeno entre grandes classes sociais;
- A mobilidade entendida como um processo de mudanças na carreira profissional de cada indivíduo;
- A relação entre a mobilidade e a educação individual, tanto em termos de sinalização de produtividade, como em termos de produção individual de habilidades cognitivas;
- O impacto de choques macroeconômicos sobre a distribuição de renda em uma sociedade.

Em relação a perspectivas futuras de pesquisa, Morgan (2007) aponta três grandes áreas. Em primeiro lugar, o refinamento dos métodos de mensuração da mobilidade, capazes de incluir trabalhos descritivos junto com análises de impacto de intervenções políticas. Em segundo lugar, a reavaliação, que não necessariamente significa rompimento, das tradicionais unidades de observação da mobilidade, como a análise de classes sociais e das elasticidades-renda das famílias. Por fim, é fundamental a expansão de estudos que relacionem a mobilidade com a estrutura da desigualdade social, assim como com as condições macroeconômicas específicas a cada caso e com as características de cada mercado de trabalho, levando em conta fatores como as instituições reguladoras de cada núcleo sócio-econômico, o processo de industrialização das sociedades subdesenvolvidas e de pós-industrialização das sociedades desenvolvidas, e a globalização.

terça-feira, junho 02, 2009

Circulação Monetária

Recebi por e-mail do meu colega cedeplariano Paulo "Limão" Casaca um texto muito legal sobre a circulação monetária.

Numa pequena vila no sul da França, a crise é sentida. Toda a gente deve a toda a gente, carregada de dívidas. Subitamente, um rico turista russo chega ao foyer do pequeno hotel local. Pede um quarto e coloca uma nota de 100 sobre o balcão, pede uma chave de quarto esobe ao 3º andar para inspeccionar o quarto que lhe indicaram, na condição de desistir se lhe não agradar.

O dono do hotel pega na nota de 100 e corre ao fornecedor de carne a quem deve 100; o talhante pega no dinheiro e corre ao fornecedor de leitões apagar 100 que devia há algum tempo; este por sua vez corre ao criador de gado que lhe vendera a carne; este, por sua vez, corre a entregar os 100 a uma prostituta que lhe cedera serviços a crédito.

A prostituta recebe os 100 e corre ao hotel a quem devia 100 pela utilização casual de quartos à hora para atender clientes.

Neste momento o russo rico desce à recepção e informa o dono do hotel que o quarto proposto não lhe agrada, pretende desistir e pede a devolução dos 100. Recebe o dinheiro e sai.

Não houve neste movimento de dinheiro qualquer lucro ou valor acrescentado. Contudo, todos liquidaram as suas dívidas e os habitantes da pequena vila encaram agora optimisticamente o futuro.

segunda-feira, junho 01, 2009

Minha Segunda Prova

Quinta-feira passada, fiz minha segunda prova com a turma de Macroeconomia do curso de Administração (noturno) da UFMG. A prova, sobre teorias macroeconômicas de curto prazo, foi bastante extensa, com uma questão de Verdadeiro ou Falso, duas de matemática com explicações de raciocínio, uma de interpretar e escrever, e uma de analisar uma política monetária expansionista em uma economia aberta com taxas de câmbio flexíveis. Por fim, coloquei um pequeno desafio de raciocínio econômico, valendo meio ponto extra.

Corrigi a prova no final de semana, e hoje mesmo já publiquei os resultados na porta da minha sala. A média, tal como na prova anterior, foi 7. De 47 provas corrigidas, 12 alunos ficaram abaixo de 6, a nota mínima para ser aprovado. Apenas 4 alunos ficaram acima de 9, e, desses, um deles fechou a prova (tirou 10).

Obviamente, uma hora depois de ter colado os resultados na minha porta, já comecei a ouvir borburinhos de alunos comentando e comemorando (ou não) os resultados. E também, tive que ouvir alguma choradeira. Acho muito chato quando algum aluno tira nota baixa, ou mesmo quando erra uma questão, e vem com o papo de que "foi sacanagem", como se eu tivesse alguma coisa pessoal contra alguém. Ou ainda, pessoas que esquecem de fazer todos os pontos da prova (como fazer contas matemáticas com diferentes dados) e vem me dizer que, como começaram a questão corretamente, "sabiam a lógica", e "obviamente teriam acertado o resto da questão". Se sabiam, então, por que não fizeram? Preguiça?

Outra coisa que notei foi uma relativa variabilidade das notas dos mesmos alunos em relação à prova anterior. 9 alunos que tiraram boas notas anteriormente foram mal na última prova, como se tivessem "relaxado". Por outro lado, 8 alunos que foram de "meia-boca" a mal na primeira prova, agora foram bem melhor. Pois é, parece que o medo da reprovação tem mesmo um impacto pedagógico sobre a responsabilidade dos alunos. O papo pós-moderno-niilista de que isso "traumatizaria os estudantes", e faria com que eles desistissem de continuar estudando não foi corroborado pelas minhas observações empíricas.

Agora, já tenho que me preocupar em preparar a terceira lista de exercícios para a última prova do semestre. A matéria será a macroeconomia de médio e longo prazos, focando principalmente nos problemas relacionados com desemprego, inflação e crescimento.