Um dos mais importantes trabalhos realizados no período presente sobre os problemas relacionados à mobilidade socioeconômica foi a coletânea de artigos organizada por Stephen Morgan, David Grusky e Gary Fields, chamada “Mobility and Inequality – Frontiers of Research ina Sociology and Economics” (2007). O objetivo desse trabalho, em síntese, é discutir os fundamentos intelectuais comuns sobre a mobilidade para as disciplinas de economia e sociologia, relacionar esses fundamentos com os estudos mais recentes sobre o tema, e apontar perspectivas de pesquisa futura na área, sobretudo sobre a relação entre mobilidade e desigualdade, nas ciências sociais.
Morgan (2007), no primeiro capítulo da coletânea, diferenciou a abordagem da mobilidade para a sociologia e para a economia. Na sociologia, a mobilidade é compreendida de acordo com duas abordagens. Em primeiro lugar, é tida como um movimento de indivíduos em relação a grupos agregados aos quais eles integram, como, principalmente, as classes sociais. Em segundo lugar, a mobilidade é vista como uma conseqüência do status socioeconômico de cada indivíduo ou grupo, de acordo com sua profissão e ocupação, seu nível de educação e sua dotação de renda e de riqueza. Nesse caso, a mensuração da mobilidade é realizada pela correlação intergeracional de status socioeconômico, cujas variáveis incluídas são decompostas em modelos de equações estruturais.
Na economia, por outro lado, tradicionalmente a questão da mobilidade vinha sendo trabalhada como uma análise da correlação intergeracional da renda dos agentes, isto é, estudos sobre as elasticidades de renda entre as gerações. Atualmente, no entanto, há uma crescente aproximação com a sociologia, de modo que a mobilidade é utilizada para explicat a estrutura da desigualdade na economia, como, por exemplo, pela distribuição da renda.
A atual tendência de aproximação entre a abordagem econômica e a abordagem sociológia a respeito da mobilidade se dá em duas frentes. Em primeiro lugar, há um consenso de que a questão da mobilidade inter e intrageracional deve ser modelada de acordo com um mesmo aparato conceitual e metodológico. Todavia, essa modelagem depende da estrutura da desigualdade na economia. Por exemplo, se o destino da mobilidade está associado a conceitos de classe social ou de decil de renda na distribuição populacional (isto é, trabalha-se com grupos agregados), tanto faz as origens individuais da mesma (tais como o status dos pais e as condições iniciais de renda, emprego e educação dos indivíduos). Em segundo lugar, os pesquisadores vêm utilizando cada vez mais métodos descritivos e análises empíricas sobre o tema, em detrimento de modelos teóricos acerca dos processos sociais da mobilidade.
O autor cita uma breve lista de tópicos relacionados com pesquisas recentes nessa área:
- A relação entre meritocracia e igualdade de oportunidades;
- A relação, dentro de modelos de capital humano, entre as escolhas e condições iniciais dos pais e as oportunidades recebidas pelos seus filhos no futuro;
- A questão da desigualdade entendida como um fenômeno entre grandes classes sociais;
- A mobilidade entendida como um processo de mudanças na carreira profissional de cada indivíduo;
- A relação entre a mobilidade e a educação individual, tanto em termos de sinalização de produtividade, como em termos de produção individual de habilidades cognitivas;
- O impacto de choques macroeconômicos sobre a distribuição de renda em uma sociedade.
Em relação a perspectivas futuras de pesquisa, Morgan (2007) aponta três grandes áreas. Em primeiro lugar, o refinamento dos métodos de mensuração da mobilidade, capazes de incluir trabalhos descritivos junto com análises de impacto de intervenções políticas. Em segundo lugar, a reavaliação, que não necessariamente significa rompimento, das tradicionais unidades de observação da mobilidade, como a análise de classes sociais e das elasticidades-renda das famílias. Por fim, é fundamental a expansão de estudos que relacionem a mobilidade com a estrutura da desigualdade social, assim como com as condições macroeconômicas específicas a cada caso e com as características de cada mercado de trabalho, levando em conta fatores como as instituições reguladoras de cada núcleo sócio-econômico, o processo de industrialização das sociedades subdesenvolvidas e de pós-industrialização das sociedades desenvolvidas, e a globalização.
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