Já faz mais de uma semana desde que me mudei para Brasília, e minhas primeiras impressões sobre a cidade são bastante distintas das que tive quando me mudei para Belo Horizonte, em 2007. Em primeiro lugar, ao contrário da capital mineira, particularmente de sua região central, que é uma metrópole de prédios altos, cinzentos e colados uns aos outros de modo que a vista do céu é prejudicada, Brasília é muito mais espaçosa, e de prédios baixos, a não ser os de órgãos do governo.
No Plano Piloto (Asas Sul e Norte), reside a classe média brasiliense (os mais abastados moram em condomínios e mansões atrás dos lagos e junto às embaixadas). Existem cerca de 16 quadras de extensão por 7 de largura em cada asa, e cada quadra é classificada de acordo com sua funcionalidade, tal como "Comércio Local", "Setor Residencial", "Setor Hospitalar", "Setor Hoteleiro", etc. Os endereços são dados pelo número da quadra que se localiza o imóvel, junto com o "bloco" que indica a posição do imóvel na quadra. No início, é estranho ler esses endereços, mas depois de se aprender a sua lógica, torna-se fácil de se orientar pela cidade. O quitinete que estou dividindo (Morato II) fica na quadra 502, que é um setor comercial.
As quadras, em geral, são muito grandes, com muito espaço entre os prédios (os "blocos"), de modo que existem calçadas entre eles para a circulação de pedestres. A circulação de carros é mais complexa: cada quadra tem um acesso próprio, com um estacionamento de rua (poucos prédios têm garagem subterrânea) em cada uma. Os prédios são bastante curiosos: originalmente eram todos bastante semelhantes, mas depois de tantas reformas ao longo dos 50 anos da capital federal, eles adquiriram design próprio, cada um. As reformas dos prédios funcionais, adaptando-os às demandas tecnológicas e arquitetônicas ao longo das décadas, seguem um processo peculiar: alguma construtora compra um prédio antigo, quebra-o quase por inteiro, deixando apenas seu "esqueleto", e constrói todo o resto de novo, deixando como se fosse um prédio novo. Na quadra atrás do quitinete, quase todos os prédios estão passando por esse tipo de reforma. Além disso, mesmo com toda a área verde presente na cidade, e que eu sentia tanta falta quando morava em BH, confesso que não acho os prédios de Brasília bonitos, a não ser os mais recentes, ou os melhor reformados. Ainda não me acostumei com a estética dos prédios funcionais originais, todos iguais e com aspecto de pequenos colégios. Mesmo os prédios públicos mais antigos (à excessão do Banco Central e do Banco do Brasil) parecem gigantescas caixas de fósforos empilhadas.
Por outro lado, a gastronomia da cidade, assim como sua vida cultural, é muito rica e agradável. O custo da alimentação em Brasília, ao contrário do que me falaram, não é absurdamente cara: um pouco mais que em Belo Horizonte, mas muito menos que em São Paulo, por exemplo, os preços estão mais ou menos no nível de Porto Alegre. Existem muitos restaurantes caros, mas também existem restaurantes funcionais nos ministérios que são subsidiados (10 reais o quilo, no almoço), além de restaurantes com pratos executivos de cerca de 10 reais, e botecos mais simples que servem pratos enormes de arroz, feijão, bife e salada por 7 reais. Ao contrário de BH, pastelarias, confeitarias e lanchonetes especializadas em salgados e pão-de-queijo são raras em Brasília, e estão concentradas na rodoviária. O lanche típico da população são redes de fast-food como Giraffa's, Subway, Bob's e McDonald's, que abundam pelas quadras comerciais. Isso, sim, pode elevar os gastos pessoais com alimentação. A vida cultural conta com muitas exposições de artes plásticas e teatros junto às sedes dos bancos, além de casas de cinema alternativo, tudo a preços acessíveis (ou de graça).
O sistema de ônibus da cidade me pareceu eficiente, com muitas linhas e freqüência satisfatória. Além disso, há uma discriminação de preços nas tarifas: os ônibus que circulam no plano piloto cobram 2 reais, e os que vão até as cidades satélites cobram 3 reais a passagem. A discriminação certamente reflete os custos com combustível, mas é pior para a população mais pobre, que costuma morar mais longe dos seus postos de trabalho. O que me impressionou foi a má qualidade dos ônibus da cidade, muitos deles são tão antigos que parecem que vão estragar a cada vez que o motorista pára em uma parada. Isso é surpreendente para uma cidade da renda per capita de Brasília...
Estou trabalhando em um órgão de pesquisa em economia aplicada na Secretaria de Assuntos Estratégicos ligado à ONU (IPC-UNDP), que fica na Esplanada dos Ministérios. Nos finais de semana, quando não estou procurando apartemento com meu colega de mestrado (e de quitinete), tenho visitado os pontos turísticos da capital federal: visitei o Congresso, que é muito interessante (apesar de que o plenário da Câmara é muito menor pessoalmente do que parece na televisão) e com muito conteúdo didático sobre a história e as instituições políticas brasileiras, as sedes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, e a região dos lagos. Ainda há muito o que conhecer por aqui!
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