sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Com a Palavra, Max Weber

Inicialmente, tentemos perceber com clareza o que significa, na prática, essa racionalização intelectualista que devemos à ciência e à técnica científica. Acaso, significará que todos os que estão reunidos nesta sala possuem, no que se refere às respectivas condições de vida, conhecimento superior ao que um índio ou um hotentote poderiam alcançar a respeito de suas próprias condições de vida? É pouco provável. Dentre nós, aquele que entra num trem não tem noção alguma do mecanismo que permite ao veículo pôr-se em marcha - exceto se for um físico de profissão. De outra feita, nào temos necessidade de conhecer aquele mecanismo. É suficiente poder "contar" com o trem e orientar, conseqüentemente, nosso comportamento. Não sabemos todavia como se constrói aquela máquina que tem condições de deslizar. Contrariamente, o selvagem conhece, de modo incomparavelmente melhor, os instrumentos que se utiliza. (...) A intelectualização e a recionalização crescentes não equivalem, portanto, a um conhecimento geral crescente a respeito das condições em que vivemos. Antes, significam que sabemos ou acreditamos que, a qualquer instante, poderíamos, conquanto que o quiséssemos, provar que não existe, primordialmente, nenhum poder misterioso e imprevisível que interfira com o curso de nossa vida. Em outras palavras, que podemos dominar tudo, por meio da previsão. Isso é o mesmo que despojar de magia o mundo. (...) Essa é a essência da significação da intelectualização.


Parágrafo extraído do livro "Ciência e Política, Duas Vocações".

4 comentários:

D disse...

O convívio com os sociólogos tem te feito bem.

Abs.

Professor Tiago Menta disse...

Trecho significativo do pensamento weberiano, dentro da lógica de um mundo racionalizado, burocratizado, que Weber aponta como "desencantamento do mundo". Max Weber é sem dúvida um dos grandes intérpretes do mundo moderno, e do próprio Capital em uma pespectiva diferenciada por exemplo se o compararmos a dupla Marx-Engels.
Parabéns pelo blog e pela escolha na postagem.
Abraços, prof. Tiago Menta.

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

eu li, mas não consigo identificar para o blog, um conto (novel?) de ficção científica em que um soldadinho começou a redescobrir as operações aritméticas fundamentais, foi entrevistado pelos capitães e generais e aposentado, cabendo a further research sobre o tópico às altas patentes... se liberdade não rima com educado, é certo que libertação rima com educação.
DdAB

Ricardo Agostini Martini disse...

Duílio,

O Max Weber escreveu isso, ou melhor, discursou isso para uma turma de graduação. Certamente o conhecimento - e a educação - libertam as pessoas, mas os rendimentos marginais me parecem decrescentes ao longo da vida acadêmica.

Todo caso, não vejo uma contradição entre "desencantamento" e "libertação". O desencantamento dos fenômenos, que passam a ser explicados por uma maneira lógica e racional pode contribuir com a independência da própria consciência individual dos "profetas", "mágicos", e outros líderes carismáticos. O próprio Weber já fala sobre isso no capítulo seguinte do livro.

Abraço