O Flamengo contratou o Ronaldinho Gaúcho (que leilou seu contrato com o Grêmio e o Palmeiras) e o Thiago Neves. O Fluminense contratou o Araújo e o Diego Cavalieri. O Inter acertou com o argentino Cavenaghi. O Santos buscou o Elano de volta. O Vasco importou o Eduardo Costa e o Elton. O Corinthians se reforçou (ainda que tardiamente) com o Liédson. E todos esses times só exportaram suas revelações do ano passado para times desconhecidos de campeonatos desconhecidos, como a Ucrânia, a China e os países do Oriente Médio, salvo raras exceções.
Nesses últimos meses, a imprensa esportiva vem nos brindando com informações sobre as transações dos times de futebol brasileiros com os times do exterior. Ao contrário do que qualquer torcedor com mais de 10 anos de idade está acustumado a ler e ouvir, agora são os times brasileiros que estão importando (ou repatriando) os jogadores do exterior. Para explicar esse fenômeno, levanto três hipóteses para serem testadas, caso alguém tenha uma boa planilha de dados a respeito.
Em primeiro lugar, a hipótese mais provável: a crise financeira e fiscal que assola os países europeus contagiou o mercado do futebol. Por isso, os clubes estão investindo menos em reforços, e se desfazendo de jogadores de alto salário. Contudo, cabe lembrar que uma parte significativa das cifras futebolísticas de vários grandes times europeus não é proveniente de geração própria, mas sim de repasses diretos de seus proprietários, muitos deles com negócios escusos em países da antiga União Soviética e do Oriente Médio. Por isso, acredito que esse fator, por si só, não explica o atual déficit em conta corrente futebolística da economia brasileira.
A segunda hipótese é a valorização cambial. O real valorizado está fazendo com que a compra de jogadores de futebol brasileiros por parte dos clubes europeus não valha a pena, pois esses têm que arcar com o risco da não-adaptação dos jogadores a sua realidade (risco entendido como saudade da praia, da cerveja gelada, do carnaval e do samba), afetando negativamente o seu desempenho. Por outro lado, o real valorizado significa a valorização dos salários no Brasil, incentivando alguns jogadores a procurar empregos nos clubes nacionais pelos mesmos motivos expostos anteriormente.
Por fim, levanto uma terceira hipótese, mais pessimista que as duas anteriores. Talvez o futebol brasileiro tenha perdido o seu brilho em relação às décadas passadas. Nos anos 90, Romário, Ronaldo Nazário, Rivaldo, Leonardo, e mais recentemente, Ronaldinho Gaúcho e Kaká, eram os melhores jogadores do mundo. Atualmente, qual jogador brasileiro é considerado incontestavelmente um grande craque de reputação internacional, a não ser os veteranos como o zagueiro Lúcio? O Felipe Melo? Não se pode descartar a hipótese de que o mau futebol desempenhado pela Seleção Brasileira na última Copa do Mundo seja proveniente (não estou eximindo de culpa a escalação do ex-técnico Dunga) de uma crise de renovação dos jogadores brasileiros. Por isso, os clubes europeus podem estar querendo abrir vagas nas suas cotas de jogadores extrangeiros em benefício de africanos e hispano-americanos, às custas dos brasileiros.
Tudo isso são hipóteses, gostaria de ver dados mais concretos para ter uma opinião mais sólida a respeito do que está acontecendo. Provavelmente, o déficit na balança comercial do futebol brasileiro se deve a combinações entre as três hipóteses, mas qual delas seria a mais importante?
Regulating nicotine is a cat and mouse game
Há 2 horas
Um comentário:
Vou dar uns palpites. Chutômetro ligado:
1)O problema, Ricardo, é que os clubes europeus já estavam em crise antes da crise econômica. Todos os grandes clubes - Inter de Milão, Milan, Barcelona, Manchester United - estão falidos, assim como os times brasileiros - e, assim coomo os times brasileiros, só não fecham porque são times de futebol, não empresas. O dinheiro pra fazer contratações, digamos, de "segundo escalão" está muito, mas muito escasso.
2) Não sei se a crise técnica do futebol brasileiro é explicável somente em termos do futebol brasileiro em si. O fato é que vive-se, atualmente, um momento bem miserável no futebol: o craque da atual geração brasileira é Robinho (compare-se com Romário ou Ronaldo), e mesmo ele é um jogador muito melhor que qualquer destaque italiano ou alemão no momento. O Messi pode ser um gênio, mas a excepcionalidade dele não pode fazer com que não se perceba a capenguice de seus companheiros de seleção. Alguém ousaria afirmar que a seleção espanhola de 2010 venceria a seleção brasileira de 2002 ou a francesa de 1998?
Postar um comentário