Dracula, de Bram Stoker, é um livro famoso por ter introduzido a figura do vampiro como símbolo da maldade nos contos de terror. Stoker reuniu aspectos de diversas lendas da Europa e do Oriente Médio sobre mortos-vivos que se alimentariam de sangue humano e os sintetizou na figura do Conde Drácula, o vilão dessa história. Destaque para o fato de que as características do vampiro criado por Stoker tornaram-se mais conhecidas, tanto na literatura e no cinema, como na mente do público em geral, do que as lendas que o inspirou. Por exemplo, o vampiro é quase imortal, pode se transformar em animais noturnos (como o morcego e o lobo), dorme durante o dia em sua tumba, e se levanta à noite e, é claro, necessita de sangue humano para se alimentar e preservar a sua juventude.
A primeira impressão que a narrativa proporciona é a sua complexidade. Dracula não apresenta nenhum personagem principal - até mesmo o Conde Dracula, que dá seu nome ao título do livro só aparece no começo e no final do livro. A narrativa consiste em uma grande sucessão de artigos de diários, memorandos e recortes de jornais por parte dos diversos personagens da história. Ou seja, nós lemos cada passagem da história de acordo o ponto de vista do personagem que a descreve, sendo que cada qual apresenta sua própria personalidade e visão de mundo (desde a romântica Mina até o médico frio e racionalista Dr. Seward). Tal aspecto da narrativa é profundamente inovador para a época (Dracula foi escrito em meados de 1895); todavia, torna a narrativa "quebrada", isto é, a seqüência principal de fatos que constituem o enredo da história é intercalada por opiniões e observações individuais por parte de cada personagem que vai a descrevendo. Porém, com este estilo narrativo, o autor permite aos leitores acompanhar toda a ansiedade e o medo apresentado por cada personagem ao longo da história de acordo com o seu próprio ponto de vista.
Apesar de ser descrito como um "romance gótico" pela crítica convencional, Dracula apresenta algumas características que o diferenciam da literatura byroniana (ou ultra-romântica, ou, no Brasil, a segunda geração romântica). As quebras da narrativa são um claro elemento modernista da obra, por exemplo. Além disso, a narrativa caracteristicamente descritiva - ainda que sob o foco de diversos narradores - torna o livro próximo da chamada literatura impressionista (como o livro O Ateneu, do brasileiro Raul Pompéia). Porém, o componente romântico da obra predomina, sobretudo pela descrição idealizada do comportamento de cada personagem, como, principalmente, a dualidade entre o caráter cruel, mundano, predador e sensual do vampiro com o caráter bondoso, quase que inocente, corajoso e justiceiro (os gentlemen vitorianos britânicos, acompanhados pelo Dr. Van Helsing) dos personagens que combatem Dracula.
Ressalto que a narrativa é bastante complexa. Talvez muitas das minhas impressões sobre a obra não coincidam com a crítica literária ortodoxa.
sábado, fevereiro 25, 2006
Dracula - Bram Stoker
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