domingo, fevereiro 05, 2006

Globalização - George Soros

Em um mundo que cada vez mais se polariza entre extrema-direita ultra-liberal, extrema esquerda comunista-chavista e fundamentalistas religiosos, é reconfortante descobrir que ainda existem pensadores práticos, pragmáticos e inovadores como George Soros.

Para quem não o conhece, George Soros é economista formado na London School of Economics, além de ser o economista mais rico do mundo (sua fortuna é de cerca de 10 bilhões de dólares), graças as suas operações nos mercados financeiros. Mas Soros não é "apenas" o maior investidor financeiro do mundo: é um economista cuja influência percorre diversas áreas da ciência, além de ser filantropo, filósofo político, crítico do pensamento econômico tradicional e ativista social-democrata.

Soros critica abertamente os extremos políticos - direita e esquerda - afirmando que ambas as posições (fundamentalismo de mercado e ativismo anti-globalização) são falhos no sentido de resolver os problemas que o mundo globalizado vem apresentando aos países e às populações. Ao invés de criticar as instituições econômicas internacionais (FMI, Banco Mundial) apenas pela sua existência, seja pela sua influência intervencionista sobre os mercados, seja pelo fato de que são controladas pelos países desenvolvidos, Soros questiona COMO tais instituições devem agir de modo a garantir o bem-estar das populações, principalmente dos países subdesenvolvidos. O autor bate de frente na teoria econômica tradicional ao afirmar que os mercados financeiros são reflexivos, isto é, não tendem a nenhum ponto de equilíbrio observável, pois operam apenas com expectativas, e não com ativos tangíveis. Essa característica torna os mercados financeiros instáveis por sua própria natureza, e exigem intervenção externa para garantir alguma estabilidade, principalmente em economias de instituições mais frágeis. Em um mundo globalizado, a regulação econômica dos mercados financeiros deve ser realizada pelas próprias instituições econômicas internacionais, como o FMI, a OMC, o BIRD, fortalecendo o seu papel sobre as economias nacionais.

Em primeiro lugar, o autor propõe a emissão de títulos por parte do FMI (Direitos Especiais de Saque), comprados pelos países desenvolvidos, e cujo montante seria repassado aos países subdesenvolvidos, de modo a aumentar a capacidade de investimento de seus governos. Obviamente, a gestão desses recursos seria feita por um comitê internacional dentro do FMI, de modo a priorizar repasses para governos que adotem políticas econômicas sensatas e respeitem os direitos civis.

Em segundo lugar, o autor afirma que o Banco Mundial, responsável por recursos internacionais para investimentos de longo prazo, não deve se reter a emprestar recursos apenas aos governos nacionais, devido ao perigo da corrupção e do clientelismo político nos países subdesenvolvidos. O Banco Mundial deveria expandir a sua atuação de modo a se aprximar não apenas dos governos regionais e locais, como também das próprias instituições da sociedade civil, como as ONGs e as empresas privadas. Além disso, deve prestar assessoria não apenas financeira, mas também técnica, de modo a garantir o uso mais racional desses recursos.

Em terceiro lugar, Soros defende que os países membros da OMC adotem padrões comuns de respeito aos direitos trabalhistas e à proteção do meio ambiente, evitando que a saudável competição internacional nos mercados de bens físicos degrade para o uso de tecnologias poluidoras e à perda de bem estar dos trabalhadores como forma de reduzir custos de produção (tal como a China vem fazendo hoje em dia).

Em suma, Soros propõe a chamada "Sociedade Aberta" como nova forma de organização social. A Sociadade Aberta conteria alguns princípios já conhecidos, como a democracia representativa e a economia de mercado, e também princípios inovadores, como a importância da moralidade e da ética na tomada de decisões econômicas e políticas. O objetivo da sociedade aberta é reconhecer que a perfeição não está ao alcance das instituições humanas (incluindo o mercado, o Estado e a democracia), e garantir a liberdade de crítica e questionamento de qualquer aspecto do sistema, de forma a sempre melhorá-lo.

Não é necessário concordar com todas as idéias de Soros (por exemplo, a hipótese dos Direitos Especiais de Saque, do FMI, me parece uma tentativa de expansão monetária, que poderia trazer conseqüências desastrosas em muitos países, como o Brasil). Mas a importância do seu pensamento está exatamente no seu caráter inovador e atuante, no sentido de buscar soluções para os problemas da sociedade contemporânea. É a prova viva de que a cada vez mais desacreditada social-democracia está se recuperando e se inovando, de modo a se apresentar novamente como sistema econômico-social-político capaz de aliar o dinamismo econômico com a garantia das liberdades individuais e a busca do bem-estar social e do desenvolvimento econômico.

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