Mesmo com o escândalo do mensalão - assunto ainda inesgotável - e o medíocre crescimento do PIB brasileiro em 2005, o presidente Lula continua sendo o favorito para vencer as eleições presidenciais nesse ano. Mas por quê será? Tenho algumas opiniões formadas a respeito:
Em primeiro lugar, devido ao posicionamento do presidente frente a crise. Ao invés de participar ativamente no fogo central do escândalo do valerioduto (e do mensalão, e dos dólares na cueca, etc.), seja para defender seus aliados, seja para perseguir os corruptos, Lula preferiu se manter o mais afastado possível da crise, como se não soubesse de nada. Felizmente para ele (e infelizmente para o país), a opinião pública mordeu a isca, e desvinculou o presidente dos escândalos envolvendo seu governo. Além disso, os personagens principais da crise - Roberto Jefferson, José Dirceu, Delúbio Soares, Sílvio Pereira, José Genoíno - simplesmente tomaram chá de sumiço (o que aconteceu com eles?), certamente bem negociadamente ($$$) entre as partes conflitantes.
Em segundo lugar, apesar do baixo crescimento econômico, a inflação brasileira foi muito baixa em 2005, o que deu apoio popular à política econômica do governo. Para a maior parte da população brasileira, PIB é uma sigla sem sentido, isto é, não é percebido em suas vidas, pelo menos no curto prazo. Já a inflação, por mexer no poder de compra do salário real e da poupança das famílias, tende a ser menos tolerada pelo eleitorado. Em outras palavras, quem se preocupa de fato com o desempenho do PIB brasileiro são os estudiosos e empresários em geral; a maior parte da população brasileira (e o eleitorado potencial) pensa apenas no poder de compra de sua renda.
Por fim, em terceiro lugar, o governo Lula tem conseguido, marginalmente, reverter o problema da má distribuição de renda no Brasil, o que lhe dá prestígio entre as camadas mais pobres da população. O problema é que o governo federal vem enfrentando a concentração de renda via programas assistencialistas para a população mais pobre. Tais programas, como o Bolsa Família, são economicamente e moralmente justificáveis para melhorar as condições de vida de uma parcela da população brasileira, mas seu impacto atua apenas no curto prazo, isto é, funciona enquanto durar o programa. Falta ao governo a realização de programas estruturais de redistribuição de renda, capazes de melhorar as condições de vida da parcela miserável da população sem os tornar dependentes da ajuda do governo. Tais programas de longo prazo envolveriam, indubitavelmente, controle de natalidade, apoio às micro e pequenas empresas (que geram mais empregos), ensino básico universal e de qualidade, saneamento de acesso universal, etc.
Os livros de 2024
Há 15 horas
Nenhum comentário:
Postar um comentário