"O próprio Voldemort criou seu pior inimigo, como fazem os tiranos de todo o mundo! Você tem idéia do medo que os tiranos sentem do povo que eles oprimem? Todos eles percebem que, um dia, entre suas muitas vítimas, com certeza haverá uma que se rebelará e revidará!" (ROWLING, pg. 400);
Bom, após passar um bom tempo em cima da literatura clássica, especialmente sobre os contos de ficção do século XIX, já era hora de publicar uma crítica referente a um livro recente.
A saga de Harry Potter, como todos já devem estar fartos de saber, é uma sensação mundial no mundo da literatura de ficção, com milhões de exemplares vendidos de cada volume. O sucesso da série já faz com que alguns críticos já torçam o nariz para ela, afirmando que se trata de "literatura comercial" (do mesmo modo que se critica as músicas e os filmes do momento). O problema é definir o que é literatura comercial; ao contrário da música e do cinema (mais precisamente, os filmes que passam na televisão), a literatura não está ao acesso das grandes massas, e cada vez menos pessoas, mesmo das classes sociais mais altas, se dedica à leitura como um hobby.
Entre as razões que tornam Harry Potter um fenômeno mundial de vendas, destaco, em primeiro lugar, uma técnica de narrativa aplicada pela autora, que se aproxima, no meu entender, dos seriados de televisão (não faça cara feia, vou explicar...). A autora expõe na série uma grande quantidade de personagens diferentes, cada um com sua própria personalidade e seus objetivos de vida, o que cria dentro do universo do livro diversas histórias paralelas, estimulando a curiosidade do leitor. Além disso, os capítulos dos livros se emendam, isto é, algumas das dúvidas que se levantam no final de um capítulo são resolvidas no capítulo seguinte, o que torna cada livro "grudante", difícil de parar de ler. Por fim, destaco o fato de os personagens irem evoluindo ao longo dos livros da série à mesma medida que os seus leitores crescem (a autora escreve um livro por ano, e cada livro descreve um ano de vida dos personagens), o que afeta não apenas as características físicas dos personagens, mas também as psicológicas, de modo que os leitores facilmente se identifiquem com eles.
O Enigma do Príncipe é o sexto livro da série; Harry Potter e seus amigos são adolescentes de 16/17 anos, enfrentando problemas bastante específicos a sua idade: alterações bruscas de humor, brigas, excesso de auto-confiança, dúvidas sentimentais, primeiros sofrimentos de amor e, é claro, a volatilidade dos namoros e das "ficadas" entre os personagens. Ou seja, a autora aproxima tenuemente a fantasia "clássica" presente desde os primeiros livros da série aos problemas atuais dos seus leitores.
Todavia, a narrativa da autora deixa de lado boa parte da alegria e da fantasia presentes nos primeiros livros da série: os ambientes, principalmente Hogwarts (a escola dos bruxos), tornam-se sombrios, misteriosos, passando para o leitor o clima de ansiedade (devido a guerra dos bruxos da Ordem da Fênix contra os Comensais da Morte, que vinham provocando muitas vítimas fatais) que aflige todos os personagens do livro, o tempo inteiro. Além disso, a história já começa misteriosa, com a apresentação de um novo Ministro da Magia, o diretor de Hogwarts busca convencer um antigo professor da escola a voltar a dar aulas, Harry Potter recebe um livro desse antigo professor com feitiços estranhos, assinados por um tal de "Príncipe Mestiço". Talvez a sutil mudança no estilo descritivo faça parte de uma estratégia da autora de voltar o livro para o público adolescente, que são os seus leitores originais de seis anos atrás.
Ok, repeti várias vezes que o livro parece voltado para um público jovem e específico. Mas, para quem já superou esse público (como eu), o enredo continua sendo extremamente interessante! O lado "adolescente" da trama (brigas entre amigos, confusões amorosas) tem destaque paralelo à trama, e a resolução dos mistérios é capaz de proporcionar muitas horas de diversão a leitores de todas as idades.
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Há 47 minutos
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