segunda-feira, abril 23, 2007

Memórias - Primeiro Dia de Aula na Graduação da UFRGS

Esse foi um tema de conversa entre os três membros da República Gaúcha do CEDEPLAR (Eu, Bruno e Rubens) em um boteco da Cidade Nova, regada a cerveja. Mesmo vários anos após a entrada na faculdade (5 anos para mim, 7 ou 8 anos para eles), relembramos os primeiros dias como se tivessem ocorrido na semana passada.

Meu primeiro dia de aula na UFRGS aconteceu em uma segunda-feira, em maio de 2002. A aula era para começar logo depois do jogo entre Brasil e Turquia na abertura da Copa do Mundo da Ásia, isto é, ali pelas 8 da manhã. Eu me lembro que fazia um clima nublado e escuro, aquela umidade morna muito característica de Porto Alegre, e que eu não sinto a menor saudade agora vivendo em Belo Horizonte.

Cheguei na FCE acho que meia hora antes. Não sabia qual era a sala de Introdução à Economia, mas sabia que ficava numa tal de Ëscola Técnica de Comércio". Perguntei para os porteios da faculdade. Obviamente, eles não sabiam, e voltaram a dormir logo depois (o cheiro deles, de cigarro misturado com suor e café velho me causou repugnância). Em seguida, perguntei para um cara de terno, gravata e pasta de couro que estava no saguão da FCE. Me lembro que o chamei de "senhor", achando que ele era um professor. Depois, vi que ele era estudante de Administração, e meu colega em Introdução à Contabilidade. O cara me falou: "Olha, pergunta para o cara do bar, que ele é quem mais sabe das coisas por aqui."

Então, entrei no bar do Fabiano (fundos do saguão da FCE) e perguntei. Incrivelmente para mim, ele sabia de cor o lugar da Escola Técnica de Comércio e o número da sala de Introdução à Economia, e ainda me falou como chegar lá (naquela época, ainda tinha aquela grade separando os prédios da Economia e do Direito da UFRGS). Atravessando um corredor de lodo (também não tinham colocado piso de pedra ao redor da FCE), cheguea a tal Escola Técnica, um cortiço de várias salas de aula paralelas, localizado nos fundos da FCE, entre um estacionamento e um depósito de lixo. De cara, vi que o cheiro e o barulho do lugar não correspondiam ao que eu esperava de uma universidade federal (más influências do Colégio Anchieta).

Cheguei na porta da sala de aula, tinha um sujeito gordinho sentado na mesa do professor a fazer discursos para a turma. Pedi autorização para entrar, pois estava atrasado, e ele prontamente me concedeu. Só que ele não era professor, era um colega meu, de histórias muito famosas pela faculdade, que será carinhosamente chamado de X nesse post. Pois bem, mal entrei na sala e sentei-me ao lado de um colega chamado Mauro (que se tornou um dos meus melhores amigos em toda a graduação), e X soltou sua primeira pérola: "Agora que chegou mais gente, vamos começar uma nova rodada de apresentações. Meu nome é X, tenho 22 anos, sou de família descendente de russo com polonês e eu danço polka". Em seguida, me apresentei: "Meu nome é Ricardo, tenho 17 anos e sou colorado." Os demais colegas preferiram, assim como eu, se apresentar com nome idade e time de futebol, sem entrar em detalhes de origem familiar e habilidades com dança.

A professora de Introdução à Economia não apareceu (um professor matar aula? Na UFRGS? Onde já se viu? Assim pensamos toda a turma...), e todos os colegas conversamos bastante, criando nossos primeiros laços de amizade. Me lembro que estavam lá o Mauro, o Matheus, o Rodrigo, o Rafael, a Rafaela Grazziotin (famosa jornalista do RS, e muito amiga minha), o André, a Luana, o Julius, o Oliver, o Fabiano (jornalista da Zero Hora), o Peteffi, a Luciana, e um senhor de cerca de quarenta anos chamado Cândido Ernesto, que fez um discurso sobre o esforço para voltar a estudar depois de várias décadas. Detalhe que ele sumiu da faculdade no segundo semestre do curso.

Às 9:30 da manhã nos dirigimos para a sala 22 da FCE (mas que memória, hein???) para a aula de Cálculo Diferencial Integral I. Cálculo I, mesmo tendo uma matéria trivial comparado com a matemática que estou vendo agora, já deu uma boa idéia das aulas de matemática pós-colégio: páginas e mais páginas de caderno para copiar, milhares de demonstrações e exemplos, e, quem quiser fazer exercícios, pegue o manual e faça em casa porque o gabarito está no livro. Me assustei com o ritmo da aula, mas já estava esperando isso.

Às 11:10 da manhã, voltei caminhando para casa com o Peteffi e X, que ficou o tempo todo contando a história de sua família e da Rússia, prendendo nossa atenção.

Os demais dias do primeiro semestre da graduação não me trazem tantas lembranças. No segundo dia, conheci colegas e professores novos, ainda achava estranho ter cada aula em uma sala (ou mesmo prédio) diferente, com uma turma diferente, envolvendo alunos de Economia, Contábeis, Atuariais e Administração, conheci o RU, viciei-me em café preto, comecei a jogar sinuca no DAECA (ensinado pelos tablemasters Éverton e Risco), levei trote (e até que gostei).

Outro dia escrevo mais lembranças antigas da UFRGS. Mas, é verdade, parece que tudo isso aconteceu na semana passada.

quinta-feira, abril 19, 2007

Enfim, Bolsista

Hoje eu tirei um extrato bancário, e, para minha surpresa, vi um depósito de 940 reais da Fapemig. Ou seja, minha bolsa saiu, com apenas 19 dias de atraso (e olhem que já atrasou 3 meses, em anos anteriores)!

Agora, enfim, posso melhorar meu padrão de vida, ou, microeconomicamente falando, como minha reta de restrição orçamentária deslocou-se paralelamente para a direita com o aumento da renda, minha escolha racional pode atingir cestas de consumo em curvas de indiferença superiores.

Meu primeiro passo a uma melhoria de qualidade de vida será comprar um travesseiro novo, ainda hoje. O meu atual comprei por 4,90 em um balaio aqui no centro de BH, e, com apenas uma semana de uso, seu formato ficou mais achatado que uma pizza. É como se eu dormisse com a cabeça em cima apenas de uma fronha de travesseiro. Além disso, é hora de melhorar meus hábitos alimentares (viu, Juliana?), sair nos botecos com a Izabela com menos preocupação (agora minha restrição é mais de tempo do que de dinheiro), procurar uma cama, e, para os momentos de tensão, uma garrafa de rum Bacardi Carta Oro não vai cair mal...

Bom, uma das grandes tensões do semestre já se resolveu!

segunda-feira, abril 09, 2007

Novos Clássicos X Novos Keynesianos

A seguir, um parágrafo de uma resenha feita pelo Diretor de Pesquisas em Economia do FMI, Kenneth Rogoff, sobre o modelo de overshooting cambial do Dornbusch. Rogoff é doutor pelo MIT, e, portanto, novo-keynesiano (tal como o Paul Krugman), assim como os economistas de Harvard (tipo o Jeffrey Sachs). Os arqui-inimigos dos novos-keynesianos, nos Estados Unidos, são os novos-clássicos (Lucas, Sargent, Prescott, ...) da Universidade de Chicago.

Em termos técnicos, os novos-keynesianos acreditam no poder ativo da política fiscal e monetária no curto prazo (mesmo que muitos não defendam seu uso recorrente pelas autoridades) e existência de rigidez de preços e de salários no curto prazo devido à presença de imperfeições nos mecanismos de mercado. Imperfeições essas que são, na verdade, as próprias características organizacionais de cada mercado, e que, além disso, constituem em fontes causadoras e propagadoras de choques econômicos, gerando ciclos. Os novos-clássicos, por sua vez, defendem a impotência da política econômica, neutralidade da moeda no curto prazo, ciclos reais de negócios (os ciclos econômicos são entendidos como choques tecnológicos), perfeição dos mercados e aproximação do equilíbrio macroeconômico com o equilíbrio geral microeconômico. Os novos-clássicos dominaram a cena do mainstream macroeconômico dos anos 70 até o final dos anos 90, quando os modelos novos-keynesianos passaram a tomar cada vez mais destaque, e os mesmos acabaram por incorporar a formalização teórica e metodológica rígida do novo-classicismo. Atualmente, os manuais de macroeconomia estudados nos cursos de graduação (Sachs, Krugman, Mankiw, Blanchard) são predominantemente novos-keynesianos.

Parágrafo traduzido:

Existem muitos de nós, na minha geração de macroeconomistas, que ainda carregam as cicatrizes de não estarem autorizados a publicar artigos com modelos de rigidez de preços durante os anos de repressão novo-clássica. Eu ainda me lembro de um café da manhã, na metade dos anos 80, com um talentoso jovem macroeconomista de Barcelona, que seguia a escola de Chicago-Minessota (novos-clássicos). Ele firmemente acreditava nos modelos de ilhas de preços flexíveis de Lucas, e passou boa parte da refeição discursando sobre as inadequações do modelo de Dornbusch: "Que lixo! Quem ainda escreve modelos com preços e salários rígidos! Não há microfundamentações. Por que os macroeconomistas pensam que um modelo como esse tem alguma relevância prática? É ridículo!" Mais tarde, o tema da conversa mudou, e eu perguntei, "Então, como vocês estão indo em recrutamento (de professores e pesquisadores)? A universidade de vocês fez muitas mudanças.". O economista respondeu sem hesitar: "Oh, é muito difícil para as universidades espanholas recrutar profissionais do resto do mundo hoje em dia. Com a recente depreciação do câmbio, nossos salários (que permaneceram fixos em termos nominais) ficaram totalmente não-competitivos". E assim é a vida.

O artigo do Rogoff, completo e em inglês, está aqui.

Pelo visto, não é só no Brasil que os economistas vivem obscecados com guerras teóricas contra seus "arqui-inimigos" eleitos por eles mesmos e suas escolas de pensamento. Mas ainda acho que a histórica rivalidade no Brasil de monetaristas (ortodoxos) e estruturalistas (cepalinos, heterodoxos), é mais violenta.

De qualquer jeito, recomendo a todos a leitura da resenha. É bastante informal e intuitiva, e o autor escreve várias passagens de lembranças de sua vida acadêmica.

terça-feira, abril 03, 2007

Endereço e Telefone em Belo Horizonte

Para contato:

Endereço:Rua Cardeal Stepinac 221/401, CEP 31170-220, Bairro Cidade Nova, Belo Horizonte, MG.

Fone:
Só para quem me conhece pessoalmente! (perguntar por e-mail)

segunda-feira, abril 02, 2007

Mercado Mobiliário de Belo Horizonte - Um Exemplo de Eficiência

Aqui em Belo Horizonte, conforme meus colegas de mestrado me falaram, tem uma avenida (Silviano Brandão) que é um verdadeiro cluster de varejo de móveis. Sério,. no início da avenida tem uma faixa enorme na rua, autenticada pela prefeitura, escrito Ävenida Silviano Brandão - Pólo Mobiliário". Metade dessa avenida é dedicada a móveis novos, enquanto que a outra metade é ocupada por lojas de móveis e eletrodomésticos usados (popularmente copnhecidas como "Topa Tudo").

Essas lojas "Topa Tudo" são muito, mas muito numerosas ao longo da rua, e cada uma ocupa um espaço impressionantemente pequeno, algo como uma ou duas salas de uma galeria. Internamente, são abarrotadas de móveis, tudo misturado, incluindo desde cadeiras de dentista até lavadoras de roupa, umas por cima das outras. Fui lá sábado de manhã para comprar uma escrivaninha de estudo, e encontrei uma legal (em termos de custo-benefício) embaixo de uma pilha de móveis velhos. E aí que vem a parte mais eficiente desse sistema comercial: escolhi a mesa, paguei a vista, na hora, e a funcionária da loja chamou um motorista de uma das muitas picapes (velhas) que ficam estacionadas ao longo de toda a rua. O motorista botou a escrivaninha na caçamba, me pediu o bairro em que moro, pôs um preço (deu 15 reais), e me levou pra casa, com a mesa, na mesma hora!

Pois é, lá em Porto Alegre, todos estamos acostumados a ter que contratar empresas de carreto para transportar móveis, sendo que sempre são muito caras e os móveis sempre atrasam - sendo que temos que perder vários dias em casa esperando a encomenda que não chega. Esse sistema mineiro de taxi-picape-transportador é muito mais rápido, fácil e eficiente.