segunda-feira, abril 09, 2007

Novos Clássicos X Novos Keynesianos

A seguir, um parágrafo de uma resenha feita pelo Diretor de Pesquisas em Economia do FMI, Kenneth Rogoff, sobre o modelo de overshooting cambial do Dornbusch. Rogoff é doutor pelo MIT, e, portanto, novo-keynesiano (tal como o Paul Krugman), assim como os economistas de Harvard (tipo o Jeffrey Sachs). Os arqui-inimigos dos novos-keynesianos, nos Estados Unidos, são os novos-clássicos (Lucas, Sargent, Prescott, ...) da Universidade de Chicago.

Em termos técnicos, os novos-keynesianos acreditam no poder ativo da política fiscal e monetária no curto prazo (mesmo que muitos não defendam seu uso recorrente pelas autoridades) e existência de rigidez de preços e de salários no curto prazo devido à presença de imperfeições nos mecanismos de mercado. Imperfeições essas que são, na verdade, as próprias características organizacionais de cada mercado, e que, além disso, constituem em fontes causadoras e propagadoras de choques econômicos, gerando ciclos. Os novos-clássicos, por sua vez, defendem a impotência da política econômica, neutralidade da moeda no curto prazo, ciclos reais de negócios (os ciclos econômicos são entendidos como choques tecnológicos), perfeição dos mercados e aproximação do equilíbrio macroeconômico com o equilíbrio geral microeconômico. Os novos-clássicos dominaram a cena do mainstream macroeconômico dos anos 70 até o final dos anos 90, quando os modelos novos-keynesianos passaram a tomar cada vez mais destaque, e os mesmos acabaram por incorporar a formalização teórica e metodológica rígida do novo-classicismo. Atualmente, os manuais de macroeconomia estudados nos cursos de graduação (Sachs, Krugman, Mankiw, Blanchard) são predominantemente novos-keynesianos.

Parágrafo traduzido:

Existem muitos de nós, na minha geração de macroeconomistas, que ainda carregam as cicatrizes de não estarem autorizados a publicar artigos com modelos de rigidez de preços durante os anos de repressão novo-clássica. Eu ainda me lembro de um café da manhã, na metade dos anos 80, com um talentoso jovem macroeconomista de Barcelona, que seguia a escola de Chicago-Minessota (novos-clássicos). Ele firmemente acreditava nos modelos de ilhas de preços flexíveis de Lucas, e passou boa parte da refeição discursando sobre as inadequações do modelo de Dornbusch: "Que lixo! Quem ainda escreve modelos com preços e salários rígidos! Não há microfundamentações. Por que os macroeconomistas pensam que um modelo como esse tem alguma relevância prática? É ridículo!" Mais tarde, o tema da conversa mudou, e eu perguntei, "Então, como vocês estão indo em recrutamento (de professores e pesquisadores)? A universidade de vocês fez muitas mudanças.". O economista respondeu sem hesitar: "Oh, é muito difícil para as universidades espanholas recrutar profissionais do resto do mundo hoje em dia. Com a recente depreciação do câmbio, nossos salários (que permaneceram fixos em termos nominais) ficaram totalmente não-competitivos". E assim é a vida.

O artigo do Rogoff, completo e em inglês, está aqui.

Pelo visto, não é só no Brasil que os economistas vivem obscecados com guerras teóricas contra seus "arqui-inimigos" eleitos por eles mesmos e suas escolas de pensamento. Mas ainda acho que a histórica rivalidade no Brasil de monetaristas (ortodoxos) e estruturalistas (cepalinos, heterodoxos), é mais violenta.

De qualquer jeito, recomendo a todos a leitura da resenha. É bastante informal e intuitiva, e o autor escreve várias passagens de lembranças de sua vida acadêmica.

8 comentários:

Risco disse...

hauhauhauahuahauhau
muito boa

Risco disse...

legal teu curriculo lattes, gostei da referencia ao DAECA.

Tem que por tua palestra no ERECO. Não só como participante mas como palestrante tambem.
Abraço

Ricardo Agostini Martini disse...

Tá ali, no ítem "demais tipos de produção técnica". Só que no Lattes não saiu que o trabalho foi apresentado no Ereco.

Thomas H. Kang disse...

E teu blog tá excelente! Quando tiver mais tempo, vou ver se leio melhor. Bom texto esse e bem escrito. Só não fui atrás do Rogoff mesmo.

izabela disse...

Eles são muito simpáticos!
Encontrei com eles no onibus em Genebra a caminho de Paris.
O mundo é muito pequeno mesmo...

Risco disse...

bota uma foto nesse Lattes, :)

izabela disse...

escreve um post aí no seu blog sobre o comida de buteco!

izabela disse...

http://www.comidadibuteco.com.br/