A obra "Da Definição de Economia Política e do Método de Investigação Próprio a Ela" (1836), do inglês John Stuart Mill é considerada o primeiro texto que busca explicar a natureza e o método da Economia como uma ciência separada, isto é, independente da então chamada filosofia moral (que incluía, além da Economia Política, o Direito e a Ciência Política). Nesse texto, um grande clássico da história do pensamento econômico, o autor busca definir a problemática fundamental da Economia Política sendo influenciado tanto pelo método histórico-indutivo de Adam Smith, como pelo método dedutivo de David Ricardo, isto é, Mill formula a sua própria hipótese para a metodologia da Economia utilizando elementos, aparentemente antagônicos, desses dois autores, mas sem pender para nenhum lado.
Em princípio, Mill procura definir o que é Economia Política. Para isso, o autor procura, antes de dar a sua definição, explicar o que não é Economia Política:
Em primeiro lugar, Economia Política não é o estudo de como que uma determinada nação fica rica. Essa associação representa uma confusão entre Ciência e Arte, presente em muitos pensamentos. Ciência é definida pelo autor como um conjunto de relações lógicas entre fenômenos observados e suas leis gerais, ao passo que Arte é definida pelo mesmo como um conjunto de regras formais para a conduta, cisando produzir algum fim. Por isso, o estudo sobre o enriquecimento das nações é uma arte política, de fato, derivada da Economia Política, mas que não a define por si só.
Em segundo lugar, Economia Política não é o estudo das leis que regulam a produção, distribuição e consumo da riqueza. Para o autor, apesar dessa idéia tratar verdadeiramente a Economia como Ciência, e não como Arte, o conceito de riqueza ali presente é muito vago. Mill, sob a ótica da Economia Política Clássica, conceitua a riqueza como um conjunto de bens úteis e agradáveis a humanidade que são produzidos, ou obtidos em geral, pelo trabalho, ou por algum outro meio de esforço. Por isso, um estudo completo sobre todas as forças que influenciam a produção de riqueza pela humanidade, devido à abrangência do próprio conceito de riqueza, incluiria todas as ciências físicas existentes. E, como para o autor uma ciência se caracteriza pela limitação de seu objeto de estudo, esse problema acabaria por anular a Economia como uma ciência independente das ciências físicas.
Para formular seu próprio conceito de Economia Política, Mill define o seu objeto de estudo como uma ciência moral, ou psicológica, e isso a afasta das ciências físicas. Isto é, a economia estuda o comportamento humano, as relações entre os fenômenos econômicos e as leis gerais da mente humana. Por isso, para um melhor estudo, deve-se considerar todas as leis físicas (chamadas pelo autor de "leis da matéria" que influenciam a produção como dadas. Além disso, o estudo da economia deve assumir a existência de um corpo social, isto é, de que o homem vive e age em união com homens semelhantes, em busca de objetivos comuns. Ou seja, a Economia Política é um ramo de um grande objeto de estudo que o autor define como "Economia Social", que procura estabelecer as leis das relações entre a conduta individual dirigida pela mente humana com as necessidades e as orientações do estado de sociedade ao qual o homem naturalmente se agrega. Mais especificamente, a Economia Política é, no sentido de pode ser delimitada como, o ramo da Economia Social (cujo conceito pode ser associado ao que hoje consideramos como Ciência Social) que estuda os fenômenos referentes à humanidade associados especificamente com a idéia de acumulação de riqueza.
Explicando melhor, Mill define como Economia Política o estudo das leis que governam o comportamento humano decorrente das hipóteses observadas de que o homem tem necessidades, e age de modo a procurar satisfazê-las, e que, para um dado nível de esforço, obter mais riqueza é sempre preferível a menos. Ou seja, nessa definição, é visível a influência ao mesmo tempo do indutivismo de Smith e do dedutivismo de Ricardo. Pois, a Economia Política estuda as leis que decorrem, isto é, são deduzidas, a partir de hipóteses dadas. Contudo, as hipóteses tomadas como verdadeiras para o autor não são abstrações filosóficas sobre o comportamento humano (tal como o conceito de racionalidade na posterior Economia Positiva Neoclássica), mas sim são verdades observadas, de que as pessoas têm necessidades e que gostam de riqueza como recompensa ao seu esforço, obtidas indutivamente.
Pela delimitação do objeto de estudo da Economia Política, Mill argumenta que as leis gerais obtidas pelo desenvolvimento dessa ciência se restringem a essa delimitação, isto é, dos fatos humanos relacionados à obtenção de riqueza, entendida como qualquer objeto que interessa ao homem e que é obtido em custa de algum esforço. Nas palvras do autor (1974, pg. 302), a Economia Política é "a ciência que traça as leis daqueles fenômenos da sociedade que se originam das operações combinadas da humanidade para a produção da riqueza, na medida em que aqueles fenômenos não sejam modificados pela procura de qualquer outro objeto".
O autor explica que certamente a procura pela riquezanão é o único fator que influencia o comportamento humano (e inclusive chama de "ridículos" os economistas que assim pensam). Para o autor, as ciências morais, dentro da qual existe a chamada Economia Social da qual a Economia Política é um ramo, têm a característica de suas leis agirem de forma combinada na realidade. Isto é, apesar de ser recomendável que cada ciência moral aborde uma possível base de influência no comportamento humano, é importante ter em mente que todas essas bases agem em conjunto, nos fenômenos reais. Tal efeito tem como conseqüência a impossibilidade de se realizar experimentos científicos para testar a validade das leis estudadas. Por isso, em qualquer conclusão tomada sob a ótica das ciências morais, sempre haverá um conceito de incerteza sobre as explicações e as previsões. Incerteza pelo fato de que o cientista nunca poderá estar certo de quais são todas as forças presentes no seu objeto de estudo, quais dessas forças são concorrentes ou agregativas, e quais são as predominantes para cada situação. Isso faz com que as causas particulares a cada situação estudada tenham papel fundamental como força de ação, e seu papel isolado pode inclusive neutralizar as causas gerais.
Por isso, para o autor, um cientista moral, tal como um economista político, nunca será algo como um profeta, pois nunca terá a informação plena de todas as causas particulares que complementam as cuasas gerais conhecidas em cada situação estudada, e qualquer previsão tomada sob essa ótica será sempre a observação de tendências, obtidas sob uma incerteza imensurável e natural ao conhecimento humano.
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Há 50 minutos
5 comentários:
é bom esse tema da metodologia
quando tiver mais, manda aí
Abraço
belo post seu martini!
Depois de 2 meses só lendo filósofos, até que enfim a cadeira de Metodologia chega à economia!
Semana que vem, vai ter Friedman, Hutchinson e Robins.
Muito bom, gostei muito do post.
Muito bom,
me ajudou bastante
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