Atenção: este post é um DESABAFO. Talvez não seja de interesse público.
Observando o estilo de dissertação do autor do blog Köenigsberg, que publicou um dos textos mais interessantes sobre a metodologia da economia que eu já li, também acho conveniente iniciar a discussão sobre o tema descrevendo a própria trajetória do autor como estudante de ciências econômicas. Portanto, esse post é uma breve (espero!) biografia acadêmica minha.
Me graduei em economia em agosto de 2006, pela UFRGS. Para mim, assim como é comum entre os jovens estudantes gaúchos, principalmente os portoalegrenses, isso não foi uma opção. Somos todos condicionados, desde o primeiro grau (atual ensino fundamental), a acreditar cegamente que o nosso "Nirvana" acadêmico e profissional é passar no vestibular para a Universidade Federal. As pessoas, em geral, no Rio Grande do Sul têm uma visão sobre essa instituição algo como uma entidade metafísica capaz de transformar todos os que nela ingressam em super-homens, de modo que, para quem passa no vestibular, é algo como produtos das Organizações Tabajara: "Acabaram-se todos os seus problemas!". Essa doce ilusão tende a evaporar logo nas primeiras semanas de aula do primeiro semestre, na grande maioria dos cursos.
Sim. eu escolhi cursar economia. Minha decisão final para o vestibular ficou entre cursar isso ou ciência da computação. Optei por economia por ser uma ciência social aplicada, isto é, olhando o currículo do curso na internet, me pareceu um curso com matérias interessantes, estudos divertidos (leituras de autores clássicos e temas contemporâneos sobre as matérias), e com um bom enfoque no mercado de trabalho. Isto é, um curso que me parecia útil e agradável, ao contrário de ciência da computação, cujo currículo era demasiado técnico, as matérias não me despertavam curiosidade, e o que realmente me interessaria seria o título e o embasamento prático sobre o assunto. Mas eu não escolhi um curso por "heterodoxia" ou "ortodoxia" de suas linhas de pensamento. Eu sequer sabia algo sobre isso antes do terceiro semestre da faculdade, quando a teoria econômica começa a ser estudada com maior profundidade! Além do mais, como já dito, isso pode ser relevante no Rio de Janeiro (UERJ e UFRJ, ou PUC e FGV?), em São Paulo (Ibmec ou PUC?, com a USP no meio) ou mesmo no Espírito Santo, em que os mais propensos à ortodoxia cruzam a fronteira com Minas para se juntar à UFV, mas no Rio Grande do Sul, isso não faz sentido. Além disso, eu achava que a economia apresentava um método mais indutivo, próximo à administração em termos micro, e à geografia humana em termos macro.
Ao longo do curso de minha graduação, de 2002 a 2006, minhas idéias fluiram e mudaram muito com o tempo e com os estudos (daí veio a sugestão para o nome desse blog). A partir do terceiro semestre, eu alternei muito entre ser simpatizante da ortodoxia ou da heterodoxia (já escrevi post sobre isso no ano passado), e os meus professores tiveram uma papel fundamental para minhas escolhas, tanto positivamente, como negativamente. Assim, posso considerar que tive uma graduação plenamente plural em termos metodológicos, e isso me agradou bastante. E minhas alternâncias de idéias me influenciaram a estudar bastante todas as opiniões divergentes.
Sobre a qualidade de minha graduação, confesso que, mesmo sendo minoria entre os que se formam, gostei bastante do curso. Sei que sou minoria principalmente devido à heterogeneidade de interesses por parte dos alunos de economia (já postei uma análise caricatural e humorística sobre isso). Assim, alunos ortodoxos tendem a não gostar do curso por ser "heterodoxo demais". Os heterodoxos, acham o curso "muito ortodoxo". Os estudantes de interesses mais técnicos-profissionalisantes, que ignoram diferenças entre essas duas correntes metodológicas, e a própria metodologia em si, e que consistem em uma parcela considerável da massa de alunos de economia, parecem ter asco a qualquer teoria econômica mais abstrata, porque "não é isso que o mercado quer". "Melhor ter cursado contábeis ou administração!". Além, é claro, daqueles alunos mais perdidos academicamente, cujo único interesse no curso é o título (ou nem isso!), e a simples presença em sala de aula já é vista como um tormento. Em suma, cada um tem os seus motivos, mas pouca gente gosta de ser um bacharel em economia pela UFRGS.
Eu, por outro lado, gostei do curso por uma série de motivos, além do pluralismo teórico que acompanhou bem a minha cabeça "essa metamorfose ambulante", e de saber que o curso de graduação em economia melhor que a UFRGS mais próximo estaria ou em São Paulo, ou em Buenos Aires. Primeiro, achei que o curso me deu uma boa base teórica convencional (Microeconomia com o Varian, Macroeconomia com o Sachs, Econometria com o Gujarati, Internacional com o Krugman, e Matemática com o Jorge Araújo), assim como de teorias alternativas (duas HPEs e um Desenvolvimento), estudos históricos factuais, e cadeiras mais aplicadas. Senti como deficiência do curso, e que me persegue furiosamente até hoje, o não-estímulo à realização de estudos empíricos pelos próprios alunos. Nos formamos, em grande maioria, se nunca ter colocado os olhos em um software de econometria aplicada sequer, o que tem conseqüências pesarosas tanto sob o ponto de vista acadêmico (já que a grande maioria dos artigos de hoje peca mais pelo excesso de econometria em relação à teoria econômica do que o contrário), como também profissional, já que nossas cadeiras mais instrumentais acabam se concetrando nos departamentos de administração (a parte de finanças, não a TGA!) , contabilidade e matemática aplicada.
Em 2006, comecei a estudar para a ANPEC seriamente assim que terminei meu trabalho de conclusão de curso, em junho. Me inscrevi nos centros aos quais fui melhor recomendado pelos entendidos nos assuntos de meu interesse (USP, UnB, Cedeplar, UFRJ, UFRGS e PUCRS), e me distanciei daqueles em que eu sabia que não iria pasar com apenas cerca de quatro meses de astudo. Em outubro, fiz a prova (sob circunstâncias emocionais não muito agradáveis, já citadas em vários outros posts). Em novembro, saiu o resultado (#151 na classificação geral com economia brasileira), e fiquei no Cedeplar-UFMG, que me garantiu bolsa de estudos.
Observo que minhas opções para a ANPEC, fora UFRJ e PUCRS, foram mais voltados à ortodoxia, ou, pelo menos, a um pluralismo mais viesado a isso. Tive o objetivo de voltar meus estudos para a economia neoclássica, tanto pelo meu interesse por economia aplicada (que, no Cedeplar, descobri que heterodoxia e análise empírica quantitativa não são excludentes), como também pelo objetivo de aprofundar meu conhecimento na teoria econômica internacionalmente mais aceita nos dias atuais, mesmo que eu não achasse seu estudo agradável, e mesmo que eu não concordasse com tudo. E, quase dois anos depois, continuo acreditando nisso.
Atualmente, ainda me considero eclético dentro da economia. Em questões de política econômica, simpatizo com a ortodoxia: tenho convicções de que políticas monetárias e fiscais irresponsáveis têm custos de longo prazo maiores do que os seus benefícios de curto prazo, de que o governo deve respeitar a sua restrição orçamentária, assim como qualquer agente econômico, e que políticas microeconômicas mexem com incentivos, provocando reações nos agentes, de modo que os seus resultados nem sempre saem como planejado. Mas, em termos metodológicos, tendo a simpatizar com a heterodoxia. Não acho que o instrumentalismo de Friedman (de que a ciência econômica é válida de acordo apenas com suas previsões) e que o individualismo metodológico sejam incontestáveis, como muitas vezes são colocados como. Além disso, particularmente me agrada mais ler, estudar, e observar empiricamente (com um binóculo chamado Stata) fatos econômicos concretos, do que demonstrar os axiomas fracos e fortes da preferência revelada e da estabilidade do equilíbrio geral. Por fim, acho um tanto irritante o tom dogmático que o liberalismo econômico é defendido por muitos dos membros do atual mainstream. Acho, sinceramente, que problemas institucionais econômicos devem ser trabalhados sob uma análise mais fria e imparcial das conseqüências de uma maior ou menor, ou mesmo qualitativamente diferente, intervenção do setor público, do que pela dicussão de "como o mundo seria mais bonito se os mercados fossem livres, já que os indivíduos são racionais.".
Amanhã volto a me concentrar nos assuntos mais metodológicos, e procuro encerrar a discussão.
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Há 15 horas
5 comentários:
cara... muito legal seu blog, sou estudante de economia... vou te visitar mais vezes e colocar como link no meu blog! blz!?
Encerrar a discussão pra quê? Essa série de posts sobre metodologia é de uma preciosidade ímpar, e fiquei com muita vontade de imprimir este post e espalhar por murais da FCE ou distribuir para os calouros.
De qualquer maneira, não tenha pressa em concluir esta série. Se tiver o que escrever para torná-la uma série de 20 posts, faça-o. =D
Ah, como me identifico com esse post. Óbvio que já sabes. Até porque o título do meu blog também tem uma convergência com o teu. heheheeh
Olá, vi seu recado, vim revisitar sua página. Está ainda melhor. Vou verificar as incursões metodológicas também. abs.
Olá,
Sou Stephanie Sarmiento, da empresa HOTWords.
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