Sexta-feira passada entreguei as notas finais dos meus alunos de Economia II (Macroeconomia para Administração) na UFMG. Dos meus 54 rebentos, 5 ficaram com conceito A, 9 com B, 11 com C, 19 com D, 6 foram reprovados por falta de pontos, e 4 foram reprovados por falta de freqüência. Nesses quatros meses de atividade docente, sinto que aprendi tanto, ou até mais, do que meus alunos. Sinto que estou entendendo melhor a psicologia, ou em economês, a estrutura de preferências, dos alunos de graduação.
- Em primeiro lugar, como muito bem me avisou minha orientadora de mestrado, nunca se deve subestimar os alunos. Meu programa de disciplina foi muito ousado em termos de carga de conteúdo, e minhas provas tiveram, em geral, nível superior em relação a grande parte das disciplinas de macroeconomia que fiz na graduação. Contudo, muitos alunos corresponderam ao exigido, e sei que eles aprenderam muito nesse semestre.
- A dica no Enoch de corrigir questões dissetativas por ficha de correção, atribuindo pontuações diferentes para cada tipo de resposta a uma mesma pergunta, ajudou muito a diferenciar os As dos Bs e dos demais. Quanto mais completas forem as respostas, maior é a nota do aluno; quem souber identificar os conceitos, mas sem muito raciocínio, pode ficar com C ou D.
- Questões de verdadeiro ou falso facilitam a correção e agilizam a prova. Contudo, elas tem o poder maléfico de derrubar os alunos que estudam muito, os quais tendem a ver ambiguidades em qualquer proposição, em benefício dos que estudam pouco. Para contornar esse problema, exigi que os alunos corrigissem as alternativas falsas, e só coloquei na prova os exercícios dados (e corrigidos) em sala de aula.
- A maior parte dos alunos só respeita aquilo que teme. O pessoal que matava aula descaradamente e tomou um laço no primeira prova, de repente se tornou bom aluno. Quem foi "ajudado" na primeira prova, ganhando arredondamento para não ficar abaixo de 6, passou a se dedicar ainda menos. Inclusive, 2 dos 6 alunos reprovados por falta de pontos, foram mal (e muito mal) apenas na terceira prova do semestre. Por isso, na próxima vez que eu der aula, pretendo ser muito mais "carrasco" na primeira avaliação do semestre, para o benefício dos próprios alunos. Também , no dia da prova de recuperação, achei divertido olhar a cara daquele aluno que me tratava do mesmo modo que um veterano da graduação trata um calouro. Sim, ele foi reprovado.
- Nesse semestre, não cobrei chamada. Os alunos podiam escolher se compareciam à aulas ou não. Fiz isso pensando no benefício do pessoal que trabalhava o dia inteiro, que era auto-didata, ou que simplesmente fazia bagunça na sala de aula. Contudo, algumas vezes a turma mal passava de 10 pessoas, e me aborrecia muito pelo trabalho de ter preparado cuidadosamente a aula durante uma tarde inteira. Por outro lado, nunca tive problemas com bagunça ou conversas entre os alunos. Por isso, ainda não estou decidido se a cobrança de presença é importante para o aprendizado
- Minha turma era dividida entre um grupo de alunos recém-saídos do colégio, e um pessoal mais maduro, acima de 23 anos, que já trabalhavam, já eram formados em outros cursos, ou já tinham passado por outros cursos de graduação. Minha relação com eles era excelente, eles se mostravam interessados no conteúdo da disciplina mais do que os mais novos, e controlavam o comportamento destes ("pssssit!" "silêncio!") melhor do que eu.
- Em relação aos casos de amizade entre professor e aluno, fiquei satisfeito que em pouquíssimos casos o aluno tentou tirar vantagem disso fazendo provas cada vez piores ao longo do semestre. E, mesmo nesses raros casos, notei que se tratavam de alunas. Coincidência?
- Desafios de lógica e exercícios em sala de aula parecem entreter os alunos. Também, ajuda o aprendizado.
- Esqueçam a crítica de Lucas sobre a modelagem das expectativas de Friedman. Ou a briga entre a Johan Robinson e o Robert Solow sobre a divisibilidade do capital. Ou a dicotomia entre Estado e Mercado em Keynes e Friedman. Esses devaneios intelectuais são maçantes, e até mesmo meio toscos, para os não-economistas. Minhas duas aulas de HPE ficaram muito prejudicadas por isso. Melhor é seguir uma linha de pensamento durante todo o semestre, e assumir como se fosse o pensamento geral da Ciência Econômica, ainda que passível de críticas. No meu caso, escolhi a escola novo-keynesiana do manual do Blanchard. Na próxima vez que der a disciplina, pretendo adotar um único texto de história, ao invés de fazer um apanhado geral das idéias.
- Passar volumes de livros e artigos originais dos autores em sala de aula não despertam muito a atenção dos alunos. Por outro lado, passar notícias de economia e outras novidades, como o balanço de pagamentos brasileiro calculado pelo Banco Central, parecem estimular o pessoal.
- Por fim, como já me comentaram professores mais experientes, corrigir homogeneamente as provas dos alunos não é a alternativa mais correta. No meu caso, corrigi de modo mais light os alunos mais velhos, acima dos 40 anos, e de um rapaz que tinha dislexia, isto é, dificuldade em escrever. No caso dessas pessoas, a reprovação não daria nenhuma lição pedagógica. Talvez eu devesse também corrigir mais bondosamente as provas dos alunos mais freqüentes às aulas.
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