quinta-feira, dezembro 31, 2009

A Verdadeira Culinária Gaúcha (Porto-Alegrense)

Na quarta-feira à noite, quando jantávamos no Cavanha's da Lima e Silva, meus ex-colegas bolsistas de iniciação científica da UFRGS e eu conversamos sobre o que temos mais saudade de Porto Alegre quando estamos morando fora. Em relação à gastronomia, concluímos que o churrasco não chega a deixar saudade. Churrascarias existem em qualquer lugar. Restaurantes-rodízio de comida italiana ídem. Os diferenciais geográficos de temperos e modos de preparação de ambos tipos de comida têm impacto meramente residual sobre o bem-estar do público não-epecializado em culinária.

Mas a iguaria que só comemos em Porto Alegre, porque só existe em Porto Alegre, é o "Xis". Não falo do hambúrguer convencional, com bife honônimo servido frito dentro de um pão redondo adocicado com diversos acompanhamentos. Isso existe em qualquer lugar. Mas o Xis que comemos em Porto Alegre é único. Só aqui provamos do sanduíche do tamanho aproximado de um prato de comida, servido em um pão salgado e prensado, acompanhado basicamente de queijo, maionese, milho, ervilha, alface e tomate, mais a carne (os mais comuns são coração de galinha, frango, calabresa, lombo de porco e contra-filé) e outros ítens à escolha do freguês, e que é comido com garfo e faca (a não ser no Speed Lanches). Além disso, o Xis porto-alegrense não é visto como fast-food, ao contrário dos hambúrgueres do resto do mundo, mas sim um prato para ser apreciado, degustado, e principalmente, digerido, com muita calma.

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Ainda Há Esperança para Porto Alegre

Em 2006, quando prestei o exame ANPEC para tentar o mestrado em Economia, sabia que, no fundo, eu precisava mesmo sair do Rio Grande do Sul se quisesse receber oportunidades profissionais promissoras. Se eu resolvess ficar por lá, hoje certamente seria caixa de algum banco, ouvindo reclamações desaforadas o dia inteiro, ou então burocrata do serviço público. As coisas parecem que não evoluem por lá.

Eu realmente gosto muito de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul como lugares para se viver. Tenho muito orgulho de ter nascido e vivido 22 anos de vida nesse lugar. Aprecio muito o frio, o clima (fora o verão em Porto Alegre), as paisagens, os parques e praças da Capital, o MARGs, tomar suco na Feira da Fruta, dar pipocas para os patos do Parcão, respirar o ar perfumado pelas flores dos jacarandás, sentir o vento frio contornando meu corpo enquanto caminho pelas ruas à sombra das árvores, a culinária, feijão preto e bife mal-passado, cerveja Polar, X-lombo do cavanhas, Pastel da República, comprar livros antigos no Beco da Riachuelo, caçar discos usados no viaduto da Borges, fotografar a vista do Gasômetro e caminhar sob as margens do Guaíba.

Mas há dois elementos presentes na sociedade gaúcha que me incomodam muito, e que considero que são cruciais para explicar a crise política e a estagnação econômica que o estado vem passando nas últimas décadas.

Em primeiro lugar, a aversão pelas mudanças, pelo próprio progresso, que é visto sempre como se fosse algo imposto por algum inimigo externo, ao invés deser causado pelas ações e decisões dos próprios membros internos da sociedade. Pelo contrário, há uma valorização do tradicionalismo e do atraso. Por isso, as carroças não devem ser retiradas das ruas portoalegrenses porque "elas fazem parte das nossas tradições". Se os cavalos sujam as ruas e as calçadas de estrume, não podemos reclamar, porque "esse é o cheiro característico das aldeias históricas rio-grandenses". A FORD quer construir uma fábrica de automóveis em Guaíba? Nem pensar, onde já se viu? Se fosse para construir uma charqueada, aí tudo bem. Prédios altos devem ser barrados da cidade o quanto antes, Porto Alegre nasceu para ser provinciana. Pontal do Estaleiro, que horror! Para que imitar cidades desenvolvidas, se o nosso mato é mais belo que os Jardins da Babilônia, e as ruínas do Estaleiro Só fazem inveja às ruínas dos templos romanos? Para que metrô na cidade, se os gaúchos foram feitos para andar a cavalo? Se eu continuar listando tudo o que já ouvi dos habitantes locais em conversas aleatórias, ficaria um dia inteiro postando aqui.

Estrapolando essa aversão às inovações para o lado econômico, isso se caracteriza pela total falta de oportunidades de bons empregos para os jovens universitários recém-formados. A maioria acaba entrando no serviço público ou emigrando de estado.

Em segundo lugar, a noção de que valores individuais como a coragem e a virilidade não são eternos, e devem estar sempre sendo testados e reforçados. Quando não podemos ter o que queremos por meios pacíficos, temos que resolver na ponta da faca, se somos realmente dignos de ser chamados de homens. Por isso, se o governador eleito não for do partido de nossa preferência, devemos derrubá-lo imediatamente, e de preferência, com direito a enforacamentos e fuzilamentos! Se uma empresa multinacional se instala na nossa região e somos bairristas, vamos depredá-la! Se sou o governador, e não tenho competência política de elaborar um pacote de ajuste fiscal, obviamente vou aumentar os impostos! O povo que se dane, e falo isso com orgulho, porque sou macho!

Para minha surpresa, e minha felicidade, percebo que não sou o único crítico de determinados elementos da mentalidade sul-rio-grandense. O pessoal do blog Porto Imagem tem feito um trabalho muito legal em apontar saídas para os problemas do desenvolvimento de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul sem medo de se render para o progresso e a modernidade.

E hoje, fui surpreendido pela notícia de que, depois de décadas de discussão, enfim o projeto de revitalização do Cais do Porto foi aprovado pela prefeitura. Espero que as margens do lago Guaíba estejam ao acesso do público, e da iniciativa privada, em breve. Como eu conheço muito bem a política gaúcha, já estou esperando que muito em breve as hordas bárbaras ataquem com unhas, dentes e machados esse projeto urbanístico, em nome de preservar tudo do jeito que está. Mas a aprovação pode nos devolver a esperança de um futuro melhor.

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Lembrando os Tempos de Início de Faculdade

Um dos blogs que eu acompanho publicou um texto que me fez lembrar os primeiros semestres da faculdade.

a quantidade de disciplina completamente sem sentido é preocupante. Por exemplo, no primeiro período eu deveria ter estudado Comunicação e Artes. Cheguei imaginando que teríamos história da arte, linhas da arte e tal e o que tivemos? Um semestre inteiro de videoarte! O que isso acrescentou em minha vida (acadêmica)? NADA! PORRA NENHUMA! Isso sem contar com a Teoria da Comunicação que a professora passa textos onde filósofos discutem universos paralelos, professor de Marketing que, quando resolve aparecer, diz que "aula presencial com aluno e professor em sala de aula é coisa do passado" ou que se estivesse no lugar de nós, alunos, "estaria na praia surfando", isso sem contar com outros exemplos...


Nós todos chegamos à tão sonhada Universidade Federal, após enfrentar a pressão do Vestibular, esperando que o ensino seja algo como as aulas dos melhores colégios particulares, com os melhores profissionais do ramo ministrando cada matéria. Mas, o que encontramos, muitas vezes, é uma combinação de descaso por parte de alguns professores e de muitos alunos. Vários professores se acomodam na estabilidade do serviço público e não preparam aulas, transformam o semestre letivo em organização de seminários (em que os próprios alunos dão as aulas, sem nenhum conhecimento sobre o tema), e muitas vezes matam suas próprias aulas. Para que os alunos não reclamem, esses profesores costumam manter métodos de avaliação frouxos, tais como a auto-avaliação, a repetição das mesmas provas dos semestres passados, a tolerância à cola, etc. Os alunos, que em sua grande maioria pouco se importam com o aprendizado, têm uma preferência inata por obter a aprovação (e o diploma) fazendo o menor esforço possível. Por isso, na maioria dos casos, é o aluno que faz o próprio curso.

Felizmente no curso de Economia, uma minoria de professores se comporta assim. Meu contato com os "picaretas" foi exatamente durante o que o autor do blog chamou de ciclo básico, isto é, os primeiros semestres do curso em que temos predominantemente disciplinas de outros departamentos (como administração, sociologia, direito, ciência política, etc.). Felizmente, no meu caso, não cheguei a passar por uma situação tão constrangedora quanto essa aula de marketing descrita no texto do blog. Na economia, as principais "falhas didáticas" que certos professores têm são outras.

Em primeiro lugar, alguns professores radicais de esquerda transformam a sala de aula em palanque político, e se ofendem pessoalmente quando algum aluno questiona suas posições. Eu já presenciei a situação de um colega meu ser xingado por isso. Em segundo lugar, outros professores (predominantemente heterodoxos) fazem da disciplina uma oficina de leitura dos seus autores favoritos, mesmo que estejam desatualizados, ou mesmo que de utilidade duvidosa em termos acadêmicos (me lembro de ter lido artigos de autores da União Soviética discutindo o desenvolvimento das relações capitalistas no campo). Nesse caso, a análise econômica se transforma na aplicação direta dos conceitos desenvolvidos por esses autores à realidade atual. Se não bater, pior para a realidade atual, é claro. Por último, alguns professores (agora, predominantemente ortodoxos) transformam a sua disciplina em algo muito mais complicado do que realmente é, tornam-se incompreensíveis meio que de propósito, já que tem a necessidade psicológica de serem vistos como "gênios incompreendidos" pelos seus alunos e colegas.

Acho sempre bom prestar atenção nas falhas dos professores para que, quando estivermos no lugar deles, evitemos repeti-las.

quarta-feira, dezembro 16, 2009

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Paul Samuelson 1915-2009



Ontem, fiquei sabendo do falecimento do Paul Samuelson, um dos principais economistas do século XX. Trabalhando em diversas áreas da ciência econômica, como a microeconomia, a macroeconomia, as finanças públicas e a economia internacional, Samuelson foi um dos pilares da construção da teoria econômica moderna.

É dele a Teoria da Preferência Revelada, que costuma quebrar a cabeça dos alunos de mestrado, que estudam Microeconomia pelo manual do Mas-Colell.

O Leonardo Monastério nos conta uma história bem legal sobre a censura do seu manual de introdução à economia (predominante no mercado internacional por várias décadas) pelo regime militar brasileiro.

sábado, dezembro 12, 2009

Parabéns, Enoch

Dedico esse post ao meu colega de profissão e amigo virtual Enoch, do blog Além das Curvas, que foi chamado no programa de mestrado da UFBA para o ano que vem.

Parabéns, Enoch, e muito sucesso nessa nova jornada da vida acadêmica.

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Political Compass

Periodicamente, tenho o hábito de fazer o teste do Political Compass para avaliar o imapcto de meus estudos sobre minha visão de mundo e de política. Desde o final da minha gradução, meus resultados se estabilizaram de acordo com o mapa abaixo:



O eixo vertical representa vários graus entre maior ou menor regulação do Estado sobre o comportamento das famílias, entre os extremos do anarquismo (sul) e do fascismo (norte). Já o eixo horizontal representa os graus de maior ou menor intervenção do Estado na atividade econômica, entre os extremos do comunismo (esquerda) e do laissez-faire (direita).

De um modo geral, meus resultados estão refletindo o que estudei e aprendi nos últimos anos. Os agentes privados (indivíduos e famílias) têm a capacidade de tomar decisões e de buscar seus interesses, com problemas de assimetria de informações inferiores aos enfrentados pelos planejadores centrais. Por isso, devem ser deixados livres para buscar sua felicidade, a menos que suas decisões interfiram na felicidade alheia. O setor produtivo deve ser composto por empresas privadas que, buscando o interesse próprio da maximização de lucros, criam renda, empregos e produtos para o consumo, satisfazendo as necessidades dos agentes econômicos. Porém, se as empresas utilizarem poder de mercado para elevar seu bem-estar em detrimento dos consumidores, devem passar por regulação pública. Também acho que é papel do Estado o fornecimento de bens cuja produção pela iniciativa privada não é realizada em uma escala apropriada, seja por motivos tecnológicos, seja por motivos de assimetria de informação, seja por motivos institucionais, além de utilizar políticas macroeconômicas para corrigir flutuações abruptas. Além disso, considero que todo indivíduo deve ter o direito de subsistir com dignidade, independentemente da sua aptidão produtiva. Isso justifica transferências de renda e programas sociais favorecendo a população mais pobre.

De um modo geral, os economistas tendem a concordar em ser liberais em relação ao comportamento individual, e isso se deve à vigência da teoria da escolha racional como paradigma dominante na nossa ciência. Outros cientistas sociais, tal como os advogados, sociólogos e historiadores tendem a enfatizar um maior papel às normas e às estruturas sociais sobre o comportamento humano, e por isso acreditam mais nas regulamentações políticas. Já a discussão sobre o "tamanho ótimo" da regulamentação estatal na economia é tema de incessantes e acalorados debates entre os economistas, sujeitos a divisão de opiniões de acordo com as escolas de pensamento e com modismos flutuam ao longo das décadas.

terça-feira, dezembro 08, 2009

De Novo, Os Cupins

Em Belo Horizonte, eu costumava me incomodar com os periódicos enxames de cupins, comuns nos dias mais quentes. Hoje, em Brasília, estou com saudade deles. Os cupins da capital federal, ainda que voem em menor número, são do tamanho de borboletas. Devem comer um armário por dia.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Banhos de Chuva em Brasília

Em Belo Horizonte, quando contei para uma ex-aluna que estava me mudando para Brasília, ela me alertou sobre o clima extremamente seco da capital federal. Ela também me recomendou usar cremes hidratantes para que minha pele e lábios não esfarelassem com o sol.

Pura propaganda enganosa. Aqui tem chovido todos os dias.

Ontem mesmo, consegui tomar dois grandes banhos de chuva em um intervalo de três horas. O primeiro foi quando desci do ônibus e me dirigi para o consultório médico onde faria uma série de exames exigidos pelo PNUD. Cheguei no consultório como se tivesse mergulhado em uma piscina com minas roupas, e a secretária, quando me viu, teve que segurar o riso. Para piorar, acabei pisando em um buraco na calçada cheio da mais pura lama, o que deixou meu sapato na UTI.

Mais tarde, quando já tinha passado a chuva, fui para o Brasília Shopping comprar roupa de cama. Eis que, para minha surpresa, na hora em que saí de lá caiu um novo toró, me molhando completamente de novo.

Sempre fui avesso à posse de guarda-chuvas porque sempre acabo esquecendo-os por onde passo. Mas acho que devo considerá-los novamente.